07 setembro 2021

𝐀 𝐏𝐄𝐃𝐀𝐆𝐎𝐆𝐈𝐀 𝐃𝐎 𝐌𝐈𝐋𝐀𝐆𝐑𝐄

 


Referência: João 11.1-57
INTRODUÇÃO
1.Este é o último grande milagre público de Jesus. Foi realizado na última semana de Jesus antes de ser preso e morto na cruz.
2.Este milagre tem várias lições importantes:
a)As crises são inevitáveis – Lázaro mesmo sendo amigo de Jesus ficou doente.
b)As crises podem aumentar – Lázaro piorou e chegou a morrer. Há momentos que somos bombardeados por problemas que escapam ao nosso controle: enfermidade, perdas, prejuízos, luto. Oramos e nada acontece. Aliás, piora. Queremos alívio e a dor aumenta. Queremos subir, e afundamos ainda mais.
c)Quando a enfermidade e o luto chegam em nossa casa, ficamos profundamente angustiados – Nessas horas nossa dor aumenta, pois nossa expectativa era de receber um milagre e ele não chega. Como os discípulos de Emaús começamos a conjugar os verbos da vida apenas no passado: “Nós esperávamos que fosse ele quem redimisse a Israel, mas…” (Lc 24:21).
3.Este texto nos fala da pedagogia de Jesus na realização deste grande milagre.
I.O TEMPO DO MILAGRE
1.Como conciliar o amor de Jesus com o nosso sofrimento – v. 3
A família de Betânia era amada por Jesus – Ele amava a Marta, Maria e Lázaro, mas mesmo assim, Lázaro ficou enfermo. Se Jesus amava a Lázaro por que permitiu que ele ficasse doente? Por que permitiu que suas irmãs sofressem? Por que permitiu que o próprio Lázaro morresse? Aqui está o grande mistério do amor e do sofrimento.
Marta e Maria fizeram a coisa certa na hora da aflição – Buscaram ajuda em Jesus. Elas sabiam que Jesus mudaria a agenda e as atenderia sem demora.
Elas buscaram ajuda na base certa – o amor de Jesus por Lázaro e não o amor de Lázaro por Jesus. Quem ama tem pressa em socorrer a pessoa amada. Hoje dizemos: Jesus, aquele a quem amas está com câncer. Jesus, aquele a quem amas está se divorciando? Jesus, aquele a quem amas está desempregado.
Por que Jesus não curou Lázaro à distância – Jesus poderia ter impedido que Lázaro ficasse doente e podia também curá-lo à distância. Ele já havia curado o filho do oficial do rei à distância. Por que não curou seu amigo a quem amava? A atitude de Jesus parece contradizer o seu amor.
Os judeus não puderam conciliar o amor de Cristo com o sofrimento da família de Betânia (v. 37) – Eles pensaram que amor e sofrimento não podiam andar juntos.
Se Jesus nos ama, por que sofremos? – Se Jesus nos ama, por que passamos pela aflição. Se ele é todo-poderoso, por que não nos livra do sofrimento? Por que um filho de Deus fica doente, perde o emprego, enfrenta o luto?
Sem imunidades especiais – O Pai amava o Filho, mas permitiu que ele bebesse o cálice do sofrimento e morresse na cruz em nosso lugar. O fato de Jesus nos amar não nos torna filhos prediletos. O amor de Jesus não nos garante imunidade especial contra tragédias, mágoas e dores. Ilustração: Nenhuma dos discípulos teve morte natural, exceto João, e ele morreu exilado em uma ilha solitária. Jesus não protemeu imunidade especial, mas imanência especial. Ele nunca prometeu uma explicação, prometeu ele próprio, aquele que tem todas as explicações.
2.Como conciliar a nossa necessidade com a demora de Jesus – v. 6,39
Ao invés de mudar sua agenda para socorrer Lázaro, Jesus ficou ainda mais dois dias onde estava. Em vez de ir, manda apenas um recado: “Esta enfermidade não é para a morte, mas para a glória de Deus”, mas Lázaro morreu.
Marta precisou lidar não apenas com a doença do irmão, mas também com a demora de Jesus. Por que ele não veio? Será que ele virá? Será que ele nos ama mesmo? Muitos passaram a censurar a demora de Jesus.
Marta oscilou entre a fé e a lógica. Pois como entender as palavras de Jesus: “Esta enfermidade não é para a morte, mas para a glória de Deus” se quando o mensageiro a entregou a Jesus, Lázaro já havia morrido? Ela duvidou. Ela se angustiou.
A demora de Jesus a deixou frustrada, quase decepcionada (v. 21).
