06 dezembro 2014

BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS


BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS


Posted: 05 Dec 2014 09:00 PM PST
DE TODA ÁRVORE DO JARDIM PODES COMER LIVREMENTE...

Gênesis 2: 15-17        João 3: 16, 17


"Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar. Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás".

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".


INTRODUÇÃO

Quando Deus criou o homem, deu-lhe o livre-arbítrio, que é a capacidade de fazer escolhas conforme a sua vontade. Depois Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o lavrar e guardar. E ordenou o Senhor ao homem dizendo: "De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás".


Antes de entrarmos neste artigo, vamos ver um artigo da Revista Super Interessante em Setembro 2008: 


Você se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo? Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, colocou em xeque o que costumamos chamar de livre-arbítrio: a capacidade que o homem tem de tomar decisões por conta própria. As escolhas que fazemos na vida são mesmo nossas. Mas não são conscientes. Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma sequência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples, não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante. Dez segundos antes de os voluntários resolverem apertar o botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a tomada de decisões. "Nos casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência", afirma o cientista John Dylan-Haynes. Isso porque a consciência é apenas uma "parte" do cérebro – e, como a experiência provou, outros processos cerebrais que tomam decisões antes dela. Agora os cientistas querem aumentar a complexidade do teste, para saber se, em situações mais complexas, o cérebro também manda nas pessoas. "Não se sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de ação", diz Haynes. "Ainda temos muito mais pesquisas para fazer." Se o cérebro deles deixar, é claro.

Você se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo? Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, colocou em xeque o que costumamos chamar de livre-arbítrio: a capacidade que o homem tem de tomar decisões por conta própria. As escolhas que fazemos na vida são mesmo nossas. Mas não são conscientes. Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma sequência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples, não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante. Dez segundos antes de os voluntários resolverem apertar o botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a tomada de decisões. "Nos casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência", afirma o cientista John Dylan-Haynes. Isso porque a consciência é apenas uma "parte" do cérebro – e, como a experiência provou, outros processos cerebrais que tomam decisões antes dela. Agora os cientistas querem aumentar a complexidade do teste, para saber se, em situações mais complexas, o cérebro também manda nas pessoas. "Não se sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de ação", diz Haynes. "Ainda temos muito mais pesquisas para fazer." Se o cérebro deles deixar, é claro.
A pessoa decide
O voluntário precisa tomar uma decisão bem simples: escolher uma letra. Enquanto ele faz isso, seu cérebro é monitorado pelos cientistas
1. Observa a tela...
O voluntário olha para uma sequência de letras, que vai passando em ordem aleatória numa tela e muda a cada meio segundo.
2. Escolhe uma letra...
Na mesa, existem dois botões: um do lado esquerdo e outro do lado direito. O voluntário deve escolher uma letra – e, quando ela passar na tela, apertar um desses dois botões.
3. E aperta o botão.
Pronto. A experiência terminou. O voluntário diz aos pesquisadores qual foi a letra que escolheu e em que momento tomou a decisão.

Mas o cérebro já resolveu
Bem antes de a pessoa apertar o botão, ele toma as decisões sozinho
10 segundos antes
Os córtices medial e frontopolar, que controlam a tomada de decisões, já estão acesos – isso indica que o cérebro está escolhendo a letra.
5 segundos antes
Os córtices motores, que controlam os movimentos do corpo, estão ativos. Olhando a atividade deles, é possível prever se a pessoa vai apertar o botão direito ou o esquerdo.

E já é possível prever pensamentos
Além de provar que o livre-arbítrio não existe, a neurociência acaba de fazer outro enorme avanço: pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon, nos EUA, construíram um computador capaz de ler pensamentos. Ou quase isso. Cada voluntário recebeu uma lista de palavras sobre as quais deveria pensar. Enquanto ele fazia isso, um computador analisava sua atividade cerebral (por meio de um aparelho de ressonância magnética). O software aprendeu a associar os termos aos padrões de atividade cerebral – e, depois de algum tempo, conseguia adivinhar em quais palavras as pessoas estavam pensando. O sistema ainda tem uma grande limitação – ele só consegue ler a mente de uma pessoa se ela estiver totalmente concentrada. O que nem sempre é fácil. "Às vezes, no meio da experiência, o estômago de um voluntário roncava, ele pensava 'estou com fome'", e isso embaralhava o computador, conta o cientista americano Tom Mitchell, responsável pelo estudo.


Sobre este assunto Got Questions.org comenta:


Se por "livre-arbítrio" se entende que Deus dê aos humanos a oportunidade de fazer escolhas que realmente afetam o seu destino, então sim, os seres humanos têm um livre-arbítrio. O estado de pecado no mundo está diretamente associado às escolhas que Adão e Eva fizeram. Deus criou o homem à Sua própria imagem, e isso inclui a capacidade de escolher.
No entanto, o livre-arbítrio não significa que a humanidade possa fazer qualquer coisa que lhe agrade. Nossas escolhas são limitadas ao que esteja em sintonia com a nossa natureza. Por exemplo, um homem pode escolher atravessar ou não uma ponte, o que ele não pode escolher é voar sobre a ponte -- a sua natureza o impede de voar. De forma semelhante, um homem não pode escolher tornar-se justo - sua natureza (pecaminosa) o impede de cancelar a sua culpa (Romanos 3:23). Assim, o livre-arbítrio é limitado pela natureza.
Esta limitação não reduz a nossa responsabilidade. A Bíblia deixa bem claro que não só temos a capacidade de escolher, mas também temos a responsabilidade de escolher sabiamente. No Antigo Testamento, Deus escolheu uma nação (Israel), mas os indivíduos daquela nação ainda tinham a obrigação de escolher obedecer a Deus. Da mesma forma, os indivíduos de fora de Israel também podiam fazer a escolha de acreditar e seguir a Deus (por exemplo, Rute e Raabe).
No Novo Testamento, os pecadores são repetidamente ordenados a "arrepende-se" e "crer" (Mateus 3:2; 4:17, Atos 3:19, 1 João 3:23). Toda chamada ao arrependimento é uma chamada para escolher. O comando a acreditar supõe que o ouvinte possa escolher obedecer ao comando.
Jesus identificou o problema de alguns incrédulos quando lhes disse: "Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida" (João 5:40). Claramente, eles poderiam ter vindo se quisessem, o problema foi que escolheram não vir. "...pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gálatas 6:7), e aqueles que estão fora da salvação são "indesculpáveis" (Romanos 1:20-21).
Entretanto, como pode o homem, limitado por uma natureza pecaminosa, escolher o que é bom? É somente através da graça e do poder de Deus que o livre-arbítrio torna-se verdadeiramente "livre" no que diz respeito à escolha da salvação (João 15:16). É o Espírito Santo que atua na e através da vontade de uma pessoa a fim de regenerá-la (João 1:12-13) e dar-lhe uma nova natureza criada "segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade" (Efésios 4:24). A salvação é obra de Deus. Ao mesmo tempo, nossas motivações, ações e desejos são voluntários e somos devidamente responsabilizados por eles.




DESENVOLVIMENTO

No jardim do Éden o homem tinha muitas coisas boas, muitas árvores boas para se comer, com todos os tipos de frutos, cada um mais saboroso do que o outro; mas apenas uma coisa era má, uma única árvore tinha um fruto mal que não poderia ser comido. O homem tinha diante de si um número incontável de boas opções, de bons frutos para alimentá-lo, inclusive o fruto da árvore da vida, que estava no meio do jardim, e apenas uma má opção. E foi exatamente esta má opção, este fruto mal, que trazia a morte em si, aquilo que o homem escolheu como alimento.

Quando o homem fez esta má escolha, foi imediatamente expulso do jardim do Éden, e se deparou com um mundo totalmente diferente daquele em que vivia antes. Agora ele tinha diante de si exatamente aquilo que escolheu: somente árvores más, com seus frutos mortais, os frutos do conhecimento do bem e do mal, um mundo criado pelo adversário, sem nenhuma árvore boa que transmitisse ao homem aquilo que Deus colocou à sua disposição no Éden. Neste mundo o homem encontrou os espinhos, os cardos, a dor, a tristeza, a angústia, a violência, as guerras, as doenças e a morte. O uso errado do seu livre arbítrio e a sua má escolha o levaram a tudo isso.

Mas a Palavra diz que: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Na sua misericórdia, Deus olhou para a situação do homem que estava perdido no mundo e sem opção de vida, e por causa do seu imenso amor, enviou seu Único Filho, dando-o pelo resgate e salvação do homem. Quando Deus colocou Jesus no mundo, Ele se tornou a única boa opção, diante das tantas más opções existentes. Ele se tornou a única boa árvore, a única que tinha vida, diante das tantas árvores más que já estavam plantadas pelo adversário. Então Deus deu aos homens uma nova oportunidade de escolha, e os homens falharam novamente, escolhendo Barrabás, um homicida e salteador, condenado por seus crimes.


CONCLUSÃO


Até quando o homem vai continuar errando e fazendo más escolhas na sua vida? Até quando ele vai dar preferência às árvores más, com seus frutos mortais, rejeitando a única opção que dá vida eterna, que é o Senhor Jesus? As coisas hoje estão invertidas, pois no princípio o homem tinha muitas árvores boas e apenas uma árvore má. Hoje ele tem muitas árvores más e somente uma árvore boa. Ele precisa fazer o inverso e deixar todo o mal existente no mundo e escolher o único bem, que é o Senhor Jesus, a Árvore da Vida. Hoje o homem não tem como errar novamente, pois já tem aprendido com as duras experiências da sua vida. Ele precisa se redimir diante de Deus, escolhendo o Senhor Jesus como seu Salvador, para que não pereça, mas tenha a vida eterna.


BIBLIOGRAFIA:


BÍBLIA, Estudo Arqueológica NVI, Edição Brasileira – São Paulo: Editora Vida 2013.

BÍBLIA, Português. Bíblia de Estudo da Profecia. Antigo e Novo Testamento. Edição Revista Atualizada. Belo Horizonte e Barueri. Editores Atos e Sociedade Bíblia do Brasil, 2001.

BÍBLIA, Sagrada Versão Digital, http://www.blasterbit.com/.

BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS, A falácia do livre arbítrio, http://bibliaapalavradedeus.blogspot.com.br/2014/03/a-falacia-do-livre-arbitrio.html

BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS, A Bíblia ensina (ou pressupõe) o livre arbítrio libertário?, http://bibliaapalavradedeus.blogspot.com/2014/12/a-biblia-ensina-ou-pressupoe-o-livre.html

BÍBLIA A PALAVRA DE DEUS, A incoerência do livre-arbítrio, http://bibliaapalavradedeus.blogspot.com.br/2014/12/a-incoerencia-do-livre-arbitrio.html

BEREIANOS, A Bíblia ensina (ou pressupõe) o livre arbítrio libertário?, http://bereianos.blogspot.com.br/2014/05/a-biblia-ensina-ou-pressupoe-o-livre_9.html

AURÉLIO, Mini, 8ª edição – dezembro 2010.

O NOVO TESTAMENTO, João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida.
MEYER, Joyce, A Formação de Um Líder, 1ª Edição Novembro 2005

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

PERGUNTAS SOBRE O LIVRE ARBÍTRIO NA BÍBLIA, http://www.jw.org/pt/ensinos-biblicos/perguntas/livre-arbitrio-na-biblia/

REVISTA SUPER INTERESSANTE, Livre arbítrio não existe, http://super.abril.com.br/saude/livre-arbitrio-nao-existe-447694.shtml

GOT QUESTIONS. ORG, "Os seres humanos realmente têm um livre-arbítrio?, http://www.gotquestions.org/Portugues/livre-arbitrio.html



Wallace Oliveira Cruz
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Posted: 05 Dec 2014 06:00 PM PST



Desde a Pregação de Estêvão, 35 a.D. Até ao Concílio de Jerusalém, 50 a.D.

Entramos agora em uma época da história da igreja cristã, que, apesar de curta — apenas quinze anos — é de alta significação. Nessa época decidiu-se a importan­tíssima questão: se o Cristianismo devia continuar como uma obscura seita judaica, ou se devia transformar-se em igreja cujas portas permanecessem para sempre abertas a todo o mundo. Quando se iniciou este período, a proclamação do evangelho estava limitada à cidade de Jerusalém e às aldeias próximas; os membros da igreja eram todos israelitas por nascimento ou por adoção. Quando terminou, a igreja já se havia estabelecido na Síria, na Ásia Menor e havia alcançado a Europa. Além disso, os membros da igreja agora não eram exclusivamente judeus; em alguns casos predominavam os gentios. O idioma usado nas assembléias na Palestina era o hebraico ou aramaico, porém, em outras regiões bem mais povoadas o idioma usado era o grego. Estudemos as épocas sucessivas desse movimento em expansão.
Na igreja de Jerusalém surgiu uma queixa contra o critério adotado na distribuição de auxílios aos pobres, pois as famílias dos judeus-gregos ou helenistas eram prejudicadas. Os apóstolos convocaram a igreja e pro­puseram a escolha de uma comissão de sete homens para cuidarem dos assuntos de ordem material. Esse plano foi adotado, e os sete foram escolhidos, figurando em primeiro lugar o nome de Estêvão, "homem cheio de fé e do Espírito Santo". Apesar de haver sido escolhido para um trabalho secular, bem depressa atraiu as aten­ções de todos para o seu trabalho de pregador. Da acusação levantada contra ele, quando foi preso pelas autoridades judaicas, e da sua mensagem de defesa, é evidente que Estêvão proclamou a Jesus Cristo como Salvador, não somente para os judeus, mas também para os gentios. Parece que Estêvão foi o primeiro membro da igreja a ter a visão do evangelho para o mundo inteiro, e esse ideal levou-o ao martírio.
Entre aqueles que ouviram a defesa de Estêvão, e que se encolerizaram com suas palavras sinceras, mas incompatíveis com a mentalidade judaica daqueles dias, estava um jovem de Tarso, cidade das costas da Ásia Menor, chamado Saulo. Esse jovem havia sido educado sob a orientação do famoso Gamaliel, conhecido e res­peitado intérprete da lei judaica. Saulo participou do apedrejamento de Estêvão, e logo a seguir fez-se chefe de terrível e obstinada perseguição contra os discípulos de Cristo, prendendo e açoitando homens e mulheres. A igreja em Jerusalém dissolveu-se nessa ocasião, e seus membros dispersaram-se por vários lugares. Entre­tanto, onde quer que chegassem, a Samaria ou a Damasco, ou mesmo a longínqua Antioquia da Síria, eles se constituíam em pregadores do evangelho e estabeleciam igrejas. Dessa forma o ódio feroz de Saulo era um fator favorável à propagação do evangelho e da igreja.
Na lista dos sete nomes escolhidos para administrarem os bens da igreja, além de Estêvão, encontramos também Filipe, um dos doze apóstolos. Depois da morte de Estêvão, Filipe refugiou-se entre os samaritanos, um povo misto, que não era judeu nem gentio, e por isso mesmo desprezado pelos judeus. O fato significativo de Filipe começar a pregar o evangelho aos samaritanos demonstra que ele se havia libertado do preconceito dos judeus. Filipe estabeleceu uma igreja em Samaria, a qual foi reconhecida pelos apóstolos Pedro e João. Foi essa a primeira igreja estabelecida fora dos círculosjudaicos; contudo não era exatamente uma igreja composta de membros genuinamente gentios. Mais tarde encontramos Filipe a pregar e a estabelecer igrejas nas cidades costeiras de Gaza, Jope e Cesaréia. Essas eram consideradas cidades gentias, porém todas possuíam densa população judaica. Nessas cidades, forçosa­mente, o evangelho teria de entrar em contato com o mundo pagão.
Em uma de suas viagens relacionadas com a inspeção da igreja, Pedro chegou a Jope, cidade situada no lito­ral. Ali, Tabita ou Dorcas foi ressuscitada. Nessa ci­dade Pedro permaneceu algum tempo em companhia do outro Simão, o curtidor. O fato de Pedro, sendo judeu, permanecer em companhia de um curtidor significa que Pedro se libertara das restritas regras dos costumes judeus, pois todos os que tinham o ofício de curtidor eram considerados "imundos" pela lei cerimonial. Foi em Jope que Pedro teve a visão do que parecia ser um grande lençol que descia, no qual havia de todos os animais, e foi-lhe dirigida uma voz que dizia: "Não faças tu imundo ao que Deus purificou." Nessa ocasião chega­ram a Jope mensageiros vindos de Cesaréia, que fica cerca de quarenta e oito quilômetros ao norte, e pediram a Pedro que fosse instruir a Cornélio, um oficial romano temente a Deus.
Pedro foi a Cesaréia sob a direção do Espírito, pre­gou o evangelho a Cornélio e aos que estavam em sua casa, e os recebeu na igreja mediante o batismo. O Espírito de Deus sendo derramado como no dia de Pentecoste, testificou sua aprovação divina. Dessa forma foi divinamente sancionada a pregação do evangelho aos gentios e sua aceitação na igreja.
Nessa época, possivelmente um pouco antes de Pedro haver visitado Cesaréia, Saulo, o perseguidor, foi surpreendido no caminho de Damasco por uma visão de Jesus ressuscitado. Saulo, que fora o mais temido perseguidor do evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso defensor. Sua oposição fora dirigida especialmente contra a doutrina que eliminava a barreira entre judeus e gentios. Entretanto, quando se converteu, Saulo adotou imediatamente os mesmos conceitos de Estêvão, e tornou-se ainda maior que Estêvão, na ação de fazer prosperar o movimento de uma igreja universal, cujas portas estivessem abertas a todos os homens, quer fossem judeus, quer fossem gentios. Em toda a história do Cristianismo, nenhuma conversão a Cristo trouxe resultados tão importantes e fecundos para o mundo inteiro como a conversão de Saulo, o persegui­dor, e mais tarde.o apóstolo Paulo.
Na perseguição iniciada com a morte de Estêvão, a igreja em Jerusalém dispersou-se por toda parte. Al­guns de seus membros fugiram para Damasco; outros foram para Antioquia da Síria, distante cerca de 480 quilômetros. Em Antioquia os fugitivos frequentavam as sinagogas judaicas e davam seu testemunho de Jesus, como sendo o Messias. Em todas as sinagogas havia um local separado para os adoradores gentios; muitos destes ouviram o evangelho em Antioquia e aceitaram a fé em Cristo. Dessa forma floresceu uma igreja em Antioquia, na qual judeus e gentios adoravam juntamente e desfrutavam o mesmo privilégio. Quando as notícias desses fatos chegaram a Jerusalém, a igreja ficou alarmada e enviou um representante para exami­nar as relações dos judeus com os gentios.
Felizmente, e para o bem de todos, a escolha do representante recaiu sobre Barnabé, homem de idéias liberais, coração grande e generoso. Barnabé foi a An­tioquia, observou as condições, e, em lugar de condenar a igreja local por sua liberalidade, alegrou-se com essa circunstância, endossou a atitude dos crentes dali e permaneceu em Antioquia a fim de participar daquele movimento. Anteriormente Barnabé havia manifestado sua confiança em Saulo. Desta vez Barnabé viajou para Tarso, cerca de 160 quilómetros de distância, trouxe consigo para Antioquia a Paulo, e fê-lo seu companheiro na obra do evangelho. A igreja em Antioquia, com esses reforços, elevou-se a tal proeminência, que ali, pela primeira vez, os seguidores de Cristo foram chamados "cristãos", nome dado não pelos judeus mas pelos gregos, e somente três vezes mencionado no Novo Testamento. Os discípulos de Antioquia enviaram auxílio aos crentes pobres da Judéia, no tempo da fome, e seus dirigentes foram figuras eminentes da igreja primitiva.
Até então, os membros gentios da igreja eram somente aqueles que espontaneamente a procuravam. Daí em diante, sob a direção do Espírito Santo e de acordo com os anciãos, os dois dirigentes de maior destaque na igreja de Antioquia foram enviados em missão evangelizadora a outras terras, pregando tanto para judeus como para gentios. Na história da primeira viagem missionária notamos certas características que se tor­naram típicas em todas as viagens posteriores de Paulo. Essa viagem foi realizada por dois obreiros. Inicial­mente menciona-se "Barnabé e Saulo", depois "Paulo e Barnabé", e finalmente, Paulo e seus companheiros, apontando Paulo como líder espiritual.
Em relação à mudança do nome de Saulo pode-se explicar da seguinte forma: Era comum naqueles dias um judeu usar dois nomes; um entre os israelitas e outro entre os gentios. Os dois missionários levaram como auxiliar um homem mais jovem chamado João Marcos, o qual os abandonou em meio à viagem. Eles escolheram como principal campo de trabalho as grandes cidades, visitando Salamina e Pafos, na Ilha de Chipre; Antio­quia e Icônio, na Pisídia; Listra e Derbe, na Licaônia.
Sempre que lhes era possível, iniciavam o trabalho de evangelização pregando nas sinagogas, pois nelas todos os judeus tinham o direito de falar; tratando-se de um mestre reputado como era Paulo, que havia cursado a famosa escola de Gamaliel, era sempre bem recebido. Além disso, por meio das sinagogas, não só anunciavam o evangelho aos judeus tementes a Deus mas também aos gentios, igualmente religiosos. Em Derbe, a última cidade visitada, estavam bem próximos de Antioquia, onde haviam iniciado a viagem. Em lugar de passarem pelas Portas da Cilicia e regressarem a Antioquia, to­maram a direção oeste e voltaram pelo caminho que haviam percorrido, visitando novamente as igrejas que haviam fundado em sua primeira viagem e nomeando anciãos, de acordo com o costume usado nas sinagogas. Em todas as viagens que o apóstolo Paulo fez mais tarde, o mesmo método de trabalho foi posto em prática.
Em todas as sociedades ou comunidades organizadas, há sempre duas classes de pessoas: os conservadores, olhando para o passado; e os progressistas, olhando para o futuro. Assim aconteceu naqueles dias. Os elementos ultrajudeus da igreja sustentavam que não podia haver salvação fora de Israel. Por essa razão, diziam, todos os discípulos gentios deviam ser circuncidados e observar a lei judaica.
Entretanto os mestres progressistas, encabeçados por Paulo e Barnabé, declaravam que o evangelho era para os judeus e para os gentios, sobre a mesma base da fé em Cristo, sem levar em conta as leis judaicas. Entre esses dois grupos surgiu então uma controvérsia que ameaçou dividir a igreja. Finalmente, realizou-se um concílio em Jerusalém para resolver o problema das condições dos membros gentios e estabelecer regras para a igreja no futuro. Convém registrar que nesse concílio estiveram representados não somente os após­tolos, mas também os anciãos e "toda a igreja". Paulo e Barnabé, Pedro e Tiago, irmão do Senhor, participa­ram dos debates. Chegou-se, então, a esta conclusão: a lei alcançava somente os judeus e não os gentios crentes em Cristo. Com essa resolução completou-se o período de transição de uma igreja cristã judaica para uma igreja de todas as raças e nações. O evangelho podia, agora, avançar em sua constante expansão.

Continua...

Fonte: História da Igreja Cristã (Jesse Lyman Hurlbut)

Posted: 05 Dec 2014 06:00 PM PST

A profecia no lar - O Valor da profecia na vida da família
Juizes 15:2 a 14

INTRODUÇÃO: Conhecer o valor profético dos nossos filhos. Ajudar na formação do caráter cristão dos mesmos.
TEOR PROFÉTICO: A norma da vida futura - "O que será da nossa herança (nossos filhos)?"

TEOR CRISTÃO: Criar em nossos filhos uma mentalidade de vida pautada no Senhor Jesus, à luz do evangelho; no temor, na graça e no conhecimento da Palavra.

HISTÓRICO:  A mulher de Manoá, que era estéril, foi visitada pelo anjo do Senhor, que lhe disse que ela iria conceber. Estava aí anunciada uma bênção. Saiu-lhe o opróbrio, já concedido a ela o direito de dar fruto, e agora? Como cuidar daquela criança? Foi a mulher de Manoá aos pés do Senhor a pedir que lhe ensinasse como criar o menino! Participou ao marido e o anjo disse a ambos: Juízes 13:4 – Ler o texto - Fez o Senhor com que Manoá e sua mulher conhecessem o teor profético da herança que estava por vir. E, enquanto aquele menino estava sob o domínio de sua mãe, ela ensinou-lhe como o Senhor orientou, ou seja:
1.   A bebida forte: É tudo aquilo que nos tira o equilíbrio, o discernimento, nos impede de pensar. O que o mundo está pronto a oferecer, algo que embriaga e destrói.
2.   A comida imunda: É tudo aquilo que comemos que alimenta a carne e adoece o corpo, pelo ver, pelo ouvir que não vem do Senhor, programas que são vistos, conversas que não edificam, atitudes indignas para um servo de Deus. Portanto é preciso se alimentar da Palavra do Senhor, das suas revelações. Beber da fonte que é Jesus. Afastar-se do mal, santificar-se.

A IMPORTÂNCIA DE CONHECER O PROJETO DE DEUS PARA FILHOS E FILHAS


1.   Rebeca: Que ao perguntar ao Senhor acerca das crianças que brigavam no seu ventre, o Senhor deu-lhe a conhecer o teor profético de seus filhos, dizendo-lhe: "de ti nascerão duas nações". De posse da profecia, Rebeca buscou do Senhor como cuidar dos mesmos e teve ela grande participação na formação do caráter cristão deles.


2.       Ana: Também estéril. Pediu ao Senhor Samuel. O Senhor atendeu seu pedido e cuidou Ana de conhecer o teor profético de seu filho, cuidou de seu caráter cristão.
Posted: 05 Dec 2014 11:28 AM PST

Por Jorge Fernandes Isah


Primeiro, antes de iniciar as considerações, é necessário definir alguns termos:

a) Livre-arbítrio - crença de que a vontade humana tem um poder inerente de escolha com a mesma facilidade entre alternativas. Ou seja, o poder de escolha contrária ou a liberdade da indiferença. A vontade é livre de qualquer causação necessária.

b) Autonomia - qualidade da vontade ou do intelecto que o capacita a funcionar a favor ou contra qualquer curso particular de ação, por meio disso exibindo uma capacidade inata.

Definições postas, vamos ater-nos aos pontos chaves que levam à incoerência do livre-arbítrio [1]:

A idéia do livre-arbítrio é de que dele depende a responsabilidade humana. Porém, quando se questiona a origem dessa responsabilidade, tem-se como argumento que ela procede do livre-arbítrio. Está formado o argumento circular vicioso.

Para o arminiano, Deus não atropela o livre-arbítrio, logo a vontade humana não tem causação externa. Desta forma, estão asseguradas a integridade e a responsabilidade do homem. Porém, se isso não é tolice, é presunção, porque Deus sempre fará toda a Sua vontade, e nada nem ninguém pode-lhe frustrar a vontade [Is 46.10]; ao passo que o homem é sempre escravo, seja do pecado, seja da justiça [Rm 6.17-18].

A vontade se automove em resposta ao que a mente conhece, e pode causar tanto a ação em resposta às influências como resisti-las. O que me leva à pergunta: se o conhecimento intelectual [aqui incluidas a moral e a ética] será o ponto de partida, o príncipio avaliativo da vontade, como a vontade será livre? Esse conhecimento sempre virá de uma fonte externa e provavelmente virá como um argumento verdadeiro ou falacioso. Se o conhecimento for corrompido, manipulado ou integral, quais são as bases para que ele seja correto? Será possível eu ter esse conhecimento inato do que é certo e errado sem qualquer influência externa? E a vontade não poderá ser "induzida" pelo conhecimento adulterado? Ainda que esse conhecimento seja bíblico, no sentido das informações corretas, o intelecto pode não processá-las legitimamente, e induzir a vontade a uma escolha errada.

Para que o homem pudesse escolher "neutramente", seria necessário que não tivesse nenhum conhecimento, que sua mente fosse vazia, um ponto morto, mas aí entra a questão: como a vontade poderia se decidir sem nenhuma base? Na sorte, deixada a cargo do acaso, seria a opção. Visto a liberdade espontânea do livre-arbítrio somente nos remeter ao acaso. Mas, e como seríamos responsáveis, já que não exercemos nenhuma influência causal na decisão?

Portanto a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade em vez de apoiá-la. Como posso ser responsabilizado por ações surgidas de um livre-arbítrio que, pelo fato de ele ser livre, não está também sob o meu controle? [nem sob o controle divino também, ao ver do arminiano].

Se um argumento pode levar a vontade a se decidir, onde está a neutralidade moral? O argumento causou a escolha. A própria Bíblia deveria ser desconsiderada pelo "livrearbitrista", visto ser ela a fonte da Lei Moral, a qual estabelece o significado de bem e mal, e levá-nos a compreensão do que é a santidade e o pecado. Ela nos influenciará decididamente na escolha entre o que é santo e o que é pecaminoso. Logo, onde está a neutralidade? E ficam perguntas: Deus é neutro? As Escrituras são neutras? O mundo é neutro? Em qual aspecto da vida, seja eterna ou temporal, se percebe neutralidade moral? Ou se está sob a influência do bem, ou sob a influência do mal. Não existe nada que seja moralmente neutro, que pratique atos neutros [sem efeito algum]. Portanto é ilógico dizer que a vontade humana seja neutra, visto sê-la influenciada por Deus ou satanás. Senão, porque Davi, Isaías e Paulo diriam que todos pecaram [todos!] e destituídos estão da glória de Deus? [Sl 14.2-3; Is 59.2-11; Rm 3.23, 5.12]. Se todos pecaram, somos todos pecadores, a nossa vontade está corrompida, deteriorada, sob a influência do pecado e sem a menor possibilidade de ser neutra, e poder escolher o bem. Para que o arminiano não concorde com isso, ele terá de rejeitar a Bíblia como a palavra inspirada de Deus.

A questão não é se podemos escolher, mas como e de que forma escolhemos. E se somos pecadores, a nossa escolha será sempre na direção do pecado,"porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" [Rm 8.7]. Desta forma, a Bíblia afirma que o homem natural é um pecador, o qual é desprovido da capacidade de obedecer a Deus, tornando-o moralmente responsável, tenha ou não capacidade moral. O homem será sempre condenável diante de Deus se não obedecê-lO, ou seja, a desobediência aos princípios morais estabelecidos pelo Criador é que o tornam responsável por seus delitos. A responsabilidade moral não está baseada na capacidade moral [que o homem natural não possui] ou no livre-arbítrio [que nenhuma criatura possui], mas na autoridade e soberania de Deus que determinou a não-obediência aos Seus mandamentos como a causa pela qual o homem será condenado e tornado indesculpável.

Por isso, pode-se afirmar seguramente que o livre-arbítrio é indefensável, ilógico e não-factível. A vontade humana é livre em qual sentido? Por exemplo, um hindu que nasceu no hinduísmo e cuja família se submete ao regime de castas, e crê na divindade de um inseto, qual seria a sua capacidade natural de não escolher adorar ao inseto? Para que isso acontecesse, ele teria de ser confrontado pela verdade, e reconhecer que tanto o sistema de castas como a adoração ao inseto é uma tolice, uma mentira que o quer manter escravizado na ignorância de Deus.

Se ele não for confrotado pela verdade [e a verdade é externa], ele jamais se livrará da mentira. Por que a mentira é o que ele tem por verdade, transmitida por sua família e clã [externamente] e o influenciará a sempre pensar nos seus pressupostos como verdadeiros, quando o que tem são falsas premissas a induzi-lo ao engano.

Onde está a neutralidade para que ele possa escolher livremente? Se o livre-arbítrio é o movimento da mente em certa direção, a neutralidade poderia levá-lo a essa direção? Ou as influências externas à mente, as quais está sujeito, determinarão a sua decisão? Então, está claro que esse movimento da mente não é livre, e de que ninguém toma decisões livres, mas todas elas estão sujeitas à influência, a fatores causais.

Muitos arminianos têm certeza de que possuem o livre-arbítrio, apenas porque presumiram tê-lo; e garantem que não sofrem nenhuma espécie de influência em suas decisões "livres". Porém, fica a pergunta: quem tem a certeza de que não está sujeito, ainda que minimamente, a influências que afetariam a sua vontade? Por exemplo, estar sob o efeito de medicamentos, bactérias e vírus, ou sob a ação de partículas subatômicas ou  cósmicas. Ou seja, para que essa neutralidade fosse "livre" teria que, no mínimo, ser onisciente e conhecer exaustivamente tudo afim de se ter certeza de não haver alguma causa a operar sobre a vontade humana; muito antes de ser confrontado pela cosmovisão cristã. Como nenhum ser humano é onisciente e apenas Deus o é, o livre-arbítrio não pode levar jamais o homem a uma escolha neutra, sem influências ou antecedentes, sem que se detenha qualquer pressuposição.

Para que a escolha fosse neutra, era preciso que não houvesse o sentido de bem ou mal [a Lei Moral]. O hindu, sobre a influência do hinduísmo, entenderá o mal como o bem, e o bem como o mal, "fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" [Is 5.20]. Por si só ele jamais poderá compreender e entender [interiormente] o significado verdadeiro e real do que é bem e mal a fim de escolher entre um e outro.

O livre-arbítrio em si mesmo não detém nem o bem nem o mal, como algo neutro manteria o indivíduo numa posição de não-escolha, de não-vontade, onde ele permaneceria num ponto vago, numa posição sem solução, incapaz de se definir, porque nada lhe é indentificado; e assim, se está nesse ponto morto, como será levado a agir? Em que bases? Se é neutra, não é causada, logo, qualquer semelhança com o acaso não é mera coincidência. E se a mente é levada a agir pelo acaso, como poderá ser responsabilizada?

A afirmação, "se nós não temos o livre-arbítrio, não podemos ser responsáveis pelas nossas ações", é verdadeira? Em qual sentido? Quem a provou como verdade? E uma pergunta muito mais explícita ainda: à luz das Escrituras, qual a relação entre responsabilidade e liberdade? Onde elas aparecem, e onde estão especificadas a sua conexão?

São perguntas que o arminiano não se dispõe a responder. Para ele, basta estabelecer o axioma, e pronto. Provar, para quê?

Por essas e outras, o livre-arbítrio é incoerente, e incapaz de levar o homem a lugar algum. Como teoria autonomista não encontra respaldo bíblico, sustentando-se apenas e tão somente pelo seu apelo humanista, ou seja, antibiblicamente; porque nada mais é do que o desejo de se ter um poder para decidir independentemente, chegando à blasfêmia de se cogitar mesmo uma autonomia de Deus. O que não passa de uma estúpida pretensão ou delírio diabólico, cujo único objetivo é tornar o homem num "deus" independente e livre de Deus. O que felizmente é impossível.

Notas: 
[1] Boa parte destas conclusões se devem ao livro "A Soberania Banida" de R. K. McGregor Wright, publicado pela Cultura Cristã; e diversos livros e textos de Vincent Cheung publicados pela Editora Monergismo.
[2] Leia os meus comentários ao livro em O Que Estou Lendo... Ou Li 

Fonte: Kálamo
Posted: 05 Dec 2014 11:23 AM PST

A Bíblia ensina (ou pressupõe) o livre arbítrio libertário?


A fim de "preservar o caráter de Deus", os arminianos acreditam que para isso, a única solução possível é a de que os homens, necessariamente, devem ter o que é chamado de livre arbítrio libertário. De acordo com Roger Olson, o livre arbítrio libertário (ou livre arbítrio não compatibilista) "é a livre agência que permite às pessoas fazerem o contrário do que fazem"[1]. É o que poderíamos chamar também de "poder de escolha contrária". Olson nos dá um exemplo em sua obra para que possamos entender melhor o que isso significa. Vejamos:

"Por exemplo, uma pessoa pode escolher livremente entre pizza e macarrão para o jantar [presumindo que ambos estejam disponíveis], se a pessoa escolher macarrão, a escolha é livre no sentido não compatibilista de que a pizza também poderia ter sido escolhida. Nada determinou a escolha do macarrão, exceto a decisão da pessoa." (p.27).

O mesmo autor aplica este conceito aos assuntos espirituais afirmando que este é um dom de Deus por meio da graça preveniente, isto é, a graça que capacita os primeiro indícios de uma boa vontade em relação a Deus.

Outra razão pela qual os arminianos creem que o livre arbítrio libertário é o único refúgio para resolver os problemas teológicos, é que somente tal conceito é compatível com a responsabilidade humana. Em outras palavras, alguém só pode ser considerado responsável por seus atos se ele puder escolher o contrário. Afirmar algo diferente seria injustiça! Dizem eles.

Vale salientar também que, segundo os proponentes deste conceito, negá-lo, é ir contra a nossa própria "intuição", ou contra o nosso próprio sistema de leis, e que a ideia de um poder de escolha contrária é bastante "óbvia". 

No entanto, tais afirmações nada mais são que estados subjetivos. Assim, um arminiano não pode provar a existência de um livre arbítrio meramente porque ele é "tão óbvio" como parece. O óbvio deve ser transformado em argumentos conclusivos antes que o ponto seja óbvio para outra pessoa.

Para não ficarmos presos no abstrato, vejamos apenas um exemplo bíblico que supostamente pressupõe o livre arbítrio libertário. Depois analisaremos outros textos que provam o contrário.

Talvez um dos mais usados (ou o mais usado) é o exemplo de Caim. A Bíblia diz: "Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar." (Gn 4.6-7).

Muitos afirmam que o caso de Caim é um exemplo nítido de livre arbítrio libertário. Estes dizem que é bastante óbvio que Caim poderia ter escolhido fazer o contrário. Por que eles afirmam isso? Simplesmente porque qualquer outra ideia que não esse poder de escolha contrária faria de Deus um ser ambíguo e não haveria como responsabilizar o homem uma vez que ele não podia fazer diferente. Mas nada disso é pressuposto aqui no texto. Em primeiro lugar, Deus de forma alguma estaria sendo ambíguo. Ele não está sendo incoerente senão falando uma verdade: "porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar." Onde a Bíblia nos diz que o dever pressupõe o poder? Em nenhum lugar das escrituras, a responsabilidade pressupõe liberdade (ou livre arbítrio). Ademais, as escrituras sequer tratam da relação entre estes conceitos.

Agora, atentemos para uma passagem do novo testamento que contraria o conceito aqui tratado. É a passagem em que Pedro nega a Cristo por três vezes. Mas antes, permitam-me inquirir: Pedro foi responsabilizado (ou pode ser responsabilizado) ou não por ter negado a Cristo? Eu acredito que todos concordam que sim. A outra pergunta é: Pedro poderia não ter negado a Cristo? Isto é, ele poderia ter feito o contrário? Vejamos o texto:

"Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante três vezes me negarás. Respondeu-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos." (Mt 26.34)

Observem que Jesus enfaticamente afirma que Pedro, antes que o galo cantasse, o negaria por três vezes. O mais interessante é que o próprio Pedro diz: "de modo algum te negarei". E o que aconteceu? A Bíblia prossegue o relato em Mateus 26.69-74 afirmando que Pedro realmente nega a Cristo por três vezes como Jesus havia dito. Finalmente, No v. 75 diz: "Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E saindo dali, chorou amargamente".

Então, onde está o livre arbítrio libertário aqui? Em outras palavras, Pedro poderia ter feito diferente? Vimos que não. Afirmar o contrário faria do próprio Cristo um mentiroso (ou não-onisciente) uma vez que ele disse que Pedro o negaria e, é claro, ninguém se atreve a afirmar algo desse tipo. E a responsabilidade, onde fica? Para o calvinista não há nenhum problema em responder que ela permanece, esta pergunta fica para o arminiano que sustenta que alguém só pode ser responsabilizado por algo se ele puder fazer o contrário.

Vejamos II Pe 1.20: "sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo." Todos nós sustentamos a inspiração bíblica, que a Bíblia é a palavra de Deus e que foi escrita por homens da parte de Deus. Pense um pouco agora: como poderia ter acontecido se esses escritores tivessem liberdade libertária? Se em vez de cada palavra, cada construção gramatical que eles escreveram eles pudessem ter escrito outra coisa e Deus não pudesse controlar o que eles escreveram? Se eles tivessem liberdade libertária e essa é a palavra de Deus, Deus deu muita sorte. Essa é a única conclusão que nós podemos chegar.

Poderíamos citar outros textos, mas estes são suficientes para mostrar a falácia do livre arbítrio libertário. Nesse sentido, podemos ver que tal conceito acarreta vários problemas teológicos, além de não ter respaldo bíblico.

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Nota:
[1] OLSON, Roger. Teologia arminiana: mitos e realidades. 1 ed. São Paulo: Reflexão, 2013.

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Fonte: Pelo Calvinismo
Imagem: A Negação de Pedro, por Caravaggio - 1610, atualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Layout adaptado ao blog Bereianos.

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Posted: 05 Dec 2014 01:09 AM PST

Atualmente algumas teologias têm focalizado sobre a conveniência de se usar uma linguagem feminina para Deus. O recente teólogo evangélico Paul K. Jewett fez esta central questão em seu God, Creation, and Revelation.[1] 


Apesar de negar em seu prefácio que "tenha algum pensamento de acomodação da exposição da fé cristã ao cânons da modernidade,"[2] às vezes, usa "ela" para Deus [3] e concede muito espaço para a defesa de argumentos feministas. O livro She Who Is[4] de Elizabeth Johnson é um amplo tratado acerca da doutrina de Deus, tem como sua tese principal a necessidade de se usar uma linguagem feminina (mais ou menos exclusivamente)[5] com referência a Deus. Estes títulos são característicos de muitos.

Esta questão certamente não é a maior no que diz a respeito à própria Escritura, nem é a mais alta prioridade do presente volume. Mas, desde que a teologia é aplicação, e ela se torna importante para aplicarmos os princípios bíblicos aos interesses emitidos das pessoas contemporâneas. Certamente, há princípios bíblicos que são relevantes para esta questão.

Como Deus poderia ser Fêmea?

Podemos primeiramente esclarecer que esta questão envolve o uso da linguagem figurada. Ninguém argumentaria que Deus é literalmente macho ou fêmea, assim os cristãos em geral concordam que Deus é incorpóreo (como a Bíblia ensina).[6] Elizabeth Johnson crê que Deus é físico num sentido panenteístico: o corpo de Deus é o mundo.[7] Mas ela não baseia o seu argumento da feminilidade de Deus sobre as características físicas.

Apesar da Escritura, às vezes, representar Deus antropomorficamente pelo uso de figuras de partes do corpo humano, estas partes não incluem os órgãos sexuais.[8] Deste modo, a sexualidade não é parte das figuras visuais da Escritura. As afirmações que consideram as figuras femininas de Deus, portanto, são sutis. Elas fazem analogias entre a posição, o caráter, a personalidade e as ações de Deus, e que associamos com a mulher.

A real natureza desta questão levanta problemas para o feminismo. Existem traços do caráter ou da personalidade que são característicos na mulher em algum grau? Às vezes, feministas dizem que não. Em sua concepção, toda característica humana e traços de personalidade são comuns tanto a homens como a mulheres, e pensar de outro modo é comprometer-se com estereótipos. Em outras circunstâncias, elas têm reconhecido que há diferenças (em menor grau), mas têm preferido dar maior honra àqueles traços associados com a mulher.

Johnson e algumas outras feministas procuram ter ambos os conceitos. Ela insiste que nossa noção do feminino (logo, o Deus feminino) poderia incluir "intelectual, artístico," e "liderança pública", e igualmente "orgulho e ira".[9] Ela elogia a religião de Ishtar (no Antigo Testamento, Astarte ou Astoreth, a esposa de Baal, Jz 2:13; 10:6; 1 Sm 7:3-4; 12:10) ao encontrar em sua deusa "a fonte do poder e soberania divina personificada na forma feminina," que promove guerra e exerce julgamentos.[10] Sobre esta base, traços de masculinidade e feminilidade são essencialmente os mesmos. O que a sociedade necessita entender é que eles podem ser encontrados tanto nas mulheres como nos homens.[11]

Entretanto, esta ênfase conflita com o desagrado de Johnson pela noção de "ter o poder sobre", o governo e submissão. Ela vê estas concepções como sendo tipicamente características masculinas que a teologia feminista poderia evitar descrever Deus. Porventura, o "ter o poder sobre" é um traço masculino que a teologia feminista poderia substituir em favor dos traços femininos? Ou ela é um traço que as feministas poderia admitir como sendo uma propriedade feminina e encontrar numa deidade feminina?

Portanto, não está claro, que espécie de deus uma deidade feminina poderia ser. Poderia ela ser mais nutridora, bondosa, receptiva e afetuosa do que a deidade masculina da teologia patriarcal? Ou, ela seria tão poderosa, dominante e agressiva como qualquer homem, não obstante, de algum modo ainda ser feminina? Johnson usualmente parece favorecer a última alternativa, com alguma inconsistência, como temos visto. Mas, qual é a característica feminina acerca desta deidade? Se a sua feminilidade não é física, podemos julgar sua natureza somente pelos traços do caráter e personalidade. Mas acerca da descrição de Johnson, os traços da deusa são comuns a machos e fêmeas. Assim, é difícil discernir o que Johnson realmente entende ao afirmar quando diz que Deus é feminino.

Figuras Femininas de Deus na Escritura

Não poderíamos continuar sem antes verificar os dados bíblicos. Poderia ser acrescentado que, apesar de Deus ser o Criador, e por isso o modelo tanto para as virtudes "masculinas" e "femininas" (mas que estas sejam bem definidas), as figuras bíblicas de Deus como gênero, lhes é relevante, e que são predominantemente masculinas. Os pronomes e verbos que se referem a Deus são sempre masculinas na Escritura, e as figuras que usa para si (Senhor, Rei, Juiz, Pai, marido) são tipicamente masculinas.[12] 

Todavia, há algumas figuras femininas de Deus na Bíblia. Em Deuteronômio 32:18, Deus, através de Moisés, repreende Israel, dizendo:

               Abandonaste a Rocha que te gerou;
               E te esqueceste do Deus que te deu o nascimento.

Nesta figura, Deus usa tanto funções masculinas como femininas na origem de Israel. Em Números 11:12, Moisés frustrado com a murmuração dos israelitas, nega que não foi ele, mas Deus, quem havia concebido aquele povo e conduzido-os. Assim ele pergunta: "porque, Tu ordenas-me para conduzi-los em meus braços, como uma ama conduz uma criança?" Talvez o pensamento expresso em Deuteronômio 32:18 descansa nas palavras de Moisés: Deus concebeu Israel e lhe deu o nascimento, e assim Deus deveria ser sua ama. Estas duas passagens são mencionadas muitas vezes na literatura feminista, mas a figura feminina não é enfatizada. No contexto, nada mais é feito pelo fato de que Deus concede o nascimento ou pode ser uma ama. A figura aqui é menos impressionante do que de Gálatas 4:19, onde o apóstolo Paulo descreve a si mesmo como em dores de parto pela igreja, e em 1 Tessalonicenses 2:7, onde diz que ele e seus cooperadores foram "carinhosos entre vocês, como uma mãe acaricia aos seus pequeninos bebês." Ninguém sugeriria com base nestas passagens que podemos concluir que Paulo era uma mulher. Nem que Números 11:12 e Deuteronômio 32:18 nos exigem repensar o gênero de Deus.[13] 

Em Isaías 42:14, Deus declara um ameaçador julgamento:

               Por muito tempo me calei
               Estive em silêncio e me contive;
               Mas agora darei gritos como a parturiente,
               E ao mesmo tempo ofegarei,
               E estarei esbaforido.

Escritoras feministas mencionam diversas vezes esta passagem apresentando-a como uma figura de Deus. A figura aqui certamente é feminina. Uma mãe ansiosa pode passar muitos meses em modesto silêncio, mas quando chega o seu tempo de dar a luz, ela gritará! Semelhantemente, Deus demora o seu julgamento, mas quando o tempo certo vem, ele certamente fará a sua presença conhecida. De fato, a Escritura menciona muitas vezes, o sofrimento do nascimento como uma figura da maldição de Deus (Gn 3:16) e, proverbialmente, o pior sofrimento imaginável. Assim, como uma metáfora, ela se aplica natural e freqüentemente tanto a homens como a mulheres. Salmo 48:4-6 diz:

               Por isso, eis que os reis se coligaram
               E juntos sumiram-se;
               Bastou-lhes vê-los, e se espantaram,
               Tomaram-se de assombro
               E fugiram apressados.
               O terror ali os venceu,
               E sentiram dores como de parturiente.

Os reis são homens, mas eles tremeram como uma mulher em momento de parto (cf. Is 13:8; 21:3; 26:17; Jr 4:31; 6:24; Mq 4:9). Enquanto a Escritura usa esta metáfora feminina para Deus, ela não nos dá mais coragem para pensar de Deus como fêmea, do que nos dá a pensar daqueles reis como mulheres. A figura feminina usada para Deus em Is 42:14-15 é comum na Escritura, e muitas vezes é usada para personagens masculinos.

Em Lucas 15:8-10, Jesus nos conta uma parábola acerca de uma mulher que acende uma lâmpada, varre a casa, e procura cuidadosamente para encontrar uma moeda perdida. Quando ela a encontra, chama as suas amigas para junto regozijarem. Alguns crêem que a mulher representa Deus, talvez, especificamente Jesus, como faz o pastor e o pai nas outras duas parábolas em Lucas 15. Todavia, a parábola enfoca mais sobre a alegria dos amigos (i.e., os anjos, vs. 10) do que sobre o esforço doméstico. Em Mateus 23:37, Jesus compara a si mesmo a uma galinha que deseja ajuntar os seus pintinhos debaixo de suas asas. Esta é certamente uma metáfora feminina, mas certamente não é algo que leva em questão o gênero de Jesus.

Além destas passagens específicas, há algumas idéias bíblicas mais latas em que alguns pressupõem um elemento feminino de alguma espécie em Deus. Uma é o uso de rahamsplanchnizomai para compaixão divina, um uso que discuto brevemente numa nota de roda-pé anterior. Veja o capítulo 20 para maiores discussões.

Outro é o uso da palavra Espírito (heb. Ruah, gr. Pneuma). Ruah é um substantivo feminino, e Gn 1:2 ilustra o Espírito "chocando" como uma ave mãe. A Escritura também representa o Espírito como o doador da vida (Sl 104:30), particularmente do novo nascimento (Jo 3:5-6).

Não se pode, entretanto, deduzir muita coisa deste ponto gramatical. Substantivos femininos, necessariamente, não denotam personagens femininos,[14] e o termo grego correspondente pneuma é neutro. Além do mais, "pairar" é também uma interpretação possível da palavra rahaf em Gênesis 1:2. E em João 3, a palavra traduzida "nascido" (gennao) pode significar "gerado" bem como "conduzido", podendo se referir a função masculina de procriar. Todavia, a interpretação "conduzido" é preferível em João 3:5 por causa da resposta de Nicodemos no verso 4. Poderia concluir que é possível ser um conjunto de figuras femininas do Espírito na Escritura, mas que dificilmente sugeriria que o Espírito é um personagem feminino da Trindade.[15] Se o grupo de figuras, como discutimos anteriormente, é insuficiente para justificar em falar-se da divina feminilidade, certamente que duas figuras não são suficientes para provar a feminilidade do Espírito.

Outro conceito sob discussão é acerca da sabedoria (heb. Hokmah, gr. Sophia). Os termos, tanto no grego como no hebraico, são substantivos femininos, e em Provérbios, a sabedoria é personificada como uma mulher (7:4; 8:1-9:18). Sabedoria é uma figura divina em Provérbios 8:22-31, e o Novo Testamento identifica-a com Cristo (1 Co 1:24, 30; Cl 2:3; cf. Is 11:2; Jr 23:5), ela também é usada em relação ao termo Palavra (João 1:1-18). Igualmente, têm-se concluído que a segunda pessoa da Trindade é feminina.[16] 

Contudo, este argumento é muito fraco. A primeira coisa a ser notada é que, Jesus é inquestionavelmente homem. Entretanto, a sugestão de que sabedoria requer uma personificação feminina é simplesmente errada. Pois a personificação da sabedoria em Provérbios possui perfeitamente uma óbvia razão para isto, que nada tem haver com um elemento de feminilidade na Divindade. Provérbios 1-9 apresenta ao leitor a figura de duas mulheres chamadas de "Senhora Sabedoria" e a "Senhora Loucura". A Senhora Loucura é a prostituta que seduz um jovem para a imoralidade. A Senhora Sabedoria também chama aos homens da cidade (8:1-4), persuadindo-os a levar uma vida piedosa. A Sabedoria é uma senhora, não porque o escritor procurou afirmar um elemento de feminilidade na Divindade, mas simplesmente como um recurso literário apresentando como uma alternativa positiva para a prostituta.

Minha conclusão destas referências bíblicas é que existem poucas figuras femininas de Deus nas Escrituras, mas elas não sugerem nenhuma ambivalência sexual na natureza divina. Elas não justificam, nenhuma necessidade, do uso de "Mãe" ou pronomes femininos para Deus. Nem justifica a tentativa de reprimir o uso majoritário de figuras e pronomes masculinos em referência a Deus.

A Importância Teológica da Figura Masculina

Mas a feminista poderia replicar aqui que desde que Deus não é literalmente macho, e a Escritura contêm algumas figuras femininas assim como figuras masculinas, seria aceitável falar livremente de Deus tanto em termos masculinos como femininos. Johnson pergunta "se não significa que Deus é macho quando uma figura masculina é usada, o por que da objeção, quando figuras femininas são apresentadas?" [17] 

Esta réplica poderia ser irrefutável se a predominância de figuras masculinas na Bíblia fossem teologicamente insignificantes. As feministas argumentam enfaticamente que a Escritura coloca pouca importância sobre a masculinidade de Jesus, ou sobre a importância de falar de Deus em termos masculinos. A figura masculina, elas argumentam, é aceitável na concepção patriarcal da cultura antiga, mas ela não faz diferença na mensagem essencial da Escritura.

Todavia, existe um número de razões para pensarmos que a predominância de usos de figuras masculinas tem alguma importância teológica:

1. Como temos visto, os nomes de Deus são de grande importância teológica. Eles revelam-no. Não existe razão para assumir que as proporções das figuras masculinas e femininas não são parte desta revelação da sua natureza. Embora Johnson e outras insistem, entendo que uma mudança na balança da figura sexual não é teologicamente neutra; isto mudaria o nosso conceito de Deus.[18] Por acaso temos o direito de mudar nosso conceito bíblico de Deus?

2. Para ressaltar o último ponto, é também importante reconhecer que na Escritura, Deus nomeia a si mesmo. Seus nomes, atributos e figuras não são o resultado da especulação ou imaginação humana, mas da revelação.[19] Ele não nos autorizou de nenhuma mudança de equilíbrio das figuras de macho e fêmea, e não podemos tencionar fazer tais mudanças baseados em nossa própria autoridade.[20] 

3. Deidades femininas eram bem conhecidas pelos escritores bíblicos. Ashtoreth (Jz 10:6; 1 Sm 7:4; 12:10) foi adorada pelos cananitas como esposa de Baal. A junção de deidades masculinas e femininas foi um aspecto importante da adoração de fertilidade pagã. Assim, ao escrever sobre Yahweh, os escritores do Antigo Testamento não escolheram uma linguagem masculina irrefletidamente, inconscientes de outra alternativa. Eles não foram influenciados por um unânime consenso cultural. Antes, eles claramente rejeitaram qualquer adoração de uma deusa ou de uma junção divina.

4. Como dissemos no capítulo 15, a criação é um ato divino que produz uma realidade externa do próprio Deus, uma "outra criatura". O mundo não é divino, nem uma emanação de sua essência. Deus não criou "formando 'consigo' para o não-divino." [21] Como uma metáfora para esta concepção bíblica da criação, a função masculina na procriação é mais adequado do que o feminino.

5. Na Escritura o principal nome de Deus é Senhor, que indica sua liderança nas alianças, entre si e as suas criaturas. Na Escritura, a relação na comunidade da aliança é tipicamente uma prerrogativa masculina. Reis, sacerdotes e profetas são sempre homens. Autoridade na igreja concedida aos anciãos (1 Co 14:35; 1 Tm 2:11-15).[22] O marido é a cabeça da aliança formada pelo casamento.[23] Um desvio para a figura feminina de Deus poderia certamente diluir a sólida ênfase sobre a autoridade pactual que é centralizada na doutrina de Deus. Esta não seria a única razão, pois, como tenho indicado no capítulo 2, algumas teólogas feministas, incluindo Johnson, atualmente se opõe a idéia do senhorio de Deus.

6. Como tenho falado neste capítulo, Deus se relaciona com o seu povo, como um marido com a sua esposa. Certamente esta profunda figura pode ser obscurecida, se considerarmos Deus como feminina. Isto é importante, não apenas para a doutrina de Deus, mas também para a doutrina do homem (antropologia teológica). Ela é importante, tanto para homens como mulheres cristãs, saber e meditar profundamente sobre este fato, que na relação com Deus como sendo fêmea – esposas são chamadas para submeter-se em amor aos seus graciosos maridos. É a igreja, e não Deus, que é feminina em sua natureza espiritual.[24] 

7. Uma freqüente sugestão de compromisso é que eliminamos toda sexualidade na distinção lingüística, entre macho e fêmea, ao nos referirmos a Deus. Em vez de chamar Deus de nosso Pai, poderíamos falar de nosso Parente ou Criador.[25] Uma linguagem unissex, todavia, sugere inevitavelmente que Deus é impessoal, o que é completamente inaceitável de um ponto de vista bíblico.[26] Certamente ao eliminar Pai em favor de termos mais abstratos eliminaria algo muito precioso aos Cristãos.[27]  

8. O uso majoritário da figura masculina para Deus resulta numa opressão da mulher? [28] Existe uma precisa divisão entre feministas e não-feministas cristãs como aquelas que fazem parte da opressão. No Cristianismo tradicional, não é um rebaixamento para a mulher ser submissa ao seu marido e exclui-la dos ofícios de governo na igreja. Muitas vezes, na concepção de escritoras feministas, é um rebaixamento para alguém ser submisso a autoridade de outro, se são iguais diante de Deus. Mas, submissão à autoridade de outros é algo inevitável na vida humana, tanto para os homens quanto para as mulheres; esta é uma das mais difíceis lições que o ser humano caído tem que aprender. Muito mais pode ser declarado sobre este assunto. Certamente homens têm abusado das mulheres no decorrer da história. E certamente tanto homens, como mulheres têm, às vezes, justificado este abuso como sendo uma distorção da liderança masculina. Mas, dificilmente, argumentar que um melhor entendimento de Deus, ou que um benéfico relacionamento entre os sexos, poderia ser produzido por uma substituição da figura feminina ou impessoal de Deus. 

Minha conclusão é que podemos seguir o modelo bíblico e uso predominante da figura masculina para Deus, com uma ocasional figura feminina. Posso não desaprovar que um pregador ocasionalmente diga que Deus é a "mãe" da igreja. Como em Deuteronômio 32:18, podemos observar que apesar de nosso nascimento físico vir de duas fontes, nosso nascimento espiritual procede apenas de uma: Yahweh, que é tanto nossa mãe como nosso pai. Nem mesmo, é errado o uso do parto, a ama, uma ave fêmea, e outras figuras extra-bíblicas femininas como figuras de Deus e ilustrações para as suas ações. Como observamos, penso que muito mais poderia ser aproveitado da submissão das pessoas da Trindade de uma com a outra, como um modelo da piedosa submissão da esposa para com o seu marido. Mas não existe uma justificação bíblica para se usar predominantemente a figura feminina para Deus, ou representa-lo com pronomes femininos.


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Notas:
[1] Paul K. Jewett, God, Creation, and Revelation (Grand Rapids: Eerdmans, 1991).
[2] Ibid., xvi.
[3] Ibid., 336-347.
[4] Elizabeth Johnson, She Who Is (New York: Crossroad Publishing, 1996). Estarei interagindo com alguns de seus argumentos nesta seção.
[5] Ibid. 54.
[6] Veja minha discussão da incorporealidade no capítulo 25.
[7] Johnson, She Who Is, 230-233. Ela apresenta o seu panenteísmo próximo do fim do livro. Seu principal argumento não depende deste conceito.
[8] O verbo hebraico raham ("tenho compaixão) é derivado do substantivo rehem "útero". Às vezes tem se pensado que trata-se de uma alusão ao "útero" de Deus em Sl 103:13 e Jr 31:20. Alguns argumentos foram desenvolvidos considerando o termo do Novo Testamento splanchnizomai. Todavia, este termo e suas formas correlatas nunca se referem claramente a um útero no Novo Testamento. Este argumento força a etimologia. 
[9] Johnson, She Who Is, 53. Cf. pp. 181-185, 256-259.
[10] Ibid., 55-56. Johnson freqüentemente recorre a religiões não-cristãs para comentar a sua teologia do gênero. Esta prática levanta legitimas dúvidas acerca da integridade bíblica de sua teologia.
[11] Observe a sua crítica dos estereótipos, ibid., 47-54.
[12] Há apenas uma juíza, Débora (Jz 4-5).
[13] Obviamente, não poderíamos tirar tal conclusão de Is 46:3. Passagens que mencionam a concepção e nascimento de Israel, não sugerem que Deus concebeu e formou a nação. De fato, ele o fez, num sentido, e a passagem pode fazer uma recordação de Dt 32:18. Todavia, Is 46:3 não contribui para fortalecer a tese teológica do Deus feminino. O mesmo poderia ser declarado de Is 49:15, que muitas vezes é mencionado na literatura feminista. Nesta passagem, Deus coloca o seu amor pelo seu povo acima e além do amor de uma mãe pelo seu bebê. Há uma semelhança entre Deus e a mãe, mas a ênfase de contraste é mais predominante. Deus reivindica, ser não a mãe, mas ser maior que qualquer mãe. E, em Is 66, é Sião quem está em trabalho de parto (vs. 8), e quem amamentará (vs. 11-12). A única função maternal de Deus nesta passagem é confortar (vs. 13). 
[14] Desde que exemplos podem, às vezes, ajudar a induzir-nos ao hábito de demasiada confiança na forma gramatical, eu poderia ilustrar que o termo latino uterus (útero, em português) é masculino.
[15] Veja Johnson, She Who Is, 50-54, para algumas referências. Johnson prefere não limitar a feminilidade de Deus a pessoa do Espírito, apesar de discutir extensivamente acerca do Espírito (pp. 124-149).
[16] Ibid., 150-169.
[17] Ibid., 34.
[18] Elas realmente não querem crer, ainda que às vezes reivindiquem, que a figura sexual a respeito de Deus é insignificante.
[19] A concepção de Johnson é diferente. Em seu entendimento, Deus é um grande mistério, e não há linguagem apropriada para descreve-lo (veja She Who Is, 6-7, 44-45, 104-112). Ele tem "muitos nomes" (117-120), de modo que, poderíamos livremente nomeá-lo com designações masculinas e femininas. Aqui percebo um conceito não-bíblico da transcendência  ao qual me opus nos capítulos 7 e 11. Deus revelou-se em linguagem que é apropriada à sua natureza.
[20] Não estou sugerindo que precisamos reproduzir a ênfase da Escritura com precisão matemática. Teologia e pregação sempre mudam a ênfase da Escritura, pois elas aplicam a verdade bíblica ao povo, antes do que simplesmente ler a Bíblia. Mas pode não ser boa a aplicação do discursar sobre Deus como sendo "ela", ou levantar o nível de figuras femininas por assim dizer, 80 por cento de nossas referências a Deus. 
[21] Johnson, She Who Is, 234. Ela cita William Hill, The Three-Personal God (Whashington: Catholic University of America Press, 1982), 76, n.53. Este é um modelo panenteístico de Deus se relacionar com o mundo.
[22] Não posso, de fato, começar a entrar aqui na controvérsia envolvida neste ponto. Creio que há lugar para o debate, e em quais circunstâncias, uma mulher pode "falar na igreja", ou se ela pode ser diaconisa. Mas isto parece-me óbvio daquelas passagens que as mulheres não são admitidas naqueles ofícios que fazem com que tenham decisões finais sobre os negócios da igreja. Veja Susan Foh, Women and the Word of God (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1979); James B. Hurley, Man and Woman in Biblical Perspective (Grand Rapids: Zondervan, 1981); "Report of the Committee on Women in Office", in Minutes of the Fifty-fifth General Assembly (Philidelphia: Orthodox Presbyterian Church, 1988), 310-373; John Piper and Wayne Grudem, eds., Recovering Manhood and Womanhood (Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1991); Mil Am Yi, Women and the Church: A Biblical Perspective (Columbus, Ga.: Brentwood Christian Press, 1990), para idôneos debates destes assuntos.  
[23] Casamento é uma aliança na Escritura (Ez 16:8, 59; Ml 2:14), uma forte analogia com a aliança entre Deus e o homem. No casamento, o marido é a cabeça da esposa (1 Co 11:3; Ef 5:23). Feministas às vezes argumentam que "cabeça" significa "fonte" e não possui uma conotação de autoridade. Mas veja Wayne Grudem argumentando solidamente ao contrário "The Meaning of Kephale" in Recovering biblical Manhood and Womanhood, ed. Piper and Grudem, 425-468. Em muitos casos, a Escritura atribui a autoridade do marido sobre a esposa em várias passagens, mesmo onde a palavra cabeça não é usada. Veja Nm 30:6-16; Ef 5:22; Cl 3:18; 1 Tm 3:12-13; Tt 2:5.
[24] Agradeço a Jim Jordan (em correspondência) por esta observação.
[25] Alguns têm sugerido para nos referirmos as pessoas da Trindade como Criador, Redentor e Santificador, ou conforme a preferência. Mas esta proposta reduz a Trindade ontológica (as eternas pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito) para a Trindade econômica (as ações destas pessoas em, e pelo mundo). Também ignora o circumincessio, o envolvimento de cada pessoa em todo ato da outra.
[26] Mais óbvio é a impessoalidade que poderia resultar se substituíssemos o neutro no lugar de pronomes masculinos. Mas algo precisa ser feito com os pronomes se o nosso propósito é eliminar as distinções sexuais na linguagem usada para Deus. Ou podemos tentar a impossibilidade desajeitada de continuar a evitar todos os pronomes?
[27] Um autor (desculpe-me por não lembrar quem) comenta que não podemos, depois de tudo, discursar aos nossos próprios pais como sendo "Parentes". De fato, as conotações de tal discurso poderiam ser totalmente inapropriadas para o relacionamento.
[28] Johnson disse "engenhosamente, ou não, ela mina a dignidade humana da mulher como igualmente criada a imagem de Deus" (She Who Is, 5). Observe os seus exemplos na pp. 23-28, 34-38. Ela procura argumentar que o uso da linguagem feminina para Deus, de fato, é mais exata do que a alternativa, pois ela conduz a verdade bíblica que as mulheres não devem ser oprimidas. De fato, esta verdade é importante, mas ela poderia ser apresentada por textos bíblicos que possuem maior relevância para este assunto, mas, não por uma interpretação distorcida da figura bíblica de Deus.

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Fonte: John M. Frame, The Doctrine of God (Phillipsburg, P&R Publishing, 2002), pp. 378-386.
Tradução: Rev. Ewerton Barcelos Tokashiki
Divulgação: Bereianos

Por John Frame

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