ocê Pergunta: Você poderia nos dizer o que o Novo Testamento ensina sobre dízimo? Que temos muitas menções sobre o dízimo no Velho Testamento isso nós sabemos, pois ele realmente fala muito sobre esse tema, mas e no Novo Testamento? O fato do Novo Testamento não falar muito desse assunto seria um indício de que o dízimo no Novo Testamento foi abolido e não deve mais ser praticado?
Essa é uma questão bastante interessante e que deixa muitas pessoas um pouco confusas. Mas vamos meditar um pouco para encontrarmos respostas, analisando textos do Novo Testamento sobre o tema.
O Dízimo no Velho Testamento
(1) Como você mesmo disse em sua pergunta, o Velho Testamento fala muito sobre os dízimos. Foi algo praticado antes da lei, depois foi instituído por Deus no sistema de culto da época, onde o povo deveria separar 10% de sua renda e direcionar para a obra do Senhor de acordo com as orientações da lei.
A passagem mais famosa e mais pregada sobre o tema é Malaquias 3:10: “Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida”.
O Dízimo no Novo Testamento
(2) No Novo Testamento não temos menções tratando de forma direta sobre o dízimo, mas temos algumas menções indiretas. Temos uma fala de Cristo em Mateus 23:23:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”.
Temos a repetição dessa fala de Jesus também em Lucas 11:42. Além dessas passagens temos em Lucas 18:11-12 um fariseu que se orgulha de dar o dízimo. Em Hebreus 7:4-6 temos a menção do dízimo dado por Abraão a Melquisedeque.
Além dessas passagens não temos outras falando sobre esse tema. Mas isso seria um indicativo de que não temos mais obrigação de contribuir na obra do Senhor?
A contribuição no Novo Testamento
(3) Apesar de não falar diretamente sobre dízimo, o Novo Testamento fala muito a respeito de contribuição para a obra de Deus.
E o mais interessante é que existem diversas menções de servos de Deus ultrapassando essa barreira dos 10% de contribuição que era o mais comum no Velho Testamento:
“Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade” (Atos 4:34-35).
Vender uma casa, uma terra, uma propriedade, parece-me bem mais do que entregar 10%, não é verdade? Esse é um dos fortes exemplos de que no Novo Testamento se fazia bem mais do que o dízimo.
Não ficavam presos nesse tipo de discussão do tipo “é lei ou não é lei”, antes, estavam sensíveis às necessidades dos que precisavam e também da própria obra de Deus como veremos a seguir.
(4) Os exemplos desse tipo de postura existem aos montes no Novo Testamento. Paulo fala, por exemplo, da generosidade das igrejas da Macedônia:
“Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos” (2 Coríntios 8:3-4).
Isso nos mostra que existia no coração desses servos de Deus das primeiras igrejas um desejo de usar de generosidade para a obra do Senhor.
Quem ousaria limitar a generosidade dessas pessoas usando o padrão do dízimo, os tais 10%? É evidente que o padrão do dízimo escolhido por Deus no Velho Testamento é justo, pois permitia que todos, ricos ou pobres participassem de forma proporcional.
No entanto, os primeiros cristãos iam além desse princípio. Essa generosidade deles teria sido registrada como exemplo para os que se limitam a porcentagens para fazer menos ou mesmo não fazer nada?
(5) Temos também outros relatos demonstrando claramente como a igreja se movia em conjunto na área financeira para realizar a obra do Senhor em sua totalidade. Vejamos alguns exemplos:
a) Uma igreja envolvida com a obra de Deus mesmo em regiões longínquas, que cuidava das questões financeiras dos irmãos que mais necessitavam: ”Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia” (Atos 11:29).
b) Mesmo os gentios (não judeus) também estavam dentro desse mesmo propósito de servir a quem quer que seja também por meio de seus bens:
“Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais” (Romanos 15:26-27).
c) Existia a orientação dos líderes para que houvesse contribuição para a obra do Senhor de forma regular para atender aos propósitos do trabalho:
“No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for” (1 Coríntios 16:2)
d) A generosidade da contribuição é estimulada e apontada até como exemplo e estímulo a outros: “Ora, quanto à assistência a favor dos santos, é desnecessário escrever-vos, porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio junto aos macedônios, dizendo que a Acaia está preparada desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado a muitíssimos” (2 Coríntios 9:1-2)
e) Existia um sistema claro de contribuição nas igrejas do Novo Testamento, ao ponto delas poderem ofertar e até mesmo bancar o salário de servos de Deus como o próprio Paulo, que foi abençoado com um salário por determinado tempo para poder servir como missionário: “Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir” (2 Coríntios 11:8).
Algumas considerações finais sobre o dizimo no Novo Testamento
(6) Feitas essas considerações, a pergunta que fica é: qual a necessidade que essas pessoas tinham de ficar ouvindo sermões sobre dízimo se elas iam além dele, em uma generosidade que ia muito além de qualquer padrão que já possa ter sido descrito nas Escrituras?
Esses exemplos de generosidade descritos no Novo Testamento nos mostram um padrão ainda maior, um padrão de participação na obra de Deus que sobrepuja o dízimo!
Infelizmente temos muitas pessoas hoje em dia procurando algo na Bíblia que as permita não fazer nada, não participar, não se doar, ou mesmo fazer menos do que podem. Por isso, também escrevi um outro estudo onde digo 7 razões porque sou dizimista, acesse aqui para ler.
(7) Mas ainda há quem pergunte: Então, se eu não contribuir para a obra de Deus estarei pecando? Quando ouço esse tipo de pergunta respondo sim e não! Explico:
Se Deus te deu condições e te colocou em uma comunidade para ser bênção contribuindo para a obra e você não o faz, suas motivações poderão ser pecado. Mas como assim?
Você pode deixar de contribuir (mesmo podendo) por avareza, por omissão, por insensibilidade. Todas essas motivações são pecado. Então, nesses casos, sim, estará pecando que não faz nada pela obra!
Mas aqueles que não contribuem, por exemplo, por problemas financeiros, por alguma dificuldade grande que os impede de fazer isso, esses não pecam. Pelo contrário, creio que o Senhor os abençoará para que saiam dessas grandes dificuldades!
(8) Finalizo essa reflexão dizendo que o Novo Testamento não nos exime de sermos contribuintes na obra do Senhor por não falar especificamente e diretamente sobre dízimos.
Pelo contrário, fica claro diante das menções expostas que o dever de cada crente verdadeiro é bancar a obra do Senhor com sua vida e com suas posses de forma generosa.
Isso é muito maior do que o dízimo! O fato é que muitos falam da não existência de menções do dízimo no Novo Testamento para poderem fazer menos!
Sim, para poderem, com a consciência tranquila, fazer muito menos do que outros servos de Deus já fizeram no passado e no Novo Testamento!
Mas o Novo Testamento, na realidade, nos mostra exatamente o contrário, eles fazendo mais, muito mais pela obra do Senhor! Vale muito à pena refletirmos sobre essa realidade.
Presbítero André Sanchez
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