Introdução
Como alguém se sente quando o Senhor lhe faz promessas e, conforme o tempo passa, tudo parece ocorrer de forma contrária àquilo que Ele prometeu? Com base na história de homens como Abraão, Moisés e outros personagens bíblicos, vamos constatar que o Altíssimo permite que adversidades aconteçam porque Ele as usa para tratar-nos e conduzir-nos em sintonia com a Sua vontade.
Contradições são:
Afirmações contrárias ao que se disse; incoerências entre palavras e ações. Em nossa vida, as contradições representam as adversidades pelas quais passamos muitas vezes, e que nos amadurecem.
I. A progressiva revelação da vontade divina
Temos de orar e pedir a Deus a confirmação de sonhos, visões ou revelações e analisar se realmente procedem do Espírito Santo ou se são apenas produto da atividade do nosso inconsciente.
1.1 — Quando os sonhos e visões manifestam a vontade divina
Observemos as histórias de dois personagens bíblicos;
Os sonhos de José — O primeiro sonho de José foi com 11 feixes de trigo se curvando diante dele (Gn 37.5-7), simbolizando que os seus 11 irmãos se submeteriam a ele. O Senhor se utilizou de um elemento agrícola, o trigo, para sinalizar o que aconteceria no futuro de José.
A visão de Pedro — Em Atos 10.1-48. Pedro teve uma visão sobre os animais imundos que Deus ordenou que ele matasse e comesse, simbolizando que as orações do gentio Cornélio tinham sido aceitas. Pedro estava com fome;então, Deus usou alimentos considerados imundos pela Lei mosaica para comunicar ao discípulo que ele não poderia julgar impuro o que Deus purificou (At 10.15).
1.2— Quando a espera e a adversidade se contrapõem à revelação e à realização das promessas
Na visão de Pedro, no sonho de José, no chamado de Abraão, na convocação de Moisés para libertar os israelitas e em outras manifestações de Deus aos homens e mulheres na Bíblia, constatamos que houve períodos de adversidades e esperas às vezes longos até a concretização daquilo que o Senhor lhes havia mostrado. Eis exemplos de períodos de adversidade e espera:
• Abraão esperou 25 anos (Gn 12.1-3; 21);
• José esperou aproximadamente 13 anos (Gn 37.5-11; 41.37; 47.11);
• Moisés teve de esperar 40 anos, andando com o povo pelo deserto(Nm 14.34).
II. Esperando contra a esperança
Um dos personagens bíblicos que nos estimulam a crer em Deus e a confiar na Sua Palavra, mesmo quando tudo parece contrário, é Abraão. Paulo elogiou a atitude desse patriarca declarando que ele creu contra a esperança (Rm 4.18-22). Analisemos aqui a sua história.
2.1 — Recebendo as promessas grandiosas
Podemos observar algumas contradições na história de Abraão em relação ao cumprimento das promessas de Deus na sua vida. Vejamos:
As promessas do Senhor a Abraão (Gn 12.1-3) — A posse de uma nova terra; inúmeros descendentes — naturais e espirituais — que se tornariam uma nação forte no mundo; honra proteção e outras bênçãos sem medida, que fariam de Abraão um homem famoso e usado por Deus para abençoar outras pessoas; e as benesses estendidas a todas as famílias da terra.
Espera e contradições na vida de Abraão — Abraão e Sara nunca tinham gerado filho. Aliás, isso era impossível para o casal, tendo em vista que Sara era estéril e eles tinham idade avançada quando o Senhor se manifestou.
O cumprimento das promessas de Deus na vida de Abraão — OSenhor visitou Sara e ela concebeu um filho, a quem pôs o nome de Isaque (Gn 21.1-8).
Para refletir
Abraão tinha 75 anos, e Sara 65, quando o Senhor lhes fez a promessa de um filho (Gn 12.7). Mas essa promessa não se baseava no potencialdo homem, e sim no poder divino de tornar possível o que era impossível.
2.2 — O desânimo ante a demora e as dificuldades
Em alguns momentos, Abraão se sentiu desanimado, pois o tempo passava e não havia sinal do filho que Deus lhe prometera. O patriarca chegou a questionar se ele havia entendido corretamente a promessa (Gn 15.2-6). Quando Abraão começou a olhar para as circunstâncias e a desanimar,
Deus o convidou a sair da tenda (Gn 15.5).
2.3 — O perigo de dar uma ajudinha a Deus
Observe a atitude de Sara ante sua impossibilidade de gerar um filho de Abraão (Gn 16.2,4a). Sendo ela estéril e com idade avançada, decidiu abrir mão do que lhe era mais caro, permitindo que Abraão gerasse um filho na escrava egípcia.
Para refletir
A culpa não foi só de Sara. Abraão também não pensou duas vezes antes de aceitar a proposta para gerar um filho na escrava. Mesmo sendo considerado o pai da fé, houve um momento em que Abraão se deixou dominar pela incredulidade e agiu influenciado pelas circunstâncias, esquecendo-se de que seria o Senhor que, no tempo certo, cumpriria
Sua promessa.
2.4 — A vontade de Deus sempre prevalece
A vontade de Deus sempre se manifestará em meio às contradições da vida,porque essa é a forma de Ele evidenciar que todas as coisas lhe são sujeitas(1 Co 15.27). Deus permitiu o tempo passar e o ciclo menstrual de Sara cessar (Gn 18.11), e só então, depois de 25 anos, cumpriu a Sua promessa na vida de Abraão (Gn 21.2).
