15 abril 2011

Conferência de milagres: a fé conferencista

 

Conferência de milagres: a fé conferencista

Podemos olhar para o cenário da igreja evangélica no Brasil e perceber como as chamadas ``conferências de milagres´´ tem atraído as multidões. Não é raro encontrarmos os conferencistas (que muitas vezes se auto denominam internacionais) subindo em palanques, trios elétricos e contagiando freneticamente as pessoas que correm atrás desses milagres. São pessoas de boa fé, uma fé simples, uma fé ingênua, uma fé que tem fé na fé, mas uma fé que não procede das escrituras sagradas. São pessoas no auge do desespero, que estão vivendo no limiar da desesperança. São nesses momentos de incerteza e insegurança da alma que a situação pede uma resposta imediata, urgente e definitiva. Empurradas pelos ventos da dor essas pessoas procuram a todo custo resolver a tão dolorida enfermidade. É aí que o mercado oferece um shopping de milagres! Onde se oferece uma porção de revelações instantâneas por mera ``fé´´. Mas... que fé será essa das pessoas? Baseada aonde? E em quê? Podemos nos reportar para a Bíblia e enxergar o episódio do capítulo 6 do evangelho de João, onde depois do milagre da multiplicação dos pães e peixes uma numerosa multidão segue Jesus em busca de bis! O interessante é que o grupo de pessoas que seguem a Jesus no inicio do capítulo 6, são pessoas que tinham sido testemunhas oculares das curas de vários enfermos, ou seja, eram pessoas que tinham fé na fé de outras pessoas. Mas agora aquelas pessoas estão de volta, querendo mais um ``espetáculo de milagres´´! Chegaram ao mar de Tiberíades mas encontraram os barcos vazios, nem os discípulos nem Jesus estavam ali. Eles na busca desenfreada por milagres, tomam os barcos e vão a procura Jesus. E de fato eles o encontram, e fazem uma pergunta: mestre, quando chegastes aqui? e Jesus responde de forma dura porém verdadeira: em verdade vos digo que vós me procurais não porque vistes os sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Essas pessoas pareciam pessoas de muita fé, afinal de contas, o sacrifício que elas fizeram pra encontrar Jesus é de se admirar. Não é diferente das pessoas de hoje que organizam caravanas, viajam milhares de quilômetros, passam por muito sufoco, e se utilizam de meios sacrificiais em nome da fé. No final das contas são vistas como pessoas de muita ``fé´´. E não é pra menos, o que elas fizeram pra chegar perto do homem que faz milagres não foi brincadeira. Mas não vemos o nosso amado mestre Jesus elogiando aquelas pessoas que fizeram aquele esforço todo para encontrá-lo. Antes, Jesus reprova aquela atitude e faz muito mais do que isso, ele revela a verdadeira motivação daquela procura iminente por milagres. Jesus revela que a procura não era pelo sentido daqueles sinais (visto que a cura dos enfermos era em cumprimento das profecias do Antigo Testamento que comprovariam a autoridade messiânica de Jesus) e sim pelo bem estar próprio deles. Na verdade eles estavam querendo encher a barriga e nada mais. Vemos de fato pelo Brasil e pelo mundo pessoas realizando milagres nas pessoas que procuram por isso. E particularmente eu creio em milagres, é bíblico isso! Mas Jesus nunca deixou de pregar a palavra para se dedicar a curar as pessoas. Hoje assisti uma conferência de milagres, e o que mais me espanta a princípio é o termo ``conferência´´, palavra que significa ato de conferir. Milagre é algo que exige fé, ou seja, eu creio e ponto final, mas me expliquem porque eu tenho que ``conferir´´ os milagres? Será que as conferências são para as pessoas conferirem, como o próprio nome diz? Porque se for mesmo isso como se espera do próprio termo, há uma grande contradição teológica! Porque se milagre é algo que exige fé, e fé é algo que se espera sem precisar ver ou tocar, quando eu vou conferir um milagre eu estou colocando essa fé em cheque. Hoje vi vários conferencistas de milagres, alguns movidos