09 outubro 2015

BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS


BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS







O Senhor, nosso Deus, não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9). Criou tudo e todos e preserva-os pela sua gloriosa bondade e justiça (Sl 36.6; 68.19; 103.13-19; 104.9-31; At 17.25-28). Ele ama a todos indistintamente e deseja a salvação de toda humanidade (Jo 3.16; At 17.30,31; Rm 1.16; Tt 2.11), através de seu Filho, Jesus (Mt 1.21; At 4.12; Rm 3.24; 2 Co 5.18).

OS GENTIOS NO ANTIGO TESTAMENTO

1. As nações descendentes de Noé (Gn 9.18,19). 
Toda a raça humana descende de um casal criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; 5.2; Mc 10.6; At 17.25,26). O homem foi criado santo, justo e bom para a glória do nome santo do Senhor (Gn 5.1; Sl 115.1; Ec 7.29; Is 43.7). Todavia, com a Queda e o crescimento da maldade no mundo (Gn 4.8,23; 6.11,12), Deus enviou o Dilúvio, salvando apenas a família do justo Noé (Gn 6 – 9; Hb 11.7; 1 Pe 3.20; 2 Pe 2.5). De seus descendentes, Jafé (Gn 10.2-5), Cam (Gn 10.6-20), e Sem (Gn 10.21-31), formaram-se as nações com suas respectivas geografias (Gn 10 – 11). Entretanto, os homens continuavam desobedecendo a Deus (Gn 11.1-9), apesar dos justos que sempre se mantiveram fiéis ao Deus verdadeiro em todas as gerações (Gn 4.26; 5.22; Gn 7.1). Do interior desse cenário pecador, Deus chama um descendente de Sem, Abraão, para que dele uma nova nação fosse formada (Gn 12.1-3).

2. A exclusividade dos descendentes de Abraão (Gn 15.5,6; Dt 14.2). 
Ao chamar Abraão para que de seus descendentes fosse constituído uma nova nação ou povo eleito, o Senhor começa uma nova história: A do povo de Israel (Gn 12.1-3; 13.14-17; 15.4-7,17-21). O propósito de Deus para a nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la propriedade peculiar, reino sacerdotal e povo santo (Êx 19.5,6). Israel fora constituída uma nação peculiar e distinta dos outros povos, pois Deus a escolhera para si (Is 44.1-2; Ez 20.5). A partir de então, todas as etnias, raças, ou povos que não fossem descendentes de Abraão ou israelitas eram considerados gôyim, cujo significado básico é "nações", "estrangeiros", "gentios" ou "pagãos" (Gn 15.18-21). Essas nações são conhecidas pela idolatria, depravação (Lv 18.22-24), e perversidade com que tratavam os seus filhos (Lv 18.21; 20.2-5). Contudo, a nação de Israel não fora apenas eleita para ser o instrumento pelo qual o Senhor alcançaria os gentios que respondessem positivamente à salvação oferecida pelo Deus de Israel (Gn 12.3; 22.16-18; Sl 67.2-4), mas também o povo pelo qual o Eterno destruiria os gentios rebeldes (Gn 12.3; 15.16; ver Dt 7 – 8; Gl 3.8).

3. A salvação dos gentios anunciada no Antigo Testamento. 
Apesar de o Senhor estabelecer e amar a Israel, a nação desobedecia-o perversa e continuamente (2 Rs 21.2; 2 Cr 28.3; 36.14; Is 1.1-30; 30.9; 65.1-7; Rm 10.21). Contudo, Deus prosseguiria com seu plano santo para oferecer aos gentios a redenção (Rm 11.25-310). Já ao crente Abraão Deus prometera que os gentios que o abençoassem seriam abençoados, e nele, todas as famílias da terra seriam benditas (Gn 12.3; Gl 3.8,9,13,14; Rm 4.17). Várias passagens das Escrituras revelam o amor de Deus manifestado gratuitamente aos gentios que exerceram fé no Santo de Israel, como por exemplo, Raabe (Js 6.1-27); Rute (Rt 1– 4 ); Naamã (2 Rs 5.1-19), e os ninivitas (Jn 3.1-10). Se isso não bastasse, o Senhor prometera tornar os gentios o seu povo (Is 11.1,10; 421-5; 52.15; 65.1; compare com Mt 12.18-21; At 15.14-18; Rm 9.25-30; 10.19-21; 15.8-12, 19-21).
4. A salvação dos gentios interpretada pelo apóstolo Paulo. 