III. Sonhando com o palácio, esquecido na prisão
Analisemos agora a história de José, narrada nos capítulos 37 a 50 de Gênesis, e observemos as promessas e as contradições na vida de mais este personagem bíblico.
As promessas do Senhor a José (Gn 37.5-9) — Quando ele tinha 17anos de idade, Deus lhe revelou Seu propósito para a vida dele em dois sonhos, os quais ele compartilhou com os seus pais e irmãos.
Espera e contradições na vida de José — Por inveja, os seus irmãos o lançaram em uma cisterna e venderam-no como escravo a uma caravana de ismaelitas. José foi parar no Egito, na casa de Potifar, sendo ali infamado pela mulher desse oficial e lançado na prisão.
O cumprimento das promessas de Deus na vida de José — Só depois de mais ou menos 13 anos de luta, o Senhor interveio, elevando-o à posição de vice-governador do Egito. Passados sete anos, seus irmãos e seu pai inclinaram-se diante dele e dependeram dele para o sustento de suas famílias.
3.1 — O propósito da ascensão de José
José enfrentou momentos de rejeição no seio de sua família. Foi traído e vendido como escravo por quem amava, sofreu injustiça na casa de Potifar,e solidão e esquecimento no calabouço. Deus permitiu esses infortúnios na vida de José para fazer dele um canal de bênção não apenas para seus familiares, mas para todos os que dependeriam da administração dele (Gn45.3-11).
IV. Transpondo o intransponível
Moisés foi outro a quem Deus se revelou, e que enfrentou muitas lutas, até a vontade soberana do Senhor ser manifestada nele.
As promessas do Senhor a Moisés (Êx 3.6-10) — Moisés foi convocado por Deus para ir até Faraó e ordenar a este que liberasse os israelitas. Ele teria de confiar totalmente em Deus para ver cumprida a promessa de Iibertação de seu povo.
Espera e contradições na vida de Moisés — Ele e Arão compareceram à presença de Faraó e transmitiram-lhe as palavras de Deus (Ëx 5.1), mas o monarca egípcio contraditou a ordem divina (Êx 5.2) e ainda mandou aumentar a carga de trabalho sobre os hebreus (Ëx 5.6-21).
Alinhando-se à vontade divina — Deus suscitou pragas que destruíram todo o sistema econômico e religioso, e feriram o orgulho e a idolatria egípcia (Éx 3.20), a fim de dar a Faraó a oportunidade de rever sua decisão de manter Israel cativo. Assim foi, até que, após a morte dos primogênitos, o rei acabou ordenando a saída dos israelitas (Êx12.31-34).
V. Por que tanta espera e adversidade?
Ao analisarmos os exemplos até aqui discutidos, concluímos que as contradições da vida ocorrem:
5.1 — Porque não entendemos os caminhos do Senhor
A Bíblia diz que os Seus caminhos são mais altos do que os nossos caminhos (Is 55.8,9), e os Seus juízos insondáveis (Rm 11.33-36).
5.2 — Porque são para o nosso próprio bem
O Senhor tem pensamentos de paz e não de mal, para nos dar o fim que esperamos (Jr 29.). Além disso, o Pai não nos dará serpentes em vez de peixes (Mt 7 1-11).
5.3 — Porque o tempo do homem é diferente do tempo de Deus
Muitas pessoas enxergam as promessas de Deus à luz do chronos, e não do kairos. Isso porque, para o homem, 20 anos é muito tempo, mas, para Deus, mil anos são como um dia (2 Pe 3.8).
Subsídio teológico
Os gregos antigos tinham duas palavras para se referir ao tempo: chronos e kairos. Enquanto chronos referia-se ao tempo cronológico, ou sequencial, o qual pode ser medido, kairos referia-se a um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece; em Teologia, é o tempo de Deus.
5.4 — Porque fazemos parte de um plano maior
Deus permite que o homem escreva a sua história. No entanto,
Ele escreve uma história maior, cósmica, universal, que culminará com a implementação do Seu Reino. Nós devemos buscar primeiro o Reino de Deus (Mt 6.33),
E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino (Lucas 11.2).
5.5 — Para que a derrota do inimigo seja fragorosa, e o nome do Altíssimo seja glorificado
O Senhor enviou muitas pragas contra o Egito, a fim de abater a altivez de Faraó, ridicularizar os deuses adorados por aquela nação (Êx 3.20) e ter o Seu nome glorificado (Êx 14.31).
VI. Perseverando em meio à oposição
Se os seus sonhos ainda não se realizaram, não desista de lutar. Tão somente faça o seguinte:
6.1 — Clame àquele que se compadece de nós
Faça como o cego de Jericó, que não pensou duas vezes e começou a clamar por misericórdia (Lc 18.35-43).
6.2 — Creia e busque o milagre
Faça como a mulher Cananéia que saiu a gritar atrás do Senhor e a rogar pela cura de sua filha (Mt 15.22-28).
6.3 — Faça como Jairo; creia somente
Ele foi ao encontro de Jesus para rogar pela cura de sua filha, e Jesus disse: Não temas, crê somente (Mc 5.36b).
Conclusão
Não sei qual é o problema e a luta, quais são as oposições e contradições que você está enfrentando em seu dia a dia, mas creia que o Senhor se compadece de você e julgará a sua causa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário