Nossa cultura tornou a palavra graça impossível de compreender. Repercutimos frases de efeito como:
“Nesta vida nada é de graça”.
“Cada um acaba ganhando o que merece”.
“Quer dinheiro? Vá trabalhar”.
“Quer amor? Faça por merecer”.
“Quer misericórdia? Mostre que é digno dela”.
“Faça aos outros antes que lhe façam”.
À medida que ouço sermões e ditados com ênfase definida no esforço pessoal — toma lá, dá cá — fico com a impressão que uma espiritualidade “faça-você-mesmo” é a nova onda do mundo moderno.
Embora as Escrituras insistam que é de Deus a iniciativa na obra da salvação — que pela graça somos salvos, que é o Formidável Amante quem toma a iniciativa — freqüentemente nossa espiritualidade começa no eu, não em Deus.A responsabilidade pessoal ubstituiu a resposta pessoal. Falamos sobre adquirir a virtude como se ela fosse uma habilidade que pudesse ser desenvolvida, como uma bela caligrafia ou um bom gingado numa tacada de golfe.
Embora algum elogio nominal seja dirigido ao evangelho da graça, muitos vivem como se fossem apenas a sua disciplina pessoal e sua autonegação que deverão moldar o perfeito eu. A ênfase é no que eu estou fazendo em vez de no que Deus está fazendo. Nesse processo curioso, Deus é um espectador velhinho e benigno que está ali para torcer quando compareço para minha meditação matinal. Nossos olhos não estão fitos em Deus. Cremos que somos capazes de nos erguermos do chão puxando nossos próprios cadarços — que somos, de fato, capazes de fazê-lo sozinhos.
Mais cedo ou mais tarde somos confrontados com a dolorosa verdade da nossa inadequação e da nossa insuficiência. Nossa segurança é esmagada e nossos cadarços, cortados. Uma vez que o fervor passa, a fraqueza e a infidelidade aparecem. Descobrimos nossa incapacidade de acrescentar uma polegada que seja a nossa estatura espiritual.
Nosso afã de impressionar a Deus, nossa luta pelos méritos de estrelas douradas, nossa afobação por tentar consertar a nós mesmos ao mesmo tempo em que escondemos nossa mesquinharia e chafurdamos na culpa são repugnantes para Deus e uma negação aberta do evangelho da graça.
Fyodor Dostoievski capturou o choque e o escândalo do evangelho da graça quando escreveu: “No último julgamento Cristo nos dirá: `Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!’ E dir-nos-á: “Seres vis, vinde porém da mesma forma, vós também!’ E os sábios e prudentes dirão: `Senhor, por que os acolhes?’ E ele dirá: `Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno’. E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!”.
“Justificação pela graça mediante a fé” é a frase erudita dos teólogos para o que Chesterton chamou certa vez de “amor selvagem de Deus”. Ele não é instável, nem caprichoso. Deus tem um único posicionamento inflexível com relação a nós: Ele nos ama. Ele é o único Deus jamais conhecido pelo homem que ama os pecadores. Falsos deuses — criados pelos homens — desprezam os pecadores, mas o Pai de Jesus ama a todos, não importa o que façam. Seitas e pseudo-religiões não conseguem conceber o sentido da graça. Para os que crêem na reencarnção da alma humana, por exemplo, o significado da morte de Cristo e, consequentemente, a graça do Pai, são questões completamente inconciliáveis com suas doutrinas. Eu os pergunto: Para que reencarnações e carmas se Jesus pagou TODOS oa nossos pecados na cruz? A graça é um absurdo para eles!
Falsos deuses. aqueles criados pelos homens, desprezam os pecadores, mas o Pai de Jesus ama a todos, não importa o que façam, basta o arrependimento
Brennan Manning, em “O EVANGELHO MALTRAPILHO”