Em nossa mais recente obra, Igreja: Identidade e Símbolos, discutimos exaustivamente o tema da igreja entre os gentios, a interpretação de Paulo a respeito da conversão dos pagãos, e o estabelecimento de uma comunidade de redimidos entre eles. A expressão ekklēsiai tōn ethnōn, em Rm 16.4, quer dizer "igreja dos gentios". Todavia não é impróprio traduzir a expressão por "igrejas das nações", ou ainda "igrejas étnicas". No leitmov paulino ta ethnē corresponde aos gentios em diversas perícopes ( vide Rm 2.14; 9.30; 15.9-11,12,16,27; Gl 2.8,9,14; 3.8,14; Ef 2.11; 3.6; 4.17; 1 Ts 4.5; 1 Tm 4.17; ver ainda Mt 6.32; 12.21; Lc 12.30; At 10.45), aos pagãos (1 Co 12.2), ou às nações não-judaicas (Rm 16.26; cf. Mt 25.32; 28.19; Mc 13.10; Lc 21.24). Em qualquer um desses textos ta ethnē corresponde aos pagãos, aos gentios, às nações não-judaicas, e também às igrejas e cristãos gentílicos.

Especificamente, a perícope paulina de Romanos 15.9-27, apresenta o caráter escatológico da igreja dos gentios desde o Antigo Testamento. As citações do Salmo 18.49 no versículo 9, de Deuteronômio 32.43 no versículo 10, do Salmo 117.1 no versículo 11, e de Isaías 11.1 no versículo 12 (entre outros) fundamentam a realidade histórico-escatológica das igrejas dos gentios como projeto histórico-redentor de Deus na História. Com muita perspicácia, Paulo cita textos da Torá, dos Profetas e dos Escritos a fim de enfatizar, conforme J.J.Pilch, "que toda a Escritura hebraica anunciou que os pagãos se tornariam parte do plano de Deus e se juntariam ao povo escolhido".

Na primeira referência veterotestamentária, Davi refere-se às nações gentílicas que habitavam nos limítrofes e até mesmo em Israel, conforme a citação de Tiago em Atos 15.16,17. Paulo mantém a tônica dos ensinos de Romanos 9 – 11 em que a salvação dos gentios está relacionada intrinsecamente ao paradoxo da rejeição e salvação de Israel: "Como também diz em Oseias: Chamarei meu povo, ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada. E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo" (Rm 9.25,26). Deus, portanto, não chamou à igreja apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios (Rm 9.24), e, segundo Bultmann, como "comunidade escatológica e povo de Deus dos tempos finais".

Na segunda incursão nos textos hebraicos (v.10), Paulo traduz o hebraico gôy, "nação", "povo", mas principalmente "pagãos", "gentios" por panta ta ethnē, todas as nações, conforme a LXX. Desde os primórdios da tradição patriarcal, os gôyim (plural), apesar da incredulidade e paganismo, participariam, desde que cressem, das bênçãos divinas prometidas a Abraão e a seus descendentes no futuro (Gn 12.1-3).

A ênfase e a estrutura poética de Deuteronômio 32.21 clamam por uma abordagem específica. Contudo, interessa-nos, por enquanto, o vaticínio profético da sentença. A idolatria de Israel provocara a ira do Senhor, e, por conseguinte (ação e reação), Deus provocaria o povo de Israel com "os que não são povo; com nação louca" os despertaria à ira. (ver Dt 31.17,18).

