Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.” (João 14.1)

Como Deus é eminentemente distinguido pelo caráter de “O Consolador de todos os oprimidos”, assim Jesus evidenciou isto durante todo o tempo de sua peregrinação na terra: não houve angústia que ele não removesse daqueles que o buscaram, e não raro ele antecipava o atendimento das necessidades, que a incredulidade ou a ignorância de seus seguidores era incapaz de expressar.
Ele agora havia revelado a seus discípulos as coisas que logo teriam cumprimento, e, percebendo que estavam muito abatidos pela perspectiva diante deles, ele os encorajou com as palavras que lemos: “Não se turbe o vosso coração”; e, então, ele prescreveu um antídoto, suficiente para dissipar todos os seus medos: ” credes em Deus, crede também em mim.”
Ao discorrer sobre essas palavras, nós veremos,

I. As tribulações que ele lhes ensinou a esperar –
Havia três em particular, que parecia mais afetá-los:

1. Sua perda de sua presença

Isso, se tivesse sido apenas para uma remota parte do globo, ou à maneira da partida de Elias, teria grandemente deprimido suas mentes, por causa do amor que ele tinha manifestado em relação a eles, e toda a sua dependência dele para instrução e apoio, mas tê-lo retirado deles por cruéis sofrimentos e uma morte ignominiosa, seria angustiante além da medida, de modo que o próprio pensamento sobre isto lhes encheu com a mais profunda preocupação.

2. A frustração de suas esperanças mundanas

Eles supunham que ele estava prestes a estabelecer um reino terreno, e que eles deveriam ser exaltados a uma posição de grande dignidade. Mas quando ouviram, que, em vez de reinar sobre outras nações, deveria ser rejeitado pela sua própria gente, e que, em vez de elevá-los às posições de honra, ele próprio deveria morrer numa cruz; não sabiam como conciliar estes fatos com as suas expectativas, ou como suportar a vergonha que como uma inevitável frustração teria lugar.

3. As perseguições que eles teriam de um mundo ímpio

Até agora tinham sido poupados de perseguições, o seu Senhor e Mestre havia suportado o peso delas em sua própria pessoa, mas agora eles entenderam que estavam prestes a beber o seu cálice, e suportar todos os tipos de sofrimentos e morte, seguindo o seu exemplo. Isto gerou uma apreensão dolorosa em suas mentes e lhes causou a mais séria inquietação.

O que ele usou para dissipar seus temores, será encontrado,

II . No remédio que ele propôs

Os verbos em nosso texto podem ser tomados tanto no modo imperativo quanto no indicativo, e muitos pensam que seria melhor interpretar em ambos os modos, mas o espírito da passagem parece ser melhor preservado em nossa tradução, que reconhece, que eles acreditam em Deus, o Pai, e são exortados a colocar a mesma confiança nele como no Pai. Eles agora achavam que deveriam perdê-lo completamente e para sempre.
Para corrigir esse erro, ele lhes pediu, não obstante a sua remoção deles, a crerem nele,

1. Como estando presente com eles em suas provações

Ainda que ele não estaria presente aos olhos dos sentidos, estaria de fato muito perto deles em todas as ocasiões. Onde quer que devessem estar, não haveria nenhum impedimento à sua admissão às suas almas: ele viria visitá-los, e habitaria neles, e manifestar-se-ia a eles, já que ele não estaria no mundo.
Esta seria uma bênção muito maior para eles do que o seu corpo presente, de modo que não tinham nenhum motivo para se entristecerem com o aparente abandono deles por ele.

2 . Como interessado em seu bem-estar

Eles nunca tinham lhe encontrado indiferente sobre qualquer coisa que se referisse a eles; nem ele iria esquecê-los depois que partisse para o céu, pelo contrário, estava indo para lá para lhes preparar mansões, e iria ainda participar em tudo o que se referisse a eles, simpatizando com eles em suas aflições, e em relação a tudo o que fosse feito a eles como sendo feito para si mesmo. Se alguém lhes desse somente um copo de água fria, ele iria reconhecê-lo como uma obrigação feita a ele.

