22 junho 2011

FOGO DE SÃO JOÃO

FOGO DE SÃO JOÃO
de Dennis Downing

Duas crianças num quintal de casa. É noite, véspera de São João.
Assistindo aos fogos que seus pais acendem, de repente, o menino olha
para a menina e a vê, de forma diferente, como se nunca a tivesse
visto antes. Com a luz dos fogos refletida nos olhos dela, a
expressão naquele rosto lindo acesa pelo encanto das cores e sons, o
menino enxerga a beleza dela pela primeira vez. E sente algo que
nunca sentiu antes, que não compreende, e que nunca esquecerá.
Você lembra de algum momento assim? Tem algum registro da sua
juventude de plena alegria ou pura paixão? Você lembra de alguma cena
ou de algum momento no qual você se sentiu tão vivo que jamais se
esqueceu? Lembra de alguém que lhe fez se sentir tão amado ou tão
feliz, que nunca mais perdeu a memória daquele momento e daquela
pessoa?
É época de São João. Doze dias depois do Dia dos Namorados. Pelo
menos no nordeste do Brasil, é fogueiras e fogos de artifício. Como
todas as coisas inflamáveis, eles têm algo em comum – aquecem e
impressionam por um tempo, mas, são passageiros. A paixão, o
sentimento, até o amor do Dia dos Namorados, é passageiro. Muitos
daqueles momentos guardados em nossas memórias por uma vida inteira
são lembranças de sentimentos que, por mais fortes, mais sinceros e
puros que tenham sido, não durarão para sempre. A lembrança
permanece, mas, a paixão, o sentimento em muitos casos só vive na
memória.
Ainda que durem até a morte, o namoro, a paixão, o casamento, tudo
que provém do amor humano tem limite. O marido passa desta vida. A
esposa permanece o amando, recusando casar-se de novo, guardando pelo
resto da vida dela o que só eles dois tiveram juntos. É admirável. É
algo singular, que só eles dois experimentaram.
Mas, e quando ela vier a falecer? O amor e a paixão continuarão no
além túmulo? Isso não é para baratear ou desmerecer o amor humano.
Quando encontrado na sua forma mais pura e genuína é uma força quase
sobrenatural! Casais que se mantêm fiéis e dedicados entrando na
velhice, que cuidam um do outro, e se dedicam um ao outro, mesmo
diante das perdas e fraquezas e das doenças devastadoras que vêem com
a idade, devem ser admirados.
Mas, há algo que precisa ser enxergado. Aquele amor não é eterno. Um
dia se não for por nenhuma outra força ou motivo – acabará diante da
lápide. Até as letras em homenagem cravadas no granito podem durar
mais que a vida daquele ou daquela que permaneça. Mas, aquele amor,
como o granito, terá um fim e retornará ao pó.
Só um amor não tem fim. Só uma paixão dura para sempre. E isso nos
leva de volta a nossa querida data de São João. Não são nas fogueiras
e fogos, comidas típicas e danças folclóricas que encontraremos este
amor. Ele ficou registrado, uma memória eterna, gravada nas páginas
do velho livro tão pouco lido hoje em dia, mas, que foi justamene a
fonte da história de São João.
João, conhecido como O Batista, foi filho de Zacarias e Isabel, primo
de Jesus de Nazaré. Ele deve ter visto algumas cenas marcantes. Quem
sabe, da prisão em Maquero, ao leste do Mar Morto, lembrou-se de
algumas delas. Talvez ele se lembrou de um homem jovem, com aparência
tranquila e ao mesmo tempo marcante, andando à caminho da praia. Será
que João lembrou do momento quando virou para seus seguidores mais
íntimos e sussurrou "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do
mundo..."?
Outra cena. Como poderia esquecer? As águas turvas do Jordão. Alguns
pastores de ovelhas, um comerciante e um soldado aguardavam na beira
do rio enquanto João imergia um jovem nas águas. E lá estava Ele de
novo. Pedindo para ser batizado. Anos depois, João podia lembrar o
temor que sentiu, e sua própria indagação: "Eu é que preciso ser
batizado por você, e você está querendo que eu o batize?"
E finalmente, naquela cela em Maquero, quando seus discípulos
voltaram da Galiléia com a resposta à pergunta que o atormentava, a
pergunta que João fez àquele que ele mesmo indicou como o Cordeiro de
Deus: "És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar
outro?"E a resposta? "Os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são
purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas
novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se
escandaliza por minha causa".
Podemos imaginar o quanto aquela resposta deve ter penetrado no
coração de João Batista, enquanto ele aguardava a "justiça" de
Herodes. Penando numa cela no fundo de um castelo construído por
tiranos e ocupado agora por um dos descendentes mais corruptos destes
tiranos. Luta armada não teria. Machado nas raízes podres de
governantes perversos? Nem tampouco. Será que João sabia o quanto
Herodias o odiava, das ciladas que ela tramava? Será que ele se
importava com o resto de vida que estava por um fio?
Dúvidas? Acredito que sim. Entretanto, maior que as dúvidas, mais
forte que o temor, um sentimento poderoso demais para ignorar – amor.
Exatamente quais pensamentos passaram pela cabeça de João Batista,
enquanto aguardava suas últimas horas de vida, só conheceremos do
outro lado desta vida. Mas, uma coisa sabemos, o homem a respeito de
quem o próprio Jesus declarou "entre os nascidos de mulher, ninguém
apareceu maior do que João Batista", confiou na palavra de Jesus.
João aceitou a resposta do seu amado Senhor. Não questionou mais.
Permaneceu fiel, e O amou até o fim.
Amor? Isso, sim, foi amor, João. Amor que vencerá o túmulo e o tempo.
Amor, que será lembrado, guardado, correspondido, e comemorado pela
eternidade. Este é o amor que não acaba. E benditos aqueles que o
descobrem e se entregam à sua paixão. Benditos aqueles que conhecem o
amor de Jesus, e que O amam até o fim. Felizes verdadeiramente são –
e serão pela eternidade.
Veja mais artigos sobre São João em www.hermeneutica.com/mensagens/.

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