14 junho 2022

Lição 10: Interpretando erroneamente as Escrituras

 



TEXTO PRINCIPAL
“E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7).

RESUMO 

A segunda tentação pela qual Jesus passou nos remete a interpretar e aplicar mal um texto das Escrituras, tentando forçar Deus a fazer a nossa vontade.

A Palavra de Deus diz:
 — Mt 22.29 “Errais não conhecendo as Escrituras”
— Sl 119.105 Luz para os nossos passos
— Mt 4.4  Alimento para a nossa alma
— Sl 119.11 Proteção contra o pecado
— Jo 17.17 Palavra verdadeira
— Sl 119.11 Nossa proteção contra o pecado

OBJETIVOS
MOSTRAR a mudança de cenário na tentação de Jesus;
EXPLICAR como o Inimigo distorceu a Palavra de Deus;
CONSCIENTIZAR de que não podemos seguir o exemplo do povo de Deus no deserto.

Veremos a respeito da segunda tentação de Jesus no deserto. A tentação pode ganhar formas diferentes dependendo do local e da ocasião, mas ela sempre terá o propósito de nos fazer pecar contra Deus nos afastando da sua presença.
A segunda tentação nos ensina que não podemos jamais fazer a nossa própria vontade, mas sim a vontade de Deus. O Senhor é soberano e a sua vontade, por mais difícil que pareça, é sempre boa, agradável e perfeita. Aqueles que decidem fazer a sua própria vontade estão em rebeldia, e se não se arrependerem vão acabar caindo nas muitas ciladas do Inimigo.

Na tabela abaixo no quadro mostra   de modo resumido, as possíveis dúvidas que tornaram a tentação real e as fraquezas que Satanás tentou explorar para fazer com que o Filho de Deus cedesse às tentações.


AS TENTAÇÕES

 

TEXTO BÍBLICO
Mateus 4.5-7; Deuteronômio 6.13-16.
Mateus 4 5 — Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo.
6 — E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo: porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.
7 — Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
Deuteronômio 6 13 — O SENHOR, teu Deus, temerás, e a ele servirás, e pelo seu nome jurarás.14 — Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que houver à roda de vós.15 — Porque o SENHOR, teu Deus, é um Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra.16 — Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá.

INTRODUÇÃO
A Palavra de Deus vem sendo lida, ensinada e pregada por praticamente todo o mundo. Ela tem o poder de mudar a vida das pessoas, e nos revela o que Deus deseja que saibamos para sermos salvos e igualmente cidadãos dos céus. Entretanto, essa mesma Palavra pode ser mal interpretada e mal aplicada, e Satanás nos mostra isso quando tenta pela segunda vez ao Senhor Jesus. Veremos nesta lição como podemos resistir à tentação de utilizar a Palavra de Deus de forma equivocada, e, como o Senhor Jesus, vencer a tentação de aplicar mal a Palavra de Deus e de agir sem consultar ao Senhor.

I. MUDANDO O CENÁRIO DA TENTAÇÃO
1. Na Cidade Santa
. Mateus registra que após a primeira tentação, no deserto, Jesus é transportado à Cidade Santa, e levado ao pináculo do Templo. Parte do ministério de Jesus ocorreu em Jerusalém, onde foi apresentado no Templo (Lc 2.22), e para onde ia todos os anos para celebrar a Festa da Páscoa com seus pais (Lc 2.40,41). A Cidade Santa não era um lugar desconhecido para Jesus, nem para o Inimigo.

O pináculo do Templo era a parte mais alta do Santuário construído por Herodes. A arquitetura e a obra feitas pelo idumeu causavam admiração nas pessoas que iam a Jerusalém. Certa vez, até os discípulos de Jesus, em uma das idas ao Templo, mostraram a estrutura da construção para Ele (Mt 24.1). Era um lugar suntuoso e atraía a atenção das pessoas, tanto para cultuarem quanto para fazerem negócios, pois até vendilhões usavam o espaço do santuário (Jo 2.13-16). Era um lugar tão estratégico para a fé em Israel que qualquer pessoa que se destacasse no Templo, ensinando, contribuindo ou operando algum milagre, seria lembrada por toda a população.

Devemos observar que Satanás se utilizou do santuário, ainda que a parte exterior, como cenário da tentação. Ele não respeita locais de culto, e pode se utilizar deles para gerar confusão entre os crentes.

2. “Se tu és o Filho de Deus”. Já foi dito que a tentação, mais do que uma prova da nossa fé, é uma prova da nossa confiança em Deus. A segunda tentativa do Inimigo contra Jesus traz novamente a fala de Satanás, questionando o que Deus havia afirmado. Jesus é o Filho Unigênito de Deus, e o próprio Deus Pai já o havia dito por ocasião do batismo de Jesus. Entretanto, Satanás tenta “condicionar” o reconhecimento da natureza divina de Jesus a uma ação inusitada: jogar-se do pináculo do Templo.

