Ler o Evangelho de Lucas 15:11-32
"E disse … Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse a seu pai: Pai, dá-me a parte que me cabe da herança … .
Jesus se dirigia à multidão em parábolas, narração simbólica contendo verdades espirituais ilustradas por um fato real ou possível. Uma das parábolas mais conhecidas é a do filho pródigo.
Lucas 15:11a. Esta parábola o
pai é um homem rico, dotado de grande coração, cheio de amor, generoso e franco para com seus filhos, e, sem dúvida,
a imagem de Deus, tal como é revelada em Cristo.
Lucas 15:11b. Os dois filhos representam a humanidade. Neles vemos dois tipos diferentes. A diferença não reside em que um seja piedoso e o outro ímpio, porque no fundo todos os homens são, por sua natureza, sem Deus, e não podemos dizer que uns são puros e outros impuros, porque todos são impuros.Não se pode comparar uns a plantas venenosas e outros a rosas perfumadas. Não, todos são pecadores. Mas temos aqui os dois grandes caracteres do pecado na humanidade.
O filho mais velho tem um caráter tranqüilo; cumpre os deveres de uma vida de trabalho diário, em um caminhar honesto e virtuoso, segundo o homem.
O mais jovem, ao contrário, parece ter um mau temperamento. Ele é passional, extremamente ativo, gosta de variedade e se sente atraído pelo distante e exótico.
O mais velho representa o pecado em seu aspecto refinado;
O
mais jovem, o pecado em seu aspecto grosseiro.
O pecado é um domínio de corrupção sobre o homem, mas se manifesta de maneira muito diferente conforme cada pessoa.
O que chamamos virtude pode ser realmente orgulho, e o que o homem chama benignidade pode não ser mais que adulação ou covardia.
A educação não pode mudar a natureza pecadora; a despeito do trabalho do amor do Mestre perfeito, Judas se transforma em um "filho da perdição.
Lucas 15:12a É no filho mais jovem que o pecado se manifesta primeiro: "O mais jovem deles disse a seu pai: Pai, dá-me a parte da herança que me cabe." Seria mister, querido leitor, que cada um de nós achasse, em certa medida, a imagem desse filho pródigo em nossa própria experiência; de outra maneira, ignoraríamos o sentido excelso desta parábola.
Participando das riquezas da casa paterna, onde nada lhe falta o filho sente a ordem que reina ali como um jugo demasiadamente pesado, e deseja uma completa independência; ele acha melhor dirigir sua vida pela sua própria vontade desenfreada que pela de seu pai, e a posse do dinheiro que lhe pertence na qualidade de filho lhe parece o caminho da liberdade.
Ele estava descontente; o mundo está cheio de pessoas descontentes que murmuram contra Deus. Todos os que
não têm paz no coração atribuem sua falta a Deus.
Ele não compreende o amor de seu pai. Considerava tudo na casa paterna como sendo pobre e vazio para o seu coração.
Infeliz aquele que pensa que estar livre para gozar de todas as suas cobiças e de todas as suas paixões significa a verdadeira liberdade.
Ele verá que aquele que comete pecado é escravo do pecado.
A única e verdadeira liberdade é aquela que consiste em viver segundo os pensamentos de Deus, que nos criou para a Sua glória; somente nesta liberdade acharemos a verdadeira felicidade.
Mas o homem tem desejado desembaraçar-se da autoridade de Deus. "Todos temos andado errantes como ovelhas, temos nos voltado cada um ao seu próprio caminho.
Lucas 15:12b"E lhes repartiu os bens." Um nuvem de dor, sem dúvida, escureceu o rosto compassivo do pai; o mal que existia no coração de seu filho se manifesta diante dele em toda a sua torpeza; seu coração preferia o país distante aos cuidados do amor paternal, mas o amor não permite nenhuma violência; e o pai atende à petição de seu filho.
Um homem pode afundar-se mais profundamente no pecado que outro; mas no momento em que nos desviamos de Deus somos já completamente maus.
