28 setembro 2023

O Drama do Suicídio

 TEXTO “Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hebreus 13.5b)

Diante da dura realidade do suicídio, precisamos tratar este tema à luz da Palavra de Deus.

INTRODUÇÃO

O tema de hoje é oportuno e indispensável, considerando o aumento de casos de suicídio no meio evangélico. É necessário estarmos atentos às causas e eliminarmos as raízes, cuidando mais de perto um do outro, sempre observando os princípios bíblicos.

PONTO DE PARTIDA: Não temos o direito de tirar a nossa própria vida.

1. O Drama da Autodestruição

A palavra suicídio vem de dois termos do latim, sui, que significa “próprio” e caedere, que significa “matar”. Assim, o suicídio é o desejo e o ato de assassinar a si próprio. É um gesto de autodestruição, realização do desejo de dar fim à própria vida. Quando a pessoa está passando por uma dor emocional insuportável, ela pensa enganosamente que a única solução é o suicídio. Assim, o suicida não quer morrer, ele quer escapar da dor do sofrimento. No entanto, sempre produz mais dor.

1.1. Por que as pessoas pensam em suicídio? Vejamos alguns motivos: 1) Chamar a atenção – a tentativa de suicídio pode ser um grito de socorro: “olhem para mim, eu estou aqui”. Muitos deixam bilhetes antes de cometer o ato. Uma pessoa que se suicida pode estar com carências de ser aceita e amada; 2) Tentativa de expiar um erro – algumas pessoas com tendências suicidas dizem: “eu mereço morrer; não sou digno de viver”. Para elas, a morte constitui em um tipo de expiação para o que consideram seu fracasso e pecado. Pensam que não podem pagar ou remediar o erro cometido.

O suicídio é uma realidade dolorosa. “O suicídio atravessa todas as fronteiras geográficas, raciais, sexuais, religiosas, culturais e sociais. Nenhum de nós deve subestimar seus efeitos devastadores e sua abrangência”, diz Gary Stuart. As pessoas que cometem suicídio têm um sentimento obsessivo de desamparo, falta de esperança e de valor. Assim o suicida não quer morrer, ele quer escapar do sofrimento.

1.2. Outras razões. 3) A paixão – Muitos suicídios são cometidos por motivos passionais. Eles acontecem como um resultado direto de relacionamentos rompidos. A pessoa é prisioneira de um sentimento doentio, pois deixa o sentido da vida em Deus e o amor próprio, e a outra pessoa passa a ser o centro. E por não aceitar o fim do relacionamento desiste também de viver; 4) Dinheiro – muitas pessoas desesperam-se ao cair na pobreza, na perda rápida dos bens; 5) Doenças psíquicas – elas são reais e complexas. Enganam-se aqueles que as tratam como se fossem apenas atuação maligna.

Também existe a fuga onde muitas pessoas, esmagadas pelo rolo compressor das circunstâncias adversas, fogem da vida, pensando que, do outro lado da sepultura, encontrarão um destino melhor, o alívio da dor. A exigência em excesso também entra no índice de suicídio entre os jovens. A razão disso é a alta exigência da família e a cobrança da sociedade a respeito do desempenho nos estudos e vida profissional. Eles não conseguem atingir as metas e as constantes cobranças da família e da sociedade e traçam uma rota sem volta, causando dor e sofrimento.

1.3. O pano de fundo do suicídio. A ausência de Deus provoca na humanidade um vazio sem precedentes. Na verdade, só Deus pode satisfazer a alma humana. Só Ele pode preencher esse vazio e dar vida abundante. Com certeza, muitos que têm ideias suicidas estão precisando urgentemente organizar sua vida espiritual e colocar o Reino de Deus como prioridade! Então quando Deus não reina e governa, quem está fazendo isto é o diabo, não podemos ignorar suas obras malignas na vida das pessoas. O diabo e seus demônios existem e querem destruir o ser humano e toda sociedade. Então ele se apropria das mentes vazias para destruí-las.

A Bíblia é clara neste assunto: “Porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” [Ef 6.12]. É evidente que não podemos atribuir tudo que acontece ao diabo, mas não podemos subestimar sua atuação constante, oprimindo o ser humano e estabelecendo sua estratégia em levá-lo ao abismo na triste ilusão do suicídio. Por isso é muito importante estarmos revestidos “de toda a armadura de Deus” [Ef 6.11], guardando mente e coração.

