03 julho 2024

De que forma Deus endureceu o coração do Faraó?

 Postado por Presbítero André Sanchez

Você pergunta: Apesar de ver claramente na Bíblia que o Faraó tinha o coração muito duro, fico um pouco confusa quando a Bíblia diz que em um determinado momento ele queria libertar o povo israelita e Deus endureceu o coração do Faraó. Nesse caso Deus não interferiu no livre arbítrio da pessoa? E por que Deus fez isso, já que Deus queria que o Faraó libertasse o povo e era justamente isso que o Faraó queria fazer quando Deus endureceu o coração dele? Por favor, me ajude a entender isso! Cara leitora, vamos avaliar juntos essa questão biblicamente para tentarmos entender a atitude de Deus nesse caso. De fato, parece algo muito estranho, porém, você verá que as coisas se encaixam perfeitamente dentro da justiça de Deus…  

O que significa dizer que Deus endureceu o coração do Faraó? 

(1) Podemos perceber que diante das pragas enviadas por Deus ao Egito, o próprio Faraó endureceu o coração por seis vezes (Êxodo 7:13; 7:22; 8:19; 8:32; 9:7; 9:34).

Isso mostra o nível de maldade desse tirano que, mesmo vendo claramente a mão de Deus agindo, não dava o braço a torcer, pois confiava em seus deuses e também se considerava ele próprio um deus.

(2) Em três das pragas enviadas (das chagas, dos gafanhotos e das trevas) observamos que Faraó sente o poder de Deus e dá sinais de que iria libertar o povo israelita, porém, o próprio Deus endureceu o coração do Faraó (Êxodo 9:12; 10:20; 10:27).

Somente na última praga Faraó libertou definitivamente os israelitas (Êxodo 12:29-36).

(3) Dito isto, agora temos de explicar o que significou o ato realizado por Deus de “endurecer” o coração de Faraó. Alguns entendem erroneamente que Deus obrigou o Faraó a fazer algo que era pecado, no caso, ir contra a própria ordem Dele mesmo de libertar os israelitas.

Ou seja, Deus mandou faraó libertar o povo, faraó queria libertar o povo e o próprio Deus não permite que faraó liberte o povo. Confuso, não?!

Isso fere o princípio bíblico ensinado em Tiago 1:13: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta”.  

Ou seja, quando Deus endureceu o coração do Faraó de modo nenhum fez com que o Faraó realizasse o mal. Esse não é o significado de endurecer o coração do Faraó.

Mas agora temos um problema: O que Deus fez, então?

(4) A melhor explicação para entender essa questão é que Deus retira de Faraó qualquer aspecto de Sua graça comum que ainda poderia lhe dar a possibilidade de enxergar o que Deus estava fazendo.

graça comum é a graça de Deus que é derramada sobre maus e bons e que permite que mesmo os maus tenham algumas boas atitudes. É importante observar que por seis vezes o próprio Faraó endureceu o seu próprio coração, o que demonstra uma maldade quase sem limites.

Quando Deus retira de Faraó o pouco da Sua graça que ainda sensibilizava o Faraó a enxergar a mão de Deus, o Faraó fica totalmente entregue a si mesmo, ou seja, entregue ao seu coração que já era extremamente endurecido e mal.

Nós vemos algo parecido em Romanos 1:24, onde Deus “entrega” pessoas que têm o coração totalmente endurecido aos seus próprios corações pecaminosos, o que as leva a agir com cada vez mais maldade e receberem por isso uma justa punição: 

“Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si”.

Um dos maiores juízos que Deus pode derramar sobre homens é quando simplesmente retira deles qualquer aspecto restante da Sua graça e os entrega totalmente a si mesmos! Homens nessa condição trilham um caminho destrutivo para sua própria condenação!

(5) Por que Deus endureceu o coração do faraó? Porque toda essa situação fazia parte do plano de Deus, conforme Ele explica a Moisés:

Disse o SENHOR a Moisés: Vai ter com Faraó, porque lhe endureci o coração e o coração de seus oficiais, para que eu faça estes meus sinais no meio deles, e para que contes a teus filhos e aos filhos de teus filhos como zombei dos egípcios e quantos prodígios fiz no meio deles, e para que saibais que eu sou o SENHOR” (Êxodo 10:1-2).

