23 janeiro 2022

Natã: Falando o que Deus mandou você falar



Texto “Conforme todas estas palavras e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi” (1Cr 17.15).

Um dos maiores desafios para quem serve ao Senhor é estar em sintonia com Ele. Falar em nome de Deus é um desafio, pois precisamos discernir quando Ele está ou não falando, e não confundir a nossa vontade com a vontade dEle, ainda que a nossa vontade esteja aparentemente em sintonia com o Senhor.

Veremos o exemplo de Natã, o profeta que precisou voltar atrás numa coisa que disse.

I. QUEM FOI NATÃ

1. Natã, um profeta e escritor. Natã é descrito em 2 Samuel como um homem de Deus, profeta (1Cr 29.29), e tem sido apontado como escritor das crônicas a respeito de Davi. Ele é apresentado como uma das pessoas que auxiliou na instalação do culto na Casa do Senhor, por orientação do próprio Deus, ajudando na organização dos levitas que tocariam alaúdes e harpas (2Cr 29.25).

Seu ministério junto a Davi, e posteriormente, a Salomão, teve importância devido às suas ações. Sendo profeta, teve diante de si desafios com os quais só por orientação divina poderia agir. Sua ligação com a monarquia não deve nos surpreender, pois diferente do rei Saul, Davi buscava ao Senhor, e este respondia ao seu servo por diversos meios, inclusive usando pessoas como Natã.

Davi também é tido por profeta. Ele compôs versos no Salmo 22, que são entendidos como profecias acerca do Senhor Jesus Cristo, como o desamparo de Deus na hora da crucificação e a repartição de sua capa.

2. Um profeta ligado à monarquia. Deus tem servos seus em todas as esferas da sociedade, e aqueles que estão em posição de poder e temem ao Senhor podem e devem depender dEle em seus atos. Natã, como veremos, era ligado à monarquia, à pessoa de Davi, e estando nesse círculo social, foi usado por Deus para falar com o rei. Não nos é dito como ele e Davi se conheceram, mas nos é informado que Davi respeitava bastante as palavras de Natã, a ponto de ser confrontado pelo profeta sobre um pecado e pedir perdão a Deus. Daniel também foi usado para falar com reis, mas não em Israel, e sim no exílio babilônico. Nisso não há qualquer problema, pois Deus fala também para com os poderosos. Ele “[…] é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2Pe 3.9).

3. Profetas, servos de Deus. Os profetas eram homens e mulheres usados por Deus para trazerem a sua Palavra de forma impactante. Suas palavras vinham direto do próprio Deus. Não era o fruto de um estudo dos textos bíblicos, de sua organização em forma de sermão, da retórica para a comunicação e nem da prática da homilética. A revelação direta de Deus era a sua fonte, e suas profecias poderiam se relacionar a eventos futuros, ou a situações correntes de seus dias, como a injustiça social, pecados individuais ou nacionais. Nas Escrituras temos nomes de diversos desses profetas, e suas mensagens permanecem como referência em nossos dias.

Pense!

Você crê que Deus escolhe seus servos para atuarem em locais de influência política?

Ponto Importante

O Eterno deseja falar com todas as pessoas, e para isso, pode colocar servos seus em posições sociais onde serão usados para fazer a diferença e trazer a glória para Deus.


II. CONFRONTANDO O REI DAVI

1. Um pecado consumado. Davi pecou contra Deus ao se envolver com uma mulher que não era sua. Como resultado do seu adultério a mulher engravidou e Davi, na tentativa de encobrir seu pecado, mandou buscar o marido dela, que estava nos campos de batalha. Urias retornou da guerra, mas não foi para sua casa. Então o rei preparou um plano para que Urias fosse morto durante as batalhas. O que Davi fez foi criminoso e maligno. Além de adúltero, se tornara um assassino. Ele já havia matado homens em batalhas, mas o que ele havia feito contra Urias não se enquadrou em uma morte por legítima defesa na guerra. Ele planejou a morte de um homem inocente, permitindo que este fosse morto covardemente pelo inimigo.

Mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, Davi se deixou levar pelos seus desejos, e por causa deles o rei pagou um alto preço, dentro de sua própria casa.

2. Falando por parábola. Para chegar ao coração do homem segundo o coração de Deus. Natã busca um método bastante didático: contar uma história. Histórias costumam prender a atenção de quem as ouve, e esse mecanismo captou a atenção do rei. Natã não se utilizou de sua prerrogativa de profeta para empurrar as portas do palácio e gritar contra o rei, acusando-o de ter matado um de seus mais fiéis guerreiros e de apropriar-se da viúva, grávida. Ele contou a história de um homem rico que tinha várias ovelhas, e que era vizinho de um homem simples, dono de uma única ovelha. Num dia em que recebeu uma visita, o homem rico sacrificou a ovelha única do homem pobre e usou sua carne para servir à visita. Essa história deixou Davi muito irritado. Ele havia sido pastor de ovelhas quando adolescente, e impressionado pela história, disse que aquele homem rico deveria ser morto pelo que fizera, sem saber que suas palavras eram o veredito do pecado que ele mesmo havia cometido.