O suicídio é um gesto de autodestruição, a realização do desejo de dar fim à própria vida. Quando a pessoa está passando por uma dor emocional insuportável, ela pensa que a única solução é o suicídio.

2. Vontade de Morrer

Há relatos na Bíblia de pessoas que, em momentos de crise emocional, pediram a Deus para morrer, mas nunca intentaram contra sua vida. Por exemplo, Jó, depois de ter amargado uma crise financeira, problemas de saúde e a morte de seus filhos, disse: “Quem dera que se cumprisse o meu desejo, e que Deus me desse o que espero! E que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua mão, e acabasse comigo.” [Jó 6.8-9].

2.1. Homens de Deus em momentos de crise emocional. Moisés se cansou da reclamação do povo e pediu a Deus seu fim: “Eu só não posso levar a todo esse povo, porque muito pesado é para mim. E, se assim fazes comigo, mata-me, eu te peço, se tenho achado graça aos teus olhos; e não me deixes ver o meu mal.” [Nm 11.14-15]. Elias também teve seus dias sombrios. Depois de vencer a batalha contra os profetas de Baal no monte Carmelo, Jezabel manda dizer que vai acertar as contas com o profeta. Ele, com medo, disse: “Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.” [1Rs 19.4].

Outro caso foi o do profeta Jonas. Ele estava desgostoso da vida porque Deus queria salvar os ninivitas. Não aceitava que aquela nação que fez tanto mal para seu povo agora recebesse o perdão de Deus. Diante deste fato, ele ora: “Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a minha vida, porque melhor é morrer do que viver.” [Jn 4.3].

2.2. Casos de suicídio na Bíblia. A Bíblia menciona alguns casos de suicídio, revelando, assim, que o ser humano, após o pecado, teve suas faculdades mentais e emocionais, também, afetadas: 1) Saul – Esse rei começou bem, mas desobedeceu às ordens de Deus sem demonstrar arrependimento. Encurralado pelo exército filisteu, jogou-se contra sua própria espada [1Sm 31.1-7]; 2) Aitofel – Traiu Davi. Seu caráter traidor o levou ao desespero e enforcou-se [2Sm 17.23]; 3) Zinri – Promoveu um golpe para chegar ao poder e depois foi abandonado [1Rs 16.18]; 4) Judas – que traiu Jesus [Mt 27.3-5].

É interessante notar que a Palavra de Deus mostra as virtudes e as fraquezas do ser humano. Temos registros dos grandes feitos do poder de Deus e também os momentos de fraqueza, desânimo desses heróis da fé e ruína dos que conduziram sua vida sem arrependimento. Alguns dos heróis da fé até tiveram desejo de morrer, mas depois voltaram ao equilíbrio emocional, já aqueles que foram conduzidos pelos caminhos da desobediência sucumbiram diante da pressão emocional e cometeram o suicídio. Foram leais até um certo ponto, mas terminaram mal.

2.3. A Bíblia é contrária ao suicídio. O suicídio é a quebra do principal mandamento: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo [Mt 22.36-39]. Amar a si mesmo é um dever do cristão. Só pode amar o próximo quem está bem resolvido consigo mesmo. O apóstolo Paulo nos ensina este princípio em suas cartas: “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja.” [Ef 5.29].

Douglas Baptista: “O cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no sexto mandamento do Decálogo: “Não matarás” [Êx 20.13]. O mandamento que proíbe o homem de assassinar o outro também o proíbe de assassinar a si mesmo. A vida humana é uma dádiva divina e, portanto, pertence a Deus [Sl 100.3]. O Criador é quem determina o início e o término da vida, e não a criatura [Ec 3.2]”.

 Hernandes Dias Lopes afirma que o suicídio é um gesto de incredulidade. O suicida deixa de crer que Deus pode nos socorrer em toda e qualquer situação. A mulher de Jó, ao vê-lo nas cinzas, revoltada contra Deus, aconselhou seu marido que se matasse: “Amaldiçoa a Deus e morre”. Mas ele respondeu: “Como fala qualquer doida, assim falas tu” [Jó 2.9-10]. Quando o carcereiro de Filipos, ao ver as portas da prisão abertas, puxou a espada para suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido, Paulo disse em alta voz: “Não te faças nenhum mal” [At 16.27-28].