Muitas vezes, Jesus parece demorar:
a)Deus prometeu um filho a Abraão e Sara – Só depois de 25 anos cumpriu a promessa.
b)A tempestade no mar – só na quarta vigília da noite, foi ao encontro dos discípulos.
c)Jairo vai pedir socorro a Jesus – quando Jesus chega sua filha já estava morta.
d)A fé de Marta passa por 3 provas: 1) A ausência de Jesus (v. 3); 2) A demora de Jesus (v. 21); 3) A morte de Lázaro (v. 39).
3.Como conciliar o nosso tempo (cronos), com o tempo de Jesus (kairós) – v. 6
A distância entre Betânia e onde Jesus estava dava mais de 32 Km. Levava um dia de viagem. O mensageiro gastou um dia para chegar a Jesus. Logo ao sair de Betânia Lázaro morreu. Quando deu a notícia a Jesus, Lázaro já estava morto. Jesus demora mais dois dias. E gasta outro dia para chegar. Daí quando chegou, Lázaro já estava sepultado há quatro dias.
Jesus se alegrou por não estar em Betânia antes da morte de Lázaro (v. 15). Ele deu graças ao Pai por isso (v. 41b). Jesus sempre agiu de acordo com a agenda do Pai (2:4; 7:6,8,30; 8:20; 12:23; 13:1; 17:1).
Ele sabe a hora certa de agir. Ele age segundo o cronograma do céu e não segundo a nossa agenda. Ele age no tempo do Pai e não segundo a nossa pressa. Quando ele parece demorar, está fazendo algo maior e melhor para nós.
Marta e Maria pensaram que Jesus tinha chegado atrasado, mas ele chegou na hora certa, no tempo oportuno de Deus (v. 21,32).
Jesus não chega atrasado. Ele não falha. Ele não é colhido de surpresa. Ele conhece o fim desde o princípio, o amanhã desde o ontem. Ele enxerga o futuro desde o passado. Ele sabia que Lázaro estava doente e que Lázaro já estava morto. Ele demorou mais dois dias porque sabia o que ia fazer.
II. O MODO DO MILAGRE
1.Jesus não está preso às categorias do nosso tempo – v. 22-25
Marta crê no Jesus que poderia ter evitado a morte (v. 21)- PASSADO.
Marta crê no Jesus que ressuscitará os mortos no último dia (v. 23-24) – FUTURO.
Mas Marta não crê que Jesus possa fazer um milagre AGORA. Marta vacila entre a FÉ (v. 22) e a lógica (v. 24).
Somos assim também. Não temos dúvida que Jesus realizou prodígios no passado. Não temos dúvida de crer que ele fará coisas tremendas no fim do mundo. Mas nossa dificuldade é crer que ele opera ainda hoje com o mesmo poder.
Talvez essa é a sua angústia – Você tem orado pelo seu casamento e o vê mais perto da dissolução. Você tem orado pela conversão do seu cônjuge e o vê mais endurecido. Você tem orado pelos seus filhos e eles continuam mais distantes de Deus. Você tem orado pelo seu emprego e ele ainda não surgiu. Você tem orado pela sua vida emocional e ainda ela parece um deserto.
Ah se tudo fosse diferente – Passado e Futuro – O grande erro do “Ah se fosse diferente” das duas irmãs, foi omitir o poder presente do Cristo vivo. Marta vivia ou no passado ou no futuro. Mas é no presente que o tempo toca a eternidade. Não podemos viver de lembranças que já passaram nem apenas das promessas que ainda são futuro. Precisamos crer hoje. Jesus não é o grande EU ERA nem o grande EU SEREI. Ele é o grande EU SOU. Nesse evangelho ele diz: 1) “Eu sou o pão da vida” (6:35); 2) “Eu sou a luz do mundo” (8:12); 3) “Eu sou a porta” (10:9); 4) “Eu sou o bom pastor” (10:11); 5) “Eu sou a ressurreição e a vida” (11:25); 6) “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (14:6); 7) “Eu sou a videira verdadeira” (15:1).
2.Jesus se identifica com a nossa dor – v. 35
A)Aquele que cura as nossas chagas é ferido conosco
As lágrimas de Jesus revelam sua humanidade, sua compaixão, seu amor (v. 36). Jesus se importa com você e com sua dor.
Ele não é o Deus distante dos deístas, nem o Deus impessoal dos panteístas, nem o Deus fatalista dos estoicos, nem mesmo o Deus bonachão dos epicureus. Ele não é o Deus morto, pregado numa cruz nem o Deus legalista, xerife cósmico dos fariseus.
Ele é o Deus Emanuel. Ele chora com você. Ele sofre por você. Ele se importa com você. Ele se identifica com você. Ele é o Deus que chora, que sofre, que terapeutiza a nossa dor.
a)Jesus sabe o que é a dor do sem teto – pois ele não tinha onde reclinar a cabeça. Jesus sabe o que é dor da pobreza. Ele conhecia a linguagem dolorida do salário mínimo.
b)Jesus sabe o que é a dor da solidão – nas horas mais difíceis ele estava só. Foi deixado só no Getsêmani e na cruz.
c)Jesus sabe o que é a dor da perseguição – Foi caçado por Herodes, vigiado pelos fariseus, odiado pelos escribas e entregue pelos sacerdotes.
d)Jesus sabe o que é a dor da traição – traído pela multidão que o aplaudiu. Traído por Judas, negado por Pedro, abandonado pelos discípulos.
e)Jesus sabe o que é a dor da humilhação – Foi preso, espancado, cuspido, deixado nu, pregado na cruz como criminoso.
f)Jesus sabe o que é a dor da enfermidade – Ele tomou sobre si a nossa dor e a nossa enfermidade.
g)Jesus sabe o que é a dor da morte – Ele suportou a morte arrancar o aguilhão da morte e nos trazer a ressurreição.
B)Aquele que enxuga as nossas lágrimas chora conosco
Jesus não apenas está presente com você em seu sofrimento, ele se compadece de você, chora com você. Jesus chorou em público, diante de uma multidão, condoendo-se daquela família enlutada.
Ele chegou ao ponto de descer ao Hades, em sua identificação com a nossa dor. Ilustração: Sete anos antes de o navio TITANIC ser encontrado, a revista NATIONAL GEOGRAPHIC começou os preparativos para o dia em que o navio fosse achado e pudesse ser fotografado. Quando foi descoberto em 1985, o fotógrafo Emory Kristof começou a conferir a profundidade da água e os problemas da visibilidade. Finalmente em 1991, com ajuda de cientistas e cinegrafistas, Kristof tirou uma série de fotos há 3,500 m. E estampou-as na revista. A propaganda que precedeu ao anúncio dizia: “Até que ponto chega um fotógrafo da Geographic para obter uma foto perfeita?” Até que ponto Deus chega para revelar seu terno amor para com os pecadores e sofredores? Até ao ponto do Seu Filho descer ao abismo, ao hades.
3.Jesus não exclui a participação humana em face da sua intervenção milagrosa – v. 39,40,44
A)Tirai a pedra – Só Jesus tem o poder para ressuscitar um morto. Isso ele faz. Mas tirar a pedra e desatar o homem que está enfaixado, isso as pessoas podem fazer e ele as ordena que façam.
Jesus chama a Lázaro da sepultura. Se Jesus não tivesse mencionado o nome de Lázaro, todos os mortos sairiam do túmulo.
Mas, Lázaro mesmo morto pôde ouvir a voz de Jesus. No dia final, na segunda vinda de Cristo, os mortos também ouvirão a sua voz e sairão do túmulo (Jo 5:28-29).
Senhor, já cheira mal – Tirar a pedra significa enfrentar uma situação que não queremos mais mexer. É tocar em situação que só vai nos trazer mais dor. É abrir a porta para algo que já cheira mal. Temos medo de enfrentar o nosso passado de dor.
Quando tiramos a pedra e olhamos para dentro do túmulo, Jesus olha para cima e ora (v. 41) – Ao enfrentar o mau cheiro de um túmulo aberto Jesus orou. Oramos nós por aqueles que estão aflitos? Cremos que Deus responde as orações? Como Jesus orou? Quando o milagre aconteceu? Quando Jesus deu graças. Ilustração: Lia era desprezada por seu marido (Gn 29:31-35). Foi durante a quarta gestação de Lia que o milagre da graça restauradora aconteceu em seu coração: “então disse: Esta vez louvarei o Senhor. E por isso lhe chamou Judá (v. 35). O nome vem do radical da palavra louvar. Jesus veio da tribo de Judá. Enquanto Lia baseou sua vida no “Ah se eu fosse bonita como a minha irmã”, “ah se eu meu marido me amasse” – sua vida era um poço de amargura. Mas quando ela adotou uma atitude de louvor e fé, abriu-se para Deus, que lhe deu nova identidade: a mãe do fundador da tribo da qual viria o Messias.
B)Desatai-o e deixai-o ir – Lázaro agora estava vivo, mas com vestes mortuárias. Seus pés, suas mãos e seu rosto estavam enfaixados. Precisamos nos despir das vestes da velha vida. Precisamos nos revestir das roupagens do novo homem. Precisamos ajudar uns aos outros a remover as ataduras que nos prendem. Precisamos ajudar uns aos outros a remover as ataduras do passado. Somos uma comunidade de cura, e restauração. Precisamos começar esse processo em primeiro lugar em nosso lar. Há ataduras que nos prendem ao passado: hábitos, pecados, vícios, costumes que nos limitam e tiram a nossa liberdade e a nossa ação. Soltem os seus filhos, deixem que eles cresçam. Há tempo de atar e tempo de desatar.
