Postado por Presbítero André Sanchez
Você Pergunta: Eu confesso que quando leio o Antigo Testamento tenho a impressão que Deus parece meio “malvado” ali, um Deus extremamente “severo”, mas quando leio o Novo Testamento parece que é outro Deus. Como podemos entender corretamente essa severidade tão grande de Deus no Antigo Testamento?
Caro leitor, o grande “segredo” para compreensão correta da Bíblia é o estudo correto dos contextos (mais próximos e mais amplos) em que cada coisa acontece.
A maioria dos leitores estuda a Bíblia apenas por pequenos trechos, o que acaba dificultando a compreensão correta, por exemplo, dessa questão de Deus ser severo demais em determinadas questões.
Mas hoje vou trazer aqui em linhas gerais algumas explicações.
Por que Deus parece tão malvado e severo no Antigo Testamento?
(1) A grande questão que muitos levantam é sobre a severidade de Deus que parece muito exagerada em muitos momentos. Citemos um exemplo:
“E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus bens. Eles e todos os que lhes pertenciam desceram vivos ao abismo; a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação” (Números 16:31-33).
Quando se lê um texto como esse logo se percebe que a severidade foi grande. Corá, Datã e Abirão e todos os seus foram tragados para dentro da terra vivos por conta do pecado deles, por eles se levantarem contra Moisés e contra as ordens de Deus.
Mas por que Deus era tão severo? Não poderia fazer de outra forma?
(2) A análise dos contextos (próximos e amplos) nos ajudará a entender. Veja, Deus liberta um povo que era escravo no Egito. Leva eles pelo deserto. Deus liberta todos os israelitas.
Ou seja, ali no meio tinha todo tipo de pessoas, não só pessoas “de bem” como também criminosos e pessoas de má índole.
Se não fosse assim não seria necessário Deus dar leis tão severas contra pecados terríveis, não é verdade? Essas pessoas estavam em grande número.
Alguns pensam em mais de 1 milhão de pessoas indo pelo deserto. Façamos agora um exercício de análise de contexto para a compreensão da realidade de vida dessas pessoas:
a) Eles não tinham (ainda – quando saem do Egito) uma lei estruturada do que deveriam ou não fazer, de como deveria ser a sociedade que eles estariam construindo a partir da libertação;
b) Eram escravos e agora eram livres. Seria muito compreensível que demorasse um tempo para se comportarem como pessoas livres;
c) Não tinham ainda (como povo) nenhum sistema de proteção e organização social como polícia, sistema judiciário, prisões, esquemas de aplicação de punições que são necessárias para se manter a ordem, etc.
(3) Esses poucos aspectos que levantei (de muitos outros que existem) mostra que esse povo (que tinha gente má também no meio dele) tinha tudo para viver o caos.
Porém, Deus, como governantes deles, dá direção a eles, os guia e dá leis. Faz com eles alianças de obediência, levanta líderes. Esse é um começo de organização.
No entanto, como vemos nas histórias, muitos se levantam contrariamente ao que Deus designou. Muitos quebram as leis e a aliança feita. Muitos se entregam a pecados hediondos.
Como coibir tais ações destrutivas que prejudica a todos? Deus usa de severidade para punição e exemplo. No caso que citamos acima de Corá, Datã e Abirão, os mesmos se levantam contra Moisés (o escolhido por Deus para liderar) – ver Números 16:3.
Era uma resistência não legitima, que ia contra os desígnios de Deus. Como Deus acabou com ela e ainda deu um forte recado a todos que poderiam ter em mente seguir tal caminho?
Foi juiz e aplicador da penalidade. Usou de severidade (justa) contra eles! Isso faz Deus severo, malvado? De modo nenhum! Era a forma certeira de resolver a questão dentro desse contexto e manter a ordem.
(4) Podemos observar, então, que Deus usava de severidade em momentos necessários, para tratar questões que a exigiam, para educar, para punir questões que colocavam Seu povo como um todo em perigo.
Essas ações de Deus devem ser compreendidas dentro de seus contextos e não isoladamente para transformar Deus em um “Deus mau” do Antigo Testamento como se as ações Dele tivessem alguma injustiça.
Por isso, é necessário avaliar todos os contextos de forma ampla e correta, sem isolamentos de versículos.
(5) Por fim, dizer que Deus é severo demais no Antigo Testamento é o mesmo que você olhar para um pai e uma mãe apenas nos momentos em que eles estão disciplinando o filho em momentos de rebeldia dele e esquecer-se de observar todos os outros cuidados diários que esses pais têm com o filho, dando-lhe alimentação, educação, amor, cuidados sem fim!
Esses pais precisam usar da disciplina em alguns momentos, mas isso não os torna severos e maldosos, antes, amorosos!
Porém, se olharmos esses pais apenas no momento da disciplina, alguém poderá julgar que são maus e severos demais. Mas só esses pais sabem o que o filho precisa para virar gente! É por isso que a Bíblia diz sobre Deus:
“porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais ( Deus vos trata como filhos ); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hebreus 12:6-7).
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