Mesmo quando os maus são deixados por Deus à mercê de seus próprios corações malignos, eles não conseguirão frustrar os planos de Deus, antes, receberão em si mesmos a justiça de Deus como punição, assim como ocorreu com Faraó.

E os planos de Deus nunca poderão ser frustrados por qualquer coração humano que esteja endurecido! Mesmo o coração mais endurecido do mundo nunca poderá ir contra a totalidade do plano de Deus!

02 julho 2024

O que significa línguas dos anjos?

  Postado por Presbítero André Sanchez

Você pergunta: Muito se discute a respeito do dom de línguas na Bíblia, se ele ainda existe ainda hoje ou não. Um texto que me intriga muito é 1 Coríntios 13:1, onde Paulo fala a respeito das línguas dos anjos. Que línguas são essas? Seria esse falar em línguas que vemos muitas pessoas falando nas igrejas e que não entendemos muito bem?

 Caro leitor, a questão do falar em línguas realmente é um tema muito polêmico, que por séculos tem provocado diversos debates.

As três principais interpretações sobre as línguas dos anjos são:

  • Seriam línguas estranhas?
  • Seria uma figura de linguagem que Paulo usou (hipérbole)?
  • Seriam a comunicação que acontece entre os seres celestiais no céu?

O que são as línguas dos anjos citadas por Paulo?

(1) O texto que o leitor cita é este: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1 Coríntios 13:1).

A primeira coisa a se compreender sobre esse texto é que a Bíblia em nenhum momento menciona que existam línguas (idiomas) especiais que os anjos falam.

Sempre que anjos são mencionados conversando com pessoas eles falam a língua da pessoa e não uma língua própria que poderia ser chamada de línguas dos anjos.

Da mesma forma, quando servos de Deus tiveram visões de anjos, eles compreenderam aquilo que esses seres estavam falando em uma linguagem conhecida:

“Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Apocalipse 5:11-12)

Dessa forma, afirmar que anjos falam em línguas especiais (estranhas) baseados única e exclusivamente no texto de Paulo é algo muito equivocado como veremos a seguir.

(2) Isso nos leva a pensar: O que Paulo quis dizer com línguas dos anjos? Seria uma revelação feita apenas a ele de que os anjos falam em línguas especiais que os seres humanos não entendem? A resposta é não!

Uma avaliação cuidadosa do texto e contexto (regra básica da interpretação correta) nos revela claramente o que Paulo quis comunicar ali. Paulo usou uma figura de linguagem chamada hipérbole.

O dicionário Priberan Online define essa palavra como “Figura de retórica que corresponde ao exagero com efeitos enfáticos no sentido das palavras ou das frases”. Isso significa que Paulo usou de vários “exageros” nesse texto para enfatizar seu ensino. Inclusive quando usou línguas dos anjos também usou de uma hipérbole.

(3) Mas como saber que Paulo usou de hipérbole nesse texto? Se você observar em todo o contexto, Paulo usa de diversas hipérboles para fortalecer seu ensino.

Por exemplo, vejamos algumas: “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência” (1 Coríntios 13:2).

Como alguém pode conhecer todos os mistérios e toda a ciência? Aqui temos um exagero proposital de Paulo para enfatizar o argumento de seu ensino.

Ele continua: “ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13:2). Você já viu alguma montanha mudar de lugar por causa de alguém que exerceu a fé? Óbvio que não! Temos aqui também mais uma hipérbole usada por Paulo.

E mais outra: “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Coríntios 13:3). Aqui Paulo também trabalha a figura do exagero, já que é impossível que alguém entregue 100% de seus bens. Algo sempre a pessoa vai ter. Outra coisa, em sã consciência, quem irá entregar seu próprio corpo para ser queimado? Mais uma figura de linguagem hiperbólica de Paulo.

(4) Assim, fica evidente que nos versos de 1 a 3 de 1 Coríntios 13 Paulo usou diversas hipérboles, incluindo o termo “línguas dos anjos” como figuras de linguagem para promover o seu ensino sobre a importância e superioridade do amor.

Fica claro que nessa hipérbole Paulo está demonstrando que mesmo se pudesse ser o maior comunicador do mundo, sabendo falar qualquer idioma, conhecesse as linguagens e mensagens mais sublimes (dos anjos,) sem o amor nada disso teria valor.

Ou seja, se houvesse possibilidade de ter as maiores habilidades de sabedoria e comunicação do mundo, sem o amor, elas seriam apenas barulho (bronze que soa e címbalo que retine).