Há relatos na Bíblia de pessoas que, em momentos de crise emocional, pediram a Deus para morrer, mas nunca intentaram contra sua vida.

3. O que fazer quando um familiar se suicida?

Por mais duro que tenha sido o golpe sofrido na vida, precisamos continuar a caminhada. Não podemos ser enterrados com nossos mortos. É importante levar em consideração que a vida continua e a presença de Deus é certa.

3.1. Devemos prosseguir por causa de Deus. Não existe nenhuma situação da vida que possa superar a capacidade de Deus nos restaurar. Deus é maior do que nossa dor. O amor de Deus é tão grande, que chega a ser maior do que de um pai e de uma mãe, que são considerados como o maior amor do mundo [Sl 27.10].

 Temos que ter fé em Deus! Deus pode nos tirar de qualquer situação que pareça sem solução. Ele tem o controle do universo em suas mãos. Nossa vida não está sem destino e propósito. Mesmo nas noites mais escuras da alma, podemos declarar: “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”.

3.2. Devemos prosseguir por causa dos demais familiares. Não temos o direito de desistir da vida por causa do ente querido que se foi, quando temos outros que precisam de nossa presença, nosso apoio e nosso encorajamento. Não podemos desistir de viver por causa dos mortos, se os vivos ao nosso redor carecem de nosso amor. Jesus teve doze discípulos, e um deles se suicidou. É preciso entender que mesmo procurando ajudar e acompanhar uma pessoa, contudo, nem sempre o resultado será o que desejaríamos.

Tal fato não deve nos impedir de prosseguir no cuidado com o próximo e no cumprimento da missão que recebemos do Senhor. Quando nos enjaulamos nos quartos escuros, cheios de desalento, ferimos não apenas a nós mesmos, mas nossa própria família que precisa de nossa presença e de nossa mão estendida.

Subsídio do Professor: Também devemos prosseguir por nossa própria causa. Não temos o direito de desistir de viver porque alguém que amamos tomou essa decisão. Importa prosseguir, mesmo que a vida nunca mais tenha o mesmo sabor. Luis Alberto D. Argüello: “Não foi a ausência nem a abundância de problemas que fortaleceu a esperança de Jó, mas a sua convicção de que Deus estava no controle de todas as coisas. Nós sabemos, pela Palavra, pela História, que Deus sempre esteve à frente, comandando tudo; sabemos também que Ele lidera hoje, e no futuro, também o fará”.

3.3. Um suicida pode ir para o céu? Essa é uma pergunta que assola as famílias neste momento de dor. No momento do velório há questionamentos sobre este assunto por parte da família aos pastores. O que entendemos sobre o assunto é que não compete a nós julgamento. Nenhuma pessoa ou igreja tem competência de assentar-se no trono do juízo e determinar o destino eterno de uma pessoa. Somente Deus tem essa autoridade intransferível. Num momento de tamanha dor e aflição dos familiares e irmãos, é necessário a manifestação de mais amor e menos julgamento. É o que precisamos fazer como cristãos.

O ladrão na cruz foi salvo em seus últimos momentos de vida: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” [Lc 23.42-43]. Cabe a nós deixar essa questão nas mãos de Deus, sabendo que Ele é misericordioso e compassivo, Ele tudo vê, conhece tudo o que está lá dentro, entre a divisão do espírito e alma. Jeremias declarou: “Disto me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.” [Lm 3.21-23].

Num momento de tamanha dor e aflição dos familiares e irmãos, é necessário a manifestação de mais amor e menos julgamento. É o que precisamos fazer como cristãos.

CONCLUSÃO

A morte, embora inevitável, não deve ser buscada. Não temos o direito de tirar a nossa própria vida. Deus é quem dá a vida e somente Ele pode requerê-la. O suicídio é uma decisão humana. Precisamos buscar forças em Deus para reagir e encontrar esperança e desfrutar de uma vida abundante.

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