Eva abandona a Deus pelo fruto proibido. Ela manifesta, deste modo, que ao seu ver o diabo era melhor amigo para ela do que Deus, e que tinha mais confiança na palavra de Satanás do que na que Deus tinha dito.Mas Satanás é mentiroso desde o princípio, e foi mister a cruz de Cristo para manifestá-lo.
O homem natural é como o filho pródigo; ele gasta seus bens em país distante e se arruína a si mesmo. Um homem que possua uma grande quantidade de dinheiro, mas que gaste muito, continuamente, sem repor nada pode parecer rico durante algum tempo; mas qual é o resultado? Que é um homem arruinado.Desde o momento em que o homem deixa a Deus ele se vende a Satanás, e gasta sua alma e seu coração longe de Deus. Sem dúvida o pai tinha previsto com antecipação o que ia suceder a seu filho, mas ele o deixa ir com os olhos cheios de lágrimas, lágrimas diante de tanta ingratidão e lágrimas pelo destino terrível que seu filho vai buscar para si mesmo. Com o coração sangrando permite que ele faça a sua própria vontade. Percebe que, depois de ter esgotado para com ele todos os tesouros de seu amor, não lhe resta nenhum outro argumento para reter seu filho. Quando Deus vê que a vaidade mundana sobrepuja o amor a Ele, permite que o homem faça as experiências sobre o verdadeiro caráter deste mundo, cujos atrativos são falsos e perversos. Mas apesar de tanto o homem rejeitar a vida feliz no amor do Pai, Deus não fecha seu coração a ele; Ele espera o regresso de Seu filho. "E poucos dias depois o filho mais jovem, tendo ajuntado tudo que era seu, partiu para uma terra distante." A presença do pai se transforma em um incômodo para um jovem superficial; o sistema da casa lhe parece muito irritante, e decide ir embora para um lugar onde ninguém o conheça, e onde não seja mortificado pela presença de seus pais escrupulosos. Preferindo as obras das trevas, vai para longe da luz. "O julgamento é este: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.." {Jo 3:19 } O filho mais jovem recolhe tudo o que recebeu e empreende sua viagem com o coração cheio de ilusões sorridentes. É um linda manhã de primavera, os pássaros cantam alegremente, o ar está perfumado pelas flores e a voz do moço está cheia de alegria e coragem. Com passo ligeiro deixa para trás o caminho da velha casa, sem pensar em seu pai, que o segue com os olhos cobertos de lágrimas pelo filho que vai embora rumo a um mundo falso e cruel. Por uma ilusão de independência, o rapaz insensato abandona a origem de sua verdadeira felicidade. "E ali desperdiçou sua herança vivendo dissolutamente." O caso é este: o jovem se transforma em seu próprio mestre, escolhe o seu próprio caminho, um caminho cujo declive o leva ao abismo. Em seu egoísmo, ele só pensa em satisfazer os seus próprios desejos e muito em breve vai sofrer as conseqüências de tal conduta. "Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome." A vaidade passou rapidamente para o pobre insensato. O capital, ganhado sem dúvida durante longos anos de trabalho, desaparece em pouco tempo; não apenas seu bolso se esvazia, além disso a fome que chegou aumenta suas dificuldades. Os habitantes do país economizam seus bens e não empregam trabalhadores a não ser para os trabalhos indispensáveis. O juízo que cai sobre o país inteiro afeta de forma especial o filho pródigo, como a fome do tempo de José que, caindo sobre toda a terra, se dirigia particularmente a Jacó e seus onze filhos (Gênesis 40 {Ge 40 }) Este é o trovão que o desperta do sono de pecado aquele que havia escolhido viver independente de seu pai. "E começou a passar necessidade." Os últimos objetos de valor são vendidos, as roupas que não são de necessidade urgente são trocadas pelo alimento indispensável. A fome e o desespero vêm bater à porta como mensageiros da parte de Deus. Os amigos que foram seus companheiros de farra o esquecem, pois também eles não querem nada além de viver para si mesmos.Assim são