BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS |
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- CENTRO APOLOGÉTICO USA FONTE FRAUDULENTA PARA DESCREVER IGREJA
- A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA BÍBLICA - PARTE 2
- A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA BÍBLICA - PARTE 1
- EXEGESE BÍBLICA – O QUE É E COMO SE FAZ
- REGRAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA HERMENÊUTICA E EXEGESE
Posted: 29 Apr 2015 08:00 PM PDT
Os quatro Evangelhos
Nos quatro Evangelhos estão inseridas todas as revelações que o Pai deseja fazer sobre a pessoa do Senhor Jesus, para a Igreja. O Filho é revelado nos Evangelhos de maneira magnífica. E só a Igreja fiel pode se apossar de tais revelações e tesouros escondidos desde a fundação dos séculos. De fato homem do mundo, mergulhado na hedionda rebelião contra Deus, desprovido de qualquer discernimento espiritual, muito longe está de vislumbrar os maravilhosos traços de Jesus, delineados pelo Espírito Santo nas páginas inspiradas. Deste modo entendemos o que o Senhor Jesus dizia em João 14:19 (... vós me vereis ...) O Pai concede à Igreja a benção de ver o Senhor Jesus de quatro ângulos, para que tivesse uma idéia perfeita do amado Salvador. Isto foi possível através dos quatro Evangelhos. Cada um deles enfocando um aspecto do ministério terreno do Senhor Jesus. São quatro as funções de Jesus reveladas nos Evangelhos. Ele é:
a. REI em Mateus
b. SERVO em Marcos
c. FILHO DO HOMEM em Lucas
d. FILHO DE DEUS em João
Ele era Rei, mas servo perfeito. Era filho do homem, mas igualmente filho de Deus.
Confirmando estas funções nós vemos um paralelo notável nos extremos da Bíblia, e os evangelhos no meio. Os quatro evangelhos estão nas cores da porta do Tabernáculo e nos animais simbólicos em torno do trono de Deus. Êxodo profetiza Apocalipse confirma o mistério dos quatro Evangelhos. Em Êxodo 27:16 vemos a cortina colorida que fechava a porta do Tabernáculo, um símbolo de rara exatidão dos quatro Evangelhos. Lá estão a púrpura, o carmesim, o branco e o azul, formando cortina da porta. Do mesmo modo que os Evangelhos falam das quatro funções de Jesus na terra, as cores da cortina mostra o Jesus Rei, servo, homem e Deus. Ele mesmo era a porta (João 10:9) por outro lado as visões de João em Apocalipse 4:6-7 nos levam a ver a confirmação dos quatro Evangelhos nos quatro animais:
Na Bíblia 4 é o número da terra e coisas a ela relacionadas. Na parábola do semeador o Senhor dividiu o campo em quatro quadrantes, os pontos cardeais são quatro e as estações do ano também são quatro. O mesmo Espírito portanto nos concedeu quatro Evangelhos para descrever o ministério terreno daquele que desceu do céu.
O Velho Testamento apontava em vários lugares os quatro aspectos do ministério do Senhor Jesus na sua primeira vinda.
1. Ele é chamado REI – Zacarias 9:9; Salmo 72; Isaías 32:1 e Jeremias 23:5
2. Ele é chamado SERVO – Isaías 42:1-7; Isaías 52:13-15
3. Ele é chamado FILHO DO HOMEM – Gênesis 3:15; Isaías 7:14-16
4. Ele é chamado FILHO DE DEUS – Isaías 9:6; Jeremias 23:6; Isaías 47:4 e 40:3
1 – Tipos de homens na Palestina naqueles dias
1.1 O JUDEU – Mateus escreve especialmente para os Judeus mostrando que o Senhor Jesus também era Judeu – Este tipo de homem era o que mais se interessava pelas profecias. Mateus repete muitas vezes: "Para que se cumprisse..." ou "Como falou o profeta...", etc.
1.2 O ROMANO – O segundo Evangelho é destinado de modo especial aos Romanos, os dominadores políticos da época. O Romano não se interessa no cumprimento das profecias mas sua atenção se voltava para o notável líder que surgia da Palestina. Viam as coisas do lado prático e objetivo.
1.3 O GREGO – O terceiro Evangelho foi escrito por um médico grego e destinava-se portanto aos patrícios. Os gregos eram amantes da arte, do belo, da poesia, da retórica e da cultura. Eram, por assim dizer, difíceis de agradar. Deus levantou Lucas e inspirou sua pena para transmitir numa linguagem acessível aos gregos a mensagem do Evangelho.
1.4 TODOS OS DEMAIS HOMENS – O Evangelho de João foi escrito de modo nitidamente diferente dos outros três. Ele escreve para todos os homens que não eram Judeus .............................................................
careciam da revelação de Jesus. Escreveu para a grande multidão – João 6:2
Temos aí mais uma graciosa explicação da existência dos quatro Evangelhos. Todos os homens deveriam ser atingidos pela graça salvadora do Senhor Jesus. Todos teriam a chance de entender sua doutrina e experimentar seu grande poder. Oh! Prodigiosa graça de Deus!
2 – Mateus – O Evangelho do Rei
O livro inicia com a genealogia de Jesus, dizendo Filho de Davi, Filho de Abraão, de fato, Salomão foi Rei e Isaque foi um sacrifício. Mateus começa com o nascimento de um Rei e termina com o sacrifício no Calvário. A Genealogia começa com Abraão porque o propósito de Mateus era mostrar a descendência real de Jesus. Por 29 vezes, o Velho Testamento é citado e 13 vezes Mateus declara que este ou aquele acontecimento foi cumprimento da profecia. O nascimento de Jesus é registrado em Belém, a cidade de Davi (Miquéias 5:2) e João Batista o precursor de Jesus foi predito por Malaquias (Malaquias 3:1). Em Mateus 2:2 os magos quando vieram a sua procura perguntaram: "Onde está aquele que é nascido Rei dos Judeus?" ver Lucas 2:11. Um rei precisava ser anunciado e Deus providenciou um arauto para proclamar a chegada do Rei. João Batista pregava o caminho do Senhor, "endireitai as suas veredas".
