Salmo 13 – Até Quando, Senhor?
Este é um salmo de Davi, que clama a Deus: "Até quando?" É o salmo de
uma alma aflita, angustiada porque julga que, por algum problema muito
sério, Deus Se afastou. Então, ele já está cansado de esperar e
pergunta: "Até quando, Senhor?" A repetição quádrupla desta frase
demonstra claramente o intenso sofrimento do escritor. Ele se sente
perturbado pela aparente indiferença de Deus. Ele se sente abandonado
por Deus na sua maior necessidade.
"Até quando, Senhor?" é a pergunta de almas angustiadas que sofrem e
não podem vislumbrar uma perspectiva de alívio ao seu sofrimento. "Até
quando, Senhor?" é a inquirição de pessoas que perderam o seu cônjuge
e não encontram um novo amor com quem possam compartilhar tanta vida.
"Até quando, Senhor?" é a pergunta de almas desconsoladas que não
acham mais um resquício de esperança e consolo para suas aflições.
"Até quando, Senhor?" é o desafio de almas perplexas, que não podem
ver o tempo de Deus e a Sua fantástica resposta.
I - PERPLEXIDADE
O salmista enfrentava uma tríplice perplexidade:
1- Perplexo com Deus: "Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para
sempre?" Pode haver uma angústia maior do que esta: de julgar que Deus
nos esqueceu? Que Deus nos abandonou? Que estamos condenados "para
sempre" a viver sem Deus? "Sem ar, sem luz, sem razão"?, para usarmos
as palavras de Castro Alves. E ele ainda completa a sua queixa,
dizendo: "Até quando ocultarás de mim o rosto?"
Mas será que Deus pode Se esquecer de nós? Será que Ele nos abandona?
Disse o apóstolo Paulo que não há, nem haverá, qualquer circunstância
em todo o universo que nos possa separar do amor de Deus. Deus não se
esquece de ninguém; não abandona a quem quer que seja. E foi o mesmo
Paulo quem deu a razão: Se Deus enviou a Jesus Cristo para morrer por
nós, se Ele foi capaz de fazer a coisa mais difícil, por que, depois
de tudo, haveria de nos abandonar e nos esquecer à nossa própria
sorte? Isso seria impossível! (Rm 8:31-39).
A verdade é bem outra: nós é que esquecemos de Deus, nós é que
abandonamos a Deus, nós é que não O buscamos como a nossa prioridade
máxima; escolhemos fazer a nossa própria vontade e, como conseqüência,
nos encontramos em situações embaraçosas, difíceis. Muitas vezes,
somos vítimas da fatalidade e jogamos a culpa em um Deus cheio de amor
que já estava sabendo de tudo o que se passava conosco, e já estava
tomando providências para nos ajudar.
Davi estava decepcionado com Deus, e colocou a culpa das
circunstâncias que o afligiam na possível demora de Deus em tomar
alguma providência salvadora. E julgou que Deus o abandonara, que se
esquecera dele. Por acaso você já esteve decepcionado com Deus? Por
acaso, você está fazendo as perguntas do salmista para Deus? "Senhor,
por que Te esqueceste de mim? Não vês a minha angústia? Não sabes de
minha aflição? Por que não posso sentir o Teu rosto perto de mim? Será
que me abandonaste por causa de meus pecados?" Estes eram os
sentimentos de Davi.
2- Perplexo consigo mesmo: "Até quando estarei eu relutando dentro de
minha alma, com tristeza no coração cada dia?" Davi agora manifesta
uma perplexidade consigo mesmo. Ele olha agora para dentro de si, e se
vê em uma atitude estranha, lutando entre dois pensamentos, coxeando
entre duas atitudes, relutando entre o certo e errado. O certo seria
confiar em Deus e nunca desconfiar de Sua soberana vontade. O errado
seria esperar que Ele agisse contrariamente à Sua sábia determinação e
propósito. O certo seria esperar confiantemente, deixando as coisas
acontecerem no tempo exato de Deus. O errado seria atropelar as coisas
passando por alto a hora de Deus. O certo e o errado clamavam e
lutavam por uma decisão sábia dentro de si mesmo.
A esperança e o desespero relutavam dentro daquele triste coração: "Se
Deus me ungiu como rei de Israel, por que eu deveria passar por todas
estas tribulações? O que eu fiz de errado para estar assim nesta
situação aflitiva? Mas se Ele me ungiu, por que deveria estar
preocupado?"
