Gedelti Victalino Teixeira Gueiros
A fé é uma manifestação concebida e contestada ao mesmo tempo, em razão das suas múltiplas origens e que derivam de pensamentos e manifestações diversas baseadas em filosofias, ideologias, cultura e religião; difícil, portanto, de ser conceituada, por isso mesmo polêmica e até inacessível.
FÉ HISTÓRICA Depreende-se que a fé é um agente interior que promove estímulos indispensáveis e necessários às diversas conquistas do homem, subentendidas como: força de vontade, amor próprio, autossuficiência, pensamento positivo, determinação, ideal, desejo de vencer, criatividade, etc. Existem outras variantes pelas quais a fé se manifesta, principalmente quando se observa o desejo do desconhecido estimulado pelos desvios impostos até pela religião, que leva alguns ao fanatismo cego, ao misticismo e à superstição, através de uma forte dose de dogmatismo tão materialista em manifestações exteriores de liturgias repetitivas, vazias e enfadonhas, direcionadas a uma crença insubsistente, ainda que falando de Deus, mas excluindo tantos miseráveis. É a crise de fé profetizada por Jesus para o tempo presente. "... Quando porém vier o filho do homem, porventura achará fé na terra?" Lucas 18:8. A forte expressão tratada no último parágrafo advém da palavra do Apóstolo Paulo quando se refere à fé temporal - I Co 15:19 "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Não apenas Paulo, mas o próprio Senhor Jesus censurou os religiosos da sua época quanto à forma exterior de conduzir a fé ou de expressá- -la, quando valorizavam extremamente os ritos e tudo o que era material que, enfim, definiam obras como meio de salvação. Resumindo, a fé histórica é temporal, se baseia ou tem a sua origem no homem, cujos conceitos podem ser falíveis por falta de uma base sólida, sem um projeto definido, enquanto que a fé profética tem a sua origem no Deus Pai Criador, cujo objetivo é a eternidade na pessoa de Jesus Cristo, o filho, Autor e Consumador da nossa Fé. Hebreus 12:2 FÉ PROFÉTICA A fé profética, cuja base e origem são eternas, se situa num contexto invariável de regras de fé e prática, que é a Bíblia Sagrada, um projeto bem definido. Enquanto a fé histórica, tão inconsistente que se desagrega com a mesma facilidade do barro, figura do homem na sua temporalidade. DEFINIÇÃO Hebreus 11:1 "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem." A fé é, portanto, um agente de união, criado por Deus no propósito de resgatar o homem para a eternidade, ou seja, um elo entre o Criador e a criatura. A era apostólica vivida pela Igreja primitiva não tinha rótulo religioso e os que se convertiam ao Cristianismo eram doutrinados no sentido de que fossem evitadas as distorções da fé, a forma como deviam se comportar diante da doutrina pagã dos seus doutrinadores, o Império Romano, bem como das tradições religiosas dos judeus que se baseavam na Lei ou no Velho Testamento, cuja estrutura doutrinária se baseava nas Obras da Lei. A Carta aos Hebreus foi a eles dirigida porque as seitas que representavam a religião dominante tentavam impor todos os conceitos do Velho Testamento e alguns hebreus que tinham se convertido ao Cristianismo precisavam entender que o Evangelho de Jesus veio para inaugurar uma nova fase, estabelecendo uma nova ordem de coisas, afastando, portanto, todas as dúvidas que existiam no Velho Testamento, embutidas em sua doutrina. Nos primeiros capítulos da Carta aos Hebreus nota-se claramente que o autor apresenta Jesus como superior aos anjos e um sumo- sacerdote perfeito, tirando qualquer dúvida quanto à sua superioridade com relação aos patriarcas, reis, sacerdócio levítico, enfim, toda a doutrina da Lei, apresentando Jesus como substituto de toda a Lei, quando inaugura uma nova aliança de origem eterna (Melquisedeque) e não humana (segundo Aarão), cujos sacrifícios estavam abolidos, bem como os rituais do culto levítico, porque tinham se tornado estranhamente exteriores e não iriam interessar a Deus, já que um caminho novo estava sendo aberto através da fé por meio de Jesus. A palavra fé, pouco usada no Velho Testamento, nem era conhecida pelos judeus, embora se saiba hoje, estava implícita em alegorias, tipologias e em todas as partes do culto judaico. A definição de fé que surge no verso 1º do capítulo 11 da Carta aos Hebreus se robustece em toda a descrição dos atos de fé de uma galeria de homens chamados Heróis que viveram em busca de uma pátria que não era a terrestre, atos que foram aperfeiçoados pelo sacrifício de Jesus (Fé) conforme o verso 14º do capítulo 11: "Porque, os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria." A partir de Jesus a fé ficou estabelecida como base do Cristianismo e do ensino cristão, excluída de uma vez por todas a ideia de obras concebida pela Lei como base do culto judaico, que levou também o Apóstolo Paulo a divulgar a nova doutrina disposta na Carta aos Efésios 2:8-9: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie." A fé é, portanto, um agente de união, criado por Deus no propósito de resgatar o homem para a eternidade, ou seja, um elo entre o Criador e a criatura. O FIRME FUNDAMENTO A fé é o firme fundamento porque tem sua origem na eternidade, cujo autor é Deus Pai, o Criador ("é prova do que não se vê"), cuja ação é invisível, mas existe pelo Espírito Santo e resulta de um pacto baseado em uma promessa, selado com o sangue de Jesus, ou seja com o Espírito Santo. O mecanismo da fé pode ser entendido como uma vida trazida por Jesus que foi enviado da