Nos capítulos 5, 6 e 7 estão as leis do Reino que Jesus fixou do alto de um monte onde grande multidão ouvia extasiada a voz do grande Rei. Todo reino é constituído de Rei e súditos que obedecem as suas leis e o Senhor Jesus não buscou seus súditos nas academias de Jerusalém, mas às margens do mar da Galiléia (I Coríntios 1:27). A palavra do reino aparece 45 vezes em Mateus pois é o Evangelho do Rei. Os símbolos do reino estão nas sete parábolas do capítulo 13 de Mateus. Apesar de tantas profecias cumpridas sobre o seu reinado o Senhor Jesus foi rejeitado, o que faz anunciar em Mateus 21:43 que passaria o reino a um outro povo. É importante também observar que a palavra igreja é mencionada somente em Mateus 16:18, porque seria o povo sobre o qual ele iria reinar e onde as suas leis seriam rigorosamente respeitadas (Efésios 2:11-22).
No capítulo 16, Jesus perguntava: "Que dizem os homens que sou?" e a resposta não satisfez. Todos consideravam que Jesus era uma pessoa extraordinária, alguém que possuía poderes sobrenaturais. Mas o alegrou o Senhor Jesus foi a resposta de Pedro, revelada pelo Pai: "Tu és o Cristo o filho do Deus vivo". O homem de hoje também acha o Senhor Jesus extraordinário, mas a igreja fiel tem a revelação do Espírito.
Até aqui vemos o Rei Jesus (Mateus 1:11), filho de Davi. No final do livro ele passa a ser o filho de Abraão, o sacrifício, nas sombras de Getsemani, no cálice de amargura. Vemos a coroa de espinhos, no cetro, no manto escarlate a prova de condição de rei. Na crucificação, após o brado de vitória, tornou-se o Redentor do mundo e o Rei de sua Igreja.
3 – Marcos – O Evangelho do Servo
O segundo Evangelho, escrito por Marcos é o Evangelho que descreve o Senhor Jesus como o servo sofredor. É o mais breve dos relatos, contendo apenas 16 capítulos. Em Marcos, Jesus é o servo perfeito. Logo no início notamos a falta de genealogia. O Espírito Santo não permitiu que se fizesse genealogia em Marcos, porque escravo não tem genealogia. Os romanos não se interessariam pelos ancestrais de um servo. Jesus foi o servo preparado em uma carpintaria (Marcos 6:3). Neste evangelho o Espírito se movimenta com incrível rapidez, tudo transcorre rapidamente, Não temos em Marcos, longos sermões, mas obras poderosas. Demônios expulsos, febre repreendida, doenças curadas, leprosos purificados, paralíticos podendo andar, ressurreições, surdos ouvindo, mudos falando, etc. Marcos se caracteriza por esta objetividade e rapidez. A expressão "E logo..." aparece ao longo de todo o livro. O evangelho se desdobra diante de nós e o servo trabalhando incansavelmente. Em Marcos temos que andar depressa se quisermos acompanhar o servo poderoso, este obreiro de Deus.
Diante do sumo sacerdote ele foi feito inferior aos seus (14:65). Foi vendido por 30 moedas de prata (14:11), que correspondia na época ao preço de um escravo comum. Nos versos 40-44 do capítulo 10, vemos o resumo de todo este aspecto do ministério terreno de Jesus. Ele foi o servo perfeito.
4 – Lucas – O Evangelho do filho do Homem
O evangelho de Lucas trata da humanidade de Jesus, os sentimentos humanos, sua compaixão e identificação com o homem. Lucas mostra detalhes humanos, o decreto de César Augusto, a visita de Maria a Isabel, o nascimento de Jesus, a manjedoura, o mesmo Jesus dentro os doutores. A genealogia de Lucas retrocede com os ancestrais de Jesus até Adão mostrando sua relação com a raça humana. Não tem como objetivo de mostrá-lo filho de Abraão como fez Mateus. No deserto foi o homem vencedor, na sinagoga o homem ungido, tornou-se homem para aproximar o homem de Deus. No Getsemani vemos o Senhor Jesus intercedendo e seu corpo físico sofrendo. Sua humanidade sentia o peso do ministério, seu suor se transforma em grandes gotas de sangue. O livro de Lucas encerra todos os sinais que mostram o nosso divino Salvador como o homem perfeito, o varão de dores que venceu a morte e triunfou para sempre.
5 – João – O Evangelho do Filho de Deus
O livro de João é em tudo diferente dos outros evangelhos, é como se fosse o Santo dos Santos onde vemos a comunhão direta do filho com o Pai. É a visão perfeita do Filho de Deus. Aqui o Senhor Jesus não é apresentado como primogênito de Maria (Lucas 2:7) mas o unigênito do Pai (João 1:14). Não há genealogia visto ser Ele o próprio filho de Deus. O verbo estava no princípio. As cenas que revelam a humanidade de Jesus, tão freqüentes em Lucas são aqui omitidas, não se fala em mangedoura ou tentação. Jesus não é visto orando mas falando em nível de igualdade com o Pai. Em tudo se vê sua magnífica divindade.
Em Mateus e Lucas as expressões. Filho de Davi e Filho do Homem ligam Jesus à terra. Em João as expressões Filho de Deus e Unigênito do Pai une-o aos céus e por mais de trinta vezes Ele se refere a Deus como "meu pai". O resumo do livro está em João 16:28
- Saí do Pai
- Vim ao mundo
- Deixo o mundo
- Vou para o Pai
"O mundo não me verá, mas vós me vereis".
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Posted: 29 Apr 2015 07:29 PM PDT
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Posted: 29 Apr 2015 07:04 AM PDT
Tendo falado da necessidade e da importância da hermenêutica, deixe-me mencionar alguns aspectos dos seus princípios fundamentais:
1. o aspecto pneumatológico; 2. o aspecto teológico; 3. o aspecto gramático.