os egoístas. Eles não têm amigos que venham lhes pedir ajuda. Sua simpatia não é mais que adulação e falsidade. A amizade fiel não existe a não ser onde existe a sinceridade mútua. "Então ele foi, e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para seus campos a guardar porcos." Notemos que está dito: "daquela terra," aquele não era o seu país. Onde se achava ele era uma estrangeiro, sem nenhuma ligação afetiva, não tinha edificado ali a sua casa. É por pena que lhe permitem apascentar porcos. Houve um tempo em que ele não suportava a benignidade da voz de seu pai, e agora está obrigado a se curvar diante do jugo humilhante de um estrangeiro que o menospreza, que não lhe confia nada além de seus porcos. Ele queria ser seu próprio senhor e se transformou em um escravo. Ele desejava a liberdade e não se promoveu, mas foi colocado abaixo dos servos. Que imagem reveladora da humanidade! Os homens não têm querido obedecer ao Deus de amor, mas se inclinam sob a tirania de Satanás, o homicida e mentiroso. {Jo 7:44 } "Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada." Que situação desesperada! Pode-se cair mais baixo? Não tem apenas que cuidar dos porcos, mas também tem que invejar a sua comida! Não é questão de prazer; seu desejo manifestado (desejava encher seu estômago) mostrava sua miséria. Que degradação! Ter aspirações análogas às dos mais vis animais! Nesta degradação, vemos o primeiro fruto do pecado. O homem perde sua nobreza; também tira da alma o que o distingue dos animais e em seus desejos é semelhante a eles. Por sorte o arrependimento não depende da educação, da civilização; na sociedade refinada de amigos ricos, a consciência fica adormecida, mas atrás dos porcos e no fundo da miséria, os primeiros indícios do despertar se anunciam. Também o pecado, por muito tempo, se oculta debaixo de um manto brilhante e o pecador não reconhece sob seu verdadeiro caráter até que o desenlace o manifeste. "O salário do pecado é a morte." É então que se apresenta o dilema do qual depende o seu destino eterno: desespero ou arrependimento. "E caindo em si" … Entre os porcos, o jovem se sente só e abandonado por todos, enfraquecido. Faminto, vestido de farrapos, ele se encontra completamente só, depois de um período em que o mundo, os amigos, os prazeres, ocuparam seu pensamento. É agora que começa a refletir sobre o seu estado. É uma expressão muito significativa: "E caindo em si." Na mesma posição que ele há muitos que jamais voltam a sim e isto se pode dizer não somente daqueles que vivem em desordem, mas também de muitos outros que levam uma vida mais ou menos honesta. O homem é cego em seu estado natural, quando se ocupa constantemente de coisas que estão fora dele mesmo, suas obras, seus prazeres, seus assuntos, sua família, mas não encontra as horas de silêncio necessárias para seu exame pessoal, nem a coragem para considerar a condição de sua alma. Porque aquele que se vê tal como é deve sempre pronunciar julgamento sobre si mesmo. Nosso coração nos condena, e Deus, que é maior que nosso coração, deve condenar-nos igualmente ({1Jo 3:20 }). Que bênção para o pródigo ser posto fora por um mundo de prazeres vãos e ter ficado só. Agora se dá conta não somente de seus estado atual, mas também da causa de sua desgraça. Ele diz: "Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!" O que o homem não vê, Deus vê. Quando não queremos voltar a nós mesmos, Deus está obrigado a empurrar-nos por caminhos de dor e solidão. Ele pode empregar o leito da enfermidade, a discórdia, o cativeiro, como mensageiros de Sua Graça e de Seu amor. Na imaginação do jovem surge subitamente a casa paterna, com sua vida pacífica e ordeira, com suas fontes e suas palmeiras frondosas. Ele a compara com a cena desoladora em meio à qual vive atualmente. Em sua mente ele vê os trabalhadores mais simples sentados à mesa bem posta, e ele, o filho da casa, não tem nem mesmo as cascas