03 dezembro 2022

Nossa trilha de obstáculos


por Charles R. Swindoll

I Reis 17

Faz parte de todo treinamento em campos especiais aquele terrível, duríssimo e às vezes apavorante teste chamado trilha de obstáculos. Não é engraçado nem fácil, mas sua exigente disciplina prepara os recrutas para qualquer situação que possam encontrar pela frente, especialmente sob o fogo do inimigo.

Na vida espiritual, precisamos superar pelo menos quatro obstáculos:

Orgulho

Deus começa a trabalhar nosso orgulho quando nos tira dos holofotes. Isso é parte do necessário processo de nos colocar na linha. No início lutamos contra ele e, no meio de nossa resistência, podemos ficar desiludidos e confusos. Lutamos porque nos acostumamos com o brilho das luzes da atenção pública e com os aplausos que satisfazem o nosso ego, mas Deus insiste, assim como fez com Elias, em nos tirar do palco. Como João Batista aprenderia séculos mais tarde: “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). Aprendemos a ser submissos por meio desse processo doloroso.

Medo

Quando ficamos escondidos por um período de tempo indeterminado, encontramos outra camada carnal de resistência interna: o medo. Deus usa a perda de posição, de prestígio, de popularidade e de privilégios para expor essa camada. É assim que Ele rompe essa barreira. Ele nos leva a um nível mais profundo de maturidade. À medida que nossos medos são vencidos neste estágio da trilha de obstáculos, aprendemos como andar pela fé.

Ressentimento

É inevitável, porém, que este processo revele a camada do ressentimento. Isso ocorre por causa da ira que surge ao sermos forçados a abdicar de todos os direitos que achamos serem nossos: direitos como o de receber um salário que consideramos digno; direito de sermos tratados como merecemos; direito aos confortos que deveríamos desfrutar. Nosso ressentimento se intensifica! Ele diz: “Eu tenho direitos!”. Mas Deus simplesmente continua a moer até a medula, quando, por fim, dizemos: “Tá bom, tá bom, eu te entrego tudo!”. Neste ponto aprendemos o que é o perdão. Descobri que o ressentimento normalmente tem sua origem na falta de perdão.

Hábitos arraigados

Finalmente, Deus usa sua trilha de obstáculos da fé para destruir nossa camada de hábitos arraigados há muito tempo. Aquelas atitudes que se estabeleceram durante os longos anos de atividades, de expectativas altas (e muitas vezes irreais) e motivações baseadas em sucesso que apenas alimentam nossa carnalidade. Tudo isso é finalmente extirpado e começamos a entender o que Deus está executando: a renovação total de nosso ser interior. É aqui que aprendemos humildade. A coroação da obra de Deus em nosso interior.

ASSUMINDO, COM FÉ, A DÚVIDA


O que é o vale da sombra da morte no Salmos 23?


Você Pergunta: O Salmos 23 tem uma expressão que me intriga um pouco. Quando ele fala do Vale da Sombra da Morte, ele está se referindo a quê? Seria alguma região física mesmo que existia ali em Israel ou seria uma expressão figurada?

O Salmos 23 é um dos mais lindos salmos sobre o cuidado de Deus pelas suas ovelhinhas (nós) e está recheado de poesia e figuras vivas que nos ensinam sobre como Deus nos pastoreia, cuida de nós. Vamos compreender melhor agora a expressão vale da sombra da morte.

O que é o vale da sombra da morte no Salmos 23?

(1) O versículo 4 completo diz o seguinte: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Salmos 23:4). Muitas pessoas não sabem exatamente o significado de vale. Vale é um tipo de desfiladeiro.

desfiladeiro tem uma característica interessante, ele é uma passagem apertada entre montanhas, ou mesmo um tipo de ribanceira, aquele caminho que tem um parede montanhosa de um lado e do outro um penhasco com uma queda bem grande.

É certamente um caminho bem estreito, perigoso, difícil, pouco prazeroso de trilhar para a maioria das pessoas.

(2) Portanto, a figura do vale se encaixa com situações de aperto, de embaraço, que nos tiram o sono, que nos provam, nos tentam a desistir. Essa é a intenção do salmista aqui.

Na sequência ele usa a expressão sombra da morte. O caminhar pelo vale certamente expõe a pessoa a perigos grandiosos. A falta de atenção, o cansaço, um pequeno erro podem fazer com que a pessoa se precipite abaixo nesse vale. Ela pode cair a qualquer momento!

A figura da sombra é interessante. A sombra tem a forma da pessoa, mas não é a pessoa. Penso que o uso aqui indique que apesar de parecer que a morte virá e vencerá, as provações e dificuldades de todo tipo são apenas uma “sombra” e não a realidade. A sombra de algo não pode nos fazer qualquer mal!

Por exemplo, se você for atropelado pela sombra de um ônibus, nada te acontecerá!

(3) Mas isso só é possível porque o pastor está presente. Observe que o texto indica que “não temerei mal nenhum”, porém, existe uma explicação para essa coragem em meio a um vale tão difícil: “porque tu estás comigo”.

O pastor está ali fazendo seu trabalho de cuidar. Por isso, o vale difícil que projeta a sombra da morte sobre nós, ou seja, que quer nos fazer pensar que é o fim, que estamos perdidos, acabados, destruídos, não tem poder sobre nós! Essa é uma linda esperança do cuidado de Deus para com Seus servos!

(4) Dessa forma concluímos que o vale da sombra da morte é um caminho difícil que todos nós atravessamos. Ele é difícil, mete medo, traz angústias, ansiedades, porém, quando nos damos conta de que o pastor está conosco nessa travessia, atravessamos sob as ordens dele, guiados por ele!

A tal morte que nos metia medo, agora, diante de nossos olhos, não passa de uma sombra, de algo que não tem poder de nos fazer mal, pois o pastor está nos conduzindo e, debaixo da condução dele, não há como sermos destruídos. Jesus disse algo que ilustra fortemente essa realidade:

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:27-28). 


 Presbítero André Sanchez