Essa é uma lição que precisamos guardar: Veremos, com Jesus, que se Deus já se pronunciou sobre o que somos nEle, não precisamos dar ouvidos aos que duvidam daquilo que Ele falou a nosso respeito.

3. “Lança-te daqui abaixo”. Satanás não coloca Jesus no pináculo do Templo e o empurra de lá. Ele o leva para o alto e incita Jesus a se jogar. O Inimigo certamente não tinha autoridade para atentar contra a vida de Jesus, mas ele incitou o Senhor a atentar contra a própria vida. De forma geral, a tentação nos é apresentada como algo que dependerá de nós aceitarmos ou não.

É possível que, ao aceitar essa tentação, um poderoso milagre viesse a acontecer diante dos olhares dos frequentadores do Templo. Jesus seria reconhecido como o Messias, sem precisar passar pela crucificação, mas esse não era o plano do Pai para o Filho. A cruz era o caminho necessário a ser trilhado por Jesus para que pudéssemos ser salvos.


Onde era o centro religioso nos tempos de Jesus? O Templo era o centro religioso da nação judaica e o lugar onde o povo esperava que o Messias se manifestasse (Ml 3.1). Foi restaurado por Herodes o Grande, que tinha a esperança de garantir a confiança dos judeus. O Templo era o edifício mais alto da área, o ‘lugar mais alto’ ou ‘pináculo’ era provavelmente um muro que se projetava da encosta, com vista para o vale. Deste ponto Jesus podia ver toda a Jerusalém através de si e quilômetros à sua frente.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD. p.1220).

II. DISTORCENDO A PALAVRA DE DEUS
1. Anjos vão guardar você.
Os anjos são seres ministradores que trabalham em prol daqueles que hão de herdar a salvação (Hb 1.14). Eles atuam por orientação divina, e não de acordo com a conveniência humana. E a promessa do Salmo 91.11 se refere à atuação dos anjos em prol daqueles que andam com Deus. Os seres celestiais não são negligentes em relação às orientações divinas, e preservam os santos homens e mulheres que guardam consigo o temor ao Eterno. Entretanto, apesar de a Palavra apontar que Deus provê proteção angelical aos seus servos, contar com essa mesma proteção divina quando cientes de que o caminho que estamos trilhando não nos foi orientado por Deus, é outra história.

Satanás também sabe citar as Escrituras Sagradas quando lhe convém. Entretanto, ele sempre o fará com propósitos malignos, para que os servos de Deus pequem. Suas hostes criam doutrinas de demônios, induzindo incautos a lerem as Escrituras pela metade, desrespeitando regras de interpretação já definidas, soprando ventos de doutrinas errôneas e heresias para que o povo de Deus peque.

2. Os milagres são obrigatórios? Um dos equívocos mais difundidos em nossos dias é que se Deus não prover milagres diários em nossas vidas, então nossa fé é fraca ou a nossa comunhão com Ele é pouca. No entanto, a nossa comunhão com Deus não pode ser medida pelas respostas miraculosas que Ele pode nos dar. O Todo-Poderoso opera maravilhas e faz milagres de acordo com a sua vontade e no momento que Ele deseja.

Se Jesus cedesse à tentação, e fosse guardado pelos anjos, provavelmente convenceria as multidões de que Ele era o Filho de Deus. Contudo, a mensagem do Evangelho não pode ser um espetáculo para convencer as pessoas como uma mera atração. E Jesus não seria um espetáculo nas mãos de Satanás.

3. Posso mesmo fazer o que eu quiser?
A segunda tentação nos mostra que não podemos fazer a nossa própria vontade, e sim a vontade de Deus. Se nós oramos: “seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mt 6.10), devemos entender que não podemos fazer nada que venha colocar em prova o Senhor.

Não temos o direito de realizar certas ações e acreditar que o Senhor tem a obrigação de atender ao que estamos tentando fazer, ou de impor a Ele os nossos planos, como se Deus fosse um servo, e nós, os senhores. Não podemos fazer do texto de Filipenses 4.13: “posso todas as coisas naquele que me fortalece”, um salvo conduto para que venhamos a fazer o que Deus não nos ordenou a fazer.

Se Jesus tivesse exercido tal poder no recinto do Templo, sua ação o teria identificado como o líder sobrenaturalmente ungido a quem os insurgentes ou extremistas esperavam que os comandasse numa reforma religiosa e numa rebelião contra os opressores romanos. Esta tentação voltou a assombrar Jesus mais tarde (Jo 6.15). Na entrada triunfal e na purificação do Templo, tudo o que Jesus teria de dizer era: ‘Às armas!’, e sua missão como Messias teria se reduzido a uma operação militar; e, em consequência disso, o plano de salvação espiritual estaria perdido. Esta tentação sempre estava a uma palavra de distância. Na oração de Jesus no jardim do Getsêmani, Ele expressou ao Pai a hesitação em cumprir seu messiado mediante abnegação. Lucas 4.13 declara que as tentações de Jesus não terminaram no deserto, mas que o Diabo o deixou ‘por algum tempo’”. (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.31).

