05 julho 2011

Lição de felicidade



 

Lição de felicidade



Foi num dia desses. Eram dois irmãos vindos da favela. Um deles
deveria ter cinco anos e o outro dez. Pés descalços, braços nus.
Batiam de porta em porta, pedindo comida. Estavam famintos.

Mas as portas não se abriam. A indiferença lhes atirava ao rosto
expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de
ninguém se misturavam.

Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse: Vou
ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos.

E voltou com uma caixinha de leite. Que alegria!

Os garotos se sentaram na calçada. O menor disse para o irmão:
Você é mais velho, tome primeiro…

Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a
ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus
dentes brancos.

O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. Mas,
apertou fortemente os lábios para que nenhuma gota do leite
penetrasse. Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: Agora é a
sua vez. Só um pouco, recomendou.

O pequeno deu um grande gole e exclamou: Como está gostoso.

Agora eu, disse o mais velho. Tornou a levar a caixinha, já meio
vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada.

Agora você. Agora eu. Agora você.

Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo
encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo. Sozinho.

Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. O menino maior
começou a cantar e a jogar futebol com a caixinha. Estava radiante,
todo felicidade. De estômago vazio. De coração transbordando de
alegria.

Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas
grandiosas sem dar importância.

Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos
olhos se encheram de lágrimas.

Que lição de felicidade! Que demonstração de altruísmo! O maior,
em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz
aquele que dá do que aquele que recebe.

Este é o segredo do amor. Sacrificar-se a criatura com tal
naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer
pelo que está recebendo.

Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em
nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados.

Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito.

O óbolo da viúva.

Amai-vos uns aos outros…

* * *

Coloca, nas janelas da tua alma, o amor, a bondade, a compaixão, a
ternura para que alcances a felicidade.

Amando, ampliarás o círculo dos teus afetos e serás, para os teus
amigos, uma bênção.

Faze o bem, sempre que possas. E, se a ocasião não aparecer, cria a
oportunidade de servir. Deste modo, a felicidade estará esperando por
ti.

… com base em história de autoria ignorada.

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