Em primeiro lugar, tem-se o aspecto pneumatológico, ou seja, qual é o papel do Espírito Santo na hermenêutica. É claro que essa pergunta só tem relevância para quem acredita no Espírito Santo. Essa pergunta não tem a menor relevância fora dos círculos evangélicos em que o Espírito Santo é considerado apenas como uma mitologia dos escritores do Novo e do Antigo Testamento, como uma coisa criada por eles, ou simplesmente como uma personificação de uma força que procede de Deus. No entanto, para os protestantes históricos, que levam a Bíblia a sério, o Espírito Santo é a terceira pessoa da trindade, que foi dada pelo Pai à igreja para conduzi-la. O próprio Jesus disse que, quando o Espírito Santo vier, ele haverá de conduzir a toda a verdade e haverá de nos guiar e nos levar ao conhecimento dele. E aqui eu faria uma pergunta para começar, tendo em vista a seguinte situação. Se numa sala eu colocasse dez ateus que não acreditam em Deus, mas que são absolutamente bem versados em grego, hebraico, aramaico, história, arqueologia, sociologia, antropologia, literatura clássica, grego clássico, latim, pais da igreja — eles dominam completamente a Ciência da Religião, mas são ateus — e desse a eles o texto de 1Coríntios 15, quando Paulo diz: "o que farão os que se batizam pelos mortos", para que eles interpretassem. E se, do mesmo modo, numa sala ao lado, eu colocasse dez irmãos, santos irmãos de Deus, homens de Deus, crentes, de oração, de jejum, mas que mal soubessem ler a Bíblia direito, e fizesse a mesma coisa dando a versão em português e fazendo a mesma pergunta sobre o texto de 1Coríntios 15, referente ao batismo pelos mortos. Quem vocês acham que é o grupo que terá melhor condição de dar a resposta correta?
Leia também: A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA BÍBLICA - PARTE 1
Grande parte da interpretação e do trabalho da hermenêutica se resume à aplicação simples de regras e independe da espiritualidade da pessoa. É uma questão de aplicação de regras, é uma questão de gramática, é uma questão de sintaxe, é uma questão de comparação com outros textos, é uma questão de bom senso e, em grande parte, independe da espiritualidade. Todavia, ao dizer isso, nós não estamos negando o papel do Espírito Santo na compreensão das Escrituras. Na minha tradição (cristã reformada calvinista), quando nós falamos do papel do Espírito Santo na interpretação, nós entendemos que não é função do Espírito Santo transmitir ao intérprete conhecimento novo, mas fazer com que ele compreenda salvadoramente esse conteúdo.
Será que jejum, oração e comunhão com Deus substituem o papel da gramática, do estudo do grego, da história, da arqueologia? Será que uma coisa substitui a outra? A julgar pela qualidade da pregação de alguns irmãos "espirituais", eu diria que não. Afinal, boa parte da exegese e da interpretação é aplicação de regras, de normas, porque estamos lidando com um texto, e nós precisamos aplicar as regras dessa maneira. Todavia, como hermeneutas cristãos, o Espírito Santo não pode ser deixado de lado quando nós pensamos em nossa tarefa de interpretação do texto. Geralmente dividimos em três etapas a obra do Espírito em comunicar a verdade de Deus.
A primeira parte é chamada de revelação — que nós distinguimos das chamadas revelações pessoais, da direção pessoal, que alguns irmãos hoje reivindicam. A revelação a que me refiro aqui é a revelação das grandes verdades de Deus que formaram as Escrituras Sagradas. Nós dizemos que essa revelação é a atuação do Espírito Santo nos autores bíblicos, no ato de registrarem infalivelmente a palavra de Deus.
A segunda fase é a iluminação, momento em que o Espírito atua nos leitores esclarecendo as mentes para compreender a verdade revelada nas Escrituras de tal maneira que nós possamos recebê-la de coração e acreditar nela.
A terceira fase é a capacitação, momento em que o Espírito Santo capacita os pregadores para comunicar a mensagem que eles entenderam, abraçaram de todo o coração e creram salvadoramente.
A atuação iluminadora do Espírito de Deus na interpretação das Escrituras é uma ação frequentemente ignorada por estudiosos comprometidos com o método histórico-crítico e seus pressupostos.
Como resultado, o método histórico-crítico produziu pouca coisa que pudesse ser pregada, esvaziou púlpitos e igrejas, e, como vocês sabem, o liberalismo teológico "secou" igrejas protestantes na Europa.
Para os pregadores comprometidos com a autoridade da Escritura, a atuação do Espírito Santo deve ser levada em conta, considerando a natureza da mensagem bíblica e a situação de cegueira espiritual a qual o homem está sujeito. Todo estudo não deve ser feito à revelia da nossa comunhão com Deus.
O segundo aspecto é o teológico que também afeta a pregação e a compreensão. Eu começo com uma declaração que está totalmente pressuposta no livro (A espiral hermenêutica), a de que a hermenêutica é como uma espiral: "não existe interpretação neutra". É um mito racionalista aquilo que eles chamam de exegese científica e é uma das coisas que eu considero desonesta dos proponentes do método histórico-crítico. Eles querem avançar esse método, considerando-o como um método científico. Com isso, querem dizer que é um método neutro, que exclui os pressupostos transcendentes — como se isso fosse possível.
Já se provou, já se sabe que a neutralidade científica é impossível em todas as áreas do conhecimento. Nós sempre somos guiados a ler a realidade dos textos a partir daquilo que nós cremos, das nossas pressuposições. Daí a importância da Teologia, ninguém pode se livrar da Teologia em hermenêutica.
O papel do pressuposto teológico sempre foi destacar que primeiro "creio e por isso sei". Em nossos dias, vemos o abandono gradual dessa utopia racionalista de neutralidade e uma nova apreciação pelo envolvimento do intérprete na exegese. Na verdade, a igreja sempre disse isto: se a pessoa não crer, ela não vai entender a mensagem. Se nós tivermos os pressupostos teológicos corretos sobre Deus e as Escrituras, isso irá nos colocar numa posição em que melhor entenderemos a sua mensagem. Isso faz com que cristãos do mundo todo que possuem diferentes horizontes de compreensão, vindos de diferentes culturas, e que passaram por diferentes experiências consigam interpretar a Bíblia da mesma forma, a ponto de pregar a mesma mensagem.
O terceiro é o aspecto gramatical, a importância das línguas originais. Só com o conhecimento do português, nós perderemos eventualmente, determinados efeitos ou pontos que estão no grego, no hebraico e no aramaico que são difíceis de serem transmitidos na tradução. Por exemplo, os tempos do verbo hebraico, ou a qualidade de ação dos verbos gregos, o jogo de palavras que são similares no grego, o paralelismo da poesia hebraica.
Dessa forma, desejo dar alguns conselhos aos pregadores:
Primeiro, toda prática precisa de um fundamento teórico sólido. Os que abandonam o estudo sério da Bíblia e vão diretamente para a prática, cedo ou tarde, irão sentir falta de fundamentos teóricos e doutrinários.
Segundo, a palavra de Deus é o fundamento da prática missionária, do aconselhamento, do culto, do serviço cristão e, especialmente, da pregação.
Terceiro, como pastores e obreiros, deveríamos ser mais profissionais com aquilo que trabalhamos em nosso ministério.
Quero falar ainda, sobre gênero literário dentro do aspecto gramatical. O termo gênero significa tipo que se refere a diferentes formas, figuras de linguagem, estilos, que são empregados na comunicação escrita em geral. Na Bíblia, nós temos vários gêneros literários. No livro dos Salmos, encontramos salmos especiais de lamento, lamentações comunais, ações de graças, sabedoria; nos evangelhos encontramos narrativa, história de pronunciamento, parábola, declarações de sabedoria, textos messiânicos; nas cartas do Novo Testamento, temos exortação, etc. Pregar a Bíblia com competência é fazer isso com consciência dos gêneros que estão presentes nela.
Para concluir, queremos retomar algumas questões que nos ajudarão a vencer o distanciamento causado pelo aspecto humano. Nada pode vencer esse distanciamento a não ser a aproximação do texto e do contexto originais. E como se faz isso?
Faça uma boa leitura de material introdutório aos livros bíblicos, livros de hermenêutica, como A espiral hermenêutica, uma Bíblia interlinear, bons comentários exegéticos e o uso de diferentes traduções.
Verifique se você tem os pressupostos corretos, que devem nortear nossa interpretação, como a existência de Deus, a revelação progressiva, a inspiração e a autoridade das Escrituras.
Termino com o lema de Calvino: orare et labutare. Orar, porque a Bíblia é um livro divino. Devemos orar para vencer o distanciamento moral espiritual, que às vezes impedem que cheguemos ao conhecimento verdadeiro da mensagem. E labutar, porque a Bíblia é um livro humano e foi produzida em um determinado contexto por pessoas com uma visão de mundo que já não existe mais. Por isso, devemos usar todos os recursos disponíveis para vencermos esse distanciamento.
Leia também: HERMENÊUTICA X EXEGESE - QUAL A DIFERENÇA?
Teologia Brasileira
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Posted: 29 Apr 2015 07:09 AM PDT
Começarei falando da necessidade da hermenêutica bíblica. Como Osborne em seu livro A Espiral Hermenêutica, eu acredito sim que o propósito da hermenêutica é nos levar finalmente à pregação da Palavra de Deus. Contudo, antes de pregarmos, precisamos interpretar as Escrituras. Não é simplesmente abrir a Bíblia e dizer o que ela está dizendo. Nem todo mundo se apercebe do fato de que a leitura de qualquer texto sempre envolve um processo de interpretação. Ou seja, não é possível compreender um texto, qualquer que seja, sem que haja antes um processo interpretativo ― quer esse texto seja um jornal, quer seja a Revista Veja, quer seja a Bíblia. A leitura sempre envolverá um processo de interpretação ― ainda que esse processo seja inconsciente e nem sempre as pessoas estejam alertas para o fato de que um processo de compreensão está em andamento. A Bíblia é um texto. Ela é a Palavra de Deus, mas ela é um texto. Como tal, ela não foge a essa regra.
Cada vez que abrimos a Bíblia e a lemos procurando entender a mensagem de Deus para anunciá-la em nossa pregação, nos engajamos em um processo de interpretação, de maneira consciente ou não. Como Palavra de Deus, a Bíblia deve ser lida como nenhum outro livro, já que ela é única. Não há outra Palavra de Deus. No entanto, como ela foi escrita por seres humanos, deve ser interpretada como qualquer outro livro. Nesse sentido, a Bíblia se sujeita a regras gerais da hermenêutica e da interpretação, que fazem parte daquilo que é lógico e tem sentido dentro da nossa realidade. Ou seja, quando nós refletimos no fato de que a Bíblia é um texto ― sujeita a regras gerais de interpretação ―, temos um texto que está distante de nós por causa da sua idade, das línguas originais, do diferente contexto cultural. Tudo isso faz com que a leitura da Bíblia requeira um esforço consciente de interpretação. É diferente, por exemplo, de você pegar a Revista Veja ou Estadão e ler. Quando você se aproxima da Bíblia, está se aproximando de um texto antiquíssimo que foi produzido em outro contexto e em línguas, que não são faladas atualmente. Além disso, foi escrito para responder a perguntas que nem sempre são as mesmas perguntas de hoje. Daí a necessidade de interpretação de todo um processo consciente de hermenêutica.
Dessa forma, desejo falar desse fenômeno que nós chamamos de distanciamento, a partir de duas perspectivas. Primeiro, a Bíblia como um texto, como um livro, não caiu pronta do céu — embora se pensasse assim em determinada época. Ela foi escrita por pessoas diferentes, em épocas diferentes, línguas e lugares distintos. Por isso, é um texto distante de nós. Aqui é que entra o que os teóricos da hermenêutica chamam de distanciamento. No caso da Bíblia, esse distanciamento aparece em algumas áreas.
O primeiro distanciamento é o temporal. A Bíblia está distante de nós há muitos séculos. Seguindo a postura do cânon tradicional, o último livro foi escrito por volta do final do século I da Era Cristã. Para os liberais, o último livro teria sido escrito no século II, mas normalmente a data que se atribui é a do final do século I ― o que, portanto, nos separa temporalmente da Bíblia cerca de 2 milênios. Assim, não devemos pensar que um livro de 2000 anos pode ser lido como quem lê a Revista Época, em que a última edição saiu no sábado passado. Há esse fenômeno do distanciamento temporal, que precisa ser levado em consideração.
