22 abril 2023

Por que ter concubinas não era considerado adultério no Velho Testamento?

 Você Pergunta: Fico muito confusa com os relacionamentos dos homens citados na Bíblia. Por exemplo, Davi cometeu adultério com Bate-Seba e foi repreendido, porém, ele tinha várias concubinas e não foi repreendido por adultério. Pode me ajudar a entender como funcionava essa questão de ter concubinas? Deus permitia?

Cara leitora, esse talvez seja um dos assuntos mais “espinhosos” da Bíblia, pois, de fato, você bem observou que homens como Davi tiveram, além de várias esposas, diversas concubinas e não temos repreensões duras registradas por conta desse fato.

Deus aprovava ter concubinas na Bíblia?

A primeira vez que a palavra concubina aparece na Bíblia é em Gênesis 22:24, onde se fala sobre a concubina de Naor, irmão de Abraão:

“Sua concubina, cujo nome era Reumá, lhe deu também à luz filhos: Teba, Gaã, Taás e Maaca” (Gênesis 22:24).

Isso mostra que a prática de ter concubinas era bem antiga, já existia na época patriarcal descrita na Bíblia.

A palavra concubina no hebraico é “piylegesh”, traz a ideia de “amante”. Porém, não com a ideia de amante que temos aqui no Brasil, usada de forma bem pejorativa.

A concubina era uma mulher tomada por um homem já casado, geralmente comprada dos pais ou mesmo oferecida como pagamento de dívidas e até tomada como prisioneira de guerra.

Observe como este texto fala sobre despojos de guerra, citando moças tomadas como “prêmio” da vitória na batalha:

“Porventura, não achariam e repartiriam despojos? Uma ou duas moças, a cada homem? Para Sísera, estofos de várias cores, estofos de várias cores de bordados; um ou dois estofos bordados, para o pescoço da esposa?” (Juízes 5:30).

Essa mulher, quando tomada por um homem casado, tinha direito a casa, alimentação e ter relações sexuais com o homem. Porém, ela era considerada inferior em posição comparada à esposa “oficial”.

Veja, por exemplo, que Abraão teve essas mulheres (concubinas) e elas tinham algum direito, juntamente com os filhos que geraram, que também tinham direitos e eram considerados filhos oficiais:

“Porém, aos filhos das concubinas que tinha, deu ele presentes e, ainda em vida, os separou de seu filho Isaque, enviando-os para a terra oriental” (Gênesis 25:6).

É claro que manter concubinas não era barato, pois mantê-las era de responsabilidade do homem que as tomou, o que fazia com que esse costume fosse mais praticado por pessoas de melhor condição financeira.

A pergunta mais espinhosa é: Por que Deus permitiu que homens participassem dessa cultura se ela é condenada depois, no Novo Testamento?

É uma resposta difícil e não muito clara, pois carece de textos bíblicos claros explicando o pensamento de Deus. Mas algumas hipóteses são possíveis:

Deus permitiu essa cultura como algo legítimo? Quem defende essa visão pensa que não termos registros de uma censura clara de Deus signifique que Ele permitiu isso, que não era um pecado, pelo menos naquele tempo em que vigorou esse costume.

Seria algo como o casamento entre parentes próximos. Deus permitiu por um tempo e depois proibiu.

Porém, em Mateus 19:1-10, Jesus explica que o princípio do casamento monogâmico citado em Gênesis 2:24, é a vontade do Senhor para o homem. E esse princípio já estava em vigor ali.

Isso deixa a questão complexa! Deus teria permitido ou aceitado as concubinas por um tempo, mesmo sendo o casamento monogâmico o padrão correto? Como isso seria possível?

Deus deu instruções, mas os personagens bíblicos desobedecem? Quem defende essa visão entende que a Bíblia cita tanto os erros como os acertos de seus personagens. Assim, a Bíblia não esconde que seus personagens viveram escolhas equivocadas em suas vidas.

E, dentro dessas escolhas equivocadas, estão casamentos com várias mulheres realizados de forma incorreta, portanto, erraram fazendo isso!

Porém, questiona-se aqui por que não há repreensões diretas proibindo tal prática, como existem proibições para outras práticas, como o adultério, que está, inclusive, nos 10 mandamentos?

Deus permitiu como um ato de misericórdia? Quem defende essa posição pensa que em uma sociedade tão desigual e complexa, onde as mulheres, de forma muito intensa eram menosprezadas, o fato delas poderem ser tidas como “esposas”, mesmo que inferiores à esposa principal, trazia mais dignidade a elas do que serem largadas na sociedade com a possibilidade de serem abusadas de muitas formas!

Nessa visão o concubinato foi tolerado por Deus para equilibrar uma sociedade em extremo contaminada por todo tipo de pecado grave. 

Sendo assim, o concubinato seria um “mal menor” se comparado ao que aconteceria se essas mulheres não tivessem a proteção de um homem e uma família!

Porém, questiona-se aqui que também o próprio concubinato foi alvo de excessos e injustiças grandes. Por exemplo, o próprio Salomão tomou 300 concubinas, o que mostra um excesso sexual sem tamanho certamente não aprovado por Deus!

Conclusão:

Conforme podemos perceber, não é um tema simples de compreender! Existem opiniões diversas e talvez nenhum de nós saberá ao certo qual era o propósito de Deus com tudo isso, seja permitindo, seja proibindo, mas não repreendendo quem praticava tal coisa, ou mesmo aplicando até mesmo um pouco de sua misericórdia sobre aquelas mulheres que poderiam sofrer ainda mais do que já sofriam!


Postado por Presbítero André Sanchez

Nenhum comentário:

Postar um comentário