07 abril 2011

FAÇA O QUE PODE

FAÇA O QUE PODE
de Germana Gusmão Downing

Estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa na casa de um homem
conhecido como Simão, o leproso, aproximou-se dele certa mulher com
um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro, feito de nardo
puro. Ela quebrou o frasco e derramou o perfume sobre a cabeça de
Jesus. Alguns dos presentes começaram a dizer uns aos outros,
indignados: "Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser
vendido por trezentos denáriosb, e o dinheiro ser dado aos pobres". E
a repreendiam severamente. "Deixem-na em paz", disse Jesus. "Por que
a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo." Marcos
14:3-6
Eu não sou uma pessoa naturalmente compassiva, nem misericordiosa.
Durante minha juventude eu não conseguia enxergar bem as necessidades
da pessoa que estava sofrendo. Talvez porque até então eu nunca
tivera passado por grandes infelicidades. Mas qualquer pessoa que
viver tempo suficiente aqui neste mundo, sem dúvida, conhecerá sua
porção de decepções, tristezas, perdas. Com a graça de Deus eu tenho
experienciado minha porção de dor, mas Deus tem me sustentado, e às
vezes até carregado. E com o poder dele, espero que esses desafios
não sejam em vão, mas que, ao contrário, me tornem numa pessoa mais
capaz de reconhecer o "necessitado", não necessariamente
materialmente falando, mas aquele que necessita de ajuda e conforto.
Talvez seja por isso que fico fascinada com a narrativa em Marcos
14:1-10. A história de uma mulher que reconheceu o sofrimento e a
necessidade daquele que curou e ajudou com as necessidades e tantos.
Esta passagem é muito interessante, pois acontece em Jerusalém,
e,como o texto nos informa, a apenas dois dias para a celebração da
Páscoa. Como sabemos, a celebração da Páscoa era o grande evento
anual no calendário judaico, especialmente em Jerusalém, centro
religioso. Esperaríamos que os líderes religiosos estivessem fazendo
muitos preparativos que facilitassem o "reavivamento"espiritual do
povo naquela época do ano, pois a Páscoa relembrava o grande
livramento que Deus dera aos israelitas, tirando-os do cativeiro e
escravidão.
Entretanto, para nossa surpresa, lemos que os chefes dos sacerdotes e
os mestres da lei estavam procurando um meio de flagrar Jesus em
algum erro e matá-lo. Tiveram o cuidado para fazê-lo de tal modo que
não causasse tumulto entre o povo (v.1-2). Em outras palavras, que
causasse menos problemas para eles e para sua reputação.
No final desta narrativa, também somos informados de que "Judas
Iscariotes, um dos doze, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes a fim
de lhes entregar Jesus"(v.10) As negociações entre Judas e aqueles
líderes religiosos foram tão satisfatórias que Judas até seria pago
para fazer a entrega.
Entre estas duas cenas, onde vemos líderes religiosos (Judas estava
entre os doze e, portanto, fazia parte de um grupo privilegiado!)
engajados em tais atividades às vésperas da Páscoa, encontramos uma a
mulher que, de repente, na casa de Simão, o leproso, unge Jesus com
um perfume caríssimo! Os que estavam presente ficaram indignados com
a extravagância, pois de acordo com o texto, o perfume valia cerca de
seis mil reais (em valores de 2011) e, portanto, se vendido, poderia
ser usado para coisas muito mais "importantes"!
Provavelmente, alguns dos discípulos estavam no grupo que deu um
grande carão na mulher. Mas, Jesus saiu na defesa dela:
"Deixem-na em paz,… Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa
ação para comigo…Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo
antecipadamente, preparando-o para o sepultamento"(v.6,8), disse Ele.
Sabemos muito pouco sobre esta mulher. Se ela tinha uma má fama, não
o sabemos com certeza. Será que ela era solteira? Casada? Separada?
Mãe solteira? Gorda? Magra? Bonita? Feia? Culta? Analfabeta? Alta ou
baixa? Não sabemos da cor da pele dela, nem da saúde dela. Só sabemos
que era uma mulher e que ouviu "poucas e boas" devido à sua ação em
relação a Jesus.
Mas Ele a defendeu, a tal ponto de dizer que onde fosse pregado o
evangelho, também seria contado o que ela fez "em sua memória". Para
sempre lembrada pelo seu amor e devoção a Jesus.
Então, por que será que o Mestre valorizou tanto o gesto dessa
mulher, mesmo que aos olhos de outros tivesse sido um desperdício?
Talvez a resposta esteja nas palavras do próprio Jesus: "Derramou o
perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para a sepultura".
Nosso Senhor sabia o que estava para acontecer. Sua prisão, tortura e
morte estavam bem próximas. E como será que Ele estava se sentindo?
Como será que ele estava se sentindo sabendo que pelo mesmo três
vezes, ao tentar comunicar aos doze apóstolos o que estava para
acontecer, estes reagiram de maneira bem mundana, chegando ao ponto
de discutirem entre si quem teria mais poder uma vez que Jesus não
mais estivesse com eles?
Como será que ele se sentia sabendo que muitos judeus, apesar de
conhecerem as Escrituras e as profecias sobre o Messias, não
reconheceram o Messias quando este esteve diante deles, falou aos
seus ouvidos, e curou os seus corpos?
Como será que ele estava se sentindo sabendo que esta provavelmente
seria umas das últimas refeições prazerosas da sua vida terrena
(talvez a última), uma vez que na próxima narrativa, na última ceia,
Ele já teria que tocar no indesejável assunto de traição (de Judas) e
abandono (de todo o grupo)?
Como será que Ele estava se sentindo, sabendo como seria sua prisão,
tortura e morte, e todos os maus tratos que ele em breve receberia
daqueles a quem ele viera salvar?
No meio de toda esta tempestade na vida de Jesus, vem então esta
bonança, esta calmaria no gesto dessa mulher. Até parece que ela era
a única na qual havia "caído a ficha", e que compreendia o que nosso
Senhor estava passando.
É verdade que nós não podemos mais ungir Jesus com um perfume
caríssimo, às vésperas da sua morte. Mas se olharmos ao nosso redor,
talvez possamos enxergar alguém que esteja também passando por uma
tempestade de angústia, solidão, abandono, rejeição.
Lembremo-nos do exemplo dessa mulher. Ela fez o que pôde. Às vezes só
temos um abraço para dar, mas pode ser exatamente o que a outra
pessoa está precisando. Pode ser que tudo que você tem é tempo para
ouvir o desabafo de alguém que está sofrendo. Para a pessoa que é
ouvida, você estará fazendo uma boa ação para com ela. Você estará
fazendo tudo que pôde.
Uma visita ao hospital, um bolo preparado com amor, um cartão com uma
palavra de encorajamento, um e-mail dizendo que você está orando...
Pequenos gestos, que podem ser muito valiosos para alguém passando
pelo fogo. Pode haver formas de ajudar além do seu alcance. Mas,
sempre há algo, por mais simples que seja, que você pode fazer.
Não fique paralisado porque não pode fazer o impossível. Faça o que
pode! Para Jesus – isso é tudo!==================================

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