A explicação etno-soteriológica em Paulo entende que se trata insofismavelmente dos gentios. Essa interpretação é reforçada pela leitura paulina do Salmo 117. 1, no versículo 11 de Romanos 15. O plural hebraico gôyim é traduzido, como já afirmamos, por panta ta ethnē pela LXX, opção também seguida por Paulo. Portanto, escreve Paulo à igreja de Roma (1.7), "abundeis em toda esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm 15.13). Não há qualquer restrição à igreja dos gentios a respeito do Pneumatos Hagios. Eles devem "transbordar" (perisseuo) na esperança (elpis), na alegria (khara), na paz (eirene) pelo poder (en dynamei) do Espírito. Contudo, a igreja dos e entre os gentios trazia sua própria identidade antropocultural, muito embora conservasse os principais fundamentos da fé veterotestamentária e possuísse a virtude do Espírito (
OS GENTIOS EM O NOVO TESTAMENTO

1. Nos Evangelhos. 
Nos Evangelhos encontramos referências aos gentios em Mateus (6.7,32; 12.18; 18.17, etc.), Marcos (10.33) e Lucas (12.30; 18.32; 21.24; 22.25). Na maioria das vezes, os gentios são descritos com suspeição (Mt 20.19; Mc 10.33), no entanto, Mateus 12.18-21 destaca a missão profética do Messias entre os gentios (Is 42.1-4), enquanto Mateus 10.18 o testemunho dos apóstolos entre eles. Embora o objetivo da missão de Cristo e dos Doze fosse anunciar o Reino dos céus às "ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 12.6; 15.24), muito gentios, assim como no Antigo Testamento, foram alcançados pela graça de nosso Senhor Jesus, como por exemplo, a mulher cananeia (Mt 15.21-28), e o centurião (Lc 7.1-10). João afirma que Jesus veio para os judeus, mas eles o rejeitaram (Jo 1.11-13) e crucificaram-no (Jo 19.13-16). Todavia, após a ressurreição, Jesus comissionou os apóstolos para que anunciassem o evangelho a todos os gentios (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16), e não somente aos judeus.

2. Nos Atos dos Apóstolos. 
A primeira menção aos gentios em Atos refere-se ao conluio entre judeus e gentios para crucificar o Messias (At 4.27). Embora Atos 1.8 estabelecesse a missão dos apóstolos entre os gentios, somente em Atos 9.15, com a conversão de Paulo, é que se declara enfaticamente a evangelização dos gentios (ver At 13.44-47). Todavia, a resistência dos apóstolos em evangelizá-los (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio e os demais recebem o dom do Espírito Santo (At 10.44-48). O fato trouxe perturbações (At 11.1-3,18), mas após a justificativa de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a igreja glorificou a Deus pelo arrependimento dos gentios (At 10.45; 11.18; 15.3,12). Porém, manteve-se anunciando o evangelho somente aos judeus (At 11.19), e, posteriormente, constrangendo os gentios crentes à circuncisão (At 15.1).

3. Missão e Salvação entre os Gentios. 
Se Pedro e o evangelho da circuncisão são proeminentes nos capítulos 1 a 12 de Atos, dos capítulos 13 ao 28 serão Paulo e o evangelho da incircuncisão (Gl 1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, e o segundo aos gentios (At 13.44-47). Paulo estava consciente que fora chamado por Deus para anunciar o evangelho aos gentios (At 9.15; 13.47; 22.21; Rm 15.16; Ef 3.8), sem os entraves da lei (At 15.19, 28, 29; Rm 4.9-16). Diferentemente dos judeus incrédulos (At 13.46, 50; 14.2) muitos gentios converteram-se ao Senhor (At 11.1,18; 13.20-23), e se interessaram em ouvir o evangelho (At 13.42). Alguns receberam com alegria o evangelho (At 13.48), mas outros, incitados pelos judeus, resistiram (At 14.1-6; 17.13). Contudo, Deus "abrira aos gentios a porta da fé" (At 14.27), e nem mesmo os entraves do legalismo dos crentes judeus impediriam a salvação dos gentios (At 15.20-31; Rm 3.29), como profetizado desde o Antigo Testamento (Rm 16.25-27).

