Quase todos acreditam que há um Deus e, ocasionalmente, se dirigem a Ele de forma espontânea e casual. Porém, o ato de orar é totalmente diferente disso. Imagine-se jantando na companhia de alguém que você gosta muito. O jantar acontece num restaurante fino e toda a atmosfera do local foi arranjada para criar privacidade. As luzes foram cuidadosamente direcionadas para que somente sua mesa ficasse iluminada, enquanto o resto do ambiente permanece na penumbra. Há momentos de falar e escutar. Há outros de completo silêncio, cheio de significado. De vez em quando o garçom se aproxima da sua mesa. Você lhe faz perguntas e faz o pedido. Agradece o serviço atencioso e deixa a gorjeta. Você sai do restaurante em companhia da pessoa com quem jantou, porém a conversa na rua é menos pessoal e mais informal.
Essa figura ilustra a oração. A pessoa com a qual passamos algum tempo em intimidade, numa conversa pessoal e profunda é Deus. Algumas vezes temos o mundo a nos rodear, mas ele fica na penumbra, na periferia de nossos sentidos. A oração nunca ocorre na mais completa e absoluta solidão, mas na intimidade protegida com cuidado e mantida com zelo. A oração procede do desejo de ouvir a Deus, de falar com Ele diretamente. Esse sentimento origina-se na convicção de que o Deus vivo é imensamente importante para mim, de modo que o que acontece entre nós exige atenção exclusiva.
Porém, há arremedo de oração em que todos nós nos envolvemos com freqüência. Os detalhes são os mesmos, mas com duas diferenças: a pessoa sentada à mesa é seu ego e o garçom é Deus. Esse Deus-garçom é essencial, contudo periférico. Você não pode jantar sem que Ele o sirva, mas Ele não é o participante íntimo do evento. Ele é alguém para quem você dá ordens. Faz suas reclamações e, talvez, no final diga obrigado. A pessoa que lhe absorve é o Eu – suas idéias, seus sentimentos, seus interesses e suas satisfações ou a falta delas. Quando você deixa o restaurante, imediatamente se esquece do garçom que o serviu até encontrá-lo no próximo jantar. Se for um restaurante aonde você vai com certa assiduidade, talvez se lembre do Seu nome.
Os moinhos da ação divina giram morosamente, enquanto os motores das nossas vidas giram freneticamente. Nosso tempo compulsivo colide com o tempo da providência divina. Queremos ditar-Lhe não somente o que fazer, mas quando fazer. Nós o levamos a sério, mas o problema é que nos levamos ainda mais a sério, dizendo-Lhe exatamente o que deve fazer e quando. Nosso maior problema não é a falta de fé, é a falta de paciência e confiança na sabedoria de Deus. Reflitamos sobre isso.
Eugene Peterson, em "ÃNIMO!"
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