Em Atos os discípulos de Jesus falaram em línguas estranhas?

 Postado por Presbítero André Sanchez

Em Atos 2.1-13 vemos relatado um acontecimento bastante incomum relacionado à ação do Espírito Santo através de cerca de 120 discípulos de Cristo (Atos 1.15), que estavam reunidos provavelmente no cenáculo (salão construído em cima do andar térreo de uma casa – Atos 1.13). 

Sobre esse acontecimento muitos afirmam que o que aconteceu ali foi aquilo que a Bíblia menciona como “falar em línguas” (Como por exemplo, em 1 Corintios 12 e 14) e também como sendo o famoso batismo no Espírito Santo. Alguns vão além e usam esse acontecimento para afirmar que somente a pessoa que fala em línguas estranhas é batizada no Espírito Santo. Mas será que é isso mesmo que aconteceu ali no relato de Atos? Um exame um pouco mais minucioso nos mostra que não. O que aconteceu em Atos 2.1-13 não se trata de servos de Deus falando em línguas estranhas ininteligíveis até que fossem interpretadas por alguém, o famoso falar em línguas tão pregado por algumas igrejas. Vejamos: 

(1) A manifestação desse milagre se deu no momento em que vários dos discípulos de Cristo estavam reunidos. A Bíblia menciona que “de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.” (At 2:2-3). Esses versos nos mostram que essa ação do Espírito Santo foi algo visível e audível (som do céu e línguas parecidas com fogo pousando sobre cada um).

(2) Aqueles que foram contemplados com essas línguas como de fogo “ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” (At 2:4). Note que foi uma ação do Espírito Santo na vida deles e através da vida deles, um verdadeiro milagre. 

(3) Fica claro no verso 5 que o autor de Atos destacou bastante a presença de várias pessoas de diferentes lugares do mundo da época com suas diferentes línguas e possíveis dialetos: “Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu…” (At 2:5) 

(4) A multidão que estava ali presente, que vinha de diversas nações e que presenciou o milagre ficou espantada, pois aqueles homens reconhecidamente judeus galileus, ou seja, pessoas de uma determinada região que tinha sua língua, sotaques e dialetos próprios, estavam falando palavras que elas conseguiam entender sem a necessidade de qualquer intérprete, que era o modo natural de conversar com alguém que falava outro idioma: “Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (At 2:7)

(5) Para que não ficasse qualquer dúvida de que as línguas ali faladas eram idiomas conhecidos à época e não línguas estranhas ininteligíveis, o autor de Atos ainda destacou uma lista bastante extensa de povos de nacionalidades diferentes que foram identificados entre a multidão e que ouviu essa espécie de tradução que o Espírito Santo realizou das palavras dos discípulos de Jesus para diversos idiomas: “Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2:9-11).

(6) Sendo assim, fica claro que o acontecimento de Atos 2.1-13 foi sim um milagre do Espírito Santo e também fica claro que ali houve uma manifestação única do poder de Deus. Essa manifestação não foi mais repetida nas Escrituras Sagradas. E para finalizar, fica claríssimo que as línguas ali faladas devem ser entendidas como línguas (idiomas) e não como línguas (falar em línguas).

01 julho 2024

As duas Páscoas da Bíblia! Entenda os detalhes

  Postado por Presbítero André Sanchez

Você Pergunta: Faz pouco tempo que me converti e ainda tenho dúvidas a respeito da páscoa, pois, pelo que entendi, tem duas páscoas na Bíblia, uma dos judeus e uma dos cristãos. Por que somente fazemos hoje em dia a páscoa dos cristãos e a outra não? E qual o significados de cada uma dessas páscoas na Bíblia? 

Mesmo sendo uma data muito popular, a Páscoa ainda deixa muitas pessoas em dúvida. Muitos ainda não compreendem de onde ela surgiu e o seu real significado.

Com a forte apelação do comércio as pessoas confundem-se mais ainda. Não é raro vermos pessoas respondendo que Páscoa são ovos de chocolate ou um feriado católico.

A Páscoa tem o seu início no Velho Testamento. O povo de Israel vivia como escravo do povo egípcio já há 400 anos. A Bíblia diz que Deus ouviu a oração daquele povo que vivia oprimido:

“… os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó” (Êxodo 2: 23-24).  

O que significa páscoa na Bíblia?