Em segundo lugar, há um distanciamento contextual. Os livros da Bíblia foram escritos para atender a determinadas situações. Várias delas já se perderam no passado. Por exemplo, o uso do véu não é um problema nosso aqui no Brasil. O ataque do próprio gnosticismo nas igrejas da Ásia Menor, o contexto de invasão do profeta Habacuque, o propósito de Marcos, a antipatia dos judeus para com os ninivitas na época de Jonas, todas essas situações distintas produziram a literatura que depois se tornou canonizada, e que nós chamamos de Escritura. Várias dessas situações nos são estranhas, não existem hoje. Dessa forma, além de ser um livro que foi escrito há 2000 anos, foi um livro escrito para atender a determinados problemas que não são os mesmos enfrentados hoje.
Em terceiro lugar, há o distanciamento cultural. O mundo que os escritores da Bíblia viveram não existe mais. Ele está em um passado distante, com suas características, sua cosmovisão, seus costumes, tradições e crenças. Nós vivemos hoje em um Brasil de tradição ocidental, influência europeia, americana e uma série de outras influências de um mundo completamente estranho àquele em que viveram os autores do Antigo Testamento e do Novo Testamento.
Em quarto lugar, temos o distanciamento linguístico. As línguas em que a Bíblia foi escrita também não mais existem. Já não se fala mais o hebraico bíblico, o grego koiné ― mesmo nos países onde a Bíblia foi escrita. Então, essas línguas já não são mais faladas ou conhecidas, a não ser através de estudo.
Em quinto lugar, nós temos o distanciamento autorial. Nós devemos ainda reconhecer que teríamos uma compreensão mais exata da mensagem se os autores da Bíblia estivessem vivos. Eu, por exemplo, gostaria de pegar o celular e ligar para Pedro e perguntar para ele o que ele quis dizer quando afirma que Jesus foi pregar aos espíritos em prisão, ou ligar para Paulo e perguntar o que ele quis dizer quando ele fala dos que se batizam pelos mortos, ou ainda o que Mateus quis dizer quando registrou a frase em que Jesus afirma que não cessariam de percorrer todas as cidades de Israel antes que viesse o Filho do homem. Eu gostaria de pegar o celular ou mandar um e-mail para os autores da Bíblia e tirar algumas dúvidas. Isso não é possível a não ser que você seja espírita e faça uma sessão de invocação de mortos.
Portanto, esse distanciamento faz com que os pregadores, antes de qualquer coisa, sejam hermeneutas. Eles têm que ser intérpretes. Eles têm que estar conscientes de que estão transmitindo o sentido de um texto antiquíssimo e distante de nós em uma realidade completamente diferente. É nesse ambiente que nós afirmamos que interpretar é tentar transpor o distanciamento em suas várias formas de chegar ao sentido original do texto ― à intenção do autor ― com o objetivo de transmitir o significado para os dias de hoje. É aqui que reside a tarefa hermenêutica.
Por outro lado, a Bíblia também é um livro divino, e esse fato faz com que também o fenômeno do distanciamento apareça. Por exemplo, o distanciamento natural: a distância entre Deus — o autor último das Escrituras — e nós é imensa. Ele é Senhor, o criador de todas as coisas no céu e na terra. Nós somos suas criaturas imitadas, finitas. A nossa condição de seres humanos impõe limites à nossa capacidade de entender e compreender as coisas de Deus, ainda que reveladas em linguagem humana. Existe um distanciamento natural entre nós e o texto bíblico pelo fato de que ele é a Palavra de Deus, é a revelação de Deus. Ele é "totalmente outro", a alteridade de Deus. A diferença entre Deus e nós faz com que a sua revelação careça de estudo, de aproximação da maneira certa.
Além do distanciamento natural existe o distanciamento espiritual, porque somos criaturas pecadoras, caídas, e o pecado impõe limites ainda maiores à nossa capacidade de interpretação da Bíblia. É o que nós chamamos de limitações epistemológicas. O pecado afetou não somente a nossa vontade, não somente os nossos desejos, a nossa capacidade de decidir, mas também afetou a nossa capacidade de compreender as coisas de Deus. Isso explica a grande diferença de interpretação que existe entre crentes verdadeiros que estão salvos pela graça de Deus em Cristo Jesus, mas simplesmente não conseguem concordar na interpretação de determinadas passagens.
Há também o distanciamento moral, que é a distância existente entre seres pecadores e egoístas, e a pura e santa Palavra de Deus que nós pretendemos entender e pregar. Essa corrupção acabou introduzindo à interpretação da Bíblia motivações incompatíveis com ela. Por exemplo, a Bíblia já foi usada para: justificar a escravidão; provar que os judeus deveriam ser perseguidos; provar que os judeus deveriam ser defendidos; provar que os protestantes brancos são uma raça superior; executar bruxas; impedir o casamento de padres; justificar o aborto; justificar a eutanásia; justificar e promover os relacionamentos homossexuais; proibir a transfusão de sangue. O catálogo é imenso do que tem sido usado como motivação de agendas diversas e variadas.
Tudo isso evidencia que não é tão simples assim o que a maioria das pessoas pensa sobre "como" pregar a Bíblia.
Leia também: HERMENÊUTICA X EXEGESE - QUAL A DIFERENÇA?
Teologia Brasileira
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Posted: 29 Apr 2015 05:08 AM PDT
Quem aqui não deseja ser capaz de compreender da maneira mais exata possível o texto bíblico?
Quem não quer possuir as melhores bases para uma construção teológica bem fundamentada? Quem não quer saber discernir o joio do trigo entre tantas coisas que se dizem sobre a Escritura Sagrada? Para tudo isso, é importante, e mesmo indispensável, conhecer exegese bíblica.
I. Antes de mais nada, é preciso saber: o que exegese bíblica é e o que não é?
Exegese não é tradução – A despeito de o hebraico e o grego bíblicos não serem mais línguas faladas em nossos dias, judeus e gregos, ao menos em tese, quando tratam respectivamente do AT e do NT, não precisam de tradução, embora precisem de exegese, como todos os estudiosos da Bíblia. Tradução é necessária, como passo prévio à exegese, para não falantes da língua-fonte e/ou para a comunicação do exegeta com não falantes dessa língua; tradução não é, em si, exegese.
