16 fevereiro 2012

Brincando Carnaval


BRINCANDO CARNAVAL
de Dennis Downing

Era quarta-feira de cinzas. Estava sentado na frente da pequena sala
onde aplicava injeções na emergência do Hospital Getúlio Vargas.
Corredor lotado. Macas enfileiradas dos dois lados. Só dava para uma
maca ou cadeira de rodas passar pelo meio, e o que passava de
bombeiros chegando e maqueiros voltando era impressionante.
Emergência lotada em hospital público não é novidade. Mas, durante
Carnaval parece cenário de filme de guerra.
Meu amigo Tavares, um morador de rua, estava no hospital devido a uma
"brincadeira" de outro "amigo". O "amigão" dele achou engraçado dar
algumas latas de cana para Tavares e depois jogá-lo no chão em cima
de uma planta venenosa. Até hoje não descobri o nome daquela planta,
mas, o que ela fez com o braço de Tavares era de espantar. Parecia
queimadura de terceiro grau. Além de uma fratura no braço, ele também
sofria com a pele ardendo e corria sério risco de infecção.
Lá estavamos, sentados em cadeiras de plástico, aguardando as
injeções antitetânico, de um antibiótico e do analgésico que Tavares
precisava para aguentar a dor. Ainda alimentamos uma pequena
esperança de conseguir uma maca para ele, pois Tavares teria que
passar alguns dias naquele corredor.
Enquanto aguardávamos, eu olhei as paredes da sala. Estavam todas
enfeitadas com detalhes de decoração de Carnaval – serpentinas em
fita de papel, buzinas, balões e chapéus de isopor, e as tradicionais
máscaras de todos os tipos. Tudo com cores berrantes. Parecia uma
alegria só.
Fiquei olhando para a decoração festeira e para os homens, mulheres e
crianças imprensados nas cadeiras e enfileirados nas macas no
corredor. Quanta festa! Quanta alegria! Quanta dor! Quanta tragédia!
É claro que nem todas as dezenas de pessoas sendo atendidas na
emergência estavam lá em decorrência do Carnaval. Mas, nos dias que
sucederam, conversando com um e outro, descobri que vários estavam
lá, sim, justamente como consequência dos acidentes, das bebedeiras,
das brigas e agressões, enfim, das "brincadeiras" da grande festa do
rei Momo.
Sabia que o "rei Momo", personagem da mitologia grega, era filho do
sono e da noite, e, de acordo com a lenda, foi expulso do Olimpo por
ridicularizar os outros deuses? Imagine como o verdadeiro Deus se
sente nos dias do nosso Carnaval.
Sabia que a palavra Carnaval vem do latim "carne levare" que
significa "abstenção de carne"? A expressão originalmente se referia
à tradição da igreja Católica instituida no século XI da Quaresma, um
período de 40 dias de privações que se iniciava na Quarta-feira de
Cinzas e terminava na Páscoa. Uma idéia interessante, certamente com
boas intenções. Entretanto, a chegada do período de privações acabou
incentivando a entrega aos prazeres da carne no período que antecedia
esses dias de abstenção. Logo começou a nascer o espírito do nosso
"Carnaval".
Enquanto olhei os enfeites bonitos e alegres nas paredes da
emergência, não podia deixar de ser comovido pelo contraste com os
corpos agredidos, abusados e quebrados ao meu redor. Não havia lugar
para se sentar. Um homem tentava dormir numa cadeira. Mãe e filha
encolhidas em outra. Só dava para imaginar o que havia sucedido. Um
senhor de idade vagava de sala em sala buscando uma pessoa para
autorizar um raio-x.
Conversei com os parentes de um jovem que sofreu um derrame. Veio de
outro estado brincar Carnaval aqui. E acabou em trajédia, paralisado
em cima de uma maca. O irmão, perplexo, só olhava para o espaço. Ele
aceitou, grato, uma folha com um salmo. Não tenho a coragem em
lugares assim de "pregar". Alguns tem. Eu não tenho. Só consigo fazer
uma pergunta ou outra para compreender um pouco melhor o que estão
passando. Escuto. Oro. Compartilho um salmo. É o que precisam.
Fiquei olhando as máscaras na parede. O que talvez para alguns era um
adereço alegre para mim parecia algo sinistro. Comecei a pensar, por
que máscaras? Para que encobrir? Ocultar o que? O que se tem a ganhar
com isso? Quem tem a ganhar com isso? Aí, me lembrei de quem encobre,
esconde e finalmente engana. É o pai de tudo isso. É a arte, a
profissão dele.
Carnaval. É uma alegria só. Não é verdade? É o grande momento dos
adultos "brincarem". Sim, claro.
Só não entendo por que os bancos de sangue tem que fazer tantos
apelos nas semanas que antecedem Carnaval. Não faz sentido para mim
por que o estado tem que mobilizar tanto policial nesses dias tão
alegres. É um mistério por que as emergências ficam lotadas e o
movimento no IML se torna tão intenso num momento tão festeiro. Nunca
entendi porque aquela minha amiga que é obstetra diz que daqui a nove
meses vai nascer tanto bebê nas maternidades públicas, e
estranhamente de tantas mães solteiras. Estranho. Não dá para
entender. Deve ser coincidência.
Carnaval é uma alegria só, não é? Vai se juntar? Vai se divertir? Vai
brincar?
A escolha é sua. Mas, se for, não esqueça sua máscara.
Veja a imagem especial de João 8:44
http://www.iluminalma.com/img/il_joao8_44.html
Veja também de Dennis Downing "Buscando Jesus Durante Carnaval"
http://www.iluminalma.com/vec/1103/01-buscando.html e "Vivendo Acima
do Mundo - Uma Reflexão Para Carnaval"
http://www.iluminalma.com/vec/1002/11-acima.html
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