eternidade, cujo sangue, ou seja, o seu Espírito (Espírito Santo) foi dado para selar o pacto a todos que o aceitam e querem esse projeto de vida eterna. O simbolismo do sangue derramado chegou até nós através do Pentecostes, quando foi cumprida a promessa de Jesus "... e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém." Mt 28:20. A figura bíblica do Espírito Santo é também traduzida pelo vinho, referido na Carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 11, mencionada por Jesus na última ceia com os seus discípulos, "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, é o Novo Testamento", é a bênção do Espírito Santo na vida do homem. O sangue de Jesus é, portanto, um selo para a eternidade, ao qual Paulo se refere quando se dirige à Igreja fiel nos seguintes termos: "... tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa." Ef 1:13 (Que promessa? Vida Eterna). O fundamento é firme porque decorre de uma aliança eterna onde Deus, o Pai, envia Jesus, o seu Único filho para derramar o seu Espírito (seu sangue) sobre todo aquele que crer. Assim todo homem que crer tem a vida eterna, que se descobre em um caminho de experiências com o autor da fé, Jesus. A fé profética está presente em todos os momentos da vida do homem e apresenta uma visão nova da história do mundo, operando no interior do homem uma vida também nova, antes inconcebível, agora designada de novo nascimento, cuja vida se estenderá para a eternidade, a eterna e longa vida. A fé genética porque provém da eternidade e transmite caracteres especiais para o homem e somente ela, a fé, poderá conduzi-lo à eternidade. Tudo que Deus quis para o homem foi oferecer vida de valor totalmente intrínseco baseado na fé, que é Jesus. Jesus veio, portanto, ao mundo para trazer vida "... Eu vim para que tenhais vida e vida em abundância." João 10:10. A fé profética é viva (tem vida) porque o seu autor está vivo (Jesus). Fé sem Jesus é, portanto, fé sem vida, sem o sangue (o Espírito Santo), sem herança (sem eternidade).Hebreus 11:6 "Ora, sem fé é impossível agradar a Deus." Jesus é a fé. Portanto, sem Jesus ninguém pode agradar a Deus. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;" Ef 2:8-9. Existem, portanto, na concepção humana, variáveis diversas para representar a fé, algumas úteis, outras dispensáveis e algumas até perniciosas. A descoberta de que fé verdadeira vem de Deus é fruto de uma aliança que foi feita na eternidade, desde a criação, que sela o compromisso de resgatar o homem para a eternidade tendo como selo o sangue de Jesus. A fé, portanto, é algo que expressa vida, é uma vida que vem da eternidade transmitida pelo sangue de Jesus, uma vida inerente a Ele, o Espírito Santo, para dar ao homem uma direção tomando- se o caminho mais curto entre a criatura e o Criador. "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." Jo 14:6 Paulo teve o encontro com Jesus no caminho de Damasco; foi uma experiência com a fé e com a vida que exclui da sua mente toda contestação a respeito de fé, inclusive fê-lo abandonar a própria religião. "... A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do filho de Deus ..." Gl 2:20. FÉ FIRME FUNDAMENTO CONCLUSÃO I Deus estabeleceu uma aliança eterna para resgatar o homem eprovidenciou um agente de união ou elo de ligação, a fé. A fé foi dada como presente ao mundo, profetizada, e enviada ao mundo: "Boa vontade de Deus para com o homem." Jesus morreu para dar o sangue, uma vida que trouxe da eternidade e que sela o homem para ter posse da herança com Ele no mesmo sangue. Herdeiro com Ele pelo selo da promessa que é o seu Espírito derramado no Pentecostes, simbolizado pelo seu sangue, figura da vida que Ele transmite ao seu corpo pelo Espírito Santo, que nada mais é do que a fé. CONCLUSÃO II A fé pode ter duas origens que se baseiam em dois únicos princípios: O primeiro princípio fundamenta a fé se utilizando de todos os elementos que emergem da Obra Criadora, que inclui a própria razão humana, por vezes transformada em princípios religiosos que buscam uma relação do homem com Deus. Tal entendimento pode estar contido na proclamação de que: "toda fé está na razão", um tipo de crença baseado na temporalidade do homem, cuja fé não transcende, já que toda a Obra Criadora, especialmente o homem, é finita, ficando os argumentos desse tipo de fé baseados apenas no projeto humano. O segundo princípio tem como base a fé firmada na Obra Redentora, quando todo o projeto está dirigido de cima para baixo, ou seja, de Deus para o homem, que envolve a eternidade através do sacrifício de Jesus, o verdadeiro Autor e Consumador da fé. Na Obra Redentora, a fé vem da parte de Deus, como dom de Deus, é geradora, enquanto, ao contrário, a fé que emerge da Obra Criadora, é apenas gerada pelo homem e não alcançará a eternidade (não é transcendente). No texto abaixo, vemos a confirmação da fé geradora. "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda." João 15:16. E mais uma vez, destacamos a origem desta fé: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;" Ef 2:8-9. Concluindo, podemos afirmar que, apesar da razão humana ser uma criação divina, não poderá se tornar uma barreira para impedir a operação do Espírito Santo na vida do crente. Portanto, a fé que vem de cima tem que se manifestar através do Espírito Santo e só assim esta fé poderá transcender. "... esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé." 1 João 5:4 |
18 março 2013
A fé contestada
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