Exegese é diferente de hermenêutica – Esta trata dos princípios e normas da interpretação, aquela da prática da interpretação, dos passos concretos dados no trabalho interpretativo. Pode-se dizer que exegese está para hermenêutica assim como prática está para teoria. Exegese é prática hermenêutica (interpretativa), pela aplicação dos princípios e normas da ciência hermenêutica (teórica).
Exegese se distingue de teologia – Esta se faz a partir de conceitos, não necessariamente a partir da análise de textos, embora o devesse fazer, no momento atual do labor teológico. A boa teologia é aquela feita a partir de conceitos extraídos dos textos bíblicos. E aqui é bom dizer que exegese, embora distinta de teologia, não se dissocia desta; pois exegese é necessária, mas não suficiente. Em termos ideais, o exegeta deveria ser também teólogo, para que seu trabalho de interpretação esteja completo.
Entendemos exegese como ciência, que tem objeto e método próprios. Seu objeto são os textos, em nosso caso, os textos bíblicos. Seu método por excelência é o histórico-crítico, do qual falaremos adiante.
Vale lembrar de passagem que exegese não é ciência apenas bíblica. Pois todo texto precisa de interpretação: o jurídico, o literário, o filosófico etc.
Exegese é também arte. Aqui entram talentos, sensibilidades, insights pessoais e próprios do exegeta, todos relevantes no processo interpretativo.
Embora a observação do trabalho de outros seja importante no aprendizado da exegese, esta só se aprende mesmo fazendo, ou seja, com a experiência, com a colocação em prática da ciência e da arte exegéticas. É como tudo na vida.
Exegese é análise detalhada de um texto sob vários ângulos (o textual, o literário, o dos motivos/temas, o do processo de composição), a fim de extrair dele sua mensagem. Importante é a distinção entre exegese (condução para fora) e eisegese (condução para dentro). Exegese é aquilo que, como teólogos e pregadores sérios, devemos praticar, respeitando o texto, seu autor e sua intenção, seu contexto e sua forma, seu conteúdo e seu sentido.
A propósito, vale ressaltar que cada texto bíblico tem um sentido único (Assim também ensina a Confissão de Fé de Westminster, cap. I, IX: o sentido de qualquer texto da Escritura não é múltiplo, mas único.) Seu sentido é aquele intencionado pelo autor, ao qual todos os intérpretes devem procurar chegar. Para isso, é preciso respeitar a voz do texto: sua perspectiva, sua mensagem, suas demandas. O texto não pode ser manipulado ao nosso bel prazer, para dizer o que nós queremos que ele diga, mas escutado naquilo que eletem a nos dizer, mesmo e principalmente contra nós. É mister deixar que o texto fale, e ouvi-lo (também no sentido bíblico de obediência).
Exegese precisa levar em consideração a enorme distância temporal/histórica (em alguns casos, também espacial/geográfica) e, sobretudo, cultural que existe entre os textos bíblicos e nós, pessoas de outra época e cultura. Embora, como cristãos, tenhamos a convicção de que a mensagem da Bíblia se destina a todas as pessoas, de todos os tempos e lugares e culturas, precisamos ter consciência clara de que não somos seus primeiros destinatários, lembrando sempre que a Bíblia não foi escrita em nossa língua e em nossa cultura, o que implica grande atenção e esforço para superar a distância que medeia entre o texto bíblico e nós.
Exegese precisa contar com o auxílio de várias ciências humanas (história, geografia, arqueologia, paleografia, história das religiões comparadas, entre outras). Isto é assim porque a distância que há entre a Bíblia e nós não pode ser devidamente transposta pelo mero recurso a uma investigação restrita ao âmbito literário interno à Bíblia. Não basta ler e buscar interpretar a Bíblia em si mesma, isolada do contexto histórico e cultural em que foi produzida. Não se deve fazer exegese sem se entrar em diálogo com outras ciências humanas, que nos ajudam a conhecer e compreender o mundo da Bíblia.
Exegese busca interpretação objetiva dos textos, a mais objetiva possível. O exegeta sabe que a objetividade absoluta é impossível, constituindo-se uma ilusão. Há condicionamentos que limitam a prática exegética, como de resto qualquer outra tarefa investigativa humana. Há pré-compreensões que inevitavelmente são trazidas para a atividade de interpretação de qualquer texto; no caso da interpretação de textos bíblicos, estas pré-compreensões incluem também aquelas que fazem parte do cabedal doutrinário e teológico da comunidade de fé a que pertence o exegeta. Mas isso não significa que a objetividade não possa ou não deva ser buscada. Ela permanece como ideal a guiar o trabalho do exegeta, que deve realizar seu mister com plena consciência de seus condicionamentos e de suas pré-compreensões, para que eles o influenciem o mínimo possível.
A exegese bíblica possui uma longa e complexa história, da qual já o AT dá testemunho. Como exemplos, podem-se citar a Obra Cronista de História, que é uma releitura da Obra Deuteronomista de História; e a reinterpretação dada por Daniel aos setenta anos de cativeiro do anúncio de Jeremias, transformando-os em setenta semanas de anos (cp. Jr 25.11s;
Hoje, à luz das exigências do tempo e das conquistas da ciência bíblica, já não é mais possível fazer exegese como a faziam os antigos. Mas, como os antigos, continuamos precisando interpretar os textos bíblicos. Na realização dessa tarefa, não devemos pensar que a exegese científica tenha passado a ser o único nível de leitura admissível de um texto, superando e pondo de lado todos os demais. Há outras leituras, cada uma delas com seu valor: por exemplo, as devocionais e as tradicionais. Longe de nós desprezar as leituras dos crentes, alimento indispensável para a fé e a comunhão com Deus, ou as dos pais e dos reformadores, plenas de intuições espirituais profundas, embora seus métodos não sejam os mesmos que os nossos, e, alguns casos, nem aceitáveis nos tempos atuais. Mas, quando fazemos exegese hoje, devemos ter consciência de nos inserir numa longa corrente de interpretação bíblica, à qual somos devedores e da qual muito podemos aprender.
