Outro dia, enquanto caminhava junto ao rio, minha filha contou-me um segredo: me disse que, há poucos dias, enquanto passeava perto do rio, se sentou na margem... Era de noite. Ela parou, virou-se por alguns momentos de costas para o mundo, um mundo que continuava como sempre, apressado e barulhento, e ficou olhando fixamente para o rio. Me confidenciou, então, que ficou maravilhada quando começou a ver peixes saltarem fora da água. Saíam da água, e voltavam a mergulhar mesmo diante dos seus olhos. Como minha filha me disse que era noite, imagino que, com a luz da Lua e a luz da cidade, os peixes ganhariam uma cor prata que os fariam parecer pequenas estrelas cadentes saltando da água, e voltando para ela. Mas isso agora não interessa. O que interessa é que eu gostei que minha filha me tenha contado este seu segredo, porque percebi nele uma coisa muito importante. É sempre assim: quando paramos de verdade, acontecem maravilhas diante dos nossos olhos. Quem para, vê. E ver é descobrir, ver é saborear, encontrar e ser encontrado. Ver para ser. Sim, é isto que é importante. Parar para ver. Ver para ser. Ver com o coração, porque os olhos têm sempre horizontes curtos. É preciso parar mais vezes, sabe... Parece que passamos dias e semanas inteiras deixando a vida passar de lado. Se bobear, são mais os dias que nos vivem do que os dias que nós vivemos. Se aprendêssemos a parar, se aprendêssemos a virar as costas ao mundo de vez em quando, ía-mos nos sentir maravilhados com tantos peixes saltando como estrelas cadentes. E muito mais do que isso, infinitamente mais do que isso. Porque as principais maravilhas que podemos saborear na vida nunca se dão bem com os corações apressados. E que tal se parássemos agora? Viremos as costas ao mundo por momentos. Porque o amamos – sim, porque o amamos é que lhe viramos as costas para o conhecermos de verdade. Para pararmos, para vermos, para sermos. Para que quando voltemos a olhar o mundo de frente, o nosso olhar esteja renovado e renovador, o nosso rosto esteja recriado e recriador. Para que quando voltemos a olhar o mundo de frente, o nosso olhar o possa tornar diferente. |
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