23 janeiro 2022

A mulher samaritana: A diferença que a água da vida faz


Texto João 4.1-15.
O evangelista João apresenta uma história ocorrida no ministério de Jesus, quando Ele passa por Samaria. Naquela terra desprezada pelos judeus, Jesus se dirige à localidade onde havia um poço, e quebrando um protocolo, fala com uma mulher samaritana. O impacto da palavra do Senhor foi tão grande que o testemunho daquela mulher alcançou a localidade em que vivia, a ponto de o Senhor dizer aos seus discípulos: “Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (Jo 4.35).
A samaritana, numa conversa com Jesus, teve a sede da sua alma saciada pelo Mestre.

I. NO CAMINHO PARA A GALILEIA

1. Uma rota necessária para Jesus. Ao narrar a história da mulher samaritana, João descreve que o encontro dela com Jesus se deu em território samaritano. Jesus retirou-se da Judeia em direção à região dos galileus, e precisava passar por Samaria. O povoado por onde Jesus passou, Sicar, era o local que Jacó dera a José, no qual tinha um poço, e esse servia de abastecimento de água para pessoas e animais naquela região.

Jesus deixou a Judeia e se dirigiu para a região da Galileia, um ambiente repleto de influência gentia, e nesse caminho, passou por Samaria. É possível que houvesse outras rotas para que o Senhor fosse para a Galileia, mas João registra que “era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4.4). Havia uma grande obra aguardando Jesus na região dos gentios, mas antes de chegar lá, Samaria precisava ser visitada. Uma cidade dentro do território dos desprezados samaritanos receberia a visita do Eterno. Se na Judeia Jesus seria objeto de curiosidade, em Samaria a sua chegada traria alegria não apenas para uma mulher, mas para muitos samaritanos.

2. Uma mulher trabalhadora. A samaritana não era uma pessoa preguiçosa. É dito por João que o encontro de Jesus com a samaritana deu-se quase à hora sexta, perto do meio-dia (Jo 4.6). Esse não é necessariamente o melhor horário para se buscar água. Experimente andar nesse horário com um cântaro de barro vazio sobre seus ombros, e voltar para casa com esse cântaro cheio.

A samaritana não foi ao poço saber da vida das pessoas de sua aldeia; e foi trabalhando que a encontrou a salvação de sua alma na pessoa de Jesus.

3. Uma mulher ciente dos costumes de sua época. Ao receber de Jesus o pedido de um pouco de água, a mulher fez o primeiro questionamento: Como um judeu vinha pedir água a uma mulher, e samaritana? Sua pergunta mostra que em sua mente, a desunião entre judeus e samaritanos não poderia ser esquecida. Séculos de contendas entre esses povos estavam vivos nos corações de cada um deles. Samaritanos eram vistos pelos judeus como pessoas impuras, misturadas. Samaria também era vista como um ambiente onde se havia praticado a idolatria; foi em Samaria que o rei Acabe instalou um templo a Baal (1Rs 16.32). Vale lembrar da conversa de Jesus com um doutor da Lei, que desejava saber quem era o seu próximo, ao que o Eterno contou uma parábola onde um samaritano misericordioso era o personagem que se destacava, socorrendo um homem que vinha de Jerusalém. Ao fim da parábola. Jesus pergunta quem agiu de misericórdia, e o homem questionado sequer pronuncia que foi o samaritano. Ele diz somente: “o que usou de misericórdia” (Lc 10.37).


II. A ÁGUA PARA A VIDA ETERNA

1. “Onde, pois, tens água viva?”. A segunda pergunta da Samaritana é uma resposta à declaração de Jesus: “Se tu conheceras o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (Jo 4.10). Jesus vai evangelizando a Samaritana à medida que ela vai lhe fazendo perguntas. De forma paciente, Jesus vai respondendo os questionamentos diversos dela.

Uma fonte de águas vivas só pode ser usufruída por alguém que tenha acesso a ela. Jesus não tinha um balde com corda para tirar água do poço de Jacó. Como iria oferecer água viva? A mulher olhou para Jesus e viu nele um judeu ao lado de um poço, sem os instrumentos necessários para se prover de água. Jesus, por sua vez, ofereceu a ela uma água que saciaria a sua alma por toda a vida.

2. “És maior que o nosso pai Jacó?”. A pergunta da mulher mostra que ela tinha uma referência histórica: Jacó era considerado o ascendente dos que moravam naquela região. Ele tinha recebido a primogenitura enganando o pai, Isaque, que estava velho e cego, e ainda colocou Deus na história. Quando questionado porque havia retornado tão rápido da caça, se fazendo passar por Esaú, disse que “[…] o SENHOR, teu Deus, a mandou ao meu encontro” (Gn 27.20). Jacó, após anos, viu o que era enganar e ser enganado.

Para a mulher Samaritana, a grandiosidade de Jacó era inegável, e seu ponto de referência é redirecionado por Jesus, quando Ele diz que quem bebesse da água daquele poço teria sede novamente. Jesus não deturpou a imagem de Jacó, mas retornou à conversa no ponto principal: A sede que só pode ser saciada nELe. Jacó deu a eles um poço. Jesus lhes oferecia a possibilidade de terem, neles mesmos, fontes de água viva, limpa e inesgotável.