C)Se creres, verás – Jesus quer não apenas que encontremos a solução, mas que nos tornemos a solução. Em vez de duvidar, de questionar, de lamentar, Marta deveria crer. A porta do milagre é aberta com a chave da fé.
III. O PROPÓSITO DO MILAGRE
1.A glória de Deus – v. 4
Tudo que Jesus ensinou e fez foi para a glória de Deus. A glória do Pai era o seu maior projeto de vida. Ele veio revelar o Pai. Ele veio para mostrar como é o coração de Deus. Ele nunca fugiu desse ideal.
A morte de Lázaro era uma oportunidade para que o Pai fosse glorificado. A ressurreição de um morto é um milagre maior do que a cura de enfermo. A ressurreição de um morto de quatro dias é maior do que a ressurreição de alguém que acabou de morrer.
A coisa mais importante em nossa vida não é sermos poupados dos problemas, mas glorificarmos a Deus em tudo o que somos e fazemos.
Quando somos confrontados pela doença, desapontamento, demora e mesmo pela morte, nosso único encorajamento é saber que vivemos pela fé e não pelo que vemos. Salmo 50:15: “Invoca-me no dia da angústia, eu livrarei e tu me glorificarás”.
2.O despertamento da fé – v. 15,42,45
O milagre não é um fim em si mesmo – Ele tem o propósito de abrir portas para a fé salvadora e avenidas para uma confiança maior em Deus. Os milagres de Cristo sempre tiveram um propósito pedagógico de revelar verdades espirituais.
a)Quando ele multiplicou os pães, queria ensinar que ele era o Pão da Vida.
b)Quando curou o cego de nascença, queria ensinar que ele era a Luz do Mundo.
c)Quando ressuscitou Lázaro, queria ensinar que ele é a ressurreição e a vida.
1)Jesus tinha o propósito de fortalecer a fé de seus discípulos (v. 15).
2)Jesus tinha o propósito de que Marta cresse, antes de ver a glória de Deus (v. 26,40).
3)Jesus tinha o propósito de despertar fé salvadora nos judeus que estavam presentes junto ao túmulo de Lázaro (v. 42).
4)Jesus tinha o propósito proclamar que a vida futura só pode ser alcançada pela fé nele e que a morte não tem a última palavra para aqueles que nele crêem (v. 25-26).
3.A morte de Jesus – v. 8,16,25,26,46-57
O clima era de grande tensão – Na última aparição de Jesus na Judéia, os judeus queriam apedrejá-lo (Jo 10:38-42; v. 8). Tomé entende que a ida de Jesus a Jerusalém era caminhar para a própria morte (v. 16). Todos sabem do risco que Jesus corre na Judéia. Marta vai encontrar Jesus fora de casa (v. 20). Marta vai chamar Maria em secreto (v. 28). Havia uma orquestração nos bastidores para levá-lo à morte.
Quando Jesus ressuscitou Lázaro, muitos judeus creram nele (v. 45). Outros, porém, saíram para entregá-lo (v. 46-48,53,57). Os judeus resolveram matar não apenas a Jesus, mas também a Lázaro (12:9-11).
Quando Jesus foi ao lar de Betânia estava disposto a gloficar o Pai em dois aspectos: primeiro, pelo milagre da ressurreição de Lázaro e segundo pela sua disposição de cumprir o plano do Pai de dar a sua vida em resgate do seu povo (Jo 17:1).
Os membros do sinédrio pensaram que eles é que estavam no controle da situação, orquestrando a prisão de Jesus. Mas isso fazia parte do plano de Deus. A morte de Cristo não era um acidente, mas um apontamento do Pai (At 2:23).
CONCLUSÃO
Concluindo, talvez você esteja hoje passando por uma aflição como Lázaro, Marta e Maria. Talvez há alguém enfermo na sua casa. Talvez você tem orado pela cura e vê seu ente-querido piorando. Talvez você espera a intervenção de Jesus e ele parece atrasado. Talvez as pessoas cobrem de você, por que Jesus ainda não atendeu o seu clamor.
Saiba de uma coisa: Jesus nunca chega atrasado. Ele não é apenas o Deus que fez e fará. Ele é o Deus que faz. Ele chora com você. Ele se importa com você e ele faz o impossível para você.
Para socorrer você ele deu sua própria vida. Para levantar Lázaro da sepultura, ele enfrentou a prisão e a morte. Para salvar você ele desceu ao hades: foi preso, condenado e pregado na cruz.
Ainda que seu problema seja insolúvel, ainda que seu Lázaro esteja sepultado há quatro dias, creia e você verá a glória de Deus!

Autor: Reverendo Hernandes Dias Lopes.

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