Postado por Presbítero André Sanchez
Você Pergunta: Eu li uma palavra em Eclesiastes que dizia que era melhor ir onde tem luto do que onde há banquete. Sinceramente achei estranho, pois, pelo menos por mim, gosto muito mais de festas do que velórios e tenho certeza que a maioria das pessoas pensam assim. O que Salomão estava querendo dizer ali realmente? Não me parece verdadeira a mensagem de que o velório é mais desejado pelas pessoas do que as festas. É só ver a quantidade de pessoas que têm em cada um.
Caro leitor, percebi que você fez um pouco de confusão com a reflexão bíblica feita por Salomão a respeito de luto e banquete.
A confusão foi porque você considerou o que as pessoas preferem e não o que as pessoas precisam. Por isso, vou explicar a fundo os detalhes para que você tenha uma boa compreensão dessa passagem:
Ir ao local onde há luto é melhor do que onde há banquete?
(1) Vejamos o texto onde se encontra a citação de Salomão: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete…” (Eclesiastes 7:2).
Lendo o texto dessa forma logo somos levados a questionar a verdade dessa informação. Pensamos: “isso é mentira, muito melhor é ir a uma festa! Eu prefiro mil vezes festa do que velório!”.
Esse pensamento vem à nossa mente porque pensamos no texto fora de seu contexto e significado corretos. Eu explico.
(2) Primeiramente verificamos (no contexto imediato) que Salomão está falando da construção de uma sabedoria capaz de lidar com as complexas questões da vida. Essa sabedoria não é construída facilmente, mas sim enfrentando questões difíceis da vida e refletindo sobre elas
Em que cenários isso é mais possível? Salomão trabalha diversos cenários de construção de sabedoria de vida e usa a expressão “melhor é…” para contrastar esses cenários com outros onde se tem pouca ou nenhuma expectativa da pessoa construir sabedoria.
(3) Por exemplo, ele diz: “Melhor é a boa fama…” (Eclesiastes 7:1); “Melhor é a mágoa…” (Eclesiastes 7:3); “Melhor é o fim da coisas…” (Eclesiastes 7:8).
Tudo isso não significa que essas coisas são as preferidas das pessoas! Quem em sã consciência preferiria a mágoa? Quem desejaria ser convidado para ir a velórios? Mas, então, a que o texto se refere especificamente?
(4) O texto quer trazer a reflexão sobre o resultado que essas coisas provocam em nós. Ir a uma festa, por exemplo, não causa um impacto tão profundo sobre a brevidade da vida e construção de sabedoria como ir a um velório.
Quando estamos em um velório observamos o que somos, nossa pequenez, que temos um “tempo de validade” nesse mundo.
Observe o trecho final da reflexão de Salomão: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Eclesiastes 7:2).
Considerar a morte nos faz considerar a vida. Quem nunca saiu de um velório pensando na sua própria vida? Refletindo na busca de melhorias em seu próprio coração, sua vida com Deus, sua família?
A festa não provoca esse tipo de reflexão mais profunda! Mas, claro, aqui não se tem a intenção de ensinar que nunca devemos fazer festas. Festas têm também o seu lugar!
(5) Assim, temos aqui o foco principal de Salomão: a sabedoria é muito mais fortemente construída nos momentos difíceis, de luta, de dor! Isso é uma grande realidade sabida por todos.
É por isso que nesse contexto é melhor ir a um velório! Obviamente em outros contextos (comemorações, conquistas) preferimos uma festa, isso não é errado.
Mas não podemos deixar passar oportunidades que as dores (nossas e ao nosso redor) nos dão de construir a nossa sabedoria de vida diante de Deus.
Essa é uma construção necessária e que acontece de forma muito potencializada nos momento mais dolorosos que o ser humano pode passar.
Não podemos deixar eles passarem sem construir algo de valor. Como a dor é algo inevitável, todos passarão por ela, por que não extrair algo de bom dela ao invés de só passarmos por ela reclamando?
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