Importa, antes e acima de tudo, ter em vista que exegese está a serviço da fé, tanto no nível da espiritualidade (fé vivida) quanto no da teologia (fé pensada). Não é um fim em si mesmo, mas uma tarefa auxiliar, subsidiária ao labor teológico da comunidade e à melhor compreensão e colocação em prática das exigências da vida religiosa.
II. Com que meios se faz exegese científica? Primordialmente, com uso do assim chamado método histórico-crítico. (Que, na realidade, não é um método, mas um conjunto de métodos, do qual fazem parte, por exemplo, a crítica textual, a análise literária, a crítica das fontes, a crítica das formas, a crítica da tradição, a crítica da redação.)
O MHC é o método científico por excelência. Por quê? O MHC apresenta diversas vantagens, a despeito de seus limites e riscos. Entre os limites e riscos do MHC, podemos enumerar várias coisas: o academicismo, a arrogância diante de outras leituras, o reducionismo historicista, a excessiva decomposição do texto bíblico em fragmentos cada vez menores (dificultando cada vez mais a percepção de sua unidade), a despreocupação para com a aplicabilidade prática das pesquisas (descurando do momento de síntese, indispensável após o de análise), a ilusão de que tudo seja racional ou racionalizável, a absolutização de seus resultados.
Não obstante todos esses limites e riscos, o MHC ainda vale a pena. Ele permanece sendo um referencial metodológico útil e mesmo indispensável, ao qual muito se deve na história da exegese e do qual ainda muito se pode receber.
Graças a MHC, sabemos bem melhor hoje do que no passado a importância e o valor da identificação dos gêneros literários dos textos bíblicos, que não podem ser todos lidos com os mesmos óculos, pois são distintos em sua natureza. A variedade de gêneros literários empregados na Bíblia é enorme, e precisa ser levada em conta na análise de cada texto
O MHC nos ajuda a colocar em perspectiva as interpretações, nossas e de outros.
O MHC não nos permite instrumentalizar o texto a nosso gosto e de acordo com nossos interesses, lendo-o de maneira seletiva e arbitrária, sem consideração para com seu contexto (literário, histórico, social, religioso etc.) e propósito originais.
O MHC nos possibilita ver melhor a diversidade de teologias que há na Bíblia, sem que isso necessariamente implique prejuízo para sua unidade. No entanto, ele nos alerta para o fato de que não se deve buscar uma harmonização a qualquer custo dessas diferenças pela eliminação de toda tensão e conflito entre as variadas perspectivas teológicas recolhidas nas Escrituras Sagradas.
O MHC leva a sério a humanidade dos autores bíblicos em sua condição de testemunhas da revelação divina, e o fato de que essa revelação foi percebida e refletida dentro de situações históricas bem concretas e definidas. Afinal, o texto bíblico é Palavra de Deus em palavra humana, escrito e reescrito em meio às vicissitudes da história. A Bíblia é mais que um mero documento histórico (reconhecida que é como Palavra de Deus pelos que creem no Deus da Bíblia, além de como patrimônio cultural da humanidade e como pilar da civilização ocidental); mas é também um documento histórico. De fato, a Bíblia é uma obra literária de grande envergadura; um verdadeiro clássico da literatura universal. O texto bíblico não caiu do céu. Não nasceu pronto. Tem atrás de si uma longa e complexa história de formação e composição. Por isso, há coisas na Bíblia que só se explicam diacronicamente, como, por exemplo, as diferenças entre as duas narrativas da criação (Gn 1-2) e entre versões das mesmas leis no Pentateuco (Decálogo, lei do altar, lei do escravo etc.), provenientes que são de épocas e concepções distintas. Portanto, a análise diacrônica feita pelo MHC é importante e necessária, sem que isso implique qualquer desprezo pela análise sincrônica, que considera o texto em sua forma final, canônica, autoritativa para a vida da Igreja.
De mais a mais, além de uma longa e complexa história de formação e composição, o texto bíblico tem também uma longa e complexa história de transmissão: cópias, versões, citações, edições, que envolvem inúmeros problemas (mudanças intencionais e não-intencionais, adaptações culturais e releituras, imprecisões, decisões editoriais). Daí também a importância e a necessidade da atitude crítica diante do texto.
O método da exegese bíblica é histórico (e deve sê-lo) porque lida com documentos históricos milenares; porque reconhece que esses documentos se formaram ao longo de séculos, conhecendo diversos estágios em seu processo composicional até chegar ao estado em que hoje os encontramos; e porque se interessa pelas condições históricas que geraram esses textos.
O método é também crítico (e deve sê-lo) no sentido de que reconhece a necessidade de se fazer juízos sobre o material estudado, sobre suas interpretações ao longo da história (estudadas pela chamada história dos efeitos ou da recepção do texto), e sobre suas próprias conclusões, sempre provisórias e relativas, ainda que com graus de probabilidade distintos, possibilitando maior ou menor certeza com relação ao sentido dos textos analisados. Vale lembrar que um método não pode ter a pretensão de ser histórico sem ser crítico, pois não se faz trabalho histórico sem atitude e espírito críticos.
A exegese histórico-crítica, em uma palavra, respeita o texto e seu autor, entendendo que o sentido original e literal é o sentido do texto, e busca descobri-lo com o melhor instrumental científico disponível. O MHC não é o único método que há, mas é, no mínimo, um ponto de partida e uma base que não devem ser rejeitados a priori, e, no máximo, o melhor método científico que já foi criado para a interpretação de textos.
A propósito, duas observações laterais:
Primeira: Ciência se faz com hipóteses e argumentos, não com apelo a instâncias de autoridade, quaisquer que elas sejam. Uma coisa deve ser considerada verdadeira ou válida em termos científicos não simplesmente porque alguém disse que seja assim, mas porque esse alguém fundamentou adequada e convincentemente suas afirmações. O cientista busca a verdade e luta por ela com a força de argumentos, não invocando a palavra de autoridades, muito menos servindo-se da força bruta e da violência – coisa dos autoritários e dos totalitários, que não têm lugar legítimo no mundo da ciência e do amor e da busca pela verdade. (Quisera Deus não tivessem lugar em mundo nenhum!)
