Postado por Presbítero André Sanchez
Talvez um dos textos mais mal compreendidos hoje em dia seja 2 Coríntios 3:6: “o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.”
Antes de explicar o significado de a letra mata, mas o espírito vivifica, quero elencar algumas coisas que esse versículo NÃO SIGNIFICA, mas que são muito pregadas por aí:
A letra mata, mas o espírito vivifica
(1) Não significa que o estudo das Sagradas Escrituras mata o espírito do estudante e nem que pelo estudo se diminui a ação do Espírito de Deus nele.
Alguns ousam afirmar que esse verso indique que devemos agir na “liberdade” total, sem estudos mais sistemáticos da Bíblia, pois estudar a “letra” equivaleria a matar o espírito.
Isso vai totalmente contra o que disse Jesus e Paulo, que mandaram examinar as Escrituras com zelo (João 5:39; Atos 17:11)
(2) Não significa que ter o espírito vivificado seja manejar a Bíblia ao acaso, abrindo em qualquer lugar e pregando sem considerar a interpretação correta do texto e usando métodos alegóricos para interpretá-la no calor de sentimentalismos prejudiciais.
(3) Não significa que “a letra” não é algo de Deus e “o espírito” seja algo de Deus. Veremos a seguir que tanto a “letra” quando o “espírito” foram dados por Deus em momentos diferentes e devem ser entendidos claramente dentro de cada contexto e momento da revelação de Deus.
Feitas essas ponderações, vamos agora entender o que Paulo realmente quis dizer com a frase “A letra mata, mas o espírito vivifica”:
(1) A letra é uma referência clara de Paulo a Lei de Moisés. Em 2 Coríntios 3:6 Paulo chama a Lei de Moisés de “letra”, no verso 7, chama de “ministério da morte” e no verso 9 de “ministério da condenação.”
(2) Com todos esses adjetivos Paulo estava demonstrando em seu argumento que a Lei (Antigo Testamento) tem seu valor (observe que Paulo fala também da glória da Lei – V.7 – ainda que seja uma glória que já não resplandece – V.10), mas não era a prática dos preceitos [desta Lei] que traria a vida eterna as pessoas.
Algo muito defendido pelos judeus que não aceitavam a Cristo e impunham a obediência a Lei como uma forma de salvação.
(3) A revelação de Deus na Bíblia é progressiva e, naquele momento, Jesus já fora revelado e implementou uma aliança superior a antiga (Hebreus 8.6), na qual devemos andar. Essa aliança é permanente e perfeita, diferente da antiga.
(4) Aqueles que insistem em andar guiados somente pelos preceitos do tempo da Lei estão mortos pela letra, pois negam a revelação de Deus, Jesus Cristo.
Já aqueles que compreendem que Jesus veio, cumpriu a Lei e nos tornou justificados diante de Deus, andam com sua vida vivificada, o que equivale a dizer que o ”espírito vivifica” a vida destes que cumprem a vontade de Deus.
(5) A nova aliança de Cristo não destrói a Lei do Antigo Testamento, caso contrário poderíamos jogar o Antigo Testamento fora. Antes, reafirma os princípios morais da Lei do Antigo Testamento, anula aqueles que não são mais necessários e cumpre tudo aquilo que a própria Lei falou sobre o que haveria de vir.
(6) Para finalizar poderíamos resumir o significado de a letra mata, mas o espírito vivifica da seguinte forma: Aqueles que insistem em viver debaixo da Lei em nosso tempo, mesmo após a manifestação do Salvador, tempo em que temos Cristo, estão mortos, pois nunca conseguirão satisfazer as exigências da Lei da antiga aliança.
Somente um conseguiu satisfazer essas exigências, Cristo, e, por isso, pelos méritos de Jesus, podemos hoje satisfazer a Deus e termos vida em nós. Aqueles, porém, que estão andando em Cristo, tratando a Lei da forma como tem de ser tratada, estes colhem uma vida vivificada dada por Deus!
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