4. As Atividades Evangelísticas entre os Gentios. 
Em nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, comentamos que F.F.Bruce afirma que durante dez anos, de 47-57 d.C., Paulo realizou intensa atividade missionária nos territórios que margeiam o Mar Egeu. O labor paulino foi dirigido especificamente às províncias romanas da Galácia, Macedônia, Grécia, Acaia e Ásia. Contudo, uma leitura despretensiosa do livro de Atos dos Apóstolos revelará as incursões missionárias:

1.    nas cidades das três províncias litorâneas do Mediterrâneo (Lícia, Panfília, Cilícia),
2.     das três do litoral do Mar Egeu (Mísia, Lidia, Caria), 
3.     das três litorâneas ao Mar Negro (Ponto, Bitínia, Paflagônia), e,  
4.     nas províncias do interior (Galácia, Capadócia, Licaônia, Pisídia, Frígia).
Entre as muitas cidades que foram alvos da missão salvífica do apóstolo, destacam-se: Éfeso, Tessalônica, Corinto, Galácia, Pérgamo, Tiatira, Atenas, Filadélfia, Esmirna, Troade, Mileto, Laodiceia, Colossos, Sardes entre outras. As igrejas edificadas nessas localidades foram citadas direta e indiretamente por Paulo em vários textos de suas epístolas.

5. A Formação da Igreja entre os Gentios. 
Ainda em nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, explicamos a formação da igreja gentílica, referindo-nos ao fato de que Paulo faz várias referências à igreja gentílica como uma comunidade local ou doméstica:"igreja que está em Cencreia"; "igreja que está em sua casa"; "em cada igreja" (Rm 16.1.5; 1 Co 4.17). "Em cada igreja" é, por extensão, "toda a igreja" (Rm 16.23; 1 Co 4.17). Febe servia a Deus na comunidade cristã citadina de Cencreia, cidade portuária oriental de Corinto. Provavelmente, a igreja mencionada não se reunia em templos, mas em casa, como atesta o versículo 5 de Romanos 16, a respeito da comunidade cristã que se reunia na casa de Prisca e Áquila (1 Co 16.19).

As ekklēsiai tōn ethnōn, do versículo 4 (Rm 16), são as igrejas gentílicas da Ásia Menor que agradecem ao casal Priscila e Áquila pelo esforço sacrifical a favor de Paulo. Estas igrejas eram "comunidades paulinas", compostas por cristãos de várias etnias que viviam na Ásia. Entre eles, o Apóstolo dos Gentios destaca o irmão Epêneto, "que é as primícias da Ásia para Cristo" (v.5). Este cristão, a quem Paulo chama de agapētón mou, "meu amado", fora um dos primeiros convertidos ao evangelho na Ásia Menor. "As primícias da Ásia para Cristo", refere-se à fundação das igrejas citadinas na Ásia.

JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ

1. A igreja de Deus. 
Pedro em defesa do evangelho entre os gentios afirmou que "Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome" (At 15.14). Esse novo povo é a Igreja, formada por judeus e gentios convertidos a Cristo (Rm 9.29). De ambos os povos, judeus e gentios, Cristo fez apenas um, "derribando a parede de separação que estava no meio", e, pela cruz, "reconciliou ambos com Deus em um corpo" (Ef 2.14-16). Assim, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5), que os gentios não são mais estrangeiros (gôyim), nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22; 1 Pe 2.5), co-herdeiros e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3.6).

2. Expansão da igreja entre os gentios. 
Através das viagens missionárias de Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 11.13; Ef 3.7), o evangelho propagou-se entre os povos, raças e culturas que estavam ao alcance dele naqueles dias (Rm 15.19,20). Em várias regiões foram estabelecidas igrejas formadas principalmente por gentios (Rm 16.4). Essas comunidades de redimidos auxiliaram a igreja da Judeia, composta em sua maioria por judeus, em suas necessidades (Rm 15.25-33; 2 Co 8 – 9). O Senhor Jesus estava preservando os cristãos judeus por meio da riqueza da igreja gentílica.

3. A tarefa inacabada. 
A tarefa de evangelização dos gentios ainda é uma das maiores responsabilidades da igreja moderna. Quando Israel falhou em anunciar a salvação do Senhor entre as nações pagãs, Deus levantou a igreja, formada por gentios e judeus crentes em Jesus. Mas se nós, a igreja do Senhor, não anunciarmos o evangelho aos povos, quem irá? Deus o chama para ser atalaia nesse mundo perverso (Mc 16.15-18).

CONCLUSÃO

A salvação dos gentios sempre foi propósito do Senhor. Ele deseja que todos os homens sejam salvos, pois ama a todos indistintamente. Em pleno século 21, muitos ainda não ouviram falar do evangelho de Jesus. Não queres hoje ir aos gentios e anunciar-lhes a salvação em Cristo? 

Se você gostou desse artigo, não se esqueça de adquirir nossa obra Igreja: Identidade e Símbolos, onde tratamos de vários outros detalhes a respeito do estabelecimento e formação da igreja entre os gentios.

Esdras Bentho é Teólogo, Pedagogo e Mestre em Teologia pela PUC-RJ.


Publicado: 08 de outubro de 2015 04:55 PDT


1. Exórdio (v.1). A conjunção "portanto" (hōste) liga o capítulo 4 ao texto precedente (cap.3) e o conclui. Os temas anteriores, como por exemplo, "a cidade celeste", "a vinda do Senhor" e a "transformação de nossos corpos corruptíveis" (3.19-21) são esteios da firmeza cristã nos grandes vendavais da vida. "Portanto", diz Paulo, "estai assim firmes no Senhor". O verbo stēkete é uma ordem bíblica (imperativo), e deve ser uma condição permanente (aoristo).

Todavia, a segurança do crente não está fundamentada na "incerteza das riquezas" (1 Tm 6.17), e muito menos na "falibilidade dos projetos humanos" (Tg 4.13-17), mas "no Senhor" (en Kyriō). É firmado na Rocha Eterna que temos completa segurança salvífica. Esta afabilíssima admoestação é entrecortada com expressões afetuosas que recordam a bondade dos cristãos filipenses: "irmãos amados e saudosos", "alegria e coroa".
2. Exortação à unidade teológica (vv.2,3). Nesta seção, Paulo exorta duas possíveis diaconisas da igreja em Filipos: Evódia e Síntique. O verbo "exortar" ou "instar" (parakalō) é usado duas vezes e atribuído a cada personagem. Com isto Paulo demonstra o quanto é imparcial nesta querela. Saulo insta para que elas "sintam o mesmo no Senhor". Vejo aqui um jogo de palavras, uma vez que o significado do nome Evódia (viagem próspera) relaciona-se ao de Síntique (afortunada). Embora o texto bíblico não apresente o motivo pelo qual as duas cristãs estavam em desacordo, acredito que a causa era teológica. O verbo phroneō , "pensar", é usado frequentemente com o sentido de "formar uma opinião" ou "emitir um juízo", como em At 28.22 e 1 Co 13.11; e o uso do dativo "no Senhor" (en Kyriō), "reflete o fato de que este assunto não estava relacionado a brigas insignificantes, mas, antes, a um assunto relacionado à mensagem do evangelho dentro da igreja". [1

Para por fim a esta rixa, Paulo apela à benignidade de seu "autêntico companheiro" incógnito. Apela, provavelmente também a Clemente, ou "o Benigno". Tanto Clemente quanto Evódia e Síntique eram "ajudadores" (sullambanō) e "lutadores" (synēthēsan) na causa do evangelho. Estes dois vocábulos gregos, mantêm a tônica da comunhão cristã presente em toda epístola por meio da conjunção associativa sun e do nominativo koinōnia – Veja 1.7,27; 2.2;3.17,21 etc. Esses "companheiros de armas" têm seus nomes escritos no Livro da Vida (Biblō Dzōēs) – Cf. Êx 32.32; Sl 69.28; 139.16; Dn 12.1; Ap 3.5; 13.8; 17.8; 20.15; 21.27.
3. Tema da Epístola e sua relação com a vida cristã integral (v.4). Nesta perícope, Paulo apresenta o tema-chave de toda epístola. O verbo no imperativo presente, "Regozijai-vos, sempre" (Khairete), e a forma dativa "no Senhor" (en Kyriō) atesta a alegria contínua e independente das circunstâncias. Nesta última acepção, a verdadeira alegria é fruto de nossa permanência em Cristo. A preposição "en" não é apenas dativa – de relação – mas também locativa – de lugar. É tanto um estado quanto um lugar. 

É na relação melíflua com Cristo que alcançamos a ataraxia, a imperturbabilidade desejada pelos filósofos gregos. A alegria deve conduzir o crente à equidade. No original, epieikes, significa "magnanimidade", "gentileza", "tolerância", "clemência". Esta virtude é exigência àqueles que aspiram ao ministério (1 Tm 3.3; Tt 3.2). A aproximação da volta de Cristo é o termômetro do andar magnânimo do crente: "Perto está o Senhor" (v.5). Junto a esta alegria opera o contentamento cristão, assunto dos versículos 11-18. Paulo sintetiza seus infortúnios e prosperidade com a frase: "já aprendi a contentar-me com o que tenho" (v.11). 
O termo grego para "contentamento" é autarkeia, que exerce a função de predicado nominativo com infinitivo do adjetivo autarkēs (A.T.Robertson). Este estado supremo de felicidade é resultado tanto da posição e relação do crente com Cristo quanto de nossas orações (proseukhē), súplicas (deēsei) e ações de graças (eukharistias) diante de Deus (v.6). Quando deixamos no altar do Senhor todo o nosso clamor, retira-se de nossos ombros as cargas soturnas da inquietação, desesperança e temor, pois Deus supre todas as necessidades dos crentes, através da glória, por Cristo Jesus (v.19). A oração é o antídoto contra a dilaceradora inquietação. Portanto, afirma o apóstolo, "Não estejais inquietos por coisa alguma" (v.6). Esta expressão ecoa o Sermão de Mateus 6.25: "Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida". Segundo Matthew Henry, a recomendação é para que "em nossa inquietude não desconfiemos de Deus e nos tornemos desqualificados para o seu serviço". [2]
Somente assim, "a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus" (v.7). A "paz de Deus" é um dos atributos comunicáveis divinos que outorga a mesma imperturbabilidade que há em Deus. É, segundo Henry, "o benefício de seu favor". Já a "paz com Deus" de Rm 5.1 descreve o restabelecimento da comunhão com Deus através do sacrifício vicário de Cristo. A preposição "prós" quer dizer "face a face com" (Jo 1.1).
4. Virtudes Cristãs (vv.8-9). Nesta perícope Paulo descreve as virtudes teologais da vida cristã magnânima. A saber: Verdade – o que se opõe à falsidade; Honesto – tudo o que é honroso; Justo – de acordo com a justiça divina; Puro – tudo o que é santo; Amável – o que procede do amor; Boa Fama – o que é livre de ofensas. Para encerrar a lista das virtudes teologais, Paulo assevera: "se há alguma virtude". "Virtude" é no original o termo aretē , isto é, "excelência moral" ou apenas "excelência".
Esdras Bentho
Notas
[1] ARRINGTON, F.L.; STRONSTAD, R. Comentário bíblico pentecostal: Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 1309.
[2] HENRY, Matthew. Comentário bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, Vl. II, p. 628.
Esdras Costa Bentho Teólogo, Bacharel e Licenciado em Teologia com especialização em Hermenêutica; graduado em Pedagogia (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Formação de Professores), e escritor. Atualmente concluindo o Mestrado em Teologia pela PUC, RJ, atua como professor na Faecad, RJ, trabalha como editor de Bíblias e revisor sênior para editoras cristãs.
É autor dos livros "A Família no Antigo Testamento – História e Sociologia" e "Hermenêutica Fácil e Descomplicada", e co-autor de "Davi: As vitórias e derrotas de um homem de Deus", todos títulos da CPAD.
Publicado: 08 de outubro de 2015 04:42 PDT

Segundo a representante de um grupo de apoio a mulheres abusadas pelo Estado Islâmico, há cerca de 100 mulheres mantidas como escravas sexuais, somente em um dos cativeiros do grupo terrorista
`Teologia do estupro´ elaborada pelo Estado Islâmico está levando mulheres ao suicídio
Uma mulher de origem yazidi (minoria étnico-religiosa curda) que fugiu de um dos cativeiros do grupo terrorista Estado Islâmico afirmou que centenas de outras mulheres estão cometendo suicídio, em vez de se submeterem a escravidão sexual, imposta pelos jihadistas, em um cativeiro da região de Sinjar - norte do Iraque.
"Nós só queremos que elas sejam resgatadas", disse Saeed Ameena Hasan em uma reportagem da CNN. "Centenas de meninas têm cometido suicídio".
"Eu tenho algumas fotos das garotas que cometeram suicídio ... elas o fazem quando perdem a esperança de serem resgatadas e quando o Estado Islâmico muitas vezes as vende e as estupra ... Eu acho que haja talvez 100 delas. Perdemos contato com a maioria", acrescentou.
Enquanto Hasan e outros Yazidis conseguiram escapar do grupo terrorista, milhares de outros permanecem em cativeiro e em grande perigo. O EI vê os yazidis como adoradores do diabo e executa regularmente homens, enquanto força mulheres e crianças à escravidão sexual.
Desde então, Hasan se tornou uma ativista em prol da sensibilização para a situação dos yazidis, e tem sido reconhecida com um prêmio do Departamento de Estado dos EUA para ajudar os reféns do Estado Islâmico.
O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry elogiou seus "esforços corajosos em nome da minoria religiosa Yazidi no norte do Iraque, por insistir que o mundo dê atenção aos horrores que eles enfrentam e pelo firme compromisso de ajudar as vítimas e salvar vidas".
Vários relatórios têm-se centrado sobre as violações terríveis e abuso que as mulheres yazidis sofreram nas mãos dos militantes islâmicos, que capturaram um vasto território no Iraque e na Síria. Muitas mulheres foram forçadas ase casar com jihadistas, para salvar as vidas de seus entes queridos e até mesmo suas próprias vidas.
'Teologia do estupro'
Uma reportagem investigativa publicada pelo 'New York Times' em agosto descobriu que muitos 'soldados' do EI acreditam em uma suposta 'teologia do estupro', afirmando que abusar sexualemtne de crianças e jovens serve como uma "oração" a Alá. O relatório, baseado em entrevistas com 21 mulheres e meninas que escaparam do cativeiro no Iraque, revelou que os jihadistas procuram justificar suas atrocidades com ajuda do Alcorão, o livro sagrado islâmico.
"Ele me disse que de acordo com o Islã, está autorizado a estuprar um incrédulo. Ele disse que poderia até me estuprar e assim estaria chegando mais perto de Deus [Alá]", disse uma garota de anos de idade 12, ao comentar sobre seu sofrimento no cativeiro do EI.
"Toda vez que ele veio para me estuprar, ele repetia orações", acrescentou uma outra menina de 15 anos de idade. "Ele disse que me estuprar é sua oração a Deus. Eu disse a ele: 'O que você está fazendo comigo é errado, e não vai lhe trazer para mais perto de Deus'. E ele disse: 'Não, isso é permitido. É halal".
Divulgados em dezembro de 2014, alguns panfletos do Estado Islâmico também procuraram a aconselhar os seus combatentes sobre os contextos em que 'são permitidos os abusos sexuais contra crianças'.

"É permitido ter relações sexuais com a escrava que não tenha atingido a puberdade, se ela estiver apta para a relação sexual", dizia o panfleto.
http://www.cpadnews.com.br/universo-cristao/30392/%60teologia-do-estupro%C2%B4-elaborada-pelo-estado-islamico-esta-levando-mulheres-ao-suicidio.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=facebook

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