Na hora da necessidade é que conhecemos os verdadeiros amigos. E é interessante: a geografia da amizade é diferente da quotidiana: os amigos que achávamos que estariam perto quando deles precisássemos, ficaram distantes, mui longes. E aqueles que, muitas vezes, moravam tão longe, tão distantes, foram os que mais perto estiveram! Daniel e eu experimentamos isso na pele, quando internamos nossa saudosa e querida mamãe no hospital, e quando a enterramos. Quantas ligações e e-mails de gente distante, e de gente próxima também. Mas, quão surpreendente nos foi detectar a ausência de alguns que juraríamos não faltarem nessa hora!
Ter amigos é algo fundamental. Não precisamos ter muitos. Tenhamos poucos, mas cuidemos bem deles. Um dia alguém me disse: "Eu não tenho nenhum amigo". Eu respondi-lhe: "A recíproca é verdadeira: ninguém o tem como amigo também". Às vezes virar a mesa nos confronta com o problema: queremos que os outros sejam algo para nós. Queremos ter amigos, mas não queremos SER amigos. É bom que se saiba que SER é melhor do que TER, porque o primeiro é intrínseco ao ser, faz parte de nossa composição interior; mas o segundo pode ser apenas ilusão.
Alguns tem amigos porque são ricos, são bonitos, são famosos. Está aí a experiência do Filho Pródigo para não nos deixar na mão. Enquanto tinha dinheiro e pagava tudo para seus companheiros, não faltava comida, companhia, elogios, mulheres, carinho, romance, etc. Quando tudo isso acabou, os amigos foram embora. Certamente ele TINHA amigos, mas NÃO ERA amigo.
Ser amigo é estar presente, mesmo ausente. Não preciso que meus amigos me afoguem, vivendo em minha casa, alugando o meu telefone ou exigindo a exclusividade do meu tempo e apreço. Quem faz isso costuma afastar as pessoas de si. "Não ponhas muito os pés na casa do teu próximo; para que se não enfade de ti, e passe a te odiar." (Pv 25:17). O amigo está presente no coração, no exemplo que dá, nas orações que faz, na verdade que vive.
Ser amigo é ser capaz de doar-se em prol do outro. E aqui eu posso citar alguém que deixou um rastro de testemunho incalculável: a minha mãe. Ela não podia sair de casa, suas pernas não ajudavam. Outrora socorrera inúmeras pessoas doentes, sendo acompanhante em hospitais, cuidando dos enfermos em casa, fazendo a feira para quem não podia, etc. Agora, presa à casa, não podia fazer nada pelos amigos. Então descobriu um jeito: ligar para eles. Ela sabia que algumas pessoas precisavam acordar cedo. Então fazia o "serviço maternal de despertador matinal". Ligava para as pessoas (o pastor, as minhas tias, primas, membros da igreja), e as despertava com um gostoso e afetuoso bom dia, e algumas palavras de ânimo e força. Daniel e eu éramos acordados por ela. À noite, quando ia repousar, ligava para algumas pessoas, cantando uma antiga canção da TV TUPI, do ToppoGiggio, quando as criancinhas iam para a cama, e fazia uma oração, dando um beijo telefonal de boa noite. Essas pessoas precisavam; não pediam, mas mamãe dava. Para ela, o que Cristo ensinou era mais importante: dar, ao invés de receber. Essa era a minha mãe! Não é à toa que precisaram de dois veículos para conduzir as homenagens florais em seu enterro! Ser amigo é isso! Dar despretenciosamente, dar com amor, dar com dedicação.
Ser amigo é não omitir a verdade. É dizer a coisa certa, NA HORA CERTA, e do jeito certo. O amigo sabe falar as coisas. O amigo sabe dizer tudo com altruísmo, com misericórdia, com compaixão. O amigo não ilude, dizendo ao outro que está tudo bem, quando na verdade não está. Amizade exige verdade, sinceridade, honestidade. Qualquer coisa aquém disso, não é amizade; é hipocrisia. Mas tudo tem sua hora e seu jeito. O amigo sabe respeitar o tempo do outro, o momento certo para o outro. Não se constrói amizade sobre a mentira. E sobre isso eu posso testemunhar com propriedade. Tive um namoro, no passado, cuja moça não apreciava as pessoas que me eram importantes. Jovem e imaturo, decidi afastar-me dos amigos, em apreço a ela. O Dr. Roberto Cardozo, meu amigo, escreveu-me uma carta, de 12 folhas, registrando tudo o que já havíamos construído em nossa amizade, lamentando o afastamento, e dizendo que, no futuro, se eu me arrependesse, que as portas estariam abertas. Dito e feito! Perdi a namorada. Só aí acordei. E o meu amigo estava lá, pronto a perdoar-me, a dar-me a oportunidade de recomeçar. Amizade é isso!
Por fim, amizade é interesse espiritual. Se você é crente, então a alma, o espirito do seu amigo são coisas importantes. Você deve importar-se com a salvação dele. Há pessoas que, para preservar a amizade, nunca testemunham ou compartilham o plano da salvação. Isso é errado. Conheço muitas pessoas desesperadas, que não se perdoam por terem vivido anos e anos ao lado de um amigo, e nunca terem testemunhado de Cristo! Não convém que seja assim. Antes, devemos buscar a sabedoria e a oportunidade para compartilharmos a fé. O nosso testemunho conta muito! Se a nossa vida não bater com a nossa prédica, ou com a nossa religião, então pregar ou compartilhar valerá pouco. Mas, se formos cumpridores da Palavra, e não meramente ouvintes e observadores, teremos grande poder de persuasão.
Vamos cultivar amigos?
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