Você também está lutando e relutando com algumas coisas difíceis de
resolver em sua vida? É muito duro suportar tristeza a cada dia que
passa por algum sofrimento, alguma dor aguda, pela falta de um ente
querido que se foi! É duro suportar a solidão porque o esposo
abandonou a família, deixando a esposa e os filhos em uma profunda
melancolia, perguntando-se: "Onde foi que eu errei? Até quando ficarei
com essa tristeza em meu coração e com essas dúvidas que estão
corroendo a minha vida e a minha felicidade?"
Por acaso você está relutando dentro de si mesmo por causa de algum
problema financeiro? Algumas pessoas ficam angustiadas, fazem uma
profunda análise dentro de si mesmas e perguntam: "Como posso estar
nessa dificuldade toda, enquanto sou fiel a Deus nos dízimos e
ofertas?" Há uma profunda tristeza, porque ficam decepcionados consigo
mesmos em seu relacionamento com Deus. E podem perguntar como Davi
fazia: "Até quando estarei relutando dentro de minha alma, com
tristeza no coração cada dia?"
3- Perplexo com os outros. Os outros eram os seus inimigos. "Até
quando se erguerá contra mim o meu inimigo?" Até quando se exaltarão
os meus adversários contra mim? Será que já não chega de tanta
perseguição, sem que eu tivesse culpa alguma contra eles? Até quando
durará a ação do inimigo sem que se faça coisa alguma?
Se este salmo se refere ao tempo das perseguições do rei Saul, junto
aos seus oficiais, caçando a alma de Davi como se fazia com animais,
então, ele deve ter pensado: "Se o meu inimigo é o ungido de Deus, por
que ele haveria de perseguir o outro ungido de Deus?" Esta era a sua
perplexidade com o seu inimigo.
Você tem algum inimigo particular? Está perplexo com ele? Está
perguntando até quando esse inimigo vai lhe perseguir e falar contra a
sua alma? Então, você deve conhecer a oração de Davi, que vamos
analisar agora.
II - PETIÇÃO
O salmista fez um tríplice pedido:
1- Prece por atenção: "Atenta para mim, Senhor! (v. 3). Davi suplicava
de Deus atenção. Astronomicamente falando, poderíamos dizer que Ele
tem tantos mundos, tantas estrelas e galáxias para os quais dar
atenção que seria difícil atender a uma só pessoa em apuros tão
prontamente. Mas isso não é problema para um Deus onisciente,
onipresente e onipotente. Ele pode lhe dar atenção a qualquer hora do
dia e a qualquer momento, e em cada segundo do dia ou da noite ou da
madrugada! Muitos ainda estão em nosso mundo pedindo que Deus atente
para eles. Mas você pode saber que Deus está atento para você, mesmo
que muitas coisas estejam indo de mal a pior! Mesmo assim, a sua prece
é necessária, a fim de ajudar a você se encontrar em comunhão com um
Deus Todo-Poderoso!
2- Prece por uma resposta: "Responde-me, Deus meu! (v. 3). Davi
procura uma resposta, pelo menos um indício de uma palavra de Deus,
indicando a Sua aprovação e certeza de que Ele tem o controle de todas
as coisas que lhe acontecem. Muitas vezes, queremos uma resposta
imediata de Deus após sofrer por algum tempo algumas coisas que
julgamos serem injustas. Quantas almas em nosso mundo esperam por uma
resposta de Deus! Quantas pessoas estão sofrendo injustamente! Quantos
estão clamando ao Senhor: "Responde-me, Deus meu!" Você também está
neste rol? Continue orando e suplicando por uma resposta divina. Isso
indica que você está indo na direção certa e buscando Aquele que é
invisível!
3- Prece por iluminação: "Ilumina-me os olhos" (v. 3). Este é um apelo
positivo entre expressões negativas. Ter os olhos iluminados significa
nesse ponto serem fortalecidos para a vida. Davi tinha uma sede de
viver que também pode ser encontrada facilmente em nosso instinto de
preservação da vida.
O salmista vê-se constrangido a clamar a Deus, não só porque lhe é
doloroso julgar-se negligenciado por Deus, mas, também, para que a
morte não venha sobre si de uma forma tão inexorável como o seu
próximo sono.
Mas a sua oração tinha um tríplice propósito:
1- Segurança contra a morte: "para que eu não durma o sono da morte!"
(v. 3). Davi temia a morte, como todo o ser humano normal. Ele
desejava viver e não estava disposto a entregar-se a uma situação que
o levasse à morte, prematuramente.