pela curiosidade, outros pela vontade de parar de sofrer, mas a maioria não passavam de pobres e simples conferencistas de milagres. Quantas dessas pessoas não se assimilam as pessoas do capítulo 6 do evangelho de João? Buscando apenas saciar o próprio ventre, outras fartar-se de bens materiais, e outras apenas receber de forma verdadeira a cura do senhor que ela serve. Não podemos negar, existem sim pessoas de muita fé e tementes a Deus. Pessoas que servem a Deus de forma exemplar, e que independentemente do seu estado físico serve a Deus de todo coração. Nessas conferências não existem pregações bíblicas, nem a pregação é o centro do culto. Vemos o dia do milagre, explosão do milagre, a hora da oração poderosa, a quebra das maldições, mas não vemos a sublime hora da pregação bíblica! Pregação essa que tem poder em si de gerar a fé necessária para se receber um milagre da parte do Senhor. Vemos a Bíblia ser distorcida, mutilada, retorcida, e sendo utilizada para manipular a fé das pessoas. Hoje mais uma vez ouvi de um conferencista ``renomado´´ que o crente tem que ficar sempre por cima e nunca por baixo, que somos cabeça e não calda, que chega dessa coisa de crente ser sempre o porteiro do prédio, agora é hora de ter casa na praia, new civic, e muita prosperidade. A ênfase na prosperidade financeira é absurda. É de partir o coração como as pessoas com o andamento daquilo que elas chamam de pregação, vibram e se alegram em ouvir aquilo. Me perguntei em alguns momentos: onde está o evangelho que a igreja primitiva cria? As pessoas não tem mais conhecimento bíblico, a experiência fica acima de tudo, e a revelação do profeta está acima da autoridade das escrituras. O pragmatismo tomou conta da maioria desses conferencistas de milagres. Seguem sempre o mesmo esquema sujo para mostrar a superficialidade das suas ações. Usam roupas simples na hora da conferência, porém... ficam em hotéis de luxo na cidade onde estão. Em dado momento, geralmente no início, falam que existem pessoas que são frias, que as criticam, que dizem que não crêem no sobrenatural de Deus e que as pessoas não dêem crédito a esses ``críticos´´. Porque como ouvi hoje, são pessoas que ficam sempre se preocupando se o texto está fora de contexto, com estudo e isso ou aquilo... justamente a mesma preocupação exegética e interpretativa que os apóstolos e primeiros crentes tinham. Com isso eles fazem com que as pessoas aceitem tudo o que eles dizem sem ser questionados por ninguém. Afinal de contas... quem faz isso está criticando o agir do Espírito Santo, e quem é que quer voltar pra casa com esse peso nas costas de ter falado contra o agir de Deus? Com isso eles já estão imunes a qualquer questionamento. Tudo o que eles fizerem deve ser considerado como algo inspirado e acima de qualquer suspeita. Agora a multidão virou presa fácil. Querem um milagre, tem quem ofereça de qualquer forma, ninguém questiona nada, só resta dizer que a conferência ``é uma bênção´´! Não vemos a mesma multidão na escola bíblica dominical nem nos cultos de doutrina. Não vemos a busca pelo conhecimento da Palavra, pela meditação na Palavra. Vemos crentes supersticiosos lendo um Salmo pra relaxar antes de dormir, ou lendo um versículo por dia pra cumprir seu costume religioso de evangélico. Termino afirmando que creio em milagres, mas não preciso conferi-los pra isso! Minha fé é no Deus que realiza os milagres, e não fé nos milagres. Fé no Deus que faz no tempo dele, e se ele quiser fazer. Pois um dia o grande Apóstolo Paulo pediu a Deus em súplicas por três vezes dizendo: Senhor, tira de mim esse espinho da carne? E Deus lhe respondeu: Paulo, a minha graça lhe basta! Se não estou enganado, isso está naquele livro... aquele que chamam de Bíblia... que os evangélicos lêem...e eles lêem? É isso que me pergunto todos os dias.
Alieksiei
recantodasletras

 Deus Abençoe!
Pb Guilherme

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