23 julho 2021

O Lamento de Jó -L5

 TEXTO ÁUREO

“Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.” (Jó 3.24)
 
VERDADE PRÁTICA
O sofrimento pode nos levar a situação de extrema angústia, mas não devemos perder a esperança no agir de Deus.
 
LEITURA DIÁRIA
Segunda – Jó 3.1-4 Jó lamenta pelo dia de seu nascimento
Terça – 3.5-7 Jó prefere que o dia de seu nascimento seja marcado pelas “densas trevas”
Quarta – Jó 3.8-10 Que a luz não resplandecesse e ele não olhasse para o sofrimento
Quinta – Jó 3.11-15 Jó lamenta por não ter morrido no dia do seu nascimento
Sexta – Jó 3.16-22 Jó deseja ser como um “aborto oculto” e não ver a luz
Sábado – Jó 3.23-26 O que já temia lhe sobreveio, o que ele receava lhe aconteceu
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Jó 3.1-26
1 – Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia.
2 – E Jó, falando, disse:
3 – Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!
4 – Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça sobre ele a luz!
5 – Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; negros vapores do dia o espantem!
6- A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses!
7 – Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela!
8 – Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto.
9 – Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha; e não veja as pestanas dos olhos da alva!
10 – Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira.
11 – Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei?
12 – Por que me receberam os joelhos? E por que os peitos, para que mamasse?
13- Porque já agora jazeria e repousa-
ria; dormiria, e, então, haveria repouso para mim,
14 – com os reis e conselheiros da terra que para si edificavam casas nos lugares assolados,
15 – ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam as suas casas de prata;
16 – ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz.
17 – Ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados.
18- Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator.
19 – Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor.
20 – Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo,
21 – que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos;
22 – que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura?
23 – Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?
24 – Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água.
25- Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu.
26 – Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.
 

OBJETIVO GERAL
Explicar que Jó era humano e como tal tinha todo o direito de extravasar seus sentimentos, não sendo recriminado por Deus por isso.
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
1 Esclarecer que a angústia de Jó fez com que ele desejasse a morte como um escape;
2 Aclarar o desejo de Jó em ser como um abortivo;
3 Pontuar que Jó representa os que, em situação desesperadora, não veem nenhuma luz no fim do túnel.
 
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
A lição desta semana esclarece que Jó desejou intensamente a morte. Ao desejá-la, o patriarca tem como objetivo dar fim ao ciclo de sofrimento que Satanás lhe impôs. Constataremos nesta lição que, apesar de ele desejar morrer, não buscou o suicídio. Nesse aspecto, a vida de Jó nos passa uma mensagem muito importante, mostrando-nos que, mesmo diante do mais terrível sofrimento, o patriarca não ousou entrar numa “jurisdição” que pertence somente a Deus. Ele, indiretamente, nos transmite a importante mensagem de que o único que pode decidir acerca do início e do fim da vida é o Deus altíssimo.
 
INTRODUÇÃO
Na lição anterior vimos de perto o drama vivido por Jó. Uma série de calamidades se abateu sobre ele de forma catastrófica. Do estado de riqueza e prosperidade, Jó passou a viver na adversidade; seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde. Entretanto, depois de sete dias, ele rompeu o silêncio com um lamento que veio do fundo da alma. Nesse lamento Jó mirou o dia de seu nascimento e, através de três perguntas, desabafou tudo o que sentia naquele momento: Por que nasci? Por que não nasci morto? Por que ainda continuo vivendo?
Nesta lição veremos a reação humana diante do sofrimento. Perceberemos que não há qualquer indício de que Satanás tivesse alcançado êxito diante de Jó. Na perspectiva do patriarca, se Deus era a causa de sua vida, deveria também ser a causa de sua morte, pois se dEle vinha o bem, também deveria vir o mal.
 
PONTO CENTRAL
O lamento de Jó revela toda sua dor como ser humano.
 
I – PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NASCI? (3.1-10)
   1. “Por que nasci?” A dor de Jó era profunda e somente a poesia podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr 20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor.
   2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento. Neste momento de dor, Jó não amaldiçoou a Deus, como Satanás previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de nunca mais lembrá-lo.
   3. Que em vez da ordem viesse o caos. Mencionamos o desejo de Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o patriarca desejou que as trevas dominassem (vv.4-7). E por quê? Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso animal marinho simbolizava o caos. O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33).
 
SÍNTESE DO TÓPICO I
O primeiro lamento de Jó revela seu desejo de esquecer o dia em que nasceu.
 
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Para introduzir esta lição apresente os três pontos que formam seu eixo estrutural, ou seja, os três lamentos de Jó: (1) Por que nasci? (2) Por que não nasci morto? (3) Por que continuo vivo?
Mostre a classe que essas três perguntas representam toda a angústia que se abateu sobre a alma de Jó por meio dos eventos que marcaram sua tragédia familiar, econômica e pessoal. Tais perguntas podem sinalizar o grau de estresse do patriarca, bem como do ser humano, diante de um grande caos. Os lamentos de Jó são a expressão da dor humana diante do sofrimento.
 
II – SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCI MORTO? (3.11-19)
   1. Descansando em paz. Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que existir naquelas condições (vv.11-13). Era a melhor maneira de não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu sofrimento.
O que Jó pedia era uma possibilidade real, pois muitos fetos nascem mortos (vv.16). Para ele a morte era uma forma de descansar em paz (vv.13-15).
   2. Livre de tribulações. O dilema de Jó aumenta à medida que o seu sofrimento ganha intensidade.  Ele continua com seu argumento da “não-existência” (vv.16-19). Ele está convencido de que se não tivesse se tornado um “ser”, nada disso estaria acontecendo. Ele desejava ter sido como um “natimorto”, um feto que nunca viu a luz (v.16). A palavra hebraica nephel, usada no versículo 16 como “natimorto”, possui o sentido de “um aborto espontâneo” e é traduzido dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto,  mas usa-o no sentido metafórico de “descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocino é claro: Para os que morreram cessaram as angústias e tribulações da vida presente.
   3. Uma realidade para o cristão. O Novo Testamento nos ensina que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeito à dor, ao luto, ao sofrimento (Fp 4.11,12). Mas, ao mesmo tempo, temos uma promessa consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp 4.13). 
 
SÍNTESE DO TÓPICO II
O segundo lamento de Jó revela o desejo de ter sido abortado.
 
SUBSÍDIO BÍBLICO-PEDAGÓGICO
“Por não haver a possibilidade de voltar atrás no tempo e cancelar os acontecimentos que levaram ao seu nascimento, Jó volta-se para a fase seguinte do seu lamento: Por que não morri eu desde a madre? (11). Muitos bebês nascem mortos; por que ele não teve a sorte de um deles? Os joelhos da parteira e os peitos (12) da sua mãe deveriam ter falhado em preservar a criança recém-nascida. Se a morte tivesse sido o seu destino logo no início, então suas maiores esperanças teriam sido alcançadas havia muito tempo – então, haveria repouso para mim (13). Entre os versículos 14 e 19 há observações acerca do fato de que todos os homens são iguais diante da morte. Os reis (14), os ricos (15), os maus (17) cessam de perturbar, e, ali, repousam os cansados. Moffat interpreta o pensamento dos lugares assolados (14) como ‘reis […] que constroem pirâmides para si mesmos’. Os presos não são mais incomodados por aqueles que os oprimiam (18) e mesmo os escravos estão livres de seu senhor (19). Em seu desespero, Jó pode apenas esperar pelo alívio que a morte poderia lhe trazer” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.34).
 
III – TERCEIRO LAMENTO DE JÓ: POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20-26)
   1. Vale a pena viver? Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz uma quarta pergunta (3.20): “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?”. As outras perguntas estão em 3.1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amel, traduzida aqui como “miserável”, é usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se tornado intolerável.
   2. Sem o favor de Deus? Jó novamente volta a indagar: “Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?” (Jó 3.23). A pergunta busca o significado do sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com Provérbios 4.18, onde é dito que “o caminho do justo é como a luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito”. Na literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como “caminho” é derek e se refere ao caminho da sabedoria de Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu para ele o caminho do sofrimento.
   3. Um caminho de sabedoria e maturidade. Muitas vezes sentimo-nos iguais a Jó, desorientados, passando por uma via dolorosa do sofrimento. E, como ele, não imaginamos nem compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o equilíbrio e a confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento.
 
SÍNTESE DO TÓPICO III
O terceiro lamento de Jó revela a desistência da vida por causa do sofrimento.
 
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Jó veio à luz; ele foi trazido à vida (20); Jó estava perdido e Deus o encobriu (23). Tudo isso ocorre contra sua vontade ou, pelo menos, sem que ele tenha alguma oportunidade de escolha. Em sua miséria ele espera a morte. A morte seria como tesouros ocultos a serem procurados ou algo de que ele poderia se alegrar sobremaneira (21-22). Mas mesmo isso é negado a Jó. Moffat interpreta a primeira parte do versículo 23: ‘Por que Deus dá à luz a um homem que está no fim de suas forças?’ A miséria de Jó se tornou tão desmedida que seus gemidos (expressão de agonia) se derramam como água (24) em uma corrente vasta e ininterrupta. A sua vida tornou-se tão difícil que tudo que ele precisa fazer é temer por mais agonia, e isso, de fato, acontece (25). O sofrimento de Jó não tinha fim. Ele não teve qualquer oportunidade para experimentar descanso, sossego e repouso. Veio sobre mim a perturbação (26) pode ser traduzido apropriadamente como: ‘A perturbação vem continuamente’” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.34).
 
CONCLUSÃO
Nesta lição vimos o dilema de Jó. Desconhecendo a razão das adversidades que se abateram sobre ele, o patriarca não negou a Deus nem o amaldiçoou. Todavia, ele expôs toda a sua humanidade, de forma que o leitor que apenas o contempla sem, contudo, participar de seu drama, tem dificuldade de entender seu lamento, principalmente, quando ele se dirige a Deus. É o lamento de um corpo ferido e de uma alma, que mesmo amando a Deus, se derrama angustiada.

 

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