Mas é interessante que ao se revelar em favor da vida, ele nos ensina
o que é a morte, em poucas palavras: "o sono da morte". Há muitas
filosofias errôneas em torno da morte e, com certa razão, porque os
homens não podem saber o que é a morte, sem ter passado por essa
experiência.
De fato, sem a sabedoria da inspiração divina, jamais poderíamos saber
o que a morte significa. Mas, felizmente, a Bíblia nos ensina, em
muitos lugares, o que é a morte: a morte é um sono, a morte é
comparável ao sono. Assim disse Davi por inspiração do Espírito Santo;
assim disseram os profetas, assim disseram os apóstolos, e assim disse
o próprio Cristo.
Quando Lázaro havia morrido, Cristo falou para os discípulos: "11:
Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo. 12:
Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. 13:
Jesus, porém, falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham
que tivesse falado do repouso do sono. 14: Então, Jesus lhes disse
claramente: Lázaro morreu." (João 11:11-14).
Estas palavras não podem ser mal-interpretadas, estas palavras não
podem ser mal-compreendidas, não podem ser torcidas, porque são claras
demais para que isso aconteça. Jesus Cristo confirmou a doutrina dos
profetas inspirados pelo Espírito Santo: a morte para Deus é como um
sono, sem sonhos e sem pesadelos, um sono sem consciência e com a
esperança de ser desfeito na manhã da ressurreição, ou para a vida ou
para a condenação da morte eterna, da qual não haverá mais
ressurreição.
Um pastor viajava certa vez de São Paulo para Brasília. Ao seu lado,
uma senhora idosa chorava em silêncio. Quando o avião levantou vôo,
ele perguntou: "Está tudo bem?" "Não," ela respondeu, "está tudo mal.
Estou indo a Brasília para enterrar o meu filho que morreu ontem num
acidente de trânsito." "Lamento muito, tudo vai passar." "Eu sei",
ela respondeu. "Eu sei que a dor vai passar, mas pelo menos gostaria
de ter certeza do destino do meu filho." Então, o pastor lhe deu uma
resposta bíblica acerca do que acontece na morte.
Milhões de pessoas estão passando por uma grande angústia, porque não
sabem onde estão os seus queridos mortos. Disse Davi que a morte é um
sono. E, para confirmar essa declaração, disse o seu filho Salomão:
"Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma. [...] Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre
não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol"
(Eclesiastes 9:5 e 6).
A morte traz completa inconsciência, e uma esperança de ressurreição.
Porque disse Cristo: "28: Não vos maravilheis disto, porque vem a hora
em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:
29: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que
tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5:28-29).
Mas continuemos em nosso salmo 13. Davi está orando por segurança
contra a morte. Agora, ele pede ainda por segurança.
2- Segurança contra o inimigo: "para que não diga o meu inimigo:
Prevaleci contra ele" (v. 4). Era uma prece para que o inimigo de Davi
não fosse triunfante sobre ele, e que não pudesse falar
jactanciosamente que tinha prevalecido contra ele. Davi temia o seu
inimigo e também receava da zombaria, do escárnio e do ridículo a que
seria exposto, caso ele viesse a perecer nas mãos do seu principal
inimigo.
Isso não parecia uma guerra em que ele pedia a vitória sobre os
inimigos. Isso parecia mais uma perseguição de um poderoso inimigo que
o perseguia sem que ele fosse culpado. Em outras palavras, Davi orava
por libertação do seu inimigo particular. Este era um inimigo tão
perverso que desejava a sua morte e ansiava o dia em que pudesse
dizer: "Ele era duro de matar, mas agora, eu prevaleci contra ele."
Tudo indica que esse inimigo era o rei Saul.
3- Segurança contra o desânimo: "[para que] não se regozijem os meus
adversários, vindo eu a vacilar." (v. 4). Davi desejava também uma
fortaleza contra a instabilidade emocional. Ele temia vacilar diante
da notícia de que os seus adversários estivessem se regozijando diante
da sua desgraça e derrota, vindo ele a vacilar e desanimar. Ele sabia
que o desânimo era cruel e poderia abater a sua estrutura emocional e,
conseqüentemente, a sua saúde física.
III - PERSEVERANÇA
"No tocante a mim" (v. 5). No que diz respeito a mim, de minha parte,
eu farei isso e aquilo. Davi estava pensando em si mesmo, e isso era
justo e necessário. Deus faz ou deixa de fazer certas coisas; o
inimigo está me perseguindo; mas quanto a mim, eu tenho a minha parte
a fazer, custe o que custar. Davi estava revelando um traço de
perseverança inquebrantável. Ele era capaz de ver muita luz através
das nuvens escuras e trevosas e perseverava corajosamente em direção
da luz.