3 . Como suficiente para o seu apoio

Eles tinham visto as maravilhas que havia operado durante sua permanência entre eles, e não deveriam imaginar, isso, porque ele ofereceu sua alma como sacrifício pelo pecado, e não estaria portanto, despojado de seu poder para realizá-las, pois embora, sendo crucificado em fraqueza, ele possui todo o poder no céu e na terra. Eles poderiam continuar lhe buscando para achar alívio para todas as suas necessidades, e apoio em cada provação, e eles certamente encontrariam a sua graça sendo suficiente para eles.

4 . Como vindo novamente para recompensar tudo o que eles pudessem suportar por causa dele

Ele lhes havia dito, que ele voltaria, e em toda a glória de seu Pai, com miríades de anjos, para julgar o mundo. Eles não precisavam, portanto, estar ansiosos por quaisquer provações presentes, já que ele prometeu a si mesmo se lembrar de tudo o que deveriam fazer ou sofrer por ele, e ricamente recompensar a sua fidelidade a ele.
Estes eram assuntos sobre os quais ele havia conversado muitas vezes com eles, e se lhes dessem crédito quanto ao cumprimento de suas promessas, poderiam descartar seus temores, e serem consolados.

Será inútil não considerar mais distintamente,

III. A suficiência deste remédio para dissipar toda ansiedade de suas mentes

A fé em Cristo é um antídoto perfeito contra problemas de todo tipo. A fé se relaciona a Cristo em todos os seus gloriosos ofícios e faculdades:

1. Como o Salvador da alma

O que tem a ver com o medo e a angústia, o homem que vê todas as suas iniquidades expurgados pelo sangue de Jesus, e sua alma aceita diante de Deus? Se ele esquecer essas coisas, ele pode ser derrubado por provações terrenas; mas se mantiver isto constantemente em vista, os sofrimentos presentes serão de nenhuma conta a seus olhos; e sentirá que não há fundamento para nada, senão para uma alegria ilimitada e incessante.

2. Como o governante do universo

Aquele que vê quão perfeitamente todas as coisas estão sob o controle de Jesus, dará lugar ao medo ou tristeza? Nem um pardal cai do céu, nem um fio de cabelo de nossa cabeça pode ser tocado, sem que ele o permita, e, se ele sofrer qualquer injúria, isto pode ser convertido por Cristo em um maior benefício. O que, então, temos que fazer, senão deixá-lo trabalhar conforme a sua própria vontade, e esperar que todas as coisas cooperarão para o nosso bem?

3 . Como a Cabeça do seu povo

Ele é para todo o seu povo a cabeça de influência vital, e irá se esquecer de comunicar o que é necessário para o bem-estar de seus membros? Nós somos fracos; e os nossos inimigos são poderosos, mas qual é a base para o medo, enquanto nos lembramos de quem somos membros? Não podemos fazer todas as coisas através de Cristo nos fortalecendo?

4 . Como o juiz dos vivos e dos mortos

A distribuição de recompensas e punições são atribuições de Cristo; e ele nos tem dito qual será a sentença que pronunciará sobre todos os seus fiéis. E não será essa palavra: “Vinde benditos”, ou: “Bem está, servo bom e fiel”, ricamente retribuindo tudo o que pudermos fazer ou sofrer por ele neste mundo? Podemos contemplar os tronos de glória que ele tem preparado para nós, e ter medo das provações que nos esperam aqui?

Consideremos, pois, a felicidade dos crentes, pois eles podem, e devem, ter suas provações; e enquanto estiverem possuídos dos sentimentos dos homens, acharão algumas provações difíceis de serem suportadas, mas eles não têm, nem podem ter, qualquer causa para temerem; porque enquanto Deus for por eles, ninguém pode ser contra eles. Não estejamos ansiosos por cousa alguma, e lancemos todos os nossos fardos sobre o Senhor, que cuida de nós.

Texto de Charles Simeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.