Segunda: Leitura literal distingue-se de leitura literalista. A leitura literal reconhece, respeita e valoriza os diversos gêneros literários dos textos bíblicos. A leitura literalista toma ingenuamente tudo ao pé da letra, pelo seu valor de face. Uma interpretação bíblica que se possa verdadeiramente chamar de literal muitas vezes será figurada ou simbólica. Pois a Bíblia é um texto religioso. E a linguagem religiosa é figurada ou simbólica por excelência, visto tratar do inefável. Só se pode falar de Deus e das coisas de Deus de maneira aproximativa.
III. De que modo se faz exegese? Como se busca a verdade do texto? Ou, em outras palavras, qual a atitude fundamental do exegeta? Esta não pode ser outra senão a de buscar a verdade do texto incansavelmente, e com humildade, para poder praticá-la e transmiti-la a outros.
A busca da verdade é incansável – pois a verdade nunca é totalmente alcançada por ninguém, e dela sempre se pode conhecer algo mais. De fato, o exegeta é movido por um desejo constante de ir além do já alcançado, de chegar até onde lhe seja possível. Como homem ou mulher de ciência, sabe que a busca da verdade é processo contínuo, que nunca se encerra. E que há sempre algo a aprender, por mais que se saiba.
A busca da verdade do texto é empreendida com humildade. A humildade do intérprete está, entre outras coisas, em que ele reconhece continuamente que pode não estar lendo com exatidão ou estar errado mesmo em sua leitura, e, portanto, está pronto a ser esclarecido ou corrigido. Sabe também que a nossa visão humana, do que quer que seja, inclusive da verdade, é limitada, parcial, é sempre vista de um ponto. Precisamos da ajuda de outros, e estar dispostos e sempre abertos a mudar nossa compreensão.
A busca da verdade é voltada para a prática na vida pessoal do intérprete e a comunicação e a partilha do encontrado com outros no serviço da comunidade de fé. Do contrário, não tem sentido.
Mas não só isso caracteriza a atitude do exegeta.
É preciso reconhecer também a importância do acesso ao trabalho de outros. O exegeta não está sozinho em sua busca da verdade. Além do mais, não se cria do nada, nem é preciso redescobrir a pólvora ou reinventar a roda, perdendo tempo em busca do que já foi encontrado. Daí o valor das traduções antigas e modernas, do aparato crítico das edições científicas do texto bíblico, das concordâncias, dos dicionários, dos comentários, das obras de história e de teologia bíblica.
Importa igualmente assumir sempre uma postura crítica: diante do texto em si; diante de nossa própria tradição interpretativa; e, sobretudo, diante de nós mesmos (que trazemos sempre para nossas leituras nossas pré-concepções e pré-compreensões). Nada deve ficar sem questionamento. Nenhuma dúvida deve deixar de ser expressa, nenhuma pergunta deve deixar de ser feita, nenhum problema deve deixar de ser levantado – desde que pertinentes ao texto em exame. Não há o que temer com relação ao texto ou à verdade de que é portador – pois o texto e sua verdade são capazes de suportar qualquer escrutínio sério ao qual sejam submetidos.
E ainda: Que se cultive o segredo do exegeta: a prontidão para ouvir (não para falar, como em geral preferimos). Ele implica:
Abertura ao texto – Ir a ele desarmado, e sem levar ideias prévias a ele. Dizer a si mesmo: "Eu não sei, preciso e quero aprender" é a melhor atitude inicial.
Atenção – Ir ao texto com foco e concentração, sem distrações. Pontos interessantes que surjam, mas que não tenham a ver com a análise específica que se está empreendendo, devem ser anotados e guardados para outro momento.
Paciência – O trabalho exegético é longo, complexo, e lento. Não adianta querer chegar logo a resultados concretos e definitivos; não adianta forçar as conclusões a vir
.
Calma – O exegeta tem que saber esperar. É preciso meditação no que se lê, investir tempo na reflexão. Deixar as ideias repousarem, fermentarem, como massa de pão e de bolo, até que se façam claras. Imprescindível ter cuidado com a pressa, compreensível mas injustificável, em aplicar e fazer falar o texto às urgentes demandas do hoje. Primeiro, é mister procurar ouvir o texto em seu lá e então, com toda a calma; depois, em nosso aqui e agora.
Perseverança – Muitas vezes o entendimento de um texto é mais difícil do que à primeira vista parecer ser; o texto não se entrega com facilidade. Cabe então não desistir, nem desanimar. A tarefa não é simples, mas é altamente recompensadora.
Conclusão
Exegese é interpretação, busca de sentido de um texto. O sentido é único, e é alcançado pela leitura literal do texto. Outras leituras, para que tenham validade, não podem contradizer o sentido literal do texto.
Exegese demanda conhecer a intenção do autor, os gêneros literários empregados por ele, o contexto histórico no qual e para o qual escreveu, e todas as etapas do desenvolvimento do texto que se possam discernir, se queremos descobrir a verdade do texto. Esta é estabelecida pelo texto, não pelo leitor. É preciso deixar que o texto fale, mesmo contra o leitor. Cabe ao leitor buscar ouvir o que o texto tem a dizer, não o que ele leitor quer ouvir.
Exegese tem como finalidade colaborar na busca da inteligência da fé. Fides quaerens intellectum, a fé está em busca da compreensão, segundo o moto de Santo Anselmo. E nada pode nos auxiliar mais nessa empresa do que uma exegese bem realizada.
Exegese não é fim em mesmo, mas meio, instrumento a serviço da construção teológica. De fato, exegese é a base da teologia.
Exegese, como toda e qualquer ciência, se faz com método científico, o que significa dizer, histórico-crítico. O método científico tem limites. O próprio saber científico não é o único legítimo. Contudo, embora não suficiente, a exegese científica é necessária e mesmo imprescindível para que possamos conhecer e viver a nossa fé, e dar razão da nossa esperança no séc. XXI da melhor maneira que pudermos, como buscaram também fazer, em seu tempo e com os melhores instrumentos de que dispunham, aqueles que vieram antes de nós, e em cujos passos seguimos.
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Posted: 29 Apr 2015 07:17 AM PDT
Antes entenda o que é uma Exegese Bíblica - AquiVeja também clique nos links abaixo: EXEGESE BÍBLICA – O QUE É E COMO SE FAZFonte: http://www.profetico.com.br/portal/?p=6844 |
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