Penso que quem acredita que a única estrada por onde o mundo deve e pode caminhar é aquela prevista pelos sentidos da razão, vive no caminho da natureza;
quem vive aberto ao mistério, está no caminho da graça. Quem deseja uma ordem lógica que a tudo explica, a tudo justifica e tudo faz acontecer na perspectiva do que é justo, vive no caminho da natureza; quem prescinde de lógicas e explicações e está vulnerável a fatos que estão além ou aquém de justificativas justas e coerências racionalistas, vive no caminho da graça.
Evidentemente, não estou dizendo que a graça é irracional, ou que Deus seja incoerente ou injusto. Apenas estou intuindo que o universo é sustentado por um critério que transcende a justiça, a saber, a graça. A Graça de Deus.
Quando me deparo com argumentos do tipo "Deus não pode curar uma criança pelo simples fato de que não cura todas", sinto meus pés fincados no caminho da natureza: as coisas têm que ser assim porque somente assim fazem sentido, têm lógica, têm critério de justiça. Deus é submetido a "tem que" ou "não pode", isto é, Seu caminho é confundido com o caminho da natureza. Por outro lado, quando me deparo com fatos que não podem ser explicados, quando tenho a estranha sensação de que alguém que não me deve satisfações – ou cujas explicações estão fora do meu alcance, está agindo no mundo independentemente de mim, do que eu acho ou do que considero justo.
Toda vez que me surpreendo exigindo explicações e tentando fazer Deus caber nos limites do meu entendimento, ouço o sussurro que me faz crer estar diante de um ídolo. Isso me humilha e me devolve ao estado de criatura. Serve para me lembrar que o universo segue seu curso pelo caminho da graça, e não da natureza. Traz os meus pés para o desconhecido, vulnerável e inexplicável solo da graça e do mistério de Deus. Olho para baixo e não vejo mais o chão. E me dou conta de estar no lugar mais seguro do mundo.
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