OS DOIS PRINCÍPIOS
Por: Humberto Xavier Rodrigues
E o Senhor visitou a Sara, como tinha dito; e fez o Senhor a Sara como tinha prometido. Gênesis 21:1.
Aqui vemos o cumprimento da promessa feita a Abraão – o bendito fruto daquele que espera em Deus. Abençoá-la-ei e dela te darei um filho; sim, e a abençoarei, e ela se tornará nações; reis de povos procederão dela. Gênesis 17:16.Ninguém jamais esperou em vão. Aquele que espera no Senhor nunca será envergonhado, mas pela fé, tem uma realidade estável que jamais lhe faltará. Assim aconteceu com Abraão; assim será com todos os que podem, em alguma medida, confiar no Deus vivo.
Que segurança é termos o Próprio Deus como a nossa parte e lugar de descanso, no meio das sombras deste mundo, no qual estamos de passagem! Que segurança é termos a palavra e o juramento de Deus, as duas coisas imutáveis, para nos apoiarmos, para conforto e tranqüilidade de nossas almas! Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente para com ele. II Crônicas 16:9a .
Quando a promessa de Deus se apresentou perante a alma de Abraão, ele não podia compreender a futilidade dos seus esforços para alcançar essa realização. Ismael não servia, de modo nenhum, tanto quanto dizia respeito à promessa de Deus. A “natureza” nunca poderá fazer alguma coisa para Deus. O Senhor tem de “visitar”, o Senhor tem de “fazer”, e a fé deve esperar.
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado. Gênesis 21:2. Existe um ponto no tempo, um momento significativamente único - “o tempo determinado” por Deus, o Seu “tempo próprio”, e por ele os crentes devem pacientemente esperar. Pode parecer um tempo longo, e a demora no cumprimento da promessa pode tornar o coração fatigado. Mas, aqueles que pacientemente esperam no Senhor acharão sempre o seu descanso, na certeza de que tudo concorre para a manifestação da glória de Deus:Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará. Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá. Habacuque 2:3-4.
Que esperança maravilhosa! Fé que nos traz no presente todo o poder do futuro de Deus, e que alimenta-se da promessa de Deus, como uma realidade presente. Por Seu poder, a alma permanece em Deus, quando tudo parece ser contra ela; e, “no tempo determinado” a boca é cheia de riso. E era Abraão da idade de cem anos, quando lhe nasceu Isaque seu filho. Gênesis 21:5. Assim, a natureza nada teve do que se gloriar. O infortúnio do homem foi a oportunidade de Deus se manifestar em glória.
E disse Sara: Deus me tem feito riso; todo aquele que o ouvir se rirá comigo. Gênesis 21:6. Ao mesmo tempo em que o nascimento de Isaque enchia Sara de riso, introduzia um elemento inteiramente novo na casa de Abraão, o filho da promessa, o filho da livre. Na verdade, Isaque provou - como um tipo - ser para a família de Abraão aquilo que a nova natureza é para os filhos de Deus – filhos livres.
Não se tratava de Ismael modificado, mas de Isaque nascido. O filho da escrava nunca podia ser mais do que um escravo. Podia vir a ser uma grande nação, podia habitar no deserto e tornar-se um caçador, mas era sempre o filho da escrava. Por outro lado, por mais fraco e desprezado que Isaque fosse, ele era o filho livre. A sua posição e o seu caráter, a sua situação e perspectiva, eram do Senhor. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. João 3:6.
Portanto, a regeneração não é a mudança da velha natureza, mas a introdução de uma nova. É a implantação da nova natureza ou, a vida do último Adão, pela operação do Espírito Santo, com fundamento na redenção consumada por Cristo, em perfeito e completo cumprimento da vontade soberana de Deus.
A velha natureza em seu caráter essencial não pode ser melhorada, ao contrário, ela continua a mesma em sua essência. Assim é que, a “evolução” da velha natureza se manifesta apenas no crescimento progressivo de suas práticas pecaminosas.Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. Marcos 7:21-23.