3. Um rei que se arrependeu. Natã, cheio de Deus, disse ao rei que ele era o homem que deveria ser morto. A seguir, ele mostra o pecado de Davi, e diz que as consequências seriam vistas em sua própria casa. Convencido de seu erro, Davi demonstra arrependimento, pois sabia que o seu pecado era digno de morte. Sua maior preocupação era perder a presença de Deus em sua vida: “Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl 51.11). Diferente de Saul, Davi não se envergonhou de pedir perdão ao Altíssimo pelo pecado que cometeu. Ele sabia que a comunhão que tinha com Deus era mais importante do que ocultar um pecado, e se sujeitou à disciplina imposta. O preço que pagou foi alto, mas mesmo nesse processo, contou com a misericórdia de Deus.


Pense!

Basta ter um dom ou talento para ser usado por Deus?


Ponto Importante

Dons e talentos são bênçãos do Senhor, mas usá-los com sabedoria faz com que o projeto de Deus seja estabelecido no tocante à comunicação conosco.


III. FALANDO O QUE DEUS MANDOU

1. Um desejo lícito. “Sucedeu, pois, que, morando Davi já em sua casa, disse Davi ao profeta Natã: Eis que moro em casa de cedros, mas a arca do concerto do SENHOR está debaixo de cortinas” (1Cr 17.1). A Palavra de Deus nos mostra que Davi, antes de morrer, teve o desejo de construir um santuário para o Eterno. Sendo ele o segundo rei da monarquia, desejava deixar um legado não apenas para ser lembrado, mas igualmente para refletir a sua fé e a sua devoção a Deus. Esse legado seria um santuário ao Deus que escolheu Davi para ser rei. Davi tinha um coração agradecido, e não queria entrar para a eternidade sem antes construir um lugar onde o povo de Israel congregasse para cultuar ao Todo-Poderoso.

2. Falando por si mesmo. “Então, Natã disse a Davi: Tudo quanto tens no teu coração faze, porque Deus é contigo.” (1Cr 17.2). Ao ouvir o desejo de Davi, de construir o templo para o Senhor, Natã, sem consultar a Deus, fala como se o Todo-Poderoso estivesse com Davi naquela empreitada. O objetivo de construir uma casa onde o culto a Deus pudesse ser uma referência era louvável, mas havia um porém: Davi tinha as mãos manchadas com sangue das guerras que fez (1Cr 22.8). O santuário para o Altíssimo, em Israel, seria construído sim, mas pelas mãos de outra pessoa, Salomão.

Natã não confirmou o desejo do rei por má-fé. Como profeta de Deus, pareceu aos seus olhos que aquele era um desejo espiritual adequado. Davi havia recebido vitórias da parte de Deus, unificou o reino e queria dar um destaque ao culto ao Senhor. Isso não era errado, mas é preciso entender que praticar ou desejar coisas, mesmo lícitas, pode não ser a vontade de Deus para as nossas vidas. O projeto de Davi seria executado por seu filho, Salomão. Mas para isso, era necessário que Davi soubesse da vontade de Deus, e não a opinião do profeta. Aqui reside a lição: Nunca se utilize de um dom sem que Deus chancele o que você vai dizer, nem se use em nome de Deus.

3. Falando em nome de Deus. O Senhor chama a atenção do profeta: “Mas sucedeu, na mesma noite, que a palavra do SENHOR veio a Natã, dizendo: Vai e dize a Davi, meu servo: Assim diz o SENHOR: Tu me não edificarás uma casa para morar” (1Cr 17.3.4). É curioso que o cuidado de Deus para com Natã e Davi se mostra nesse texto. Para com Natã, Deus o manda ir ao rei e dizer que o intento do seu coração não vai se concretizar. Para Davi, a orientação divina era que seu filho, Salomão, construísse a Casa de Deus. Resguardar a nossa opinião e distingui-la da orientação de Deus deve ser uma atitude corrente em nossos dias.

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo faz a distinção entre o que era sua opinião e o que era a orientação de Deus, com as palavras “digo eu, não o Senhor” (1Co 7.12). Deus não disse nada ao apóstolo a respeito daquele assunto, por isso Paulo usa a distinção entre a sua opinião e a orientação divina. O apóstolo falou tendo como objetivo a preservação do casamento e da família no caso de um casamento em que um cônjuge era crente, e o outro não.

CONCLUSÃO

A vida de Natã nos mostra que não estamos imunes a apresentar nossas próprias opiniões como se as mesmas fossem Palavras de Deus. O fato de Deus falar conosco não cria necessariamente em nós o discernimento para saber o que é nosso pensamento e o que é a Palavra de Deus. Por isso, é preciso depender de Deus em cada situação, para que não nos usemos em lugar de Deus. Ter um dom da parte do Eterno não nos isenta de usá-lo com sabedoria. É necessário que estejamos alinhados com a sua Palavra, revelada nas Escrituras, e saibamos ouvir o Eterno falando conosco.

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