Ao ler o Evangelho Segundo João, há um trecho único, quando comparado com os demais evangelhos. Entre os capítulos 12 e 17, vemos Jesus mergulhando em uma conversa com seus discípulos que enche olhos e coração. Ele não só revela aos seus discípulos verdades imensamente profundas sobre sua missão, como, na presença dos discípulos, conversa com Deus Pai de forma incomparável, descortinando a eles a intensidade de um relacionamento com Deus nunca antes visto.
Não é à toa que, no trecho compreendido entre esses capítulos, por quase 50 vezes Jesus chama Deus de “Pai”. A figura paterna na Bíblia é, por isso, uma figura forte. A paternidade não é algo derivado da família humana, mas é aprendido do relacionamento dentro da Trindade. Com a vinda de Jesus e a exposição que Ele fez de seu relacionamento com o Pai dos Céus, podemos aprender muito, tanto na relação de pais e filhos aqui na terra quanto na aproximação maior e mais intensa para com nosso Pai Altíssimo.
Pai Provedor – A própria Criação é a plena demonstração do cuidado de Deus com o homem. A abundância de possibilidades para se cultivar e colher alimento, a variedade de recursos naturais, tudo aponta para a provisão de Deus. E, mesmo com a péssima administração feita pela humanidade caída, os recursos continuam suficientes para nos colocar o pão na mesa.
Pai Amoroso – A definição última de Deus na Palavra é amor (1 João 4.16), e só o Deus revelado em Jesus Cristo, que entregou seu único Filho para nos salvar (João 3.16), pode ser entendido dessa forma. Fora do ambiente cristão, os homens se relacionam com suas divindades na base do medo, mas Jesus foi quem nos apresentou Deus como “Aba, Pai” (Gálatas 4.6).
Pai Protetor – A provisão e o amor de Deus Pai se manifestam de diversas formas, e uma delas é na proteção. Nossa fragilidade não é apenas física, mas Jesus mostrou como o inimigo queria “peneirar” Pedro, o que foi impedido por Deus (Lucas 22.31-32). No Pai, a proteção que recebemos é muito maior que a de qualquer escudo ou carro blindado, pois ainda que algo venha acontecer com nosso corpo, nEle nossa alma estará sempre intacta.
Pai Eterno – Uma das angústias que temos como cuidadores de nossos filhos é que sabemos que não estaremos “por perto” o tempo todo. Somos limitados pelo tempo e pelo espaço, e todo controle que aparentamos ter não passa disso: mera aparência. Entretanto, estamos debaixo das mãos de um Deus e Pai que não está restrito nem ao tempo nem ao espaço, e a única forma de atuarmos de forma mais eficaz na vida dos nossos filhos é abrindo mão do controle aparente, entregando tudo nas mãos dAquele que realmente tem todo o domínio.
Pai Salvador – A provisão, o amor e a proteção de Deus são plenamente representados em uma ação que muda toda a nossa vida: nossa salvação em Cristo Jesus. Mesmo com a humanidade escolhendo se “filiar” ao reino das trevas, como Pai incansável Deus não mediu esforços para nos dar a salvação. E tudo de graça, já que foi o próprio Filho, Jesus Cristo, quem pagou por tudo (1 Pedro 1.5).
Não é à toa que Deus é apresentado como Pai por Jesus Cristo. Em nossa missão como pais nessa jornada terrena, estamos longe de ficar sem referência. Em Deus, devemos aprender a criar nossos filhos tendo nos olhos esse modelo tão rico. A provisão, o amor, a proteção e o cuidado da vida e da alma de nossos filhos nos foram confiados, e não podemos abrir mão de sermos pais bíblicos, seguidores de Cristo, que assumem o papel no lar, seja qual configuração for.
O primeiro passo para se tornar um pai segundo a Palavra, é se tornar um filho de Deus, segundo a Palavra, entregando sua vida a Cristo (Gálatas 3.26-27). A partir daí, busquemos o revestimento do Espírito, pois nossa geração nunca careceu tanto de pais espelhados no Pai dos Céus.
Pr. Luís Fernando Nacif Rocha
