Postado por Presbítero André Sanchez
Você Pergunta: Muitas vezes já ouvi a frase de que, aos olhos de Deus, todo pecado é igual. Isso me causa confusão, pois, em minha concepção, como alguém que mata pode ter cometido o mesmo erro de quem disse uma mentira? Parece óbvio que são pecados de gravidades diferentes. Será que Deus realmente os considera iguais? Essa ideia não seria injusta? Gostaria de entender isso à luz da Bíblia, se houver algum fundamento para tal ensinamento.
Cara leitora, você tem razão, essa frase é realmente muito dita. Eu mesmo já ouvi em várias igrejas e também de vários crentes e pastores. Creio que existe muita confusão a respeito dessa questão por falta de uma reflexão mais completa sobre ela.
Muitas das vezes que ouvi essa frase de que todo pecado é igual aos olhos de Deus, quem a disse estava tentando dizer, na realidade, que todos somos pecadores diante de Deus e não que Deus considera todos os pecados iguais. Mas, enfim, vamos fazer uma análise sobre o tema.
Todo pecado é igual aos olhos de Deus?
(1) Todo pecado na Bíblia é tratado como sendo um ato em desacordo com a vontade soberana de Deus. Todo pecado é considerado como um ato de ofensa a Deus e leva à morte, independentemente se é um assassinato ou uma mentira, uma ofensa verbal ou uma agressão física:
“Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tiago 1:15).
Essa morte é a morte espiritual, a distância de Deus, conforme nos ensina também Isaías 59:2. Daí a necessidade de sermos perdoados por Deus dos nossos pecados (1 João 1:9). Sob essa ótica específica podemos perceber que todos os pecados são iguais perante Deus.
(2) Porém, analisando biblicamente sob outras óticas, podemos perceber que Deus trata certos tipos de pecado como sendo sim maiores do que outros. Um exemplo muito interessante é a palavra de Jesus Cristo a Pilatos:
“Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada; por isso, quem me entregou a ti maior pecado tem” (João 19:11).
Jesus considera aqui que Pilatos, apesar de ter pecado por ter sido covarde e ter liderado um julgamento injusto, tinha um pecado menor do que o dos religiosos que conheciam a Lei de Deus e mesmo assim agiram brutalmente com Jesus por ciúmes e maldade.
(3) Em outros trechos da Bíblia percebemos que Deus trata certos tipos de pecado como sendo abominação, ou seja, algo extremamente grave para Ele. Aqui um exemplo: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação” (Levítico 18:22). Isso mostra uma diferenciação importante para alguns tipos de pecados.
(4) Deus também parece tratar com muito maior rigor o pecado daqueles que têm um conhecimento prévio daquilo que deveriam ou não fazer, permitindo que consequências mais graves os alcancem.
Moisés e Arão receberam ordens do próprio Deus para falar a uma rocha e a mesma daria água para o povo beber. Mas bateram na rocha e desobedeceram a Deus. Deus dá um castigo severo a eles por esse ato que, para nós, não parece tão grave assim, mas para Deus foi:
“Mas o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei” (Números 20:12).
(5) Até mesmo entre pecados aparentemente iguais, pode haver diferenciação de gravidade. A Bíblia cita um caso, por exemplo, de um julgamento mais ameno para uma pessoa que acaba furtando comida para saciar a própria fome: “Não é certo que se despreza o ladrão, quando furta para saciar-se, tendo fome?” (Provérbios 6:30).
De qualquer forma, o ato do furto é pecado e será punido severamente, mas alguém no desespero da fome tem seu pecado considerado mais “ameno” do que um criminoso que furta como meio de vida e, certamente, as consequências enfrentadas também serão diferentes.
(6) Assim, creio que fica claro que a Bíblia nos mostra que todos os tipos de pecados desagradam a Deus e devem ser deixados. Porém, também mostra que existe sim diferença entre pecados aos olhos de Deus, ou seja, nem todo pecado é igual aos olhos Dele.
Isso nos traz um senso de justiça equilibrada que existe em Deus, que sabe diferenciar cada ato que cometemos sob a ótica de Sua justiça soberana. Humanamente falando não sabemos exatamente como Deus administra as suas punições àqueles que o desagradam seja nos pecados mais “amenos” ou em pecados que Ele considera odiosos.
O fato é que Deus é justo, nisso podemos confiar. Vale lembrar aqui as palavras do apóstolo Paulo: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23).
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