Deus resolveu libertá-los e para isso convocou Moisés para liderar esse movimento. O faraó, líder máximo do Egito, não quis deixar o povo de Israel sair em liberdade, por isso, Deus enviou inicialmente nove pragas.

Mesmo sendo castigado por essas pragas, o faraó se recusou deixar o povo israelita ir embora rumo à liberdade.

Foi então que Deus preparou a décima praga. Essa praga era a morte dos primogênitos (filho mais velho). Só não morreriam aqueles que cumprissem algumas ordens dadas por Deus. 

Dentre as várias exigências de Deus, a principal era separar um cordeiro ou um cabrito de um ano e sem defeito (Êxodo 12:3,5). 

“O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito” (Êxodo 12:5).

Esse animal deveria ser morto num dia determinado e o seu sangue passado nos batentes das portas: “Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem” (Êxodo 12:7). 

Quando Deus viesse para matar os primogênitos no Egito, vendo o sangue nos batentes, não mataria ninguém daquela casa. Onde não tivesse o sangue do animal, o primogênito morreria.

Aquele sangue (e a obediência à voz de Deus, é claro) era a garantia de vida e libertação daquelas pessoas.

A décima praga acontece e todos os primogênitos do Egito morrem, inclusive o filho do faraó. Ele, então, deixa o povo ir embora. É aqui que começa a Páscoa.

O povo foi liberto da escravidão pela mão poderosa de Deus! O ritual realizado na primeira Páscoa, que é descrito em Êxodo 12:1-20, deveria, então, a partir daquele momento, ser observado todos os anos pelas próximas gerações. E foi assim que aconteceu.

Em Êxodo 12:27 está a explicação que deveria ser dada quando os filhos daquelas pessoas perguntassem o que eram aqueles rituais simbólicos feitos na Páscoa. Veja:

“Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas” (Êxodo 12:27).

Essa comemoração seguiu até os tempos de Jesus Cristo, que deu a ela um significado ainda mais marcante e profundo.  

Após Jesus, a Páscoa mudou sua forma, mas não seu significado. Jesus, através de Seu sangue, nos libertou da escravidão, porém, a escravidão do pecado.

E esse sangue foi derramado na Sua morte lá na cruz em sacrifício. Jesus é como aquele cordeiro que ofereceu o seu sangue para que aquele povo, que vivia como escravo, vivesse e fosse totalmente livre.

Pelo sangue de Jesus vivemos a liberdade. Ele foi o sacrifício que nos trouxe vida e libertação da condenação e da escravidão do pecado.

A Páscoa cristã comemora, então, o sacrifício e a ressurreição de Jesus Cristo. Jesus é o nosso Cordeiro pascal, morto em nosso lugar:

Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1 Coríntios 5:7).

Ele nos propiciou a liberdade através de Seu sangue e da Sua vitória na cruz. Essa é uma comemoração a ser lembrada todos os dias e não somente na Páscoa!

Chocolate, festa, feriado, tudo isso têm o seu lugar, mas esse lugar não deve tomar o lugar do verdadeiro propósito da nossa comemoração! Celebre Jesus! Celebre a sua liberdade! Celebra a Páscoa!

O significado profético de Gogue e Magogue na Bíblia e hoje em dia!

  Postado por Presbítero André Sanchez

Você Pergunta: O livro de Apocalipse e também o profeta Ezequiel fala de uma batalha entre o povo de Deus e Gogue e Magogue. Esses dois são duas pessoas que representam o Maligno? Ou são nações malignas? Não entendo muito bem essa linguagem figurada de Apocalipse. Pode me ajudar a compreender sobre o que o texto está falando?

Caro leitor, para entender a que se refere Gogue e Magogue, precisamos voltar ao primeiro livro da Bíblia, a Gênesis, para entender de onde vem esses nomes.

“Os filhos de Jafé são: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras” (Gênesis 10:2).

Observe que aqui, Magogue é uma pessoa, é um dos filhos de Jafé, que era filho de Noé. Esse texto mostra que ele foi cabeça de uma nação que se originou dele.  

Pulando para o texto profético de Ezequiel, podemos observar que esse povo, juntamente com um tipo de líder (princípe) chamado Gogue, se levantariam contra o povo de Deus:

“Filho do homem, volve o rosto contra Gogue, da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal; profetiza contra ele” (Ezequiel 38:2).

