Era uma vez um homem comum, que morava em um local comum, tinhauma vida comum mas que, um belo dia, teve um desejo um tanto incomum: subir uma grande montanha que havia em sua terra e que, diziam os antigos moradores do local, seu cume chegava até os céus.Não era um desejo fácil de se realizar, uma vez que a montanha em questãoera tão alta e imponente que causava medo na maioria das pessoas.No entanto, a despeito disso, de todas as partes do mundo vinham pessoaspara tentar escalar a montanha, para chegar em seu ponto mais alto.Os motivos para empreender tão grande aventura eram os mais variados:alguns, despertados pela cobiça, ouviram dizer que lá em cima havia umgrande tesouro que tornaria qualquer um a pessoa mais rica de toda a terra. Outros acreditavam que lá no alto encontrava-se uma árvore que poderia curaras suas enfermidades. Outros ouviram dizer que quem chegasse lá, depois das nuvens, poderia ter todos os seus desejos atendidos pelo Ser que lá habitava. Outros queriam subir apenas para se tornarem famosos. Outros, ainda, só estavam querendo fugir da rotina, participando de um clube de alpinistas.Nosso herói (vamos chamá-lo de Alpinista), no entanto, queria subir amontanha por causa de um motivo bem diferente e até estranho os olhosdos demais: ele ouviu os antigos dizerem que lá no alto havia um Ser degrande beleza, bondade e luz e que habitar em Sua Presença era a maiordádiva que um ser humano poderia obter em toda a sua existência.Foi movido pelo desejo de encontrar tal Ser que Alpinista começou os preparativos para subir a montanha, reunindo tudo o que acreditou sernecessário para realizar a empreitada.A primeira coisa que procurou adquirir foi um livro de instruções que o orientasse na subida. Como nada sabia da arte de subir montanhas vagou por vários lugares em busca de instrução até que acabou encontrando um livroque prometia ser o mais novo e moderno guia de alpinismo. Feliz da vidapelo achado Alpinista comprou imediatamente o livro, sem se importarcom o seu preço bastante elevado.Pôs-se, então, a estudar o "guia" e, depois de lê-lo, resolveu praticar o quehavia aprendido, indo para o local da montanha onde o livro orientava sero melhor lugar para se começar a subida. Chegando lá, encontrou um caminho bem espaçoso e confortável e, vendo que uma grande multidão estava seguindo por esse "caminho", resolveu também ir por eles.Afinal, era bem pouco provável que toda aquela multidão estivesse nocaminho errado, não é mesmo?Nosso Alpinista, então, empreendeu sua caminhada pelo caminho do povo, seguindo o curso da multidão. No começo era só alegria. O caminho era cheiode atrações e tinha do que havia de melhor no mundo para proporcionar aos caminhantes toda a sorte de "prazeres e delícias". No entanto, Alpinistaacabou notando que pouco progresso estava fazendo rumo ao topo damontanha e que, ao que lhe parecia, estava andando em círculos.Depois de muito tempo seguindo por este caminho, vendo pessoas caindo, ouvindo promessas que não se cumpriam, sentindo cansaço, frustração e um vazio no coração, nosso herói percebeu que todos os que estavam seguindo por essa estrada não chegavam a parte alguma, muito menos ao alto da montanha.Decepcionado e triste Alpinista retornou ao sopé da montanha, já pensandoem desistir da sua grande aventura. Realmente, ele já estava iniciando oseu caminho de volta para sua casa, para o seu passado, não crendo serpossível atingir o seu objetivo de conhecer o Ser maravilhoso que habitavano alto da montanha, quando encontrou pelo caminho um velho homem de trajes simples, com fios da cor dos céus em suas orlas, que trazia a Palavra da Verdade atada em sua mão e entre os seus olhos, e que lhe dirigiu a palavra:ANCIÃO: - Jovem, de onde vens e para onde vais?ALPINISTA: - Venho da inútil tentativa de subir essa grande montanha eestou voltando para a minha vida de antes de pensar em empreenderesta tão louca aventura!ANCIÃO: - E por que está desistindo assim tão facilmente?ALPINISTA: - Facilmente? O senhor não tem idéia de quanto tempoperdi tentando alcançar o topo desta montanha só para perceber,no final, que esta tarefa é impossível aos homens.ANCIÃO: - Ah, isto é verdade: os homens sozinhos não podem chegar aoalto da montanha e conhecer o Ser que lá habita.ALPINISTA: - Então o senhor concordar comigo de que a melhor coisaque eu tenho a fazer é deixar de lado esta aventura e voltar paraminha antiga vida?ANCIÃO: - Não, pelo contrário, eu disse que tal jornada é impossível aos homens mas, no entanto, gostaria que soubesses que o Senhor da Montanhatem um desejo muito forte que todos os homens venham a conhecê-lo e,por isso, proveu uma forma de alcançá-lO.ALPINISTA: - Mas como? Já fiz de tudo para isso! Li o que há de melhore mais moderno sobre métodos de alpinismo e não cheguei a lugar algum.ANCIÃO: - Você disse métodos novos e modernos?ALPINISTA: - Sim, foi isso que eu disse... Por que?ANCIÃO: - Porque aí está o motivo do vosso fracasso:a busca pela novidade.ALPINISTA: - Não entendi!ANCIÃO: - Eu explico. Está escrito no verdadeiro Guia do Alpinismo:...nada há de novo debaixo do sol...; e ainda: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntaipelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele...ALPINISTA: - O que isto tudo que dizer?ANCIÃO: - Que a resposta não está em "novos Guias" e sim no antigoe único Guia dado pelo Senhor da Montanha a todos que pretendemseguir pelo Caminho da Verdade.ALPINISTA: - E acaso o senhor teria um exemplar deste Guia quepudesse me conceder?ANCIÃO: - Sim, claro. Trago sempre um comigo, além do que levo emmeu coração, para oferecer a alguém que deseje escalar a montanha.Dito estas palavras o velho homem entregou ao jovem Alpinista o Guia do Alpinismo, o qual nosso herói passou a desfolhar avidamente.Querendo recuperar o tempo perdido Alpinista foi logo para o final do Livro, tentando encontrar o resumo de suas instruções. Nem bem começou a ler as palavras finais do Guia e ele ouviu a sábia orientação do velho homem:- Não vá direto para o fim do Livro, já que não é aí que ele se inicia. Leia primeiro as suas páginas iniciais, pois é lá que você vai aprender onde fica o início do caminho e como permanecer nele.Grato pela orientação do ancião Alpinista começou a ler o Guia pelo seuinício e, comparando-o atentamente com a base da montanha, nossoherói encontrou uma estreita trilha na rocha, que era desprezada por todos, devido a sua quase total ausência de beleza, como estava escrito no Livro.Notou também que, apesar deste Caminho ser todo na vertical, havia umasérie de ganchos presos na Rocha, deixados pelo Senhor da Montanha, queele poderia utilizar, se ligando a eles, como auxílio durante a subida.Tão feliz em encontrar tais ganchos, nosso herói procurou no mapa dasubida que havia no Livro se havia alguma referência a eles.Seus olhos brilharam de alegria quando viu que o Autor Livro se referiu aesses ganchos diversas vezes ao longo de Sua Instrução, chamando-os de "Conexões" (plural de "Conexão"), e que eles tinham o poder de ajudá-loa permanecer no Caminho.Alpinista, então, começou a percorrer o Caminho, confiando firmementenas Palavras do Autor do Livro, que lhe garantiam não só a certeza dechegar ao fim de sua jornada, como também o Auxílio necessário para tanto.Com agradável surpresa o Alpinista descobriu que o Senhor da Montanha requeria dele apenas que ele continuasse confiando nEle em todo o Caminho e que ele obedecesse Suas Instruções conforme estavam escritas do início ao fim do Guia, sem acrescentar ou retirar algo delas.E a confiança e a alegria de Alpinista se tornaram ainda mais forte quando eleleu no Guia que o seu Autor, o próprio Senhor da Montanha, por amor a nós, havia descido da montanha para nos ensinar a subi-la. Ao ler tal relato nosso herói creu de todo o seu coração que chegaria enfim ao fim de sua jornadapois o amor do Altíssimo iria suntentá-lo por todo o Caminho rumo ao Alto.E assim foi...
Nenhum comentário:
Postar um comentário