A segunda tentação é a oferta que o Inimigo fez a Jesus de autoridade sobre os reinos da terra (Lc 4.5-8). Num momento de tempo, ele traz à presença de Jesus todos os reinos do mundo. Afirma que eles lhes foram dados e que ele tem o direito de dispor deles como quiser. A afirmação do Diabo é meia-verdade. Embora ele tenha grande poder (Jo 12.31; 14.30), ele não tem autoridade para dar a Jesus os reinos do mundo e a glória deles. Ele promete que Jesus poderia se tornar o governante da terra se tão somente Ele o adorar. Satanás tenta ludibriar Jesus para obter poder político e estabelecer um reino no mundo maior que o dos romanos” (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. Volume 1. Rio de Janeiro, CPAD, 338). 

III. O POVO NO DESERTO
1. Deus está conosco mesmo?
Ao responder a Satanás, Jesus remonta, pela segunda vez, à história do povo de Israel no deserto. Os hebreus haviam iniciado sua jornada e, ao chegarem ao deserto de Sim, não encontraram água para beber (Êx 17.1-7). Nesse cenário, logo se voltaram contra o Deus que os havia libertado da escravidão egípcia. Eles se colocaram contra Moisés, e o Senhor orientou seu servo a ferir a rocha para que dela saísse água, e Deus proveu água para o seu povo. O problema apontado nesse texto não é a sede e a falta de água, e sim colocar em questão a presença de Deus quando se está passando por um momento de privação temporária, como fizeram os hebreus: “Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7).

2. Não tentarás ao Senhor. No deserto, Deus iniciou o processo de amadurecimento do seu povo. Os hebreus precisavam ser transformados para entrarem na terra que o Todo-Poderoso lhes daria. Porém, eles haviam rejeitado entrar na Terra Prometida, dando ouvidos aos espias que infamaram a terra (Nm 13.1-14), o que lhes custou uma caminhada de quatro décadas em uma terra inóspita. E ao escrever o Deuteronômio para a nova geração de hebreus, Moisés deixa claro ao povo: “Não tentareis o SENHOR, vosso Deus, como o tentastes em Massá” (Dt 6.16). Esse versículo mostra um cenário triste por parte do povo de Deus. Pela falta de água, os hebreus zombaram da presença do Eterno entre eles. Este deboche foi visto por Deus como uma infidelidade contra Ele. O Eterno estava entre eles, e proveu a água de que precisavam. Tentar a Deus é desafiá-lo, é acreditar que Ele não está agindo em nosso favor.

3. Pôr Deus a prova é uma tentação. Quando colocamos o Senhor à prova, de forma explícita, estamos dizendo que não cremos no que Ele disse, e que vai falhar naquilo que prometeu a nós. Mesmo quando o Todo-Poderoso nos “ordena” a fazer prova dEle, como no caso daqueles que são dizimistas (Ml 3.10), há uma condicional “se”, ou seja, podemos fazer prova do Senhor e se Ele não “abrir as janelas dos céus e não derramar sobre vós uma bênção tal”, quer dizer se as nossas necessidades diárias não forem supridas. Essa é a condição.

O segredo da vitória de Jesus não estava na memorização mecânica das Escrituras. Ensopar-se com a Palavra de Deus é bom, mas até Satanás pode ‘declamar’ a Escritura. Não foi apenas o conhecimento intelectual que Jesus tinha da Escritura que revelou o plano de Deus, mas sobretudo sua relação com o Pai divino. O único centro apropriado para interpretar a Escritura é uma relação viva com Deus! O que Jesus citou somente revelou essa relação preexistente.

Não devemos ter a presunção de falar e aplicar a Palavra de Deus à parte da vontade de Deus. É o que significa falar em nome de Deus. Por exemplo, como alguém sabe a vontade do próprio cônjuge? Por associação frequente. Somente nos relacionando com Deus é que podemos conhecer sua vontade” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.31). 

CONCLUSÃO

Satanás provavelmente preferia ver Jesus no pináculo do Templo, atraindo a atenção das pessoas e sendo um espetáculo. Jesus preferiu a cruz, para atrair a todos nós, nos salvar, perdoar e nos conduzir a Deus para passar a eternidade com Ele.

Interpretar de forma errada a Palavra de Deus pode ter implicações sérias para a vida do cristão. Satanás tentou Jesus a agir por conta própria, interpretando a Palavra sem respeitar o seu devido contexto.

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