do que os porcos comem! A situação de um filho em sua casa é muito mais elevada que a dos criados, mas onde foi parar a sua dignidade? Os privilégios desapareceram, e de onde veio essa mudança? Como o sorriso do passado se transformou na desolação da hora presente? A resposta a essa questão angustiosa se impõe com força a seu espírito: Foram o meu orgulho e a minha própria vontade que me separaram desse centro de amor e de riquezas! E com uma dor profunda ele recorda o momento funesto quando tomou o caminho que o distanciou da casa paterna. Mas com esta dor, o desejo de voltar para lá entra em seu coração. A mudança se produziu. Oh! Bem aventurado o homem que, depois de uma vida de esforços vãos e lutas estéreis, acha outra vez, no fundo do seu coração, o desejo de aproximar-se de Deus.Bem aventurado aquele que reconhece que toda sua perdição é por causa de seu afastamento de Deus. E em aventurado aquele que toma a firme decisão de voltar a seu Deus dizendo: "Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus a permanecer nas tendas da perversidade.." {Sl 84:10 } E ele diz: "Levantar-me-ei e irei ter com meu pai." Quando o pródigo pensa na casa de seu pai, moralmente toda a obra está feita, mesmo que ele ainda não esteja de regresso.Um milagre operou-se em seu coração orgulhoso e altivo, ele reconhece plenamente seu erro, e deseja humildemente retroceder em seu caminho. Cada um se envergonha de reconhecer a sua culpa, de confessar publicamente seu pecado, de julgar seu ser e suas obras passadas. É pela porta estreita, onde a alma deve se encurvar, para entrar por ela e encontrar a vida e o perdão. Mas que gozo enche o coração quando somos julgados deste modo e somos conduzidos Àquele que veio para nos buscar e salvar pecadores como nós. "E lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho." Que palavras comovedoras! Dizendo: "Pai," ele reconhece não ser digno do nome de filho. Nesta palavra "Pai" se vê a f-é que conta com uma graça e uma misericórdia que não dependem da conduta do filho, apenas do ser do Pai, cujo caráter é imutável. Quanto mais profundo é o sentimento do pecado em nosso coração, mais contamos com o amor do Pai. "Ah, se olhasses para os pecados, quem, Senhor, subsistiria? Porém em ti está o perdão, para que te temam." {Sl 130:4 } Por isto diz: "Deus resiste aos soberbos e dá graça aos humildes." {Tg 4:6 } "Pai, pequei." Sem desculpas, sem introdução, sem subterfúgios, ele confessa seu pecado. Ele não faz como Adão, que joga a culpa sobre sua mulher, nem como Eva, que a joga sobre a serpente; ele não acusa o mundo cruel e perverso, ele se acusa a si mesmo. Ele não diz que ali há pessoas que têm cometido males piores que ele; em seu arrependimento não julga ninguém além de uma pessoa-a ele mesmo, e justifica a sabedoria infinita de Deus que condena o pecado. "Pequei contra o céu." Cada pecado é um insulto dirigido a Deus três vezes santo que está sentado nos Céus."contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos," diz Davi depois da morte de Urias. Deus tem direito sobre nosso ser inteiro; Ele nos criou para sua glória e nós O frustramos em cada ato que O desonra. O homem natural se esconde atrás de todo um andaime de boas obras; ele alega que não faz mal a ninguém, que dá aos homens o que lhes deve. E deste modo procura esquecer o fato de que nenhum ato de sua vida tem como objetivo glorificar a Deus, que sua vida é vã diante de Deus e que ele está privado da glória de Deus. O homem que quer estabelecer sua própria justiça está cego quanto às exigências da justiça divina. Se os homens não o acusam, ele se sente satisfeito. Ele não faz caso do orgulho do ódio, do egoísmo, da inveja, que vão enchendo seu coração, contanto que sua reputação seja irrepreensível. Mas quando a consciência se desperta nos sentimos culpados diante de Deus, que sonda os corações. Em Sua presença nossas obras desaparecem, e exclamamos como o publicano, batendo no peito: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! É desta maneira que a pessoa se arrepende de seus pecados. "Pai, pequei contra o céu e contra ti." Aquele que sabe que pecou, ofendendo a Deus, sabe que também ofendeu aos homens. A dor que o filho pródigo causou a seu pai lhe queima o coração; o remorso por haver desprezado o amor de seu pai lhe é insuportável; com lágrimas ele se recorda de sua ingratidão e sua falta de amor. Quanto teve que sofrer um pobre ancião durante estes anos de afastamento! O solo começa a queimar debaixo de seus pés e deseja ter asas para atravessar o espaço e lançar-se aos pés de seu pai com lágrimas de arrependimento. Ai de mim! Muitos filhos pródigos têm encontrado sua casa vazia, sem seus pais, os quais não sobreviveram à tristeza, e o dardo do remorso ficou em suas consciências para sempre! "Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores." O pecado se ergue diante dele de uma maneira tão horrorosa que não se sente digno do nome de filho. Ele pensa que desonraria o pai reconhece-lo como tal. Ele ainda não está dentro da inteira liberdade da graça, ainda não compreendeu a paz e a felicidade de uma salvação perfeita. Mas o pai não fala de trabalhadores, não impõe jamais o jugo da servidão. Quando o homem reconhece sua culpabilidade, ele mesmo baixa de toda a altura de sua auto-estima. As palavras "não sou digno" não apenas indicam o princípio da obra de Deus em um coração, estas palavras de humildade caracterizam a criatura de Deus durante toda a sua estada na terra. Ditoso aquele que, na presença de Deus, pronuncia sem cessar o "eu sou indigno." Estas são as pessoas que Deus elogiará. O jovem desta parábola foi aceito como filho, desde o momento em que ele não se sentiu digno desta posição. Quando Pedro disse a Jesus: "Aparta-te de mim, Senhor, porque sou homem pecador," {Lc 5:8 } o Senhor o une com Ele por toda a eternidade. Quando o ladrão da cruz disse; "Nós, em verdade, padecemos com justiça," o Salvador lhe abre as portas do paraíso. Um tal confissão é o prelúdio à graça infinita que traz a salvação ao pecador arrependido. Para cada pecador arrependido, os anjos no céu cantam seu cântico de alegria. "E, levantando-se, foi para seu pai." Alguns têm dito que estas palavras eram desnecessárias. Não tinha ele tomado a decisão de voltar? Então não é preciso dizer que a pôs em prática. Aquele que fala deste modo não conhece nem seu próprio coração, nem a vida, que nos rodeia. Quantas promessas se fazem e não se cumprem; quantas decisões se tomam e que nunca se começa a pô-las em prática! E quantas vezes se começa e não se conclui. Pensem na mulher de Ló, , nos israelitas no deserto, no jovem rico.São muitos os chamados, mas poucos os escolhidos. A vontade de Deus é cumprir a obra que Ele começou em um coração, mas a vontade própria do homem com freqüência põe obstáculos. A vontade de Deus não se cumpre a não ser onde há um coração dócil e submisso a Ele. O filho pródigo venceu todos os obstáculos do caminho para realizar o que tinha decidido. Ele rejeita as insinuações diabólicas, as vaidades mundanas, o orgulho, porque o desejo de ver seu pai arde em seu coração. Ele não podia viver sem vê-lo de novo. "Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou." Este feito nos apresenta, de uma maneira comovedora, a verdade sublime: Deus é amor. Claramente Jesus apresenta aqui o caráter de Seu Pai celestial. O amor de Deus não é sentimental ou fraco. O filho pródigo é a experiência amarga de que a perdição, a ruína, a solidão e a aflição são as conseqüências do pecado. Mas apesar de todos os juízos que Deus impõe sobre aqueles que vagam longe dEle, Ele é amor, e neste amor Deus busca sem cessar suas ovelhas perdidas. Com o passo vacilante e a cabeça baixa o filho se aproxima da casa paterna. Ele não se atreve a levantar os olhos.Tem que suportar os olhares dos vizinhos que o conheceram em sua juventude.O pai nos é descrito como estando continuamente à espera de seu filho, como se tivesse estado à espreita, com os olhos postos no caminho, esperando descobrir na distância a silhueta daquele filho que lhe tinha causado tanta dor e vergonha. E por fim o descobre na pessoa de um miserável vestido com trapos. Este pai é a imagem exata do Deus que dizia: "Estendi minhas mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos." {Is 65:2 } Oh, que pensamento abrangente a toda a alma que anda longe de Deus: Deus te busca e seu coração te espera. Cada dia Ele te estende a Sua mão; permanecerás rebelde? "E compadeceu-se dele." Aqui mergulhamos profundamente nosso olhar no coração do pai. A miséria do filho produz nele uma imensa compaixão. Não pensa na desonra, nem nas angústias, nem nos bens gastos loucamente, nem nas noites de insônia. Não sente irritação para com o filho que arrastou na lama a honra da casa. Não se sente satisfeito pelo fracasso final da triste aventura. Aqueles que podem pensar num sentimento assim não conhecem o coração de um pai terreno, e muito menos o coração do Pai celestial. O amor eterno sofre por causa do estado do pobre pecador. O amor de Deus vai mais além do amor de uma mãe por seu filho. "Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho de seu ventre? Mas ainda que esta viesse a esquecer-se dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti.." {Is 49:15 } Quantas vezes pronunciamos julgamentos depreciativos sobre os pecadores e quão pouco nos parecemos, neste aspecto, com este Deus cujo amor infinito o leva até os seres mais depravados! "E correndo, o abraçou e o beijou." Eis aqui o ato que manifesta a profundidade, a altura, a largura e o comprimento do amor dentro do coração paternal. Ele se abala ao encontro do seu filho, ele o aperta sobre seu coração e o beija. E faz isto antes que o filho tenha pronunciado uma só palavra, antes de examinar seus propósitos, se exigir primeiro um ato de arrependimento segundo certas regras, como os homens quiseram nos impor. O único grande remédio que cura as feridas do pecado é o poder do amor. Deus não repreende, mas Ele dá, Ele perdoa, Ele cura, Ele justifica. Ele regenera o coração; vertendo nele a vida eterna, Ele faz novas todas as coisas. "E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho." O filho, diante da recepção de seu pai, não tem oportunidade para pedir-lhe para ser admitido como trabalhador. A graça e o amor fazem desaparecer de seu coração natural o pensamento de que seu pai poderia tê-lo como servo. Em troca, como reconhece ser indigno do nome de filho! "O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos." Eis aqui o que expressa o prazer dAquele que recebe de novo ao pecador.deus opera segundo as delícias que Ele acha em ver um pecador vir ao arrependimento; Ele não olha para os andrajos. Nós não recebemos a paz somente pelo ato de voltar, mas quando aprendemos que aqueles são os sentimentos do Pai para conosco. Quando os braços do pai rodeiam o pescoço do filho, ele se suja por causa dos trapos? Não; ele não quer, entretanto, que seu filho entre em casa nesse estado e ordena que o vistam com os mais formosos vestidos. Deus envia Seu próprio Filho do céu, e reveste o pecador. O moço, vestido por seu pai, honrará sua casa. Sem dúvida, se nós somos assim revestidos, honraremos a Deus nesta terra, e nos séculos vindouros. "Para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da Sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus." {Ef 2:7 } "Comamos e regozijemo-nos." Ele não disse: que ele coma e se regozije, porque Deus mesmo e toda a casa celestial se une no regozijo pelo retorno do Filho. O Evangelho proclama ao pecador que vem a Deus por Jesus Cristo não somente o perdão dos pecados, mas também sua participação na glória eterna. Deus nos dá o Espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba, Pai, e Ele nos declara Seus herdeiros e co-herdeiros com Cristo, no reino vindouro. O anel no dedo simboliza nossa união eterna com o Pai e Seu Filho Jesus Cristo, Cabeça e Esposo da Igreja dos resgatados. Os sapatos nos pés simbolizam o poder do Espírito, pelo qual podemos andar em novidade de vida. O bezerro cevado é o emblema dos recursos espirituais que encontramos em Jesus Cristo para a nossa peregrinação na terra. É o nosso alimento e nosso refrigério. "Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se." Imagem surpreendente da regeneração, nossa ressurreição espiritual. "vós, que estáveis mortos em vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo … Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo … " {Ef 2:1-10 } "Ele estava perdido e foi achado." "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade de todos nós.." {Is 53:6 } "E começaram a regozijar-se." Isto não é mais que o começo de uma felicidade sem fim. A vida com Deus não dá um prazer passageiro, mas sim delícias que aumentam à medida que as desfrutamos. "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo, alegrai-vos," assim escreve de sua prisão em Roma. {Fp 4 } A alegria constante é inalterável o gozo eterno caracteriza a verdadeira vida com Cristo, a despeito das experiências e das dificuldades que puderem surgir em nosso caminho. "Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.Chamou um dos criados e perguntou-lhe o que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou." Que doloroso final, depois desta bela história do filho pródigo! O filho mais velho representa a justiça própria do coração natural, terrível obstáculo para a salvação. A justiça própria produz a ira e o ódio quando a graça é manifestada. A religião de Caim, que ofereceu os produtos do seu próprio trabalho, conduz à morte de Abel, o qual, de acordo com os pensamentos de Deus, havia imolado um cordeiro. "Ele se indignou e não queria entrar." Ele se exclui a si mesmo da alegria reinante na casa do pai, porque ele queria estar ali, não por causa do amor do pai, mas por causa da sua própria conduta, de sua obediência e suas Obras."saindo, porém, o pai procurava conciliá-lo.Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos." Aquele que justifica a si mesmo raciocina desta maneira: No céu só deve entrar pessoas boas, como eu; é mister ganhar o céu com as boas obras. Para ele é absurdo pensar que as pessoas mais vis possam entrar ali sem boas obras, e com base no simples ato de ter acreditado. Mas Deus não discorre deste modo; ali onde Ele tem o júbilo do céu, a justiça própria do homem é declarada nula e sem valor. O que a si mesmo se justifica não sente nenhuma simpatia pelo caráter e conduta do pai, e não tem nenhuma comunhão com o regozijo paterno. Então fica manifesta a perfeita paciência da graça de Deus. Ele sai e suplica. Assim é que, depois que os fariseus, os próprios justos por excelência, crucificaram o Senhor Jesus, Deus continua a falar-lhes em Sua paciência, e os apóstolos Pedro e Paulo ainda se dirigem a eles e os chamam ao arrependimento. Porém tudo é egoísmo na casa do filho mais velho. Os judeus estavam ciumentos de que Deus usasse de graça ante as nações e rejeitaram esta graça, para sua própria perdição. Assim fazem todos aqueles que querem ser justificados com fundamento nas suas obras; eles recusam a graça de Deus e perseguem os que estão salvos pela graça de Cristo. "Vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado." O fariseu acusa, imediatamente, a seu próximo, e seguidamente acusa a Deus por causa do Evangelho da graça. "Então lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado." Eis aqui o que Deus pede às Suas criaturas, regozijar-se na salvação dos outros, salvos como eles pela Sua graça. "Porque de tal maneira amou Deus ao mundo, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." {Jo 3:16 } Ponham nEle a sua confiança, hoje mesmo e vocês viverão eternamente!