Todos os anos cerca de 1 milhão de pessoas tiram suas vidas. A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. As taxas de suicídio no Brasil têm aumentado de maneira significativa nos últimos anos. O que a Igreja tem feito sobre isso? Como temos tratado aqueles irmãos na fé que sofrem de depressão? Você sabe o que fazer quando descobre que seu amigo tem pensamentos suicidas?
Como levaremos o Evangelho ao mundo se nossos jovens estão tirando suas vidas? Falar sobre suicídio é uma urgência. Fugir é o pior modo de tratar o problema. Se sabemos que ele existe o que devemos fazer para vencê-lo? Precisamos trazer o assunto a tona, precisamos que nossas igrejas sejam ambientes receptivos a pessoas que necessitam de atenção.
O que é suicídio?
Quando pensamos em comportamento suicida, o espectro é bem amplo, indo desde atos que não aparentam conter o desejo latente de morrer até o suicídio consumado. Como tratarei desse assunto de modo breve, vou me ater a apenas três comportamentos desse espectro, sendo eles o suicídio consumado, a tentativa de suicídio e pensamentos suicidas.
Vamos então ao princípio, o que é suicídio? É considerado suicídio quando uma pessoa tira sua própria vida de maneira intencional. Então, para que se classifique um óbito como suicídio é necessário que a intencionalidade de tirar a própria vida seja atestada de algum modo, logo, mortes auto-causadas acidentais não se enquadram nessa definição.
Já a tentativa de suicídio quando a pessoa tenta tirar a sua própria vida de maneira intencional, mas falha. Falar sobre isso é importante, pois pessoas que já tentaram dar cabo à própria vida têm grandes chances de tentarem novamente.
Por fim, temos aquilo que é chamado de pensamentos suicidas. Dentro desse grupo existem algumas subdivisões, existem aqueles que pensam em tirar suas vidas, mas que não o farão e aqueles que planejam com a real intenção. Na psicologia, existe uma grande dificuldade de distinguir esses dois grupos, por isso, o ideal é que alguém que tenha ideações suicidas seja tratado como um possível executor.
Estudos estatísticos
Agora que já sabemos o que é o comportamento suicida, o que estudos estatísticos nos dizem sobre esse fenômeno? No Brasil em 2016 foram registrados cerca de 11 mil casos de suicídio, contudo, estudos apontam que por causa de subnotificações esse número possa ser 4 vezes maior. Em aspectos gerais mulheres tentam tirar sua vida mais que homens, mas o número de homens que efetivamente terminaram com suas vidas chega a ser até três vezes maior.
Pessoas com depressão merecem atenção especial, o número de depressivos que terminam com suas vidas é consideravelmente alto e essas pessoas representam a maior parcela de suicidas. Além da depressão existem também outros preditores alarmantes de uma tentativa futura de suicídio como uma tentativa de suicídio não fatal, outras patologias psíquicas como ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia ou transtorno de borderline, o abuso de álcool e em especial diversos desses fatores em conjunto.
E a Igreja?
Todos esses dados dizem respeito a sociedade de um modo geral, mas e a Igreja? Existem pesquisas específicas dentro do meio cristão sobre o tema? Infelizmente, desde que comecei a estudar sobre prevenção do suicídio, não encontrei nenhuma pesquisa específica que tratasse diretamente a relação Igreja x suicídio. Contudo, existem estudos que tratam a relação religiosidade x suicídio que apontam dados alarmantes para a igreja cristã.
Em aspectos gerais a religiosidade é um fator de proteção quanto ao suicídio, ou seja, pessoas religiosas têm menor chance de cometerem suicídio. Contudo, essa máxima não se mostra verdadeira quando tratamos especificamente da igreja protestante. Estudos apontam que o número de pessoas que se declaram evangélicos e tentam tirar suas vidas é proporcionalmente igual a aqueles que declaram não seguir nenhuma religião.
O quadro se agrava quando colocamos na equação a orientação sexual do indivíduo. O número de suicídios é maior entre a população homossexual. Quando consideramos a religião do indivíduo e de seus pais, chegamos a uma conclusão alarmante, homossexuais que frequentam a igreja estão entre os grupos com as maiores taxas de suicídio.
Participação da Igreja na prevenção
Por fim, gostaria de tratar sobre os sinais que devem chamar nossa atenção e o que podemos fazer para ajudar essas pessoas, fique atento a sinais como:Ameaçar, falar ou brincar sobre suicídio;
Preocupações com a morte ou com morrer; desfazer-se de objetos pessoais,
despedir-se de pessoas;
Mudanças bruscas de comportamento;
Distanciamento dos amigos e da família;
Tentativas de suicídio anterior.
Esses são apenas alguns sinais que uma pessoa pode demonstrar. Uma pessoa que planeja tirar sua vida age de acordo com suas intenções. Aquele pensamento comum que suicidas não demonstram seus planos não é verdadeiro.
O que fazer para ajudar?
Como comunidade, devemos entender que apenas médicos e psicólogos têm o conhecimento técnico necessário para acompanhar adequadamente uma pessoa em um quadro crítico como esse, o que não significa que não possamos fazer nada. Existem diversas ações que estão ao alcance da comunidade que auxiliam o trabalho dos profissionais da saúde, alguns exemplos são:Ouvir! Encoraje a pessoa a falar sobre seus problemas e a expressar seus sentimentos;
Leve a sério seus problemas e sentimentos, não banalize o sofrimento dos outros;
Fale direta e abertamente sobre suicídio;
Se você está preocupado com a segurança de alguém, não a deixe sozinha;
Não tenha medo de acionar serviços de emergência para a preservação da vida de alguém;
Vá com a pessoa a um profissional que possa oferecer ajuda especializada, como psicólogo ou psiquiatra.
Como já disse anteriormente, nada substitui o tratamento com um profissional. Atualmente o número de psicólogos e psiquiatras dentro das igrejas tem aumentado consideravelmente, é imprescindível a participação desses irmãos em Cristo no combate desse problema que vem assolando a Igreja.
Quem intenta contra sua própria vida não tem por objetivo último se matar, mas acabar com sua dor ou com o sofrimento que ele imagina causar aos outros. O autoextermínio é o meio que pessoas em estados psicológicos extremos encontram de superar seus problemas.
Quando pensamos em prevenção do suicídio, não estamos dizendo em formas de fazer com que as pessoas não morram, tendo em mente que isso é humanamente impossível. Trabalhar para que uma pessoa não termine com a sua vida significa ajudá-la a dar um sentido a sua existência, sendo este um trabalho exaustivo e incessante. Pessoas em quadros de risco merecem nossa atenção constante.
Precisamos de líderes que estejam dispostos a enfrentar de maneira enérgica e aberta a epidemia de suicídio que tem assolado a Igreja. Se não nos mobilizarmos logo a Igreja será destruída de dentro para fora.
Autor: Gabriel Carneiro
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