Observe que ele cita aqui “Meseque e Tubal”, também descendentes de Jafé, descritos em Gênesis 10:2. Ou seja, a ideia aqui é de povos não judeus, inimigos do povo de Deus. Gogue é descrito como o líder desses povos.

Eles se levantariam, segundo a profecia, contra o povo de Deus nos últimos dias, por ordem do próprio Senhor, que vai triunfar contra eles:

“e subirás contra o meu povo de Israel, como nuvem, para cobrir a terra. Nos últimos dias, hei de trazer-te contra a minha terra, para que as nações me conheçam a mim, quando eu tiver vindicado a minha santidade em ti, ó Gogue, perante elas” (Ezequiel 38:16).

Observe que Ezequiel profetiza uma fúria dos povos pagãos contra o povo de Deus, porém, a fúria do Senhor seria maior e destrutiva para eles:

“Chamarei contra Gogue a espada em todos os meus montes, diz o SENHOR Deus; a espada de cada um se voltará contra o seu próximo” (Ezequiel 38:21). 

Todo o capítulo de Ezequiel 39 também é dedicado a mostrar a fúria dessas pessoas (Magogue) lideradas por esse Gogue (veremos a seguir quem ele é), porém, o Senhor os vencerá poderosamente e definitivamente.

Note que interessante como temos aqui, neste final de capítulo, um paralelo com o Espírito Santo, derramado sobre a igreja de Cristo:

“Já não esconderei deles o rosto, pois derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel, diz o SENHOR Deus” (Ezequiel 39:29).

A profecia se dará, então, no tempo após Cristo, quando o Espírito Santo estaria na terra, como ocorreu após a morte de Cristo e permanece ainda hoje!

Apocalipse 20 nos relata a mesma profecia, o que a coloca em termos de data, de fato, nos últimos dias anteriores à segunda vinda de Cristo. Logo após relatar os mil anos em que Satanás está preso, veremos que haverá grande ação do diabo nas nações: 

“Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão” (Apocalipse 20:7).

A ação do diabo em influenciar povos em toda a Terra e inflamá-los contra o Senhor Deus é relacionada com Gogue e Magogue: 

“e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar” (Apocalipse 20:8).

Veja que aqui temos muita luz na compreensão da profecia. Gogue são líderes malignos influenciados pelo diabo. É possível que aqui tenhamos um líder mundial que seja mais proeminente e esteja a frente dos outros!

Magogue são todas as nações, de toda a terra (quatro cantos), que se levantam, confiando em seu poder humano, para resistir ao povo de Deus e ao próprio Senhor Jesus!

“Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu” (Apocalipse 20:9).

Temos aqui a última tentativa do Maligno (Gogue), junto com os seus servos (Magogue), de frustrar os planos de Deus. No entanto, observe que assim como profetiza Ezequiel, aqui também, essas nações terão um fim brusco e humilhante. Temos uma intervenção de Deus com fogo, o que indica juízo e condenação deles!

Finaliza-se o poder que Satanás ainda tinha. Ele é derrotado totalmente e plenamente, assim como todos os que o seguem: 

“O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 20:10).

Segue-se o grande julgamento, o juízo final, público, do qual ninguém pode escapar:

“Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros” (Apocalipse 20:12).

Sendo assim, em um contexto geral, Gogue representa Satanás agindo através de um ou mais líderes malignos que se levantam contra o Senhor e Seus servos. Magogue são povos de toda a terra, inimigos do povo de Deus, que ouvem a palavra do seu líder e se apressam em perseguir o povo do Senhor e o próprio Senhor.

Gogue e Magogue são a Rússia, a China e Turquia?

Muitos tentam “adivinhar” quais seriam essas nações nos tempos modernos, naquele tempo do fim. Alguns já tentaram relacioná-las com a Rússia e a Turquia e até China, por exemplo.

Porém, o texto bíblico não nos dá elementos suficientes para fazer essa correspondência, até porque não sabemos de forma exata quais nações estarão de pé nesses tempos do fim.

O que me parece favorecer como melhor interpretação o fato de que nações pagãs diversas (de todos os quatro cantos da terra) se levantarão unidas contra o povo de Deus, sob as ordens de Satanás, que irá arrebanhar líderes (provavelmente um deles mais poderoso) para perseguir e tentar frustrar os planos de Deus, o que, claro, não conseguirá!

O que sabemos é que esse levante será tão grande e a derrota deles tão forte que saberemos de forma exata quando acontecer!