As ações são o testemunho daquilo que somos e do que cremos. É comum tentar justificar as atitudes egoístas e grosseiras como um acidente, alguma coisa que acontece quando perdemos o controle. No entanto, sabemos que os gestos falam de forma muito mais eloqüente do que as palavras. Os gestos de alguns revelam seus sonhos de vingança, sua mesquinhez, ciúmes, invejas e imoralidade. Já os de outros revelam sua grandeza humana, espírito abnegado, amor puro, relações altruístas.
O amor de Deus sempre foi declarado por palavras poderosas e convincentes através dos seus profetas, mas nada foi tão convincente e mais poderoso para demonstrar o amor de Deus do que a cruz de Jesus Cristo.
O caminho que Deus escolheu para revelar-se a nós foi a encarnação, ao fazer-se homem e habitar entre nós mostrando a glória e a verdade. A vida encarnada de Jesus foi a expressão perfeita do Senhor entre nós. "Quem vê a mim, vê o Pai" – foi assim que Jesus nos revelou Deus.
Existem quatro verbos no ministério de Jesus que demonstram de forma clara a natureza do seu amor. São eles: TOMAR, ABENÇOAR, PARTIR E DAR. Eles aparecem em algumas situações na vida de Jesus. Além da ceia, encontramos estes verbos, por exemplo, na multiplicação dos pães e peixes. "E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a relva, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou. Depois, tendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões. Todos comeram e se fartaram" (Mt. 14.19 e 20).
Esses verbos descrevem uma ação que tem um potencial enorme na criação da comunidade e na transformação das pessoas. Ele primeiro toma aquilo que tem disponível. Sabemos que os cinco pães e os dois peixes eram insuficientes para alimentar uma multidão de milhares de pessoas; poderiam, talvez, dependendo do tamanho dos peixes e dos pães, até alimentar uma família, mas não milhares de pessoas famintas. Contudo, era o que se tinha à mão e ele os toma.
Depois de tomar aquele alimento, Cristo ora e o abençoa; agradece pelo que tem e invoca sobre pães e peixes a bênção de Deus. O ato de abençoar implica num ato de enviar. Ao abençoar, abrimos mão do que temos, sejam pães, peixes, filhos ou qualquer bem. Ao abençoar, eles passam a pertencer a Deus para serem usados por ele. Ao dizer para Abraão: "Sê tu uma benção", o Senhor o envia - e tal bênção não era o que Abraão iria fazer, mas o que ele mesmo era, sua vida e seus atos.
Depois de tomar, abençoar e agradecer, Jesus parte o pão, deixando claro que sua intenção era dividir. Imagino que Jesus foi o último a se servir. Este gesto, Jesus repete na última ceia, quando toma o pão, ora, abençoa e o reparte, dizendo: "Este é o meu corpo partido por amor de vocês". Jesus se deu a nós; fez-se comida para alimentar de uma vez por todas nossa fome. Na multiplicação dos pães e peixes, ele faz um prenúncio da ceia, tomando, abençoando, partindo e dando.
Por fim, ele oferece alimento à multidão. Doa. A vida cristã é este permanente ato de doação. Quanto mais guardamos, acumulamos, menos livres nos tornamos. Somos prisioneiros dos pães e peixes que guardamos para nós. Mais bem aventurado é dar do que receber porque, ao dar, tornamo-nos mais semelhantes ao nosso Senhor. Estes gestos de tomar, abençoar, partir e dar testemunham as ações de Jesus.
Na cultura religiosa dos nossos dias, estes verbos não são mais conjugados ou, quando o são, não têm o mesmo poder. Somos crianças mimadas, sempre insatisfeitas, querendo cada vez mais, acumulando o máximo possível para então ir à frente de alguma igreja e testemunhar a prosperidade. Veja a que ponto chegamos. Jesus não fez assim – "Ele, embora sendo rico, se fez pobre por amor de nós", "esvaziou-se a si mesmo" por amor a nós. Somos abençoados por estes verbos que Cristo continua conjugando. Quando ele nos viu em nossa miséria e pecado, tomou-se a si e, em oferta agradável a Deus, doou-se a nós para que fôssemos libertos de nós mesmos.
Ricardo Barbosa de Souza
Por Litrazini
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