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Amarás o teu próximo como a si mesmo

Lucas 10.27b.


É possível amar os outros e não amar a si mesmo? Há quem diga que não, sustentando que, quem não ama a si mesmo, não desenvolveu o amor genuíno e, portanto, não pode amar alguém plenamente. Realmente difícil pensar que alguém que não se valoriza, possui uma auto estima muito baixa, tem complexo de inferioridade e, no fundo, não gosta de si mesmo, é capaz de desenvolver amor por outrem. Difícil imaginar que Deus se alegra com quem não ama a si mesmo, mas ama os outros. Contudo, você me dirá: conheço pessoas que não se amam e são as criaturas mais amorosas com os outros que conheço.
Não quero aqui divagar sobre a profundidade desse sentimento ou tentar entender a profundidade dessas palavras de Jesus que, creio, falam muito mais do que podemos interpretar e fala da dimensão do amor de uns para com os outros. Quero apenas tentar entender... porque conheço pessoas que tratam seu semelhante de forma maravilhosa, são capazes de se sacrificar pelos outros, são altruístas, são amorosas, doadoras de si mesmo, mas, por alguma razão, não amam e nem valorizam a si mesmas. Conheço pessoas que sofreram rejeição, desprezo na infância e fazem tudo pelos outros, mas quando se trata de si mesmas, nada fazem. Há quem até mesmo se maltrate como forma se se punir por carregar uma culpa terrível por sua existência, mas são também capazes de estender a mão ao outro, de cuidar, ser generoso de modo que parecerá que não amam a si mesmas, mas amam o outro.
Creio e concluo em minha divagação que há, de fato, pessoas que "amam" o próximo mas odeiam a si mesmas, mas esse amor não é o amor genuíno e ideal de Deus. Não é um amor pleno. O amor real é sempre pleno e mútuo e envolve o que ama e o que é amado como um círculo de amor.
É como se fosse um amor incompleto, um amor "manco". Doa-se, mas não se dá nada, sempre diz sim para todos porque tem medo da rejeição. Trata bem o outro, mas não é capaz de olhar-se sequer no espelho e agradecer a Deus por quem é porque não gosta do que vê quando vê sua imagem. É bonito e continuará ser lindo o trabalho de doar-se, tratar bem, cuidar do outro, ser amoroso e bondoso com o próximo, mas sempre faltará alguma coisa. Não há plenitude nesse amor.E, enquanto essa barreira não for quebrada, haverá sempre uma dor, uma tristeza, faltará algo. A dor de não se amar é "muito doída" e sofrível. É preciso cura interior, libertação do que apagou o amor a si mesmo, para que um amor verdadeiro e pleno possa ocupar o lugar da auto-rejeição. Não é fácil acordar e dizer que resolveu se amar, mas é um passo que precisar ser dado. É preciso ir em busca desse amor pleno, amor que se envolve e enlaça o outro. Somente os verdadeiramente livres de todas as barreiras poderão experimentar "plenamente" o amor.