Conforme o texto acima, vemos que há uma fonte que faz jorrar os pecados: “coração” - uma espécie de “multiplicação da iniqüidade”. Tem-se uma só fonte e uma multiplicidade de práticas pecaminosas. Em resumo: pecamos porque somos pecadores.
Há aqueles que pensam que a regeneração é uma espécie de mudança pela qual passa a velha natureza e, além disso, que esta mudança é progressiva na sua operação, até que, por fim, o homem seja inteiramente transformado. Infelizmente, muitos pensam assim. Contudo não é o que Deus diz. Por exemplo: Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser.
Podemos nos perguntar: como pode aquilo que não é sujeito à lei de Deus ser melhorado ou sofrer alguma alteração? De modo algum. O que é nascido da carne é carne, Faça-se o que quiser com a carne, ela será sempre carne. Como está escrito: Ainda que repreendas o tolo como quem bate o trigo com a mão de gral entre grãos pilados, não se apartará dele a sua estultícia. Provérbios 27:22.
Não vale a pena tentar transformar a loucura em sabedoria. É preciso introduzir sabedoria celestial no coração, isto porque, ele tem sido governado apenas pela loucura. O apóstolo Paulo não diz, “melhorastes”, ou procurais melhorar o “velho homem” mas que, já vos despistes dele: Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos. Colossenses 3:9.Existe uma grande diferença entre procurar remendar um vestido velho e, colocá-lo de lado para usar um novo.
Portanto, é necessário antes de tudo, nos livrar inteiramente daquilo que é torto e nos ocuparmos somente com aquilo que é divinamente reto: Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular. Eclesiastes 1:15. É tempo perdido procurar endireitar uma coisa torta. Não só é tedioso, mas impossível melhorar o velho homem. Podemos dar forma a uma barra de chumbo, contudo, a sua essência continuará a mesma.
O nascimento de Isaque não melhorou Ismael, mas apenas salientou a verdadeira oposição deste ao filho da promessa. Qual era o remédio? Melhorar Ismael? Impossível, a solução é “lança-lo para fora”: E viu Sara que o filho de Agar, a egípcia, o qual tinha dado a Abraão, zombava. E disse a Abraão: Deita fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho. Gênesis 21:9-10.
Os dois princípios se opõem: a escravidão da Lei com a liberdade cristã. Agar representa o concerto da lei; e o seu filho representa todos os que são das “obras da lei”, ou se fundamentam neste princípio. A escrava só gera para a escravidão, e nunca pode dar à luz um homem livre. Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; suma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós. Gálatas 4:22-26.
Assim, aquele que vive debaixo da lei, vive sob o domínio desta. E nada senão a morte pode libertá-lo do seu domínio. Ninguém poderá viver livre enquanto estiver sob o domínio da lei ou de alguém. Então, como alcançar a libertação do domínio da lei? “Deitando fora esta serva e o seu filho”. Porque o filho desta serva não herdará como meu filho, com Isaque.
Em outras palavras, “Ismael”, tem que ser posto fora para dar lugar a “Isaque”, o velho homem tem que ser substituído pelo novo homem. Se a nossa velha natureza pudesse ser melhorada, seria alguma coisa vinda de mim e, deste modo, Deus não teria toda a glória. Porém, quando somos introduzidos numa nova criação, vemos que é tudo de Deus, planejado, fomentado e acabado somente por Ele Próprio.
Deus é o realizador, e nós os adoradores; Ele é o abençoador, e nós somos os abençoados; Ele é o Doador, e nós somos os que recebem. É isto que faz do cristianismo o que ele é, e, além disso, o distingue de qualquer sistema de religião abaixo do Sol.
A religião humana, em sua essência, dá sempre lugar à criatura, fica com a escrava e o seu filho em casa, dá ao homem alguma coisa em que se gloriar. A graça exclui a criatura de toda interferência na obra da salvação; deita fora a escrava e seu filho, e dá toda a glória Àquele a Quem ela pertence: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. João 8:36. Amém.
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