Assim também nós estamos enfrentando diariamente as investidas do
nosso principal inimigo: "8: O diabo, vosso adversário, anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; 9:
resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos
estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo." (I Pedro
5:8-9). Cada um de nós deve ser vitorioso ao seu modo particular. Cada
um deve saber como vencer. Se Satanás vem contra nós, como um leão,
disse Pedro que devemos ser perseverantes, resistindo firmes em nossa
fé.
Davi demonstra uma tríplice perseverança:
1- Perseverança na confiança: "Confio na tua graça" (v. 5). Muitos
estudiosos gostariam que Davi tivesse dito: "Confio na Tua lei",
porque assim eles teriam um forte argumento a favor do
Dispensacionalismo, que prega a Dispensação da Lei no Antigo
Testamento e a Dispensação da Graça no Novo. Mas, graças a Deus que
não existe tal doutrina. A graça sempre existiu desde que o pecado foi
introduzido no mundo.
Disse Moisés, o grande legislador que recebeu a Lei de Deus e a deu ao
mundo, em seu Salmo 90: "Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus"
(Salmo 90:17). Disse o próprio Davi no salmo 6:4: "Senhor, ...
salva-me por Tua graça!" E agora, ele reafirma a sua perseverança em
confiar na graça de Deus, ao dizer: "Confio na tua graça" (Salmo
13:5). De fato, ele pregou a salvação pela graça.
Ele também nos deu um grande exemplo de perseverança na sua confiança,
não nas obras humanas, mas na graça de Deus a qual é poderosa e
salvadora. Quando todos os seus inimigos estavam a ponto de matá-lo,
ele confessa a sua confiança na graça de Deus, embora não estivesse
visualizando nenhuma perspectiva de salvação. Quando ele se sentia
abandonado e esquecido por Deus (v. 1), quando se encontrava na dúvida
e desconsolo (v. 2) e quando temia o seu inimigo (2), ainda assim, ele
podia dizer: "Senhor, confio na Tua graça!"
2- Perseverança na alegria: "Regozije-se o meu coração na tua
salvação" (v. 5). Davi estava mesmo disposto a perseverar na alegria,
embora a sua alma estivesse triste (v. 2). A primeira palavra pode ser
traduzida no tempo presente, no tempo futuro ou como uma admoestação
(como é o caso da versão Atualizada). De acordo com o contexto, parece
mesmo que Davi faz uma admoestação para a sua própria alma. Ele se
sentia triste internamente pelas suas tribulações, mas poderia se
motivar por perseverar na alegria por causa da salvação em Deus.
De fato, a alegria, a felicidade e o regozijo é uma decisão, é uma
escolha que cada um de nós pode fazer. Vamos encontrar muitas razões
neste mundo para sermos tristes e infelizes. No entanto, também vamos
achar sobejas razões para sermos alegres, jubilosos e felizes, se nós
contemplarmos a salvação que nos foi providenciada por Deus em Seu
Filho Jesus Cristo ao morrer na Cruz do Calvário. A nossa parte,
"quanto a mim", é escolher ser feliz, porque esta é a vontade de Deus
para conosco, e este é o melhor caminho para nós enquanto aguardamos a
vinda de Jesus e ajudamos a outros para que também se preparem para
aquele glorioso dia.
3- Perseverança no louvor: "Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito
muito bem" (v. 6). Jubilosos cantos de louvor e gratidão partiam
daquele coração pronto para exaltar a Deus. Esta é a sua promessa
final: sua perseverança em continuar no louvor a Deus porque, embora
ele pudesse dizer que se sentia abandonado e esquecido por Deus, no
fundo de sua alma havia uma esperança incansável, e uma fé inabalável
que ainda podia contemplar os feitos salvadores que o Senhor lhe havia
demonstrado no passado.
CONCLUSÃO
Podemos passar por muitas lutas e perplexidades, muitas vezes
desapontados com Deus, com os outros e conosco mesmos. Mas isso é
apenas mais um chamado à oração e preces fervorosas, e um convite à
perseverança. Não esqueça os 3 "P"s do salmo 13: Perplexidade,
Petição, Perseverança. Vamos continuar confiando na graça de Deus
aconteça o que acontecer; e vamos encher o nosso coração triste das
mais altaneiras esperanças, "aguardando a bendita esperança e a
manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus."
(Tito 2:13).
Pr. Roberto BiaginiMestrado em teologia07 de abril de
2010prbiagini@gmail.com
http://www.iasdemfoco.net/coracao/text/0013.htm