Você Pergunta: Uma fala de Jesus me deixou bem intrigada, Ele diz em Mateus 23:9 que a ninguém sobre a terra devemos chamar de pai. Ele estaria proibindo chamarmos, por exemplo, nosso pai de pai ou de papai? Qual erro teria isso? Pode me explicar com mais detalhes o que realmente Jesus está ensinando neste texto?
Alguns ditos de Jesus, quando considerados de forma isolada, costumam causar um pouco de confusão em sua interpretação.
O grande segredo está em considerar o que chamamos de contexto imediato (que vem logo antes e depois do verso que se está estudando) e o contexto amplo (outros textos da Bíblia que podem ajudar a compreender melhor um texto mais difícil).
Será que Jesus proíbe chamar alguém de pai? Vejamos:
Jesus proíbe chamar alguém de pai, de acordo em Mateus 23:9?
(1) A primeira coisa que quero trazer para nossa análise é que em diversos textos da Bíblia pessoas são chamadas de pai.
Vejamos um destes textos. Primeiro um no Antigo Testamento: “Os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cam e Jafé; Cam é o pai de Canaã” (Gênesis 9:18).
Agora um no Novo Testamento: “Sucedeu que, no oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias” (Lucas 1:59).
Isso nos leva a uma primeira conclusão de que a palavra “pai” não é usada somente para falar de Deus na Bíblia, antes, é usada também para falar de pai biológico e, em alguns casos, de pai no sentido figurado (como pai na fé, por exemplo).
Uma segunda conclusão nos leva a questionar que Jesus teve um outro foco quando diz que ninguém deve ser chamado de pai em Mateus 23:9.
Jesus proíbe chamar alguém de pai: a realidade desse ensino de Cristo
(2) O texto onde Jesus menciona essa questão é Mateus 23:9 e diz: “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus”.
Analisando os versos anteriores observamos que Jesus está trazendo uma palavra às multidões e aos Seus discípulos (Mateus 23:1).
O assunto dessa palavra é a forma como os fariseus e escribas agem. Jesus é bastante firme e, dentre várias coisas, diz que os fariseus se apossaram da cadeira de Moisés (Mateus 23:2), ou seja, se achavam legisladores, aplicadores da lei como fora Moisés.
Jesus diz que eles eram falsos, falavam uma coisa e faziam outra (Mateus 23:3); oprimiam as pessoas com leis opressivas (Mateus 23:4); faziam as coisas com o objetivo de serem vistos, bajulados, de serem honrados pelas pessoas (Mateus 23:5); amavam os primeiros lugares, para serem tratados como os maiorais (Mateus 23:6); gostavam de ser chamados de “mestres”, “pais” e “guias”, e isso enchia os egos deles (Mateus 23:7, 8, 9, 10).
(3) Nesse ponto Jesus dirige Sua fala aos Seus discípulos, deixando claro que eles deveriam ser diferentes dos fariseus e escribas:
“Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos” (Mateus 23:8).
O que temos, então, é Jesus trazendo um contraste entre a forma como os fariseus e escribas, (religiosos da época), agiam e gostavam de ser vistos e tratados, e como Seus discípulos deveriam ser vistos e tratados.
Fariseus e escribas gostavam dos títulos bajuladores como “mestres”, “guias” e “pais” que, da forma com que eles usavam, usurpavam de Deus a autoridade que era Dele.
Os títulos, em si mesmos, não são ruins, pois podemos ter mestres, guias e pais (Atos 13:1 mostra que haviam mestres na igreja de Cristo), no entanto, o que Jesus condena aqui é a forma como os religiosos da época os usavam para inflar seu ego e promover sua superioridade diante do povo.
É como se eles fossem uma classe especial de pessoas superiores, mais espirituais, mais santas, intocáveis, quase que deuses sobre a terra. Isto estava sendo proibido por Jesus aos Seus discípulos!
(4) Isso fica efetivamente claro na conclusão de Jesus, quando Ele afirma aos Seus discípulos: “Mas o maior dentre vós será vosso servo” (Mateus 23:11).
Jesus está condenando o comportamento de superioridade na aplicação dos dons, da missão que Deus deu a cada um.
Se Deus chamou alguém para ser um mestre (ensinar a outros), essa pessoa deveria ter em mente que recebeu um dom de Deus para servir, não para oprimir as pessoas, para se portar como superior, como melhor do que os outros.
É isso que Jesus está condenando no uso dos títulos de Mestre, Pai e Guia (nos versos 8, 9 e 10) que os fariseus e escribas faziam e que Seus discípulos não deveriam fazer.
(5) Assim, não existe uma proibição de Jesus de chamar alguém de pai. Nem o pai biológico nem um pai por consideração.
Por exemplo, Paulo se considerava como um pai dos coríntios e de Timóteo, por ter apresentado o evangelho a eles e os acompanhado em seu crescimento:
“Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho” (1 Coríntios 4:15 – NVI).
Mas Paulo não usa isso como superioridade, mas para glorificar a Deus por meio do evangelho que fora pregado, exaltando a grandeza de Cristo. Esse é o bom uso dessa linda palavra!
Presbítero André Sanchez
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