3. Não tenho marido. É impressionante como Jesus se preocupa não apenas com a vida espiritual daquela mulher, mas também com a sua vida afetiva. No desenvolver daquele diálogo, o Mestre diz à mulher que chame o seu marido, e a resposta dela é que não tinha um. Jesus aproveita e comenta que ela havia dito a verdade, pois tinha um relacionamento com um homem possivelmente casado com outra mulher.

Como um judeu, estranho naquela aldeia, poderia saber que a mulher havia passado por cinco casamentos, e que o relacionamento que tinha naquele momento não se enquadrava dentro da orientação de Deus, o casamento?

Essa parte da história nos mostra que a Samaritana buscou várias vezes ser aceita e amada, mas que em todas essas buscas, houve rupturas. Somente em Deus ela seria uma mulher completa. O Evangelho de Cristo não se propõe apenas a salvar a pessoa de seus pecados, mas também de completar o que está faltando. Jesus não condenou a mulher na sua busca pelo amor conjugal, mas deixou claro que aquele relacionamento não trazia para ela o reconhecimento devido e esperado.


III. ESTE É VERDADEIRAMENTE O CRISTO

1. “Vejo que és profeta”. Jesus recebe da mulher uma declaração impressionante: A de que Ele era um profeta. Em Israel, várias declarações foram dadas sobre Jesus, como a que Ele era samaritano e tinha demônio (Jo 8.48); que Ele expulsava demônios por Belzebu (Mt 12.24), e que Ele era comilão e beberrão, e amigo de pecadores (Mt 11.19). Eram declarações vindas de pessoas que estavam vendo milagres, e ainda assim, rejeitavam o Filho de Deus. A samaritana, por sua vez, foi reconhecendo que aquele jovem judeu tinha o que os profetas do Antigo Testamento tinham: A capacidade de saber de certas informações, pelo Espírito de Deus.

Na prática, o que nossas palavras e nossas atitudes dizem acerca de Jesus? Que percepção temos quando ouvimos sua Palavra, vemos seus milagres em nossos dias?

2. Em Espírito e em verdade. Uma das palavras manifestas por Jesus, que causam mais impacto, é a sua referência à adoração ao Deus Eterno. A Samaritana, de acordo com o pensamento de sua época, havia vinculado sua adoração a um local de culto.

O Monte Gerizim contrastava com Jerusalém no quesito adoração para judeus e samaritanos. Jesus diz que a salvação vem dos judeus, e a seguir, mostra que Deus procura adoradores, e não, necessariamente, adoração (Jo 4.23). Adoração existia, mas geralmente era mecânica, baseada em rituais. O próprio Jesus, em outra ocasião, mencionou o profeta Isaías: “[…] Pois que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim […]” (Is 29.13). O ritual de adoração era respeitado, mas o viver de acordo com a vontade de Deus havia sido substituído pelo afastamento para com o Senhor. O culto havia se transformado numa forma de manifestar uma tradição cultural passada de pai para filho. O mesmo pode ocorrer em nossos dias. É possível para algumas pessoas cultuar no santuário, e fora dele, ter uma vida que não corresponda aos momentos de adoração no templo.

Jesus não disse que a adoração não poderia ter uma ordem. A liturgia faz parte do nosso culto, onde ordenamos os momentos das nossas atitudes de louvor, do ato de ofertar, do momento de ouvir a Palavra, e isso é correto. O que Jesus deixou patente é que o nosso culto a Deus deve ser entregue por inteiro, em espírito, numa adoração feita com sinceridade; e em verdade, sem máscaras.

3. Vinde e vede. A conversa que aquela mulher teve com Jesus a impulsionou a levar as Boas Novas aos demais samaritanos daquela localidade. Nenhum momento que passamos com Jesus é sem importância. Os samaritanos de Sicar foram falar com Jesus, e ao fim do encontro, pediram que Ele ficasse em Samaria. O Mestre ficou ali dois dias, e foi reconhecido como “[…] verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo” (Jo 4.42). Os samaritanos. que eram desprezados pelos judeus, viram em Jesus a salvação de Deus, ao passo que em seu ministério, o Salvador diversas vezes foi rechaçado pelos judeus. Como disse João, “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo 1.11). Os samaritanos ali foram feitos filhos de Deus, pois creram no Senhor Jesus. Aqueles que creem em Jesus como Filho de Deus recebem um poder que nenhum ser humano possui: o de serem feitos filhos de Deus (Jo 1.12). Tal poder de transformação só pode ser dado por Deus para aqueles que creem.

Os samaritanos viram e creram no que Jesus disse. João não registra milagres ocorridos entre aqueles samaritanos, nem qualquer outro sinal que não fosse as palavras de Jesus. Eles creram no que ouviram, ao passo que dentro de Israel, locais como Betsaida, Corazim e Cafarnaum, que presenciaram sinais feitos por Jesus, permaneceram incrédulos. Quanta diferença faz a incredulidade, como também faz diferença o estar aberto a ouvir a Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

O encontro de Jesus com a mulher samaritana nos mostra que é possível trazer para Deus uma adoração sincera e verdadeiramente espiritual. Mostra que para Deus, não importa o sexo da pessoa, sua condição social ou seu estado civil, pois Deus ama a todos, e deseja que sejam alcançados pelo Evangelho. Revela também que o testemunho de uma pessoa pode transformar uma localidade inteira e que a fé naquilo que Jesus diz é suficiente para que pessoas sejam alcançadas e transformadas pelo poder de Deus.

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