Realmente muitos usam esse texto como base para dizer que a Bíblia aponta que a comunicação das almas dos mortos com os vivos é algo possível.
Mas será que é isso mesmo que o texto aponta? Será que uma análise aprofundada desse texto ainda faz dele um apoio a doutrina espírita? Vejamos algumas considerações sobre esse texto antes de tirarmos qualquer conclusão:
O espírito de Samuel apareceu ao rei Saul em En-dor?
(1) Já de início vemos o rei Saul descumprindo uma lei que Deus havia dado em “…nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR…” (Deuteronômio 18:11-12).
Pessoas que faziam esse tipo de “comunicação” com mortos eram consideradas uma abominação a Deus e consultá-las era afrontar a Deus. Isso por um simples fato: Não há possibilidade desse tipo de comunicação. A comunicação que dizem que fazem com as almas dos que já morreram é, na verdade, feita com demônios enganadores. Por isso era proibida por Deus.
Isso mostra o quão longe de Deus o rei Saul estava. E por causa dessa distância da vontade de Deus, vemos que Deus não mais lhe respondia. “Consultou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.” (1 Samuel 28:6).
(2) Saul, totalmente distante da vontade de Deus, resolve, por conta própria, fazer aquilo que não agradava a Deus: Consultar médiuns. Até aqui talvez você ainda não esteja convencido se Saul conversou ou não com o espírito do profeta Samuel. Vejamos se esse encontro realmente aconteceu ou se foi uma farsa demoníaca:
(3) No final do referido texto (1 Samuel 28) vemos que Saul foi procurar a médium totalmente sensibilizado fisicamente e emocionalmente e, por isso, foi presa ainda mais fácil da enganação.
Observe que ele estava em um jejum prolongado e totalmente mexido emocionalmente: “De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e faltavam-lhe as forças, porque não comera pão todo aquele dia e toda aquela noite.” (1 Samuel 28:20)
(4) A tal médium já recebe de Saul a dica de com “quem” ele queria falar, facilitando a enganação demoníaca. “Então, lhe disse a mulher: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.” (1 Samuel 28:11).
(5) A médium diz espantada a Saul que estava vendo a Samuel. Mas, na verdade, fica mesmo muito assustada com a presença do rei Saul ali, pois ele havia eliminado de Israel vários médiuns pouco tempo antes e estava disfarçado (1Sm 28. 3).
“Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher disse a Saul: Por que me enganaste? Pois tu mesmo és Saul.” (1 Samuel 28:12)
(6) A médium diz que viu Samuel, mas Saul não viu nada, ficando totalmente à mercê de qualquer enganação, seja da médium, seja de demônios. “Respondeu-lhe o rei: Não temas; que vês?” (1 Samuel 28:13).
(7) A médium faz uma descrição óbvia da figura de Samuel (um ancião de capa); e Saul “entende” que é Samuel. Mais uma vez friso: Saul não via nada, apenas era conduzido pela médium, sendo presa fácil.
“Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra e se prostrou.” (1 Samuel 28:14).
Observe quão desequilibrado estava Saul, pois, apenas “entendendo” que era Samuel já se prostrou com o rosto em terra.
(8) A coisa piora a partir de agora. Esse falso Samuel quem falava pela médium agia à parte de Deus, pois Deus havia desaprovado a conduta de Saul e não lhe respondia “por profetas” como vimos em 1 Samuel 28:6, mas esse falso Samuel respondia.
O verdadeiro profeta Samuel sempre falava da parte de Deus e agora depois de morto não falaria mais da parte de Deus? Teria Samuel resolvido por si próprio falar a Saul sem o consentimento de Deus? O mundo espiritual estaria uma bagunça que fugia do controle de Deus?
(9) O tal “Samuel” faz profecias erradas, mostrando claramente que não vinha da parte de Deus e que, na verdade, era um demônio (limitado na presciência e enganador).
Ele revela que Saul e seus filhos morreriam no dia seguinte, entregues nas mãos dos filisteus (v. 19). Isso não acontece. Muitos dias se passam e Saul e [alguns] de seus filhos morrem em batalha [diferente do que o tal “Samuel” tinha dito em 1 Samuel 28:19]
“Entretanto, os filisteus pelejaram contra Israel, e, tendo os homens de Israel fugido de diante dos filisteus, caíram feridos no monte Gilboa. Os filisteus apertaram com Saul e seus filhos e mataram Jônatas, Abinadabe e Malquisua, filhos de Saul.” (1 Samuel 31:1-2).
Em 2 Samuel 2:8 vemos que Isbosete, filho de Saul, não morreu na batalha, sobreviveu a ela. “Abner, filho de Ner, capitão do exército de Saul, tomou a Isbosete, filho de Saul, e o fez passar a Maanaim” (2 Samuel 2:8). Assim, a palavra do tal “Samuel” que a médium consultava estava errada.
(10) Profecias que não se cumprem de forma exata apontam para falsos profetas. “Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.” (Deuteronômio 18:22).
Samuel, em vida, era profeta verdadeiro de Deus. Após a sua morte viraria um falso profeta? Não! Esse tal “Samuel” que a médium entrevistava não era Samuel! Era um demônio disfarçado ou fruto de invenção dela!
(11) A morte de Saul foi também consequência da consulta que fez a uma médium, demonstrando a desaprovação de Deus. Se Deus realmente falasse por intermédio da alma do já morto Samuel, por que Saul teria pecado em consultá-lo?
“Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé.” (1 Crônicas 10:13-14)
Concluindo: Não houve conversa alguma com o verdadeiro profeta Samuel que já estava morto, pois isso é uma